Texto de Daniel Deusdado hoje publicado no "Jornal de Noticias"
"Finalmente uma decisão certeira! As empresas de transportes públicos vão receber mais dinheiro pelo vital serviço que prestam à sociedade portuguesa. A troika exige aumentos de 20% e é fundamental salvá-las da falência. Mas há um erro grave neste processo: o Governo enganou-se sobre quem deve contribuir para as salvar.
Explico: os transportes públicos nas grandes cidades ainda não faliram porque existem milhares de utilizadores, infelizmente em número insuficiente. São estes utentes que tornam possível a vida urbana sem trânsito ainda mais caótico ou ar irrespirável. E agora, os aumentos caem em cima deles? Quem utiliza o carro na cidade deveria pagar uma parte dos lugares vazios nos transportes públicos. Porque o que está aqui em causa não é apenas o princípio do utilizador-pagador, mas também o do não-utilizador-pagador.
Infelizmente o "Super-Álvaro", o novo ministro dos Transportes que contratamos no Canadá, fez o básico, sem centelha de imaginação. "Shame on you Álvaro" (desculpem ser em inglês mas assim ele entende melhor). Estávamos à espera de vanguarda, imaginação, decisões com o recorte de um n.º10 da equipa, um 'play-maker'. Álvaro: aumentares os passes 15 a 25% é andar a tocar a bola para o lado em vez de resolveres o jogo.
Reestruturação a sério, portanto. O Estado deveria passar estas empresas de transportes (sem dívidas) para as áreas metropolitanas - STCP, metros, Carris, CP-Suburbanos, etc.. As autarquias, por seu lado, poderiam obter receitas novas para incentivar o transporte público. Um exemplo: pagamento electrónico de portagens nas cidades (ex: na Via de Cintura Interna, Ponte da Arrábida e Freixo, na CRIL ou Eixo Norte-Sul, e em vias alternativas citadinas que impeçam fugas ao pagamento). Mas - importante - o valor destas portagens deveria ser pequeno, por exemplo 10 cêntimos por utilização, e só em locais com real oferta de autocarros ou ferrovia. Essa receita deveria ser obrigatoriamente consignada às empresas de transportes públicos (que assim talvez não precisassem de aumentar tanto as tarifas).
A actual situação é a mais injusta de todas. O Orçamento do Estado continua a despejar milhões de euros, de contribuintes de todo o país, no défice dos transportes de Lisboa e Porto. Em contraponto, no interior, as notícias são sempre as mesmas: fecha o posto de saúde e a escola, acaba o comboio, encerra o banco, extingue-se o posto dos correios, vai-se embora a GNR. Mesmo que queiram pagar mais, não têm serviços básicos. E transportes, nem se fala.
2. Uma nova lógica de repartição de receita para o transporte público deveria ser estendida às scut e auto-estradas. O Estado tem de ter a coragem de renegociar com as concessionárias, por muito que os interesses instalados no Grupo Mello (Brisa) e Mota-Engil (Ascendi) sejam poderosos. A crise é para todos mas os governos são quase sempre cobardes face aos grandes grupos. Os contratos impedem-no? O Governo quebrou o contrato eleitoral com os cidadãos ao criar impostos extraordinários e ao impor aumentos nos passes até 25%, medidas que não anunciou. E se os cidadãos também não quiserem ser solidários com a crise? Podem?
As concessionárias das auto-estradas deveriam indexar, por exemplo, 5 por cento das receitas de portagens a favor das empresas de transportes. Uma espécie de "corte dos 'lucros de Natal' de concessionárias monopolistas". Com este dinheiro começava-se a endireitar a CP e a Refer sem tornar os bilhetes cada vez menos concorrenciais. É fazer as contas: bastam duas pessoas num carro para que uma viagem até Lisboa seja mais barata por estrada que por comboio, apesar da brutalidade do preço das portagens e combustíveis. Quanto mais se aumenta o preço na ferrovia, mais automóveis há na estrada. E quem vai pagar o CO2 a mais emitido por Portugal? Exactamente: os contribuintes, ricos ou pobres.
É fundamental dar-se justiça a esta decisão. Só os sábios chegam à suprema humildade de corrigir os próprios erros em tempo útil. Aqui está um momento para super-homens. 'É uma bala? É um comboio? Não!!!... É o Super-Álvaro!'. "
quinta-feira, 28 de julho de 2011
"Shame on you" Álvaro
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