Cenas do Conselho de Ministros

Transcrição (possível) de uma reunião (possível) do Conselho de Ministros de Passos Coelho e dos seus Ministros.

 Passos Coelho:
"Bom dia a todos.
 Começo por relembrar que o objectivo deste governo é reduzir o peso do Estado na economia e beneficiar a iniciativa privada.
Como sabem sou defensor do Estado mínimo e penso que os privados podem assegurar serviços como a saúde e a educação de forma mais eficiente que a gestão publica saída do 25 de Abril e das "conquistas" de Abril.
Para o fazer seria necessário mudar a Constituição e muitas das leis ainda em vigor mas, infelizmente, a maioria que temos na Assembleia não chega para fazermos tudo o que é preciso, Resta-nos usar o memorando da troika como desculpa e mudar tudo o que conseguirmos, nem que seja às escondidas.
Estamos no bom caminho, graças a vós o "Estado Social" está a ser drasticamente reduzido mas ainda há muito para fazer.
Há que dar condições ao capital, venha de onde vier, para comprar tudo o que quiserem, mesmo que isso venha a prejudicar as condições de vida do povo e dos trabalhadores.
Acredito que o capital deve ser beneficiado em detrimento do trabalho. São os capitalistas e os empreendedores que criam postos de trabalho mesmo que sejam precários e mal pagos. Os lucros das empresas têm de ser defendidos para que os donos do dinheiro não se vejam tentados a tirá-lo do Pais.
Não tem sido fácil governar, mesmo em maioria.
As reformas que temos feito têm sido muito criticadas, a conjuntura económica não está a ajudar, os índices estão todos em queda mas, custe o que custar, vamos cumprir o memorando nem que para isso seja preciso levar o País à ruína. Aliás, se tal acontecesse, seria mais fácil começar depois a crescer.
As contas publicas são o nosso grande desafio. Há que aumentar a receita e diminuir a despesa mas, ao mesmo tempo, há que manter a gente dos nossos partidos satisfeita e sem fazer ondas. Precisamos deles para as próximas eleições.
Dito isto, Gaspar, como andam as finanças?"

Vitor Gaspar:
"Bem ... isto está mau ... 
A informação disponível sobre o comportamento das receitas não é positiva ...
os impostos não estão a dar o que queríamos ... 
os dados traduzem um aumento significativo nos riscos e incertezas associadas às expectativas orçamentais ...
não vamos conseguir baixar até onde a Merklel queria ...
mas continuo optimista ...
continua a ser minha convicção que o modelo teórico está correcto e que vamos ter sucesso."

Passos Coelho:
"Claro que vamos, arranjam-se mais umas taxas, cortam-se mais uns subsidios e vendem-se mais umas coisas.
Já vos disse que os brasileiros e os colombianos estão aí para as privatizações?
Vejam lá todos se conseguem bons preços para as vossas coisas.
Ó Portas, já que hoje tás cá conta aí se arranjaste alguns dinheiritos no estrangeiro?"

Paulo Portas:
"É pá, já perdi a conta às voltas que tenho dado ao mundo mas isto está dificil.
As melhores opções são mesmo os angolanos,  os brasileiros e agora também os colombianos. O que nos vale é que o Eduardo dos Santos rouba a torto e a direito e quer tirar tudo de Angola e que a cocaina continua a dar muita massa aos colombianos. Valha-nos Deus!"

Passos Coelho:
"O Relvas está ai a fazer sinais, queres dizer alguma coisa?"




Miguel Relvas:
"Tava a ver que nunca mais me deixavas falar.
Olha, eu só queria dizer que preciso de ser avisado com tempo do que querem fazer para nomear as comissões e grupos de trabalho com gente amiga para chegarem às conclusões que vocês quiserem.
Já agora, isto com os jornais tá a correr bem, não têm chateado muito e dei-lhes a volta por cima!"

Passos Coelho:
"Pronto, já está, tinhas de dizer qualquer coisa, ah ah ah.
Bom, mas vamos lá ouvir os Ministros.
Alguém quer começar?
...
...
Ok, Paulo Macedo. Vamos à Saúde."

Paulo Macedo:
"Isto para mim não está a correr nada mal.
Já consegui que muita gente não vá aos hospitais publicos e os privados estão a ter cada vez mais consultas.
Esta semana apresentei uma reforma nova que pôe uma quantidade de gente mais longe das urgências,  as listas de espera nos hospitais está a aumentar e a contratação de médicos tarefeiros pagos à hora vai ajudar a acabar com o SNS.. Tá no bom caminho
Já agora, estou a ter alguma dificuldade a explicar o fecho da Maternidade Alfredo da Costa sem parecer muito que estou a favorecer os privados mas lá havemos de chegar. O Cavaco não quis receber uns postais duns manifestantes,. Qualquer dia calam-se."

Passos Coelho:
"Isso Macedo, continue assim, temos de tirar o Estado da Economia ah ah ah.
Por falar em Economia, ó Álvaro, tem alguma coisa a dizer?"

Álvaro Santos Pereira:
"Muito obrigado por me dar a palavra.
Quero apenas dizer que continuo os meus esforços para reduzir o peso do custo do trabalho e para baixar os salários dos trabalhadores.
O FMI diz que temos de baixar ainda mais mas os sacanas dos sindicatos estão-me a fazer a vida negra especialmente aquele gajo da CGTP e os comentadores da televisão e dos jornais Também não estão a ajudar nada, mesmo os que são da cor ..."

Miguel Relvas:
"Quer que arranje uma comissão para o ajudar?
Não é difícil."




Álvaro Santos Pereira:
"Deixe estar, obrigado, se me vir muito apertado eu peço-lhe ajuda.
Mas gostava de acrescentar que, ao contrário do que andam aí a apregoar, o meu Ministério tem feito muitas reformas. A culpa da economia não estar a crescer não é minha, é dos malandros do PS que deram cabo disto, fizeram o acordo coma troika e agora têm o descaramento de dizer que eu não faço nada. É falso e eu sou um bom Ministro.
As reformas estão no bom caminho e, como eu digo no meu livro, vão dar efeito. Precisamos é de empreendedores para puxar o país para a frente. As empresas vão começar a gerar emprego, as pessoas a consumir e as exportações vão aumentar.
É a visão de futuro que tenho e que faz de mim um bom Ministro deste governo."

Passos Coelho:
"Pronto, tá bem ó Álvaro, ah ah ah, escusa de meter a cassete, ah ha ah ,fique descansado que ninguém o vai remodelar, ah ah ah.
Realmente não há justiça na terra.
Por falar nisso, Paula diz aí como está o teu Ministério."

Paula Teixeira da Cruz:
"Bem, a reforma da justiça está a ser difícil. Ninguém me acredita quando eu digo que o novo mapa judiciário não vai tirar tribunais ao povo mas sim levar mais justiça até ao interior, Os Presidentes das Câmaras resolveram fazer-me guerra e, ainda por cima são os nossos, os PSDs, que são os mais chatos. Aliás, Paulo, até te queria pedir para ver se os metes na ordem porque isto assim vai ser difícil."

 Passos Coelho:
Ok, Paula, vamos ver isso.
Relvas, vê lá se podes dar um jeito e se dizes ao Jorge (Moreira da Silva *) para os mandar calar."
Por mandar calar ... vamos lá ouvir o Ministro do Trabalho.  Mota Soares, já conseguiu calar os sindicatos?.

Pedro Mota Soares: 
"Os sindicatos ainda não mas não é por isso que os salários deixam de baixar em Portugal até porque o desemprego continua a aumentar.
Aliás, há que reduzir ainda mais o subsidio de desemprego para que os desempregados aceitem trabalhar por menos dinheiro e é nesse sentido que o meu ministério está a preparar medidas novas.
O maior problema é mesmo o que se está a pagar à malandragem que vive à custa do RSI (Rendimento Social de Inserção).
Eatou farto de ver gente a receber e a não fazer nada.
É por isso que estou a ver se consigo pôr desempregados e beneficiários de RSI a trabalhar nas florestas.
Em vez de andarem a roçar o rabo pelas esquinas, fazem qualquer coisa útil e dão uma ajuda preciosa ao Miguel Macedo (Ministro da Administração Interna) por pouco dinheiro!"

Passos Coelho:
"Ah ah vão trabalhar malandros, é assim mesmo, ah ah.
Miguel Macedo esta ideia é boa, não é?"



Miguel Macedo:
"É boa sim senhor e vai dar jeito por causa dos incêndios. Duvido é que os "democratas" dos jornais não se ponham a falar contra ela. Sabem como é, coitadinhos dos desempregados, nunguém fica desempregado por querer, blá, blá, blá, a cantilena do costume da esquerda. Veremos.
Quanto ao resto, estamos a fazer tudo para baixar a despesa especialmente com as policias.
A racionalização de meios continua, como passar o trânsito para a PSP, mesmo que sempre tenha estado na GNR.
só a esquerda é que acha que devia haver uma esquadra em cada esquina.
Nunca mais se convencem que não há dinheiro para isso."

Passos Coelho:
"Isso mesmo, todo o dinheiro é pouco para satisfazermos as nossas obrigações com a troika e com as PPPs. É isso que nos dá credibilidade junto aos mercados.
O povo pode sobreviver com muito menos, os mercados não.
Adiante, Nuno Crato, como está a Educação?"

Nuno Crato:
"A Educação está no bom caminho.
À pala de mais exigência na matemática e no português lá vou conseguindo fazer o que quero.
Os programas estão mais complicados, os mega agrupamentos de escolas estão a pôr muitos professores no desemprego e os que ainda têm lugar nas escolas nem sabem para onde se hão-de virar.
Só falta mesmo é o Parlamento aprovar o "Cheque Escola" para podermos fazer a transição final para os colégios privados.
Será a machadada final na escola publica!" 

 Passos Coelho:
"Muito bem, é assim mesmo. O privado é sempre melhor que o publico.
Passemos agora para o Ambiente.
Assunção tem a palavra se faz favor.


Assunção cristas:
"Eu continuo a ter imensa fé no que estamos a fazer e a rezar para termos sucesso.
Lá vou pondo cruzinhas nos quadradinhos da troika e parece que as coisas até nem vão mal para mim.
A Lei das rendas passou sem grandes problemas e o Ambiente também não vai mal.
O pior mesmo é a Agricultura por causa da seca mas tenho fé em Deus que vai chover e que a água não vai faltar."

Passos Coelho:
"Muito bem, Assunção, é preciso é fé, ah ah.
Quem é que falta falar?
Á, pois claro, a Defesa, ah ah, já me esquecia dos militares.
Aguiar Branco, já conseguiste pôr a tropa quietinha?"

Aguiar Branco:
"Já consegui pôr os chefes militares calados e a comerem da minha mão, isso sim.
O problema são as associações, especialmente a dos sargentos, que não se calam mesmo.
Nem mesmo com a promessa de haver promoções eles se calam.
De resto, tenho é de ter cuidado para não parecer que lhes estou a tirar muitas coisas que é para isto não dar para o torto.
Mas, por enquanto, parece que não ainda não estão para sair dos quartéis."

Passos Coelho:
"Obrigado a todos e hoje ficamos por aqui.
Continuem com o bom trabalho e não se deixem enganar pelos jornalistas. Esses sacanas não nos deixam trabalhar em paz.
Marques Guedes **, faz aí um daqueles comunicados do Conselho de Ministros à maneira. Já sabes como é. O Governo está empenhado nas reformas estruturais, o pior já passou, estamos a chegar ao ponto de viragem, já há sinais da economia estar a crescer, blá, blá, blá.
Bom, mas vamos lá embora que eu ainda tenho de ir telefonar à patroa.."

Miguel Relvas:
"Vais ligar à Laura?"

 



Passos Coelho:
"Não, que disparate, à Merkel.
Quero falar com ela antes da gaja ir almoçar e lá é uma hora mais tarde!"







OBS:

*  Jorge Moreira da Silva - Primeiro vice-presidente do PSD com a responsabilidade de fazer a coordenação permanente da comissão política e da actividade do partido.

 ** Luis Marques Guedes -Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros