DERRUBAR O GOVERNO É OBRIGAÇÃO PATRIÓTICA

O inutil Cavaco Silva deu carta branca ao atrasado mental Passos Coelho para continuar a destruir Portugal e reduzir os portugueses a escravos da ganância dos donos do dinheiro.
Um governo cuja missão é roubar recursos e dinheiro às pessoas, às empresas, ao país em geral, para os entregar de mão beijada aos bancos e aos especuladores é um governo que não defende o interesse nacional e, por isso, tem de ser corrido o mais depressa possivel.
Se de Cavaco nada podemos esperar, resta a luta directa para o conseguirmos.
Na rua, nas empresas, nas redes sociais, há que fomentar a revolta, a rebelião, a desobediência, mostrar bem que o povo está contra Passos Coelho, Portas e os outros imbecis que o acompanham e tudo fazer para ajudar à sua queda.
REVOLTEM-SE!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão

Mais um interessante texto de Pedro Marques Lopes hoje publicado no "Diário de Notícias"

"Miguel Relvas, na TVI24, mostrou a sua revolta contra alguns municípios que devem milhões e mesmo assim tiveram o desplante de dar tolerância de ponto no Carnaval.

Pode-se acusar o ministro de muita coisa, mas não se pode dizer que estivesse a ser incoerente com o que é a linha de actuação do Governo. Vem, aliás, na sequência da decisão de acabar com feriados, com a proposta abandonada de aumentar meia hora a jornada laboral, da redução de férias e outras medidas que visam aumentar a permanência dos trabalhadores no posto de trabalho.

O pensamento político - se é que lhe podemos chamar político ou sequer pensamento - subjacente a esta estratégia é evidente: uma das principais razões para a crise que vivemos é o facto de nós, portugueses, trabalharmos pouco.

Como qualquer pessoa que utiliza a fé para tomar decisões, é perfeitamente indiferente falar de factos. Não valerá a pena informar o Governo de que os portugueses são dos povos europeus que mais horas trabalham ou, pelo menos, os que são obrigados a passar mais horas nos seus locais de trabalho. Também será inútil lembrar que os portugueses que trabalham em empresas estrangeiras, em Portugal ou no estrangeiro, são considerados excelentes trabalhadores e distinguem-se pela sua qualidade.

Não, Relvas e o Governo estão convencidos de que os trabalhadores portugueses são um bando de preguiçosos que é forçoso pôr a trabalhar. Mais, devem ser agora castigados por terem passado tantos anos de papo para o ar. Gostaria muito de saber o que pensará um qualquer operário que leva uma hora e meia para chegar à empresa onde trabalha e mais hora e meia para regressar a casa, depois de ter trabalhado nove ou dez horas, para no fim do mês receber oitocentos euros, deste tipo de pensamento. Enfim...

Pois é, foi o facilitismo e a preguiça que nos trouxeram ao actual estado de coisas. Isso e os Governos anteriores, bem entendido. Quanto aos Governos anteriores terá o ministro Relvas alguma razão. Não há dúvidas de que os últimos vinte ou trinta anos contribuíram, e de que maneira, para o péssimo estado do País. Mas ver a segunda figura do Governo ignorar olimpicamente esse pequeno detalhe da crise europeia, o ataque às dívidas soberanas, o quase colapso do sistema financeiro internacional, a cegueira criminosa dos dirigentes europeus na condução dos destinos europeus, a semelhança da nossa situação com a de quase todos os países da Europa e explicar tudo com os anteriores Governos e os facilitismos e quejandos é, pura e simplesmente, arrepiante. Bom, não seria de esperar muito mais de Miguel Relvas, cujo entendimento da política se resume na habilidade em angariar apoios de secções partidárias e em pôr notícias em jornais. Mas que diabo, pensar que é ele o coordenador da acção política do Governo é, no mínimo, assustador.

Talvez seja pedir demais, mas talvez também não fosse má ideia que Miguel Relvas esquecesse por momentos a propaganda e percebesse alguns dos problemas que as nossas empresas (é escusado pedir isso ao ministro Álvaro, pois já todos percebemos que ele sabe tanto de empresas e dos seus problemas como de lagares de azeite) enfrentam, e que estão longe, muito longe, de qualquer tipo de preguiça dos trabalhadores.

Em vez de estar a perder tempo com comissões interministeriais, que mais não são do que poeira para atirar aos olhos dos mais incautos, podia-se tentar informar dos problemas graves de formação, de capacidade de gestão e de organizar o trabalho de parte significativa dos nossos empresários. Das dificuldades que o Estado lhes impõe com as constantes mudanças de legislação, da kafkiana burocracia, da falta de crédito que lhes está a destruir as empresas, dos preços absolutamente exorbitantes que têm de pagar por electricidade, gás e petróleo que não lhes permite ser competitivos com os concorrentes estrangeiros, da carga fiscal asfixiante ou do inexistente sistema de justiça que faz que as dívidas sejam perdas.

Mas a verdade é que os sapateiros não são bons tocadores de rabecão."

O CLAN DUARTE LIMA e o POLVO LARANJA

Mais um mail de indignação que circula pela net, este sobre o envolvimento dos "notáveis" do PSD no caso BPN. Um escândalo que os politicos não querem ver resolvido na justiça.

"O POLVO" E A OPERAÇÃO FACE OCULTA COM RABO DE FORA

1- A partir de 2008 torna-se evidente que a operação Face Oculta foi redireccionada pela investigação e pelos Media para passar a visar principalmente Sócrates. Era preciso derrubar Sócrates e mudar de governo, porque havia gigantescos interesses em jogo e, em particular, o caso BPN prometia dar cabo do PSD.

2. Das fraudes do BPN ignora-se ainda hoje a maior parte. Trata-se de uma torrente de lama inesgotável, que todos os nossos Media evitam tocar.

3. O agora falado caso IPO/Duarte Lima, de que Isaltino também foi uma peça fulcral, nem foi sequer abordado durante o Inquérito Parlamentar sobre o BPN , inquérito a que o PSD se opôs então com unhas e dentes, como é sabido.
A táctica então escolhida pelo polvo laranja foi desencadear um inquérito parlamentar paralelo, para averiguar se Sócrates estava ou não a «asfixiar» a comunicação social ! Mais uma vez, uma produção de ruído para abafar o caso BPN e desviar as atenções.

4. Mas é interessante examinar como é que o negócio IPO/Lima foi por água abaixo.

5. Enquanto Lima filho, Raposo e Cia. criavam um fundo com dezenas de milhões , amigavelmente cedidos pelo BPN de Oliveira e Costa, Isaltino pressionava o governo para deslocar o IPO para uns terrenos de Barcarena, concelho de Oeiras. Isaltino comprometia-se a comprar os terrenos (aos Limas e Raposo, como sabemos hoje) com dinheiro da autarquia e a «cedê-los generosamente» ao Estado para lá construir o IPO.

Fazia muito jeito que fosse o município de Oeiras a comprar os terrenos e não o ministério da Saúde, porque assim o preço podia ser ajustado entre os amigos vendedores e compradores, quiçá com umas comissões a transferir para a Suíça.

6. Duarte Lima tinha sido vogal da comissão de ética (!) do IPO entre 2002 e 2005, estava bem dentro de todos os assuntos e tinha óptimas relações para propiciar o negócio. Além disso, construiu a imagem de
homem que venceu o cancro, história lacrimosa com que apagava misérias anteriores. O filho e o companheiro do PSD Vítor Raposo eram os escolhidos para dar o nome, pois ao Lima pai não convinha que o seu nome figurasse como interessado no negócio.

7. Em Junho de 2007 Isaltino dizia ainda que as negociações para a compra dos terrenos em causa estavam "em fase de conclusão" (só não disse nunca foi a quem os ia comprar, claro). E pressionava o ministro da Saúde: "Se se der uma mudança de opinião do governo, o cancelamento do projecto não será da responsabilidade do município de Oeiras."

8. Como assim, "mudança de opinião do governo"?

9. Na verdade, Correia de Campos apenas dissera à Lusa que o governo encarava a transferência do IPO para fora da Praça de Espanha e que estava a procurar um terreno, em Lisboa ou fora da cidade, para esse efeito. Nenhuma decisão tinha sido tomada, nem nunca o seria antes das eleições para a Câmara de Lisboa, que iam realizar-se pouco depois, em Julho de 2007.

10. No decorrer do ano de 2007, porém, a Câmara de Lisboa, cuja presidência foi conquistada por António Costa, anunciou que ia disponibilizar um terreno municipal para a construção do novo IPO no Parque da Bela Vista Sul, em Chelas, Lisboa. Foi assim que se lixou o projecto Lima-Isaltino: o ministro Correia de Campos não cedeu às pressões de Isaltino e a nova Câmara de Lisboa pretendia que o IPO se mantivesse em Lisboa. Com Santana à frente da autarquia e um ministro da Saúde do PSD teria tudo sido muito diferente. E os Limas e Raposos não teriam hoje as chatices que se sabe. E Duarte Lima até talvez já tivesse uma estátua no Parque dos Poetas do amigo Isaltino.

11. Sabemos como, alguns meses depois deste desfecho, o ministro Correia de Campos foi atacado por Cavaco no discurso presidencial de Ano Novo, em 1 de janeiro de 2008. Desgostado com as críticas malignas do vingativo Presidente, Correia de Campos pediu a sua demissão ainda nesse mês.
Não sabemos o que terá levado Cavaco a visar dessa maneira um ministro do governo Sócrates, por sinal um dos mais competentes. Que Cavaco queria a pele de Correia de Campos, foi bem visível. Ele foi a causa do fracasso do projecto do IPO/Oeiras e dos prejuízos causados ao clan do seu amigo Duarte Lima e ao polvo laranja (ª).

É bem possível que essa tenha sido a razão.

(ª) - é bom que se entenda que o polvo laranja tem o seu pai no Senhor Silva que nunca falou sobre o BPN, mas o lodo deste senhor é bem maior !!! Oxalá Portugal fosse uma França !!!"

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

PORTUGAL PAÍS DE SERVIÇOS

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Passos Coelho refugia-se na falsidade

Texto de Octávio Teixeira, ex deputado pelo PCP, hoje publicado no "Jornal de Negócios". Ao que parece foi o único que se apercebeu da estupidez proferida por Passos Coelho.

"No passado domingo, numa conferência do PSD em Gouveia, o primeiro-ministro declarou que "se a lei laboral durante tantos anos provocou tanto desemprego, tem de mudar, e os sindicatos têm de aceitar".

O primeiro-ministro começa a sentir-se assustado com as consequências das suas políticas. Mas isso não lhe dá legitimidade para falsear as causas da elevada taxa de desemprego que se registou no final de 2011. Se a legislação laboral fosse a responsável pelo desemprego galopante, seria inexplicável que até 2003 a taxa de desemprego se situasse nos 4 a 5%, abaixo da média europeia, e que só a partir desse ano, com a primeira grande alteração do Código do Trabalho (também por um Governo PSD-CDS) ela tenha aumentado aceleradamente e vá continuar a agravar-se. O desemprego dispara porque a redução do consumo gerada pelas políticas de austeridade trava o investimento e a produção.

Passos Coelho também faltou à verdade quando afirmou que "em Dezembro de 2011 o País acabou o ano com uma taxa de desemprego de 12,7%". É falso. Acabou com a taxa de 14%. E se lhe adicionarmos os inactivos disponíveis e os desencorajados ela cresce para os 18,2%. Foi nos seus seis meses de governação que se destruíram 160 mil postos de trabalho! Assustado ou não, um primeiro-ministro tem o dever de assumir as suas responsabilidades, não tem o direito de se refugiar na falsidade.E só a incompetência politica pode explicar que agora, à pressa e para lançar fumaça, invente a criação de uma "task force" alegadamente para tentar resolver o problema dos 156 mil jovens desempregados. Incapazmente o Governo foi apanhado desprevenido. E descarta os 405 mil desempregados de longa duração. Voltando à citação inicial: e se os sindicatos não aceitarem?"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A revolução em marcha

Algo não bate verto no reino laranja.
Pedro Marques Lopes, conhecido propagandista do PSD, apresenta hoje no "Diário de Noticias" um forte texto contra Passos Coelho.

"Que o primeiro-ministro me aconselhe a não ser piegas, por eu pensar que ele com a inestimável orientação dos irresponsáveis líderes europeus está a conduzir Portugal para uma gigantesca catástrofe, é apenas uma tolice. Não estou desempregado, ganho mais do que a maioria dos portugueses e consigo sustentar a minha família. Serei então piegas, na opinião do primeiro-ministro. Eu e mais uns milhares que conseguem, com menos dificuldades, aguentar os sacrifícios impostos. Até poderia argumentar que a minha revolta não tem a ver comigo mas com os meus filhos, cujo futuro, sempre na minha opinião, o primeiro-ministro está a ajudar, e de que maneira, a hipotecar. Mas, se calhar, é só pieguice minha. Ficamos assim: o primeiro-ministro acha-me piegas e eu acho que ele disse uma tolice. Tudo jóia.

Já não me parece que os meus concidadãos que viram ser-lhes retirado 50% do décimo terceiro mês sem qualquer razão, os funcionários públicos que vão ficar sem dois salários, os pensionistas que descontaram toda a vida para agora lhes ser dito que foi em vão, os empresários que não encontram crédito para as suas empresas funcionarem, são capazes de não ter o mesmo fair play que eu. São mesmo capazes de se sentir insultados.

Também não me parece que os quase oitocentos mil desempregados, os pensionistas que sobrevivem com quatrocentos euros por mês, os que ganham o salário mínimo ou os afortunados que ganham a perfeita loucura de setecentos e cinquenta euros se sintam propriamente elogiados quando o homem que devia saber das suas terríveis condições de vida lhes dá uma virtual pancadinha nas costas e lhes diz para não serem piegas.

É que eles até são complacentes e portam-se bem. Sabem que trabalham mais horas que os outros trabalhadores europeus, que têm menos férias e que ganham menos, e não se queixam. Apesar de saberem que a culpa do actual estado de coisas não é deles, aceitam pagar os desmandos do sistema financeiro internacional, a incompetência e a falta de visão de quem esteve ao leme dos destinos de Portugal, a loucura das Merkels, Sarkozys e quejandos. Aceitam porque pensam que não há grandes alternativas, porque interiorizaram, certa ou erradamente, que a austeridade é inevitável.

Mas até poderíamos ser complacentes com o primeiro-ministro. Já sabemos que Passos Coelho tem pouco cuidado com as palavras. O problema é que na prelecção que proferiu "o menos piegas" não surgiu do nada. Veio, sim, abrilhantar um discurso prenhe de moralismo revolucionário. Desde casar o fim da tolerância de ponto no Carnaval com uma espécie de nascimento de homem novo de "comportamento aberto e competitivo", mostrando que quem critica a medida é "um agarrado ao passado" e quem a defende "tem ambição", passando pela lembrança de que quando a troika trabalhava os portugueses gozavam feriados como se isso fosse um sinal de "velhos comportamentos preguiçosos e demasiado autocentrados", até à acusação de que quem acha que a austeridade desmesurada nos levará a um beco sem saída quer "voltar para trás" e "gastar o dinheiro que Portugal não tem", sem que faltasse o épico-revolucionário "transformação de velhas estruturas", valeu quase tudo. Os velhos reaccionários contra os jovens revolucionários, os preguiçosos contra os trabalhadores, os que celebram um glorioso futuro e os que se agarram às velhas tradições.

A Passos Coelho só faltou mesmo exprimir claramente que, na sua opinião, as razões da crise que atravessamos são fruto da suposta preguiça e indolência portuguesa.

O "menos piegas" encaixou bem no discurso de quem pensa que é preciso destruir tudo, arrasar um modo de vida para depois construir um mundo novo em que os fortes e competitivos vencerão e os fracos chorarão na sua pieguice. Foi um discurso de um revolucionário, não de um reformador. Um discurso de um radical, não de um moderado. Um discurso de um líder de um partido qualquer, mas não de um partido social-democrata ou sequer de um liberal.

Ninguém negará ao primeiro-ministro legitimidade para impor o que acha melhor para o País e ninguém o pode acusar de, honesta e frontalmente, o não anunciar. O que talvez fosse conveniente é já em Março, durante o congresso do Partido Social Democrata, mudar o nome do partido. É que as palavras são importantes e ainda têm significado."

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O minúsculo País de Pedro Passos Coelho

O "Jornal de Negócios" publica hoje um texto de Nicolau do Vale Pais que, pela sua objectividade, merece ser aqui reproduzido.

É caso para dizer que o encanto de Passos Coelho começa a desvanecer-se e que mais e mais pessoas já o estão a ver como ele realmente é e no que quer transformar este pobre País.

"São afirmações usadas no limite da decência, as de Passos Coelho. Ironicamente só "um piegas" responsabilizaria um colectivo abstracto, "o povo", sobre o qual tem poder e responsabilidade, para encontrar desculpa para o fracasso de uma missão que é sua. A parte arrepiante é a forma como rapidamente se transforma o assunto em "fait-divers", sem que ninguém nos "media" tenha percebido (ou tenha querido perceber) o essencial; não importa o quanto Passos ofende ou deixou de ofender, ou se o fez, ou deixou de o fazer, "de propósito" - o essencial é que a culpa está entregue, e a água sacudida do capote. O País é o problema; a pátria possível de Passos Coelho passou ser a troika e dessa devoção dependerá, em última linha, a sua reeleição e, sobretudo, a sua desresponsabilização caso nos vejamos gregos. Mas não há que ficar surpreendido; afinal, quanto tempo levou o "país televisão" a pensar direito sobre Sócrates?

Depois da violência liminar rude do Socratismo, sem precedentes desde o Estado Novo, competia ao novo Governo quebrar com o ciclo enfermo do descrédito impensável a que tínhamos chegado, ao nível da credibilidade dos governantes junto do eleitorado. Muita da expectativa dos portugueses baseava-se na ideia de que a requalificação do papel do Estado na economia, nomeadamente através da diminuição da sua influência partidária directa e promíscua, pudesse relançar o tecido produtivo, com base em pressupostos mais liberais do que proteccionistas, mais democráticos do que populistas. Sucede que esta catrefa de intenções foi usada como um mero "slogan" publicitário, condenando-nos ao rápido desalento assim que figuras utilizadas para credibilizar pactos durante a campanha eleitoral - como Eduardo Catroga - começaram a cobrar os favores prestados. Os portugueses tinham expectativas legítimas, e votaram de acordo com elas; não foi o eleitorado que desiludiu.

José Sócrates precisaria sempre de se enganar a si e aos outros, pois a génese do seu sucesso dentro do próprio PS foi sempre uma mentira, alimentada pela venalidade obscena e pela arrogância surda e decadente das gradas figuras do Partido, prontas para trocar a ética por dinheiro, comerciando o ópio do sucesso; essa mentira começou no segundo governo de António Guterres e no assalto ao projecto (ou ao pacto) assumido nos Estados Gerais, às mãos dos mais obscuros perfis do Partido, de António Vara a José Lello. Já Passos Coelho não precisa de mentir a ninguém: quando se vê o País a sofrer e se é insensível ao ponto de largar "postas" como a da como emigração juvenil ou esta recente "boutade" sobre a pieguice nacional, estamos perante um caso de tecnocracia tão agudo, quanto vulgar. E quando se é um tecnocrata, está-se protegido da desilusão do eleitorado porque, precisamente, a tecnocracia se destina a reduzir toda a política à estreiteza de vistas dos seus fiéis executores, noção de "pátria" incluída. Pedro Passos Coelho é um tecnocrata proficiente, com raiz política num neo-liberalismo feroz, muito bem disfarçado pelo som melífluo da sua belíssima voz. Estamos perante um desastre de insensibilidade e inconsequência, disfarçado com pose de Estado; se há coisa que precisávamos era de confiança institucional, mas o Chefe do Governo decidiu esquecer-se que até mesmo um cão pode morder o dono, se este lhe der demasiados pontapés.

Seria de elementar humildade perceber que se o País fosse outro - porventura mais exigente, mais objectivo e lúcido por se encontrar melhor governado - o Sr. nunca teria chegado a primeiro-ministro. Mas não se preocupe: esse país, estamos a fazê-lo no espaço que nos sobra para lá dos Partidos e da hipocrisia. Sem pieguice, e com uma grandeza a milhas de qualquer promessa eleitoral."


* Nicolau Pais

Docente na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto
Consultor em desenvolvimento estratégico nas áreas da produção e comunicação.

Bio

Estudou Teatro no "Drama Center, London" entre 1996 e 1998.
Divide o seu tempo entre a actividade de docente na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, e o trabalho de consultoria e desenvolvimento estratégico nas áreas da produção e comunicação.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os insustentáveis

Texto de Baptista Bastos hoje publicado no "Diário de Notícias"

" Aguiar-Branco chegou e disse. Na cara de generais, coronéis e afins, decretou que a tropa, tal como está, é financeiramente insustentável. A afirmação caiu mal, ainda por cima porque pressupunha a redução drástica de efectivos. É um sinal dos tempos. Desde que este Governo ascendeu ao poder, fomos sabendo, com sobressalto e resignação, que a pátria é insustentável. Na saúde, na educação, na assistência social, na justiça, na segurança, nos transportes públicos, na RTP, na RDP, nas pensões e nas reformas, sem a supressão dos subsídios de férias e do décimo segundo mês, com a manutenção da tolerância de ponto no Carnaval, a pátria não consegue sustentar-se a si mesma. Pergunta-se: então, como se aguentou, até agora? Com dívidas, golpadas, ardis e manigâncias?

Nesta teoria de "insustentabilidade", os próprios portugueses estão incluídos. O Governo não sabe o que fazer deles, e incita-os a emigrar, com o descaramento de quem é incapaz de solucionar o problema e assim dissimula a sua incompetência política e ética.

Mas as coisas complicam-se. E as decepções vão-se acumulando. A solidariedade parece estar desempregada na Europa. O imigrante é olhado de soslaio. Uma das facetas essenciais do neoliberalismo é reduzir a democracia às funções de "superfície" e estimular o individualismo. O "estrangeiro" é o inimigo. A possibilidade de escolha, apanágio das sociedades democráticas, dissolveu-se: não há oásis; o conceito de pluralidade transformou-se numa hostilidade que ronda a abjecção. O jornalista Noé Monteiro, correspondente na Suíça da RTP, foi o autor, no domingo, p.p., de uma pungente reportagem sobre portugueses que tentaram fugir à fome e à miséria e entraram num outro crisol do inferno. A Suíça, outrora acolhedora, embora áspera e burocrática, ela própria feita de politeísmo de culturas e de valores, é uma incerteza irredutível. O neoliberalismo impôs a normalização das estruturas e dos comportamentos. O mundo, hoje, é um lugar de vazio, de afronta e de desumanização.

Em Portugal, ameaçados pelas contingências de uma filosofia política que alastrou como endemia, os portugueses não sabem que fazer. Aliás, como as hesitações, as derivas e as perplexidades de quem nos governa. Esta gente quer-nos levar para aonde?

Parece que ninguém possui capacidade e talento para enfrentar a realidade circundante. "Todos somos culpados." A frase, utilizada por quem, realmente, é responsável, serve de encobrimento a uma experiência político-económica que deixou a Europa de rastos e promoveu a mediocridade como norma. O surgimento de Merkel e de Sarkozy pertence a essa lógica do absurdo, incapaz de resolver a complexidade criada pela sua própria irracionalidade.

Estamos num ponto da História em que todos somos "insustentáveis"."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ambrósio

Texto de Paulo Morais hoje publicado no "Correio da Manhã".

"Mesmo com provas evidentes, os tribunais não conseguem, mais uma vez, apanhar os poderosos.

O sistema de Justiça absolveu Valentim Loureiro no caso da quinta do Ambrósio. Mesmo com provas evidentes, os tribunais não conseguem, mais uma vez, apanhar os poderosos.

Na Câmara de Gondomar, com a participação ou patrocínio de Valentim Loureiro, um terreno agrícola é adquirido por um milhão de euros. A classificação do solo é alterada e em seis dias o terreno é vendido pelos protegidos de Valentim por cerca de quatro milhões. Esta operação de tráfico de terrenos, caucionada pela câmara, gerou uma margem de lucro de 300 por cento.

Mas as vigarices não ficam por aqui. O terreno é adquirido a um preço exorbitante por uma empresa pública, a STCP, cujo presidente de então dependia organicamente de... Valentim Loureiro. Na posse do terreno, a STCP deixou-o ao abandono. Até hoje.

Chegado o caso a tribunal e ao fim de um longo processo com mais de dez anos (!), Valentim é absolvido.

Na leitura da sentença, o juiz veio declarar que a Câmara de Gondomar funciona como uma agência de intermediação imobiliária.

Mas não tira daí qualquer consequência. As razões da absolvição não se percebem. Mas serão uma de três: ou o crime julgado não foi bem identificado ou definido, o que será inadmissível; ou a acusação foi mal conduzida e estamos perante uma enorme incompetência do Ministério Público; ou o julgamento foi condicionado pela política.

Em suma: os amigos de Valentim compraram um terreno que Valentim, na câmara, valorizou; os amigos venderam a uma empresa pública gerida por outros amigos de Valentim e a um preço influenciado por este. Os amigalhaços ficaram milionários. "Foi sorte", diz ele. Sorte deles e azar nosso, dos contribuintes que pagamos esta fraude com o dinheiro dos nossos impostos.

Este caso tornou-se emblemático. Incorpora todos os ingredientes: autarcas, familiares destes, advogados ardilosos, fuga ao Fisco, empresas públicas mal geridas, urbanismo nada sério, tribunais incompetentes.

Perante esta política nauseabunda, Ambrósio, apetecia-me algo. Tomei a liberdade de pensar nisso. Talvez uma revolução."