Texto de José Rodrigues, editor de Política e Economia do "Correio da Manhã", hoje publicado nesse jornal.
"Nesta crise cujo fim não se vislumbra, o que mais custa, para lá dos duros sacrifícios que nos são exigidos, é a suspeita de que estes venham a ser inúteis.
As declarações de quem nos governa não são de molde a sossegar-nos, e ainda há pouco ouvimos uma, proferida pelo ministro das Finanças no debate do Orçamento do Estado, particularmente desmotivadora: "Embora não possamos garantir que o esforço a realizar em Portugal seja por si só suficiente para assegurar o sucesso do ajustamento, dada a vulnerabilidade aos ajustamentos externos…" É como se o cirurgião nos dissesse. "Olhe, tenho de lhe retirar vários órgãos, mas não garanto que sobreviva."
Imposta por tecnocratas a quem apenas os números importam, a política de cortes não assegura nem eficácia nem justiça, rapando até migalhas que pouco adiantam para o buraco colossal da dívida. Medidas como o fim do desconto nos passes para velhinhos e estudantes, com o objectivo de poupar, segundo o secretário de Estado dos Transportes, umas "dezenas de milhões de euros", revelam, além do pendor miserabilista, uma incapacidade, ou falta de vontade, de ir buscar dinheiro onde ele verdadeiramente está. Doravante, só podemos esperar que nos tirem tudo o que puderem. "
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Rapar migalhas
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