Texto de José Eduardo Moniz hoje publicado no "Correio da Manhã "
"O ministro das Finanças alega que para fazer cortes racionais na despesa é preciso tempo. Creio que poucos discordarão de Vítor Gaspar. Só que, pela mesma ordem de ideias, exigir-se-ia que fosse igualmente cauteloso na forma como busca receita para o Estado.
O saque fiscal de que é o principal rosto assemelha-se ao comportamento de um cowboy do faroeste que dispara para acertar em tudo o que mexe. Recolhe consenso a ideia de que o ministro é bom técnico e esforçado estudioso. Começa, em contraste, a avolumar-se a noção de que lhe falta sensibilidade para conciliar a teoria com a realidade e o desejável com o possível, num país que não é uma abstracção e que é feito de pessoas .
A necessidade de controlar o défice e reduzir o endividamento revela-se tão óbvia que mal se ouvem vozes contestando o objectivo. As críticas avançam todas no sentido de considerar excessiva a austeridade que está a garrotear a economia e a avolumar a recessão, condicionando, de forma fatal, o relançamento. Com salários em perda e o desemprego a aumentar, acreditar na dinamização do consumo é mentira. Pelo contrário, vai diminuir ainda mais. Pensar que a recuperação se fará por via das exportações é ficcionar a dimensão do sector exportador nacional, demasiado pequeno para a ambição da tarefa .
Faz falta perceber qual o modelo macroeconómico que Vítor Gaspar tem na cabeça. Aumentar impostos e penalizar quem trabalha não é estratégia que abra portas ao crescimento. Se franqueia algumas, limita-se às que conduzem aos corredores da penúria, ao estrangulamento das pequenas e médias empresas e ao empobrecimento da classe média. Quem muito tem com muito continua, a avaliar pelo carinho com que é tratado pelas políticas fiscais, em contraste com quem vive exclusivamente dos salários. Mesmo um político ocasional, que se quer distinguir dos que levaram Portugal a bater no fundo, não pode abdicar de uma visão humanista e solidária, em nome de pragmatismos fundamentalistas. Também o ministro da Saúde ataca os problemas reduzindo serviços, cortando apoios, extinguindo comparticipações e fazendo o utente pagar mais por tudo. Atira-se ao que está mais à mão, sob a alegação de que a mudança estrutural é um processo lento, que exige tempo. Mas, afinal, foi a perspectiva de mudança profunda de paradigma que contribuiu fortemente para o derrube de Sócrates. Os portugueses não se esquecem disso e até agora ainda não entenderam para onde o Governo quer levar o País."
sábado, 10 de setembro de 2011
Saqueador de voz meiga
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