Texto de João Lemos Esteves hoje publicado no "Expresso" online.
Como é tradicional, o Primeiro-Ministro
dirigiu-se aos portugueses no dia de Natal. Importa, pois, fazer um
primeiro comentário geral às declarações de Passos Coelho.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Mensagem de Natal: Passos Coelho e o País que não existe
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
O plano A
Texto de Manuel José Manuel Pureza hoje publicado no Diário de Noticias
O Governo não
tem mesmo plano B. Aliás, nisso segue os passos da troika, cujos membros
de cada vez que vêm dizer que se enganaram na receita para Portugal - e
já são tantas... - logo acrescentam que a dita receita, mesmo errada, é
para cumprir até ao fim e até para permanecer ativa depois do fim pelo
menos uma vintena de anos. O Governo só tem plano A, que aplicará custe o
que custar. E esse plano é o de embaratecer o trabalho e transferir
esse diferencial para o lado do capital.
O relatório do
Observatório sobre Crises e Alternativas, esta semana tornado público na
sua versão preliminar, mostra com clareza esse plano A a ser executado.
Em setembro de 2012 o Governo anunciou um desagravamento do pagamento
da taxa social única pelas empresas que pretendia conseguir um acréscimo
do seu rendimento de cerca de 2300 milhões de euros. Nos planos do
Governo essa diferença seria suportada pelos salários dos trabalhadores.
As manifestações multitudinárias de 15 de setembro obrigaram o Governo a
recuar. Mas eis que os efeitos concretos das alterações na legislação
laboral operadas em 2012, no que respeita a remuneração do trabalho
suplementar e supressão de feriados e dias de férias, são precisamente
os mesmos que os pretendidos com a defunta mudança do regime da TSU: os
trabalhadores perderam, em média, 2,3% da sua retribuição efetiva, dando
assim às empresas um ganho estimado em... 2300 milhões de euros.
O
mesmo, portanto. Mas mais forte: a redução do pagamento do trabalho
suplementar teve como resultado uma perda de receitas da Segurança
Social entre 66 milhões e 252 milhões de euros, algo que nenhuma soma de
encargos com políticas ativas de emprego alguma vez atingiria. O plano A
de empobrecimento é também o plano A de privatização e as coisas vão de
mão dada, como inequivocamente se prova.
É esse o único plano que
o Governo tem, mesmo se ele acelera o endividamento nacional. Ou
melhor, o Governo tem todos os planos B que forem necessários para
cumprir até ao fim o plano A. Porque quem manda no País o obrigará a
isso, sem margem para hesitações. E, de preferência, com um suplemento
de sustentação política como fica evidente no apelo - mais um - a um
acordo entre esta maioria e o Partido Socialista, desta vez pela voz de
Alexandre Soares dos Santos.
Às mãos do Governo e da troika, a
austeridade é esse modo de organização económica que gere o País numa
lógica de vasos comunicantes, em que o que se suga ao trabalho se
acrescenta ao capital. Uma alternativa digna desse nome só pode ser
aquela que inverta o movimento e traga de volta ao trabalho aquilo que
lhe está a ser retirado. Esse tem de ser o plano A de uma alternativa ao
plano A da troika e do Governo. Para o levar a efeito, é preciso usar
para com o capital especulativo e para com o sistema financeiro a mesma
lógica que tem sido usada por eles para legitimar o embaratecimento do
trabalho: invocar o estado de necessidade e a excecionalidade deste
momento do País. Tributar devidamente quem tem sido poupado a esforços
maiores, resgatar a centralidade da contratação coletiva, impor uma
política de crédito que dê suporte à economia produtiva têm de ser as
apostas estratégicas deste outro plano A. Para ser assim, o plano A
implica um repúdio inequívoco do Pacto Orçamental e a coragem de
mobilizar o País contra a chantagem que se fará sobre a nossa
permanência na zona euro ou na própria União Europeia.
Entre o
plano A do Governo e o plano A de uma alternativa a sério não há
transação possível. Escolhe--se um ou escolhe-se outro. E escolhas são
sempre escolhas, mesmo quando são disfarçadas em nome da razoabilidade
ou da união nacional ou da construção europeia.
domingo, 8 de dezembro de 2013
Tea Party à portuguesa
Texto de Pedro Marques Lopes hoje publicado no "Diário de Noticias".
Há quem tenha
ficado muito revoltado, chocado até, com a posição assumida pelo
secretário de Estado da Integração Europeia, Bruno Maçães, numa mesa
redonda sobre "governância económica e crise europeia", em Atenas. Em
termos muito simples, este cavalheiro, representando o Estado português,
mostrou total alinhamento com as posições alemães e contra qualquer
tipo de iniciativa, dos países mais afectados pela crise, para encontrar
uma alternativa. Mais tarde, quando acusado de ser mais troikista que a
troika, mais alemão que os alemães e fanático da velocidade do
ajustamento, veio para uma rede social orgulhar-se de assim ser tratado.
Ora, eu acho que o ex-autor de discursos de Passos Coelho merece
ser elogiado. Não pelas posições expressas, mas pela maneira clara e
desassombrada como exprimiu a posição do Governo português e as
convicções políticas e ideológicas de quem nos governa.
Bruno
Maçães, um dos principais ideólogos do primeiro-ministro, fez cair todas
as máscaras. Não é que já não suspeitássemos, mas agora ficou
absolutamente claro que o Governo não negoceia com a troika. Ou melhor,
negoceia mas dentro do espírito "tu dizes mata, e eu esfola". Hoje,
estes liberais de badana devem estar a esconjurar Gaspar, esse traidor
que não percebeu o sentido da História.
Espero que agora não
exista mais discussão sobre o porquê do Governo ter aplicado o dobro da
austeridade contratada no memorando. Nem sobre se o primeiro-ministro
queria dizer outra coisa quando afirmou que este seria sempre o seu
programa, mesmo sem memorando. Ficou cristalino que aquilo de ir para
além da troika não foi um "erro de comunicação". Era mesmo assim. E às
tantas até foi escrito pelo Maçães.
Afinal não se pediu nada. Nem
mais prazo, nem menos esforços para a classe média, nem para ninguém: é
preciso esmagar. "Drill, baby, drill": o Maçães é capaz de ter
aproveitado este slogan desse movimento que tanto admira, o Tea Party
americano - é um confesso admirador e apoiante de Sarah Pallin -, e
sugerido aos nossos credores que o adaptassem aos portugueses:
"Perfurem, rapazes, perfurem, que os meus concidadãos ainda não estão
secos."
Como é do conhecimento de quem frequenta este espaço, não
tenho dúvida nenhuma de que o caminho prosseguido pela Europa e
caninamente seguido pelo Governo português está a levar a própria
Europa, e ainda mais rapidamente Portugal, para uma situação que
terminará em desagregação económica, social e, finalmente, política. Que
no fim deste "reajustamento", não vai haver nada para reajustar: nem
empresas, nem emprego, nem nada. Que o nosso incipiente Estado social se
tornará uma gigantesca sopa de pobres. Que o fim acelerado da classe
média destruirá a democracia.
É, no entanto, esse o fim do
caminho que Passos Coelho, Maçães e camaradas defendem. Na perspectiva
deles, o País estará muito melhor depois de tudo isso acontecer.
Pensarão, com certeza, que a democracia - uma democracia sem classe
média e em que a liberdade económica será tudo e as outras liberdades
pouco ou nada - se aguentará. A vida vista desde um gabinete na
faculdade, rodeado de grandes idealistas que nunca conheceram uma
empresa, uma exploração agrícola, uma fábrica, um hospital, uma escola
pública, uma família pobre ou sequer de classe média deve ser um mundo
fantástico. Onde se mexe na folha de cálculo, se tira dali e põe acolá, e
tudo bate certo. Onde se pensa que a liberdade pode existir sem
igualdade e a igualdade é um conceito comunista.
E o serviço
nacional de saúde, a educação pública ou o salário mínimo instrumentos
limitadores da liberdade individual. Um mundo dividido entre fortes e
fracos, vencedores e derrotados, empreendedores e funcionários, velhos e
novos, ricos e pobres.
Muito se podia rir a esquerda, se não
tivesse em grande parte também entregue a patetas parecidos com estes.
Gente que pensa que os direitos crescem nas árvores e que o dinheiro é
uma coisa que se produz numa máquina. Visionários que dão como garantido
que não há altos e baixos na vida da comunidade e que os filhos ficarão
sempre melhor que os pais. Tipos que julgam que as dívidas são uns
papéis sem valor. Lunáticos que acham que o Estado social é um dado
adquirido e que não exige um constante esforço de adaptação aos tempos,
às condições económicas e à realidade social.
Neste momento
estamos nas mãos do Tea Party à portuguesa e de indivíduos como o Bruno
"Pallin" Maçães. Os irmãos americanos destes inconscientes estão a
destruir o Partido Republicano e a direita americana. Estes estão apenas
a destruir a direita e o centro-direita português - sob o olhar de quem
apenas critica pela calada e espera pela "melhor oportunidade" para os
parar.
Nos Estados Unidos, esta gente não conseguiu levar os seus
planos para a frente. Tinha de nos calhar a nós, desgraçados
portugueses, sermos o laboratório deste bando de loucos furiosos.
Alguns comentários de leitores:
Democracia é o vale tudo?
Um pequeno pormenor: Passos Coelho não disse que era este o seu programa
eleitoral. Eu sei, porque o li antes das eleições. Ora, as pessoas
votam com base nos programas com que os partidos se apresentam. Por
isso, pergunto que legitimidade têm um governo e um primeiro-ministro
que foram eleitos com base na mentira? Que legitimidade para governar
têm os políticos que depois governam contra os seus próprios programas?
Democracia é o vale tudo?
José Luiz ...
"Eles" não querem a democracia. Querem acabar com os Estados soberanos e
pôr em seu lugar corporações soberanas. Sem soberania nacional não pode
haver, é claro, soberania popular; e sem soberania popular não pode
haver democracia. Mas não faz mal, trata-se apenas de baixas colaterais
na guerra mundial movida pelas "pessoas" corporativas contra as pessoas
naturais como nós.
Corruptos e Sabujos!
Na mouche .... com a escumalha coelhista vamos de mal a pior enquanto os
mais ricos duplicam a sua fortuna com a "austeridade" os portuguese
empobrecem , são obrigados a emigrar e morrem na miséria!
tugatuga
Pessoal isto só lá vai quando aparecerem mais Costas e Buiças, com a
coragem suficiente para abater estes malandros que nos estão a
governar.Não vai de outra maneira,não tenham dúvidas.E tem de ser bem
depressa senão, nada sobrará para os mais carentes e necessitados.
Salvador
Só posso subscrever e aplaudir. "Tea Party português" é a designação mais apropriada para o partido de Passos & Cia.
V
Infelizmente é tudo verdade , o que diz ..somos governados por uns
tontos e a alternativa é pouco melhor..custa-me a acreditar que em
Portugal só exista esta fraca gente ...
a.gaspar
Completamente de acordo! O problema é que, como diz, as alternativas não
são melhores que o que temos. E assim vai Portugal, caminhando a Passos
largos e abrindo Portas para um funeral Seguro.
De 93% para 131,7% do PI
Quando Cuelho abocanhou o poder a dívida soberana do governo era de 93%
do PIB .... hoje, dois anos meio depois e apesar da brutal "austeridade"
de cortes cegos a dívida soberana do governo subiu para 131,7% do PIB .
... Terá aumentado em 50 mil milhões de euros ! .... Resultado de
Duplicar, acefalamente, a "austeridade" ....
Eu cá para mim
Não sei se é por fanatismo ideológico se por subserviência a interesses
estrangeiros se por interesses pessoais. Sei que quase que já destruíram
Portugal. Sei que já venderam ao desbarato o pouco que ainda havia para
vender. Sei que já puseram quase um Povo inteiro na miséria. Para mim
não passam de uma cambada de traidores à Pátria e não têm qualquer
desculpa por serem imbecis, corruptos e parasitas. Por menos foi
enforcado, injustamente, em Oeiras o General Gomes Freire de Andrade.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
O despudor sem freio
Texto de Eduardo Dâmaso, Diretor-adjunto, hoje publicado no Correio da Manhã
O Bloco Central dos Interesses levou muitas empresas a situações insuportáveis.
Públicas e privadas. Manipulando leis ou chantageando com o crédito numa banca controlada politicamente, PSD, PS e CDS deixaram o País de rastos. Criaram dificuldades públicas para recolher facilidades privadas.
O que fizeram aos Estaleiros de Viana do Castelo é apenas um exemplo.
Foi essa política que criou a imensa casta dos que já não precisam de ‘ganhar a vida', como diria o ex-ministro Silva Pereira. Foram eles que rebentaram com as contas públicas. Não o emprego, a saúde, a educação, as reformas dos que trabalharam a vida inteira. Neste País, o despudor já não tem qualquer freio.