Consumou-se ontem mais uma derrota para o povo português com a re-eleição de Cavaco Silva para Presidente da Republica.
Nas palavras de Baptista Bastos "Cavaco não possui o estofo de um Presidente, nem um estilo que o dissimulasse. Foi o pior primeiro-ministro e o mais inepto Chefe do Estado da democracia. Baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, assaltado por pequenas vinganças e latentes ódios ..."
Nos discursos de vitoria Cavaco saiu-se com algumas pérolas da sua sabedoria politica:
- “Vitória da verdade sobre a calúnia”
- "Serei um referencial de confiança e de estabilidade"
- "Desenganem-se os que pensam que vou mudar a minha actuação porque não vou mudar nem um milímetro."
- "Serei o Presidente de todos os portugueses"
A verdade é que Cavaco Silva é o Presidente eleito com o menor numero de votos de sempre.
Diz a lei eleitoral que foi eleito com 52.94% dos votos mas, na realidade, tendo em conta os 53.37% da abstenção, 4.26% de votos em branco e 1.93% de votos nulos, apenas 24.8% dos eleitores votaram nele ou seja ... três quartos dos portugueses não o fizeram.
É triste que mais de 2 milhões de portugueses se deixem embalar pelo canto de sereia do politico que diz não ser politico, do aproveitador que se afirma acima de qualquer suspeita, na expectativa que demita o governo que tanto penaliza o povo e o País.
Cavaco vai continuar a ser o "passarão" que dá cobertura ás malfeitorias dos políticos e dos partidos, com especial destaque para o muito mal que Sócrates e o seu (des)governo estão a fazer.
Esqueçam-se do que Cavaco disse durante a campanha sobre a responsabilidade de Sócrates da crise que vivemos, sobre a eventual crise politica, sobre as insinuações de dissolução do parlamento, etc, etc, etc. porque nada vai acontecer.
Pobre povo que está refém de políticos como Cavaco Silva.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
24 por cento
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Não é só em Guimarães
Pouco a pouco os podres da politica partidária vão surgindo à luz do dia.
Fundação Cidade de Guimarães
A Fundação Cidade de Guimarães (FCG), entidade que gere a Capital Europeia da Cultura de 2012, vai gastar quase oito milhões de euros em vencimentos até ao final do seu mandato. Só o conselho de administração (CA), presidido por Cristina Azevedo, custa à instituição 600 mil euros por ano.
A maior fatia desta verba destina-se à administração, que custa 600 mil euros por ano à fundação de capitais maioritariamente públicos. A presidente do CA, Cristina Azevedo, aufere 14.300 euros mensais, enquanto os dois vogais executivos, Carla Martins e João B. Serra, recebem 12.500 euros por mês. No mesmo órgão tem ainda assento Manuel Alves Monteiro, vogal não executivo, que recebe dois mil euros mensais pelo cargo.
Também os membros do conselho geral, onde têm lugar, entre outros, Adriano Moreira, Eduardo Lourenço e Diogo Freitas do Amaral, recebem 300 euros de senha de presença em cada reunião daquele órgão. O ex-Presidente da República Jorge Sampaio, que preside ao conselho geral aufere 500 euros por reunião.
Apesar de ter investido 3,7 milhões de euros na criação da FCG - durante a liderança de Pinto Ribeiro -, o MC admite não ter controlo sobre esta política salarial. "Não tivemos conhecimento prévio da decisão de atribuição de vencimentos. Esta compete a uma comissão de vencimentos", informa fonte do ministério. O Governo quase não tem controlo sobre as decisões da fundação, admitem mesmo os responsáveis da Cultura: "Apenas podemos pronunciar-nos em sede de conselho geral, órgão composto por 15 membros, e onde estamos representados pela directora regional da Cultura do Norte."
Os vencimentos do CA da FCG foram definidos pelo presidente da Câmara de Guimarães, num despacho de 17 de Setembro do ano passado, uma vez que a comissão de vencimentos - a que o autarca preside - ainda não tinha sido constituída. O despacho com os critérios de definição dos salários na FCG aponta a "complexidade e responsabilidade das funções atribuídas " e uma "comparação de mercado" como justificações para a decisão.
Folha salarial (da responsabilidade da Câmara Municipal) dos administradores e de outros figurões, da Fundação Cidade de Guimarães, criada para a Capital da Cultura 2012:
- Cristina Azevedo - Presidente do Conselho de Administração
14.300 € (2 860 contos) mensais + Carro + Telemóvel + 500 € por reunião
- Carla Morais - Administradora Executiva
12.500 € (2 500 contos) mensais + Carro + Telemóvel + 300 € por reunião
- João B. Serra - Administrador Executivo
12.500 € mensais + Carro + Telemóvel + 300 € por reunião
- Manuel Alves Monteiro - Vogal Executivo
2.000 € mensais + 300 € por reunião
Todos os 15 componentes do Conselho Geral, de entre os quais se destacam Jorge Sampaio, Diogo Freitas do Amaral, Adriano Moreira e Eduardo Lourenço, recebem 300 € por reunião, à excepção do Presidente (Jorge Sampaio) que recebe 500 €.
Em resumo: 1,3 milhões de Euros por ano, em salários. Como a Fundação vai manter-se em funções até finais de 2015, as despesas com pessoal deverão ser de quase 8 milhões de Euros !!!
Esta obscenidade acontece numa região, como a do Vale do Ave, onde o desemprego ronda os 15 % !!!
E ainda há quem se interrogue porque o povo não acredita nos políticos?
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Pilatos e Cavaco Silva!
Honório Novo é um conhecido deputado do Partido Comunista e o "Jornal de Noticias" publica hoje um texto seu que mostra bem a hipocrisia de Cavaco Silva, o "passarão" que, dizem as sondagens, (infelizmente) voltará a der eleito para Presidente da Republica
"Pilatos e Cavaco Silva!"
"Semelhança entre os "dois" Cavacos? Nenhuma, a não ser a ânsia desmedida pelo poder e o comportamento típico de Pilatos.
Eu não sou presidente da República. Não fui eu quem chamou a Belém os "partidos da oposição" para viabilizarem um Orçamento com cortes injustos nos salários dos funcionários públicos. Não fui eu quem convocou o Conselho de Estado para mostrar ao País que era urgente aprovar um Orçamento que dispensa os mais ricos de pagarem a factura da crise. Que fique, pois, bem claro: não sou nem presidente nem candidato a presidente da República, não apadrinhei nem assinei esse Orçamento injusto para funcionários públicos e reformados. Pelo contrário: votei contra o dito, denunciei todas essas injustiças e até apontei alternativas.
Nem sou Pilatos nem suporto os que se comportam como tal, sacudindo as mãos das suas próprias responsabilidades. Cavaco, presidente da República, apadrinhou e promulgou os cortes nos salários dos funcionários públicos, patrocinou e subscreveu as propostas do PS que isentavam os mais ricos e poderosos de pagarem a factura da crise. O mesmo Cavaco, candidato a presidente, disse, porém, num acto de caça ao voto que afinal "há injustiça nos cortes dos salários dos funcionários públicos" e verberou os que, com "muito maiores rendimentos, não foram chamados a dar o seu contributo" (...).
Semelhança entre os "dois" Cavacos? Nenhuma, a não ser a ânsia desmedida pelo poder e o comportamento típico de Pilatos. Eu não gosto de quem não assume a responsabilidade pelos seus actos. Eu não suporto "os pilatos" dos tempos modernos. Por isso, não voto Cavaco.
Para quem quer ter uma razão para votar em alguém sem atender ao foguetório nem às manipulações mediáticas da campanha, pergunte a si próprio qual dos candidatos denunciou claramente e votou contra o que Cavaco diz agora terem sido os injustos cortes dos salários dos funcionários públicos? Na resposta terá a razão do seu voto."
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Um país à venda
Se um dos grandes trunfos da democracia foi o desenvolvimento, Portugal encontra-se neste momento numa perigosa encruzilhada.
Por: Paulo Pinto Mascarenhas, Jornalista, "Correio da Manhã"
"No ano em que se celebram – se ainda houver alguma razão para celebrar – 37 anos do 25 de Abril, o país sofre a suprema humilhação de já poucos quererem comprar o que resta da soberania nacional, oferecida por José Sócrates e Teixeira dos Santos em periódicos leilões da dívida pública.
O governo vende-se barato nos mercados internacionais e os contribuintes vão continuar a pagar caro décadas de corrupção, incúria e despesismo do Estado.
Não deixa de ser assustador ouvir José Sócrates repetir que Portugal não precisa de nenhuma assistência financeira quando todos sabemos que o país já se encontra nas urgências e só sobrevive ligado às máquinas do Banco Central Europeu.
Sócrates queixa-se do aproveitamento político da oposição a propósito de uma possível intervenção do Fundo Monetário Internacional. Mas o primeiro-ministro só se pode queixar de si próprio: foi ele quem abriu as portas à recessão e ao FMI. Pouco mais falta que entregar a pesada factura ao próximo inquilino de S. Bento e ao povo português. "
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
ARTIGO sobre Portugal
Portugal na boca de um jornalista estrangeiro..... Vale a pena ler!
"Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.
E não é por eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa, o povo que construiu um império que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa Atlântica, tornando a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão e Austrália.
Esta semana, o Primeiro-Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um esteio na classe política elitista Português do Partido Social Democrata e Partido Socialista, sustentados na má gestão política que têm assolado o país desde os anos 80.
O objectivo?
Para reduzir o défice. Porquê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia deixou-se ser sugado é aquele em que as agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and Poor's, baseadas nos Estados Unidos da América (onde havia de ser?), virtual e fisicamente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos?
Sejamos honestos.
A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois das suas tropas invadirem seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma, mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal?
Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores" (estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de qual país eles vêm?
Não, eles não são Peugeot e Citroën ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs. Topo de gama é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O quê é que as contra partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década, entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando bilhões através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal.
Eleito fundamentalmente porque é considerado "sério" e "honesto" (em terra de cegos, quem vê é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder (que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.
A sua política de betão foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foi canalizada para a construção de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam.
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou-se em empresas e esquemas fantasmas.
Foram comprados Ferrari. Foram encomendados Lamborghini Maserati.
Foram organizadas caçadas de javali em Espanha.
Foram remodeladas casas particulares.
O Governo e Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controlo e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político.
E ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto-comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira.
Ele foi seguido pelo diplomata excelente, mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando) que criou mais problemas com seu discurso do que ele resolveu, passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha.
Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contraproducentes.
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O redactor do artigo entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos.
Aqui estão os resultados:
1 - Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%).
2 - Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%)
3 - Concordo com o sacrifício (1%) Um por cento.
Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal 10 milhões, afectará a criação de postos de trabalho, implicando a obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua) recessão.
Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso.
O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar.
É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português.
Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado de suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente.
Essa classe, enviou os interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continua a massacrar o povo com mais castigos.
Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido assimilados há séculos, pela Espanha.
Que convidativo, o ditado português: Quem não está bem, que se mude.
Certo. Bem longe de Portugal, como todos os que podem, estão fazendo.
Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora.
Que destino lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável.
Timothy Bancroft-Hinchey"
domingo, 9 de janeiro de 2011
Este é o tempo!
O "Jornal de Noticias" publica um interessante texto de opinião de Manuel Correia Fernandes, um arquitecto do Porto que colabora com esse jornal.
"Estamos em tempo de eleições. Acabará dentro de pouco mais de duas semanas um ciclo de actos eleitorais que chamaram os portugueses a pronunciarem-se sobre todos os seus "negócios". Europeias, autárquicas, legislativas e, agora, presidenciais, são os quatro actos eleitorais que tivemos. Estavam previstos, são actos normais em democracia e não resultam de qualquer mau ou irregular funcionamento das instituições. Não há, por isso, qualquer razão para deles nos alhearmos. A menos que não gostemos de emitir a nossa opinião, que não gostemos de ouvir os outros e que, por isso, não gostemos de viver em democracia.
Tecnicamente, não há diferença entre os diferentes actos eleitorais mas, na substância, são todos diferentes. Contudo, o que fica no registo deste tempo é, sobretudo, a ideia de que estamos sempre em torno dos mesmos problemas. Pior: a ideia que fica é a de que mais do que dos problemas, tratamos, sobretudo, das suas margens, da espuma das coisas. Ou seja, mais de casos do que de políticas. Daí, o sentimento de inutilidade e, portanto, o sentimento de cansaço e da consequente tendência para a não participação na vida colectiva que os portugueses continuam a manifestar. A verdade é que esta não participação num dos actos mais nobres da vida colectiva e comunitária dos povos que são as eleições tem um nome e chama-se abstenção.
Acontece que, em democracia, a abstenção significa a recusa ou a renúncia à escolha e, no limite, quererá mesmo dizer que não queremos resolver coisa nenhuma e que, deliberadamente, deixamos a outros essa tarefa e essa responsabilidade. Sim, porque, na realidade, haverá sempre alguém que, um dia, decidirá por nós e em nosso nome. E, naturalmente, decidirá em seu próprio critério e de acordo com os seus próprios interesses. E, sendo assim, de nada valerá, então, o nosso lamento. De nada valerá queixarmo-nos dos que de um modo ou de outro se dispõem a lidar com o que é nosso, com a coisa pública, e na base dos votos que deixamos ou não deixamos nas urnas. Dizemos, então, que esses outros são os tais "políticos" que, agora mais do que nunca, aparecem como os maus da fita e aqueles sobre quem recai o ódio que cresce à medida que decresce a qualidade da nossa vida e da nossa democracia. A verdade, porém, é que, responsáveis, somos todos!
É verdade que discursos diabolizando esses "outros", os tais "políticos", e lançando golfadas de veneno sobre tudo quanto é "coisa pública", não faltam. Uns, estão dentro há muito tempo mas parece que nunca lá estiveram. Outros, dizem que estão fora há muito mas parece que agora querem entrar sem, no entanto, o reconhecerem. Outros, ainda, parecem não estar nem dentro nem fora e não dizendo onde é que, afinal, querem ficar. Não se sabe porquê, como e para quê mas, para quase todos, os malandros são "eles", os culpados são os "outros" e, em geral, os responsáveis são sempre os tais "políticos"!
Ora, nada há de mais nefasto para a vida duma comunidade do que este sentimento de demissão colectiva e de culpabilização sistemática do outro que, para além do mais, parece não estar a produzir bons resultados. A verdade é que temos de mudar muita coisa e, sobretudo, de comportamento. E uma das coisas que é preciso fazer com urgência é a reabilitação da política enquanto arte de governar bem os povos. O que só é possível quando se faz com o povo e em nome do interesse colectivo. Que só colectivamente podemos definir e decidir. Que é o que, no mínimo, tem acontecido pouco. E, como se vê, com maus resultados. Mas não procuremos sempre nos outros - e apenas nos outros - as culpas e responsabilidades que são nossas e, sobretudo, nossas. De todos e de cada um de nós. Sem excepções. Então, se as coisas não vão bem, mudemos. Mudemos o que houver para mudar. Este é o tempo!"
É verdade.
Este é o tempo de mudar mas, para isso é preciso que os cidadãos vão ás urnas e que votem em branco.
Só o voto em branco diz que não queremos os partidos e só essa expressão da vontade popular fará mudar o regime.
Não se abstenham.
Votem em BRANCO!
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Uma vida horrível
Tiago Mesquita, jornalista do "Expresso" publicou um texto no seu blogue "100 reféns" em que relembra palavras antigas de José Sócrates sobre as suas qualidades para governar o País.
"Não tenho o talento e as qualidades que um primeiro-ministro deve ter" - José Sócrates
"É uma vida horrível que eu não desejo."
Para os que o acusam de faltar constantemente à verdade e de não ter competência para o cargo fica a resposta de José Sócrates dada, imagine-se, no dia 16 de Setembro de 2000.
José Sócrates, então ministro do Ambiente, em entrevista ao "Diário de Notícias"."Engenheiro José Sócrates, vamos vê-lo, um dia, primeiro-ministro?"
"Não! Primeiro porque não tenho o talento e as qualidades que um primeiro-ministro deve ter. Segundo, porque ser primeiro-ministro é ter uma vida na dependência mais absoluta de tudo, sem ter tempo para mais nada. É uma vida horrível que eu não desejo. Ministro é o meu limite. Aceitei pagar este preço. Nada mais do que isso." "DN"/2000
1 - José Sócrates cedo avisou que não tinha talento ou qualidade para ser primeiro-ministro, foi o primeiro a fazê-lo, por isso não venham agora queixar-se do resultado e dizer que ele não tem competências para o cargo porque na altura ninguém o desmentiu. Talvez tenha começado assim o mito de que o primeiro-ministro falta à verdade, outra calúnia. No caso de virem pedir satisfações é só lerem a entrevista ao "DN" do distante ano de 2000. É como ir chefiar a cozinha de um restaurante de luxo e avisar que não se sabe estrelar um ovo e depois quando o restaurante falir por falta de clientes... "Meus caros, eu bem vos disse que não tinha qualquer talento mas vocês não acreditaram". "A minha área são as argamassas".
2 - Ser primeiro-ministro para José Sócrates é, ou pelo menos era antes de o ser, algo horrível e que não desejava. Uma espécie de cargo com sintomas hemorroidais permanentes. Algo que ninguém quer sentir. Pelo menos quem não tiver qualidades ou talento ao nível da gestão de coisas horríveis e pestilentas e que causem verdadeiramente asco. Ministro ainda vá, eu "pago esse preço" e trato-vos do Ambiente. Mas "é o meu limite". Já estão a pedir muito ao José e isto não estica em termos "de talento e qualidades".
3 - Para se ser ministro em Portugal não é preciso ter qualquer espécie de talento ou qualidade (o que explica algumas escolhas). São características exigidas ao primeiro-ministro. E mesmo neste caso podem ser abertas exceções como a dupla eleição de José Sócrates confirma. Há ali uma fronteirazinha que divide o cargo de "simples" ministro e primeiro-ministro. De um lado a ausência de qualidade e talento, do outro a...falta de qualidade e talento mas com mais cinco anos de política em cima. Em pouco mais de cinco anos José Sócrates, segundo ele próprio, passou da versão humilde "sem talento ou qualidades para exercer o cargo" à arrogante "ainda está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor do que eu". Brilhante.
Os portugueses agiram nisto tudo como aqueles pais que decidem tirar as rodinhas à bicicleta dos filhos porque confiam na sua agilidade e destreza, no seu equilíbrio para conduzir a dita sem apoio ou muleta. Depois, quando o filho se enfia de frente contra um pinheiro resta a mágoa da escolha ao ver a criança em agonia, com o cabelo cheio de caruma e uma pinha enfiada na boca. Os portugueses tiraram as rodinhas a José Sócrates duas vezes. Os resultados estão à vista."
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
A sombra da falsidade
O "Diário de Noticias" publica hoje um artigo muito interessante de João César das Neves. A questão que se coloca é:
- Porque ainda não foi demitido?
A sombra da falsidade
"Os últimos anos trouxeram um traço original à nossa realidade política. Pela primeira vez há muitas décadas o País vê-se a viver debaixo de um manto de suspeitas, enganos, falsidades.
A vida política sempre teve proverbiais problemas com a verdade, pior numa sociedade mediática. Mas se uma certa ilusão e encenação fazem parte do saudável confronto parlamentar, existem épocas de distorção inaceitável, mesmo em sociedades civilizadas. O caso clássico é a presidência de Richard Nixon, cujo estilo e esquemas marcaram um período conturbado da fogosa democracia americana. Hoje vive-se situação semelhante em Portugal.
Desde 1974 a democracia sofreu fases muito diferentes, algumas difíceis e incertas. Mas nunca se viveu um clima de desconfiança e embuste como actualmente. Se tal situação não pode ser atribuível a uma pessoa, é verdade que, como Nixon, cabe a José Sócrates o papel central de responsável, inspirador e maestro desse ambiente. Trata-se, não tanto de um esquema consciente e organizado, mas de uma segunda natureza instintiva e automática.
As provas, hoje esmagadoras, tiveram sintomas desde o princípio. Apesar da pose inicial de estadista reformador, Sócrates viu-se logo envolvido num espectacular ardil para fugir da solene promessa eleitoral de não aumentar impostos. A surpresa indignada perante o que todos sabiam, o nível do défice, e a comissão técnica justificativa da cambalhota foram criações magistrais no género.
Este foi apenas o primeiro episódio de longa novela de ficções e patranhas. As questões financeiras permaneceram tema favorito, até ao rosário de PEC de 2010. A descarada desorçamentação e contabilidade criativa para sustentar projectos favoritos, como energias renováveis, distribuição de computadores e outros devaneios, escondem pesadíssimos compromissos sobre o futuro. Sobretudo as parcerias público-privadas, em que se apostou como nenhum governo do mundo, representam uma bomba de relógio fiscal que ultrapassa toda a nossa multissecular história de desregramento.
Nem só de dinheiros viveu a aldrabice. Todos os campos da vida nacional estiveram, mais ou menos, debaixo da sombra da falsidade. Das graves acusações na sua vida pessoal às supostas reformas corajosas que não mudavam nada, foram cinco anos de encenações, enredos e miragens. Claro que se tomaram medidas importante e foram feitas mudanças estruturais. Mas até essas tinham de vir sempre envolvidas em pretensões exageradas e roupagens fantásticas.
Nas questões fracturantes, prioridade irresponsável deste executivo, foram realizados prodígios de prestidigitação. Afirmando-se sempre um político equilibrado, moderno e conciliador, Sócrates enveredou impudente- mente pelo partido mais extremista, palpavelmente feliz por conseguir tal ilusionismo diante do país embasbacado.
É muito curioso que, nas várias suspeitas que surgiram relativamente a aspectos da sua história pessoal e política, o senhor primeiro-ministro tenha adoptado sempre a posição oposta à canónica. Os políticos acusados de fraudes ou tropelias costumam afirmar-se ansiosos que a questão vá a tribunal para que a verdade vença. Sócrates, nunca abandonando uma posição de negação indignada, fez sempre tudo para evitar o esclarecimento jurídico.
Este comportamento na cúpula ressentiu-se em todos os níveis da vida nacional. Portugal habituou-se a ver publicamente as contínuas e sistemáticas práticas de sobrepor à realidade um filtro distorcido, empregar expedientes oportunistas de manipulação, negar a evidência mais patente. A verdade desaparece sempre debaixo dos fumos da conveniência. Agora a crise faz a impostura descer a canalhice.
É bom não exagerar o significado desta realidade. Embora indiscutivelmente grave e nocivo, este novo estilo político nada tem a ver com as misérias de há cem anos. Além disso o repúdio generalizado pelo consulado de Sócrates terá consequências futuras. Como Nixon, ele ficará na história como hiato triste e aviso solene. Felizmente José Sócrates não representa a política lusa."