Um texto muito curioso retirado do politicamente insuspeito blogue feminino "a pipoca mais doce".
"Sou apartidária
Serve a afirmação acima para justificar o que vem de seguida e para me pouparem a frases feitas, do género “só dizes isso porque és de direita” ou “só dizes isso porque és de esquerda”, ou ainda um “tu queres é tacho”.
Desde que voto, o meu espectro eleitoral já foi do PSD ao PC.
Mais do que votar em partidos, voto em pessoas, em características, em personalidades.
Inocente?
Talvez, mas cada tem um o seu critério de votação e este é o meu.
Não sinto devoção para com nenhum partido, não acho que só por ser PS ou PSD então é brilhante, não tenho paixão por um partido como tenho por um clube.
E ainda bem, que paixão e política são coisas que não combinam.
Ontem assisti com alguma incredulidade ao discurso de vitimização do PS.
Desde o Kalimero que não via alguém a sentir-se tão injustiçado com a vida.
Cheirou-me a chantagem da grossa, que é coisa que me dá enjoos tão violentos como os que as grávidas devem sentir.
Para o Engº Sócrates e para o PS em geral, agora é que a crise vai começar.
Agora é que o caldo entornou de vez. Agora é que o País vai por água abaixo.
E a culpa é de quem?
Da oposição, claro, esses malandros que lhes tiraram o brinquedo das mãos (e por brinquedo leia-se o poder).
A palavra que mais ouvi ontem foi "responsabilidade".
Mas uma responsabilidade que se sacode para cima dos outros, em vez de se assumir como nossa.
Agora é que a crise vai começar?
Mas, esperem lá, não estávamos já em crise?
Ou tudo correu bem nos últimos anos de governação PS?
Só ontem, depois do chumbo do PEC no Hemiciclo, é que o país entrou em crise?
Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, dizia em entrevista à TSF (com um tom que parecia que ia começar a distribuir tabefes a qualquer altura), que a crise era "totalmente responsabilidade da decisão da oposição em vetar o PEC".
Oi? Perdão?
É que eu ia jurar que já há uns meses (anos?) que andávamos a ouvir falar de crise.
E da possível entrada do FMI.
E das taxas de rating.
E do endividamento.
E dos cortes em tudo e mais alguma coisa.
E por isto tudo, ninguém se responsabiliza?
Quantos mais PECs era suposto a oposição aceitar para evitar o inevitável?
Põe-se o ónus da culpa nos outros, para não termos de dizer que a culpa também é nossa, numa atitude completamente autista.
Senti que me estavam a deitar areia para os olhos, a tratar por estúpida:
"Atenção, portugueses, que a culpa não é nossa que temos estado a governar o País nos últimos seis anos.
Não!
O País vai começar a afundar-se e a culpa é destes senhores da oposição que não nos deixaram continuar a fazer o nosso trabalho, que estava a ser para cima de exemplar!
Um mimo de governação!
Por isso, não vão em cantigas e votem de novo em nós, para podermos continuar o que começámos.".
Ora, ide-vos todos fod*r, sim?
Haja falta de tudo para se vir dizer que estava tudo a correr lindamente, que não ia ser preciso recorrer à ajuda externa, que o País caminhava no bom sentido.
Mas só até ontem, claro, porque agora não há volta a dar.
Foi a oposição, e mais ninguém, que lançou Portugal para o caos, por isso agora aguentem-se à bronca.
Tenho pena que esta tenha sido a forma mais original que o Governo arranjou para tentar sair em alta.
Não saiu.
Fica-se só com a ideia que vivemos num imenso jardim infantil em que se aponta o dedo ao miúdo do lado quando se pergunta quem partiu a jarra.
Mesmo que tenhamos os cacos na mão."
domingo, 27 de março de 2011
Sou apartidária
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