Texto de José Eduardo Moniz hoje publicado no "Correio da Manhã".
"Uma época como a que enfrentamos obriga qualquer responsável político a ter cuidado com o que diz. A prudência e a contenção são aconselháveis numa situação em que os fundamentos económicos e sociais que regeram a sociedade portuguesa, ao longo de décadas, desabam ao ritmo dos humores dos credores e dos ditames da Alemanha. É, por isso, inexplicável que Passos Coelho se desdobre em afirmações que, mais do que "gaffes", traduzem pensamento pouco estruturado e se mostram susceptíveis de revelar falta de respeito por promessas e compromissos.
Aconselhar os professores a procurarem na emigração a sua sobrevivência é, provavelmente, uma convicção que o primeiro-ministro alimenta, mas que, verbalizada, convida ao desânimo colectivo, suscitando dúvidas legítimas quanto à sua crença na resolução da crise e à sua capacidade para ser motor das mudanças estruturais de que o País carece. Depois de tais palavras não se percebe por que deverá um jovem, desalentado com a escassez de oportunidades que se lhe deparam, acreditar em Portugal. O primeiro--ministro não se pode resumir ao papel de alto comissário de uma qualquer agência de emigração, vocacionada para a angariação de empregos no estrangeiro.
Tal declaração, depois de outra em que deixava claro que o valor das reformas, daqui a poucos anos, ficará por metade do de hoje, é mais um tiro certeiro a ferir de morte a esperança. Bem podem Passos Coelho e o seu braço-direito Miguel Relvas (sempre pronto a ir em socorro do chefe para tentar enquadrar-lhe o raciocínio) argumentar que é o realismo que os impele a falar. Só adicionam cacofonia e desorientação à supressão dos benefícios sociais que ocorre a um ritmo avassalador.
Já se sabe que os governantes, hoje, se debatem com limitadíssima autonomia, pouco mais sendo do que transmissores de decisões tomadas lá fora, ao jeito de soldadinhos de chumbo, dependentes de um comando superior que os manipula. A troika lembra-nos isso numa base quotidiana, não se eximindo os seus representantes a proferir comentários que nos recordam o regime de protectorado em que vivemos e que só não são humilhantes, porque a dignidade nacional se está a esvair dia após dia. Veja-se a forma como se revêem e logo se voltam a alterar as regras dos subsídios de desemprego, as indemnizações por despedimentos e as taxas da saúde. A cartilha que trazem no bolso é feita de números. Só que um país não é composto por algarismos , mas sim por pessoas. E é para elas que se governa. Esquecer isso é esquecer Portugal.
Há muita gente que não resiste a um microfone com medo de deixar de existir. Cavaco Silva, por exemplo, que agora resolveu tirar as críticas do armário em que as conservou no tempo de Sócrates e António José Seguro que, de substantivo, ainda pouco ou nada mostrou , tão manietado está dentro e fora do PS.
LUZ DE AVELÃ
O Natal vestiu-se de dragão chinês. O controlo da EDP muda-se para Pequim. Para Passos e seus pares os números falaram mais alto do que os equilibrismos políticos. O dinheiro não tem cor quando a fome é muita. Perderam os que, no Governo, queriam a electricidade com outros sotaques.
TRAMA-SE O MEXILHÃO
Está a aumentar o número de doentes à espera de cirurgias nos hospitais. Sem dinheiro, foram reduzidos os pagamentos adicionais aos profissionais de saúde que permitiam a realização de tais actos médicos. Os cortes que o ministro Paulo Macedo aplica produzem efeitos. Quem sofre? O pessoal do costume…"
sábado, 24 de dezembro de 2011
Soldadinhos de chumbo
Etiquetas:
governo,
passos coelho
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário