Parece que não somos só nós que estamos preocupados com o que aí vem.
Artigo de opinião publicado hoje, 30 de Junho de 2010, no jornal Diário de Noticias.
O discurso da ambiguidade - por Baptista Bastos
"Pedro Passos Coelho falou, com amenidade, acerca das alterações ao programa do PSD, que pretende intentar. Acentuou que o mundo está em mudança e que o partido, naturalmente, tem de acompanhar o mundo e a mudança. Para aviso das almas mais sobressaltadas esclareceu que Sá Carneiro, na "sua época", chegara a afirmar que o SPD alemão (o de Willy Brandt) era o seu paradigma e o molde que desejava aplicar ao partido que fundara. Neste momento, Passos Coelho sorriu levemente, e informou ser a CDU germânica o actual arquétipo do actual PSD, reconhecendo, assim, que caminhava, desenvolto, com os tempos novos. (Para os esquecidos, a CDU era o partido de Franz-Josef Strauss, o "toiro da Baviera", e um dos políticos mais reaccionários e perigosos da Europa daquele tempo, um paladino da Guerra Fria e do confronto sem concessões. É, também, o partido de Angela Merkel).
Não me parece que, actualmente, este seja o exemplo mais apropriado de partido e a ideologia mais adequada para enfrentar os nossos dilemas. Há dias, confidenciei, a um amigo comum, que Passos Coelho está a falar de mais e a não dizer rigorosamente nada.
O novo presidente do PSD está a encaminhá-lo para as zonas dos objectos perdidos, no propósito (acaso sem intenção, o que é pior) de romper os laços sociais, e de fazer desaparecer, simultaneamente, as garantias dos nossos direitos individuais, e um horizonte de valores cuja importância nunca denegámos. A exigência democrática não se compadece com a incerteza.
As últimas sondagens não são propícias a grandes euforias. Apesar da corrosão do PS, e de Sócrates ser o primeiro-ministro mais vilipendiado da democracia, os equilíbrios são surpreendentemente mais estáveis do que se previa. E a esquerda continua maioritária. Penso que o discurso de Pedro Passos Coelho provoca uma lógica de semelhança com o PS. Quando assevera que o PSD está, apenas, a ajudar o País, Passos Coelho embrulha-se numa dualidade de critérios que não encoraja a tomada de decisão por parte dos eleitores. De contrário, as conclusões da última sondagem, publicada anteontem no DN, seriam obviamente muito diferentes.
Se o Governo é a baralhada que se conhece, os torções a que procede o PSD, entre a palavra e a acção, impedem-nos de descortinar uma perspectiva de escolhas, de valores e de padrões. A tese de que não agir faz parte do agir parece-me anacrónica. Sobretudo quando, apesar de lacunas e desconsolos, o português comum já não participa nessa "adesão passiva" que fez a história das tiranias e das democracias de superfície.
E não há jornalistas estipendiados, nem comentadores do óbvio que consigam alterar esta direcção das coisas."
quarta-feira, 30 de junho de 2010
O discurso da ambiguidade
terça-feira, 29 de junho de 2010
A distopia* fiscal da Europa: a estrada da "Nova Austeridade"
Transcrevemos a seguir um texto que nos foi enviado por email e que denuncia, de forma clara, o que se está a passar na Europa e no mundo dominado por neo-liberais. Empiricamente todos tínhamos já a percepção de que algo não batia certo com estas histórias de austeridade forçada para redução do défice mas este autor, Michael Hudson, ex-economista na Wall Street e agora professor da Universidade do Missouri, Kansas City, faz uma análise fundamentada da situação e põe o dedo na ferida denunciando as intenções por trás das sinistras politicas económicas que os políticos europeus estão a impor aos cidadãos.
A tradução para português tem algumas falhas mas mesmo assim dá para perceber bem os pontos apresentados, Os interessados em ler o original em inglês podem seguir este link. Do mesmo autor recomendamos também a leitura do texto sobre o que se está a passar na Letónia, "Latvia’s Cruel Neoliberal Experiment", pois podemos vir a cair numa situação semelhante.
O texto é um pouco longo mas vale a pena ler.
"UE de hoje, EUA de amanhã
A distopia* fiscal da Europa: a estrada da "Nova Austeridade"
por Michael Hudson [*]
Manifestação contra o G20 em Toronto. A Europa está a cometer suicídio fiscal – e terá pouca dificuldade em encontrar aliados este fim-de-semana nas reuniões do G-20, em Toronto. Apesar de o aprofundamento da Grande Recessão ameaçar provocar a depressão total, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e os primeiros-ministros desde o da Grã-Bretanha David Cameron até o da Grécia George Papandreu (presidente da Internacional Socialista) e o do país hospedeiro, o Canadá, o conservador Stephen Harper, estão a clamar por cortes nas despesas públicas.
Os Estados Unidos estão a jogar um papel ambíguo. A administração Obama é inteiramente a favor de cortes na Segurança Social e nas pensões, eufemizados como "equilibrar o orçamento". A Wall Street está a pedir reduções "realistas" das pensões do estado e locais em consonância com a "capacidade para pagar" (isto é, para pagar sem tributar o imobiliário, as finanças ou os escalões de rendimentos mais altos). Estas pensões locais foram deixadas sem financiamento de modo a que as comunidades possam cortar impostos imobiliários, permitindo que o valor dos arrendamentos sejam comprometidos com os juros dos bancos. Sem uma redução (write-down) da dívida (por parte dos banqueiros hipotecários ou possuidores de títulos), não há maneira de que qualquer modelação matemática possa produzir meios de pagar estas pensões. Permitir que os trabalhadores vivessem "livremente" depois de os seus dias de trabalho terem terminado exigiria das duas uma: (1) que os possuidores de títulos não fossem pagos ("impensável") ou (2) que impostos sobre a propriedade fossem aumentados, forçando ainda mais lares a uma situação líquida negativa e conduzindo a ainda mais vitórias fáceis e perdas bancárias com as suas hipotecas lixo. Dado o facto de que os bancos a determinar a política económica nacional nos dias de hoje, não parece correcto para o povo esperar que uma sociedade de lazer venha a materializar-se em qualquer tempo breve.
O problema para os responsáveis dos EUA é que a súbita paixão da Europa pelos cortes de pensões pública e outras despesas sociais contrairá as economias europeias, reduzindo o crescimento das exportações estado-unidenses. Responsáveis dos EUA estão a pressionar a Europa a por enquanto não travar a sua guerra fiscal contra o trabalho. Consideram melhor coordenar com os Estados Unidos, após um mínimo de recuperação.
Sábado e domingo verão o resultado semestral de uma cuidadosamente orquestrada guerra financeira contra a economia "real". A escalada começou aqui nos Estados Unidos. Em 18 de Fevereiro, o presidente Obama amontoou na sua Comissão do Défice da Casa Branca (anteriormente a Comissão Nacional sobre Responsabilidade Fiscal e Reforma) a mesma espécie de ideólogos neoliberais que constituíram a notória Comissão de Greeenspan sobre "reforma" da Segurança Social, em 1982.
As reestruturações pró-finanças, anti-trabalho e anti-governo iniciadas em 1980 deram à palavra "reforma" uma conotação negativa. A comissão é encabeçada pelo antigo senador republicano do Wyoming Alan Simpson (o qual explicou de forma desdenhosa que a Segurança Social é para o "povo miúdo") e pelo neoliberal de Clinton Erskine Bowles, que dirigiu o combate pela Lei do Orçamento Equilibrado de 1997. No comité estão também o conservador democrata Max Baucus de Montana (o presidente pró-Wall Street do Comité de Finanças). O resultado é um sonho anti-mudança de Obama: advocacia bipartidária por orçamentos equilibrados, o que na prática significa travar os défices incorridos no orçamento – os défices que Keynes explicou serem necessários para alimentar a recuperação económica ao providenciar liquidez e poder de compra.
Um orçamento equilibrado num período de baixa económica significa contracção para o sector privado. Como as economias ocidentais movem-se numa dívida deflacionária, esta política significa contrair mercados para bens e serviços – tudo para suportar exigências da banca sobre a economia "real".
FABRICAÇÃO DA CRISE GREGA
O exercício de administração das percepções públicas para [fazer] imaginar que tudo isto é uma coisa boa foi escalado em Abril com a fabricação da crise grega. Jornais de todo o mundo descobriram ofegantemente que a Grécia não estava a tributar as classes ricas. Eles juntaram-se num coro a exigir que os trabalhadores fossem mais tributados para compensar a desoneração fiscal da riqueza. Era a sua versão do Plano Obama (ou seja, a velha Rubinomics).
No dia 3 de Junho o Banco Mundial reiterou a doutrina da Nova Austeridade, como se fosse uma nova descoberta. O caminho para a prosperidade é através da austeridade. "Municípios ricos podem ajudar a desenvolver as economias a crescerem mais rapidamente cortando despesas governamentais ou elevando impostos". O Novo Conservadorismo Fiscal tem como objectivo encurralar todos os países a desescalarem despesas a fim de "estabilizar" economias através de um orçamento equilibrado. Isto é para ser alcançado pelo empobrecimento do trabalho, cortes de salários, redução de despesas sociais e fazendo retroceder o relógio para a boa e velha guerra de classe como havia florescido antes da Era Progressiva [1] .
A lógica é a desacreditada teoria do "crowding out" [2] : Défices orçamentais significam mais tomadas de empréstimos, os quais pressionam para cima as taxas de juro. Taxas de juro mais baixas supõe-se que ajudem países – ou ajudariam, se os empréstimos fossem para a formação de capital produtivo. Mas não é assim que os mercados financeiros operam no mundo de hoje. Taxas de juro mais baixas simplesmente tornam mais barato e mais fácil aos atacantes corporativos ou especuladores capitalizarem um dado fluxo de rendimentos num múltiplo mais elevado, carregando toda a economia com ainda mais endividamento!
Alan Greenspan papagueou o anúncio do Banco Mundial quase palavra a palavra num artigo do Wall Street Journal de 18 de Junho. Incorrer em défices é suposto aumentar taxas de juro. Aparentemente o cenário está a ser preparado para um grande salto na taxa de juro – e o correspondente crash do mercado de acções e títulos quando a "corrida dos idiotas" chegar a um fim abrupto nos próximos meses.
A ideia é criar uma crise financeira artificial, para avançar e "salvá-la" impondo à Europa e América do Norte um cortes drásticos "estilo grego" na segurança social e nas pensões. Para os Estados Unidos, em particular as pensões dos estados e municípios são para serem cortadas por medidas de "emergência" para "libertar" orçamentos do governo.
MERCADO LIVRE PARA OS PREDADORES
Tudo isto é uma inversão da filosofia social que a maior parte dos eleitores mantêm. Isto é o problema político inerente à visão do mundo neoliberal. É diametralmente oposta ao liberalismo original de Adam Smith e seus sucessores. A ideia de um mercado livre no século XIX era a de libertar [a sociedade] dos predatórios rentistas financeiros e dos direitos de propriedade. Hoje, um "mercado livre" estilo Ayn-Rand é um mercado livre para os predadores. O mundo está a ser tratado com uma paródia de liberalismo e de mercados.
Isto mostra a habitual ignorância de como as taxas de juro são realmente estabelecidas – uma cegueira que nestes dias é uma pré-condição a fim de ser aprovado no posto de banqueiro central. É ignorado o facto de que bancos centrais determinam taxas de juro ao criarem crédito. Sob as regras do BCE, os bancos centrais não podem fazer isto. Mas é precisamente para fazer isto que os bancos centrais foram criados. Os governos europeus são obrigados a tomar emprestado de bancos comerciais.
Este estrangulamento financeiro ameaça fragmentar a Europa ou mergulhá-la na mesma espécie de pobreza que a UE está a impor aos países bálticos. A Letónia é o primeiro exemplo. Apesar de um afundamento de mais de 20 por cento no seu PIB, os seus banqueiros centrais estão executando um excedente orçamental na esperança de reduzir as taxas de salários. Os salários do sector público foram rebaixados em mais de 30 por cento e o governo manifesta a esperança de mais cortes ainda – propagando-se ao sector privado. Despesas com hospitais, cuidados ambulatórios e escolas foram cortadas drasticamente.
O que está a falta neste argumento? O custo do trabalho pode ser reduzido por uma restauração clássica dos impostos progressivos e uma mudança fiscal rumo à propriedade – a renda da terra e dos demais rentistas. Ao invés disso, o custo de vida está a ser ascendido, pela mudança do fardo fiscal mais uma vez sobre o trabalho e para fora do imobiliário e das finanças. A ideia é de o excedente económico ser comprometido no serviço da dívida.
Na Inglaterra, Ambrose Evans-Pritchard descreveu um "euro motim" contra políticas fiscais regressivas. Mas é mais do que isso. Para além de meramente contrair a economia, o objectivo neoliberal é mudar o perfil da trajectória ao longo da qual a civilização ocidental esteve a mover-se durante os últimos dois séculos. Trata-se nada menos do que rejeitar a Segurança Social e as pensões para o trabalho, assim como cuidados de saúde, de educação e outras despesas públicas, desmantelar o estado previdência, a Era Progressiva e mesmo o liberalismo clássico.
Assim, estamos a testemunhar uma política planeada há muito, agora a ser desencadeada num estilo defensivo. Os interesses rentistas, os direitos adquiridos que um século de Era Progressiva, New Deal e reformas afins procuraram subordinar à economia como um todo estão a combater outra vez. E eles estão no controle, com os seus próprios representantes no poder – ironicamente, com líderes de partidos social-democratas e trabalhistas, desde o presidente Obama aqui ao presidente Papandreu na Grécia e o presidente José Luis Rodriguez Zapatero na Espanha.
Tendo aguardado o seu momento durante os últimos poucos anos, a classe predatória global está agora a movimentar-se para "libertar" economias da filosofia social que há muito se considerava estar irreversivelmente construída dentro do sistema económico: Segurança Social e pensões de velhice de modo a que aos trabalhadores não fosse preciso serem pagos salários mais altos a fim de pouparem para a sua própria reforma; educação pública e cuidados de saúde para elevar a produtividade do trabalho; despesas de infraestrutura básica para reduzir os custos de fazer negócios; regulação de preços anti-monopolista para impedir os preços de se elevarem acima dos custos de produção necessários e banco central para estabilizar economias pela monetização de défices do governo ao invés de forçar a economia a confiar no crédito da banca comercial sob condições em que a propriedade e o rendimento são coletarizados para pagar dívidas oneradas por juros, culminando em incumprimentos pela culminação lógica do Milagre do Juro Composto.
TEORIA ECONÓMICA LIXO
Esta é a Teoria Económica Lixo que lobistas financeiros estão a tentar vender aos eleitores: "Prosperidade exige austeridade". "Um banco central independente é a marca característica da democracia". "Governos são como famílias: eles têm de equilibrar o orçamento". "É tudo devido a populações idosas, não à sobrecarga de dívida". Estes são os oximoros com os quais o mundo será tratado durante a próxima semana em Toronto.
É a retórica da guerra de classe fiscal e financeira. O problema é que não há bastante excedente económico disponível para pagar o sector financeiro pelos seus maus empréstimos enquanto também se pagam pensões e segurança social. Alguma coisa tem de ceder. A comissão é para providenciar uma história de cobertura para uma Rubinomics ressuscitada, desta vez destinada não à antiga União Soviética para aqui em casa. O seu objectivo é desescalar a Segurança Social enquanto ressuscita o abortado plano de privatização de George Bush para enviar o cheque da retenção do FICA [3] para o mercado de acções – isto é, para as mãos de administradores de dinheiro o enfiarem num conjunto de pacotes financeiros lixo concebidos para desnatarem poupanças do trabalho.
De modo que Obama é hipócrita ao advertir a Europa para não ir demasiado longe demasiado rápido para contrair a sua economia e acumular um exército crescente de desempregados. A sua ideia em casa é fazer a mesma coisa. A estratégia é instilar o pânico nos eleitores acerca da dívida federal – levá-los ao pânico o suficiente para se oporem aos gastos nos programas sociais destinados a ajudá-los. A culpa crise fiscal está a ser atribuída à matemática da demografia da população idosa – não aos encargos em ascensão exponencial da dívida, dos empréstimos lixo e da fraude financeira maciça que o governo está a acudir.
O que realmente está a causar o esmagamento financeiro e fiscal, é claro, é o facto de que o financiamento do governo agora é necessário para compensar o sector financeiro por aquilo que promete serem anos e anos de perdas quando os empréstimos vão mal em economias que estão todas carregadas de empréstimos e a afundar em situação líquida negativa.
Quando políticos deixam o sector financeiro dirigir o espectáculo, a sua preferência natural é tornarem a economia um saco de surpresas. E habitualmente eles conseguem. É o que significam palavras como "arresto", "extinção de dívida" e "liquidar" – juntamente com "moeda estável", "segurança do negócio" e as consequências habituais, "deflação da dívida" e "servidão da dívida".
Alguém tem de assumir uma perda sobre os maus empréstimos da economia – e os banqueiros querem que a economia assuma a perda, para "salvar o sistema financeiro". Na perspectiva privilegiada do sector financeiro, a economia é para ser administrada a fim de preserve a liquidez da banca, ao invés de o sistema financeiro funcionar para servir a economia. O gasto social do governo (ou tudo o mais excepto salvamentos de bancos e subsídios financeiros) e o rendimento pessoal disponível devem ser reduzidos para manter a amortização dos encargos da dívida. O fluxo de caixa corporativo é para ser utilizado para pagar credores, não para empregar mais trabalho e fazer investimento de capital a longo prazo.
A economia deve ser sacrificada para auxiliar a fantasia de que dívidas podem ser pagas, apenas se os bancos puderem ser "ressarcidos" para começarem a emprestar outra vez – isto é, para recomeçarem a carregar a economia com ainda mais dívida, provocando ainda mais dívida deflacionária.
Isto não é a familiar guerra de classe do século XIX dos patrões industriais contra o trabalho, embora isto seja parte do que está a acontecer. É acima de tudo uma guerra do sector financeiro contra a economia "real": a indústria assim como o trabalho.
Na verdade, a realidade subjacente é que as pensões não podem ser pagas – pelo menos, não pagas a partir de ganhos financeiros. Durante os últimos cinquenta anos as economias ocidentais cederam à fantasia de pagar reformados a partir de ganhos puramente financeiros (M-M' como os marxistas diriam), não a partir de uma economia em expansão (M-C-M'), empregando trabalho para produzir mais. O mito era de que as finanças tomariam a forma de empréstimos produtivos para aumentar a formação de capital e a contratação. A realidade é que as finanças assumiram a forma de dívida – e de jogo. Os seus ganhos foram portanto efectuados a partir da economia como um todo. Eles foram extractivos, não produtivos. A riqueza do rentista no topo da pirâmide económica contrai a base por baixo. Assim, algo tem de ceder. A questão é, que forma assumirá a "cedência"? E quem fará a cedência – e quem serão os receptores?
O governo grego tem estado relutante em tributar os ricos. Assim, o trabalho deve suprir o fosso fiscal, ao permitir ao seu governo socialista cortar pensões, cuidados de saúde, educação e outros gastos sociais – tudo para salvar o sector financeiro de um crescimento exponencial que é impossível realizar na prática. A economia está a ser sacrificada a um sonho impossível. Mas ao invés de atribuir a culpa pelo problema ao crescimento exponencial de direitos a receber da banca que não podem ser pagos, os lobistas dos bancos – e os políticos do G-20 dependem deles na sua campanha de financiamento – estão a promover o mito de que o problema é demográfico: uma população envelhecida à espera de Segurança Social e de pensões dos empregadores. Ao invés de pagar a estes, dizem aos governos para utilizar o seu poder de tributação e de criação de crédito para salvar os direitos a pagamento do sector financeiro.
A Letónia tem sido apresentada como o perfeito representante do que a UE está a recomendar para a Grécia e outros países do Sul em estado de perturbação: Ao retalhar despesas públicas com educação e saúde ela reduziu os salários do sector público em 30 por cento e eles continuam a cair. Os preços da propriedade caíram em 70 por cento – e os proprietários de casas e seus familiares que assinaram contratos são responsáveis pela situação liquida negativa, mergulhando-os numa vida de servidão pela dívida se não derem o fora e emigrarem.
A pretensão bizarra ao recorte do orçamento do governo face a uma baixa económica pós-bolha é que este suposto objectivo seja para reconstruir "confiança". É como se a auto-destruição fiscal pudesse instilar confiança ao invés de estimular investidores a escaparem do euro. A lógica prece a familiar velha guerra de classe, retrocedendo o relógio para a filosofia fiscal linha dura de uma era ultrapassada – rejeitar Segurança Social e pensões publicas, rejeitar gastos com educação e outras necessidades básicas e, acima de tudo, aumentar o desemprego para deitar abaixo níveis salariais. Isto foi tornado explícito pelo banco central da Letónia – o qual os banqueiros centrais da UE exibem como um "modelo" de contracção económica a ser seguido por outros países.
Trata-se de uma lógica auto-destrutiva. Exacerbar a baixa económica reduzirá receitas fiscais, tornando défices orçamentais ainda piores numa espiral declinante. A experiência da Letónia mostra que a resposta à contracção económica é a emigração do trabalho qualificado e a fuga do capital. A política de facto da Europa de contracção económica planeada opõe-se ao primeiro pressuposto dos manuais de política e de economia: o axioma de que eleitores actuam no seu próprio interesse e de que as economias optam por crescer, não por se destruírem a si próprias. Hoje, as democracias europeias – e mesmo os partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas – estão a candidatar-se a eleições sobre plataforma de política fiscal e financeira que se opõe aos interesses da maior parte dos eleitores e até da indústria.
A explicação, naturalmente, é que o planeamento económico de hoje não está a ser efectuado pelos representantes eleitos. A autoridade de planeamento foi cedida aos bancos centrais "independentes", os quais por sua vez actuam como lobistas para os bancos comerciais venderem o seu produto – dívida. A partir da posição favorecida do banco central, o "problema económico" é como manter solventes bancos comerciais e outras instituições financeiras numa economia pós-bolha. Como podem eles obter pagamentos de dívidas que estão para além da capacidade de pagamento de muitas pessoas, num ambiente de incumprimentos crescentes?
A resposta é que os credores podem obter pagamento só a expensas da economia. O excedente económico excedente deve portanto ir para ele, não para o investimento de capital, o empregou ou o gasto social.
Este é o problema com a visão financeira. Ela é de curto prazo – e predatória. Dada uma opção entre operar os bancos para promover a economia, ou dirigir a economia para beneficiar os bancos, os bancos sempre preferirão a última alternativa. E assim farão os políticos que eles apoiam.
Os governos precisam de enormes somas para salvar os bancos dos seus maus empréstimos. Mas eles não podem contrair mais empréstimos devido à compressão da dívida. Assim, as perdas das dívidas podres devem ser passada para o trabalho e a indústria. A história de encobrimento é que os salvamentos do governo permitirão aos bancos recomeçar a emprestar, a reflacionar empréstimos Ponzi da Economia da Bolha. Mas já há demasiada situação líquida negativa e não há espaço adicional para recomeçar a bolha. As economias estão todas "sobrecarregadas de empréstimos". As rendas imobiliárias, o fluxo de caixa corporativo e o poder de tributação público não podem suportar novas tomadas de empréstimos – não importa quanta riqueza o governo dê aos bancos. Os preços dos activos mergulharam no território da situação líquida negativa. A deflação da dívida está a contrair mercados, lucros corporativos e fluxo de caixa. A dinâmica do Milagre do Juro Composto culminou em incumprimentos, reflectindo a incapacidade dos devedores para sustentarem a ascensão exponencial da capacidade de carga que a "solvência financeira" exige.
Se o sector financeiro pode ser resgatado só através de cortes na Segurança Social, cuidados de saúde e educação, reforçados por mais privatizações a preços de saldo, será que vale a pena? Sacrificar a economia desta forma violaria a maior parte dos valores sociais do povo de justiça e razoabilidade enraizados profundamente na filosofia Iluminista.
ADMINISTRAR AS PERCEPÇÕES
Este é o problema político: Como é que os banqueiros podem persuadir eleitores a aprovarem uma coisa destas sob um sistema democrático? É necessário orquestrar e administrar as suas percepções. A sua pobreza deve ser retratada como desejável – como um passo rumo à prosperidade futura.
Meio século de fracassados planos de austeridade do FMI impostos aos infelizes devedores do Terceiro Mundo deveriam ter dissipado para sempre a ideia de que o caminho para a prosperidade é através da austeridade. O terreno foi pavimentado para esta atitude por uma geração de expurgos, no curriculum académico, do conhecimento que sempre foi uma filosofia económica alternativa àquela patrocinada pelo contra-iluminismo rentista. O valor clássico e a teoria do preço reflectido na teoria do trabalho e da propriedade de John Locke. A riqueza da pessoa deveria ser o que ele ou ela cria com o seu próprio trabalho e iniciativa, não por negócios de iniciados ou privilégios especiais.
Eis porque eu digo que a Europa está a morrer. Se a sua trajectória não for mudada, a UE deve sucumbir a um golpe de estado revertendo os últimos três séculos da filosofia social do Iluminismo. A questão é se uma ruptura é agora o único meio de recuperar os seus ideais social democráticos dos bancos que tomaram o comando dos seus órgãos de planeamento central."
NT
[1] Progressive Era : Período de reformas nos EUA, entre as décadas de 1890 e 1920.
[2] Crowding out: Situação em que o governo contrai empréstimos para financiar despesas acrescidas (ou corta impostos) esmagando o sector privado devido a taxas de juro mais elevadas.
[3] FICA (Federal Insurance Contributions Act): Lei federal americana que obriga empregadores a reterem os salários de funcionários para o pagamento da Previdência Social e Seguros de Saúde.
[*] Ex-economista da Wall Street e agora professor da Universidade do Missouri, Kansas City, presidente do Institute for the Study of Long-Term Economic Trends (ISLET), autor de Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire e Trade, Development and Foreign Debt: A History of Theories of Polarization v. Convergence in the World Economy . http://michael-hudson.com/ , mh@michael-hudson.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/hudson06252010.html
segunda-feira, 28 de junho de 2010
O padrinho
Cavaco Silva promulgou o pacote de medidas de austeridade.
Depois do PSD de Passos Coelho ter dado o acordo alguém esperava o contrário?
Em comunicado a Presidência da Republica acrescenta que "tendo sido suscitadas dúvidas sobre a constitucionalidade de algumas normas de natureza fiscal contidas no diploma em apreço, que importa esclarecer em nome da segurança jurídica e da confiança dos contribuintes, assim que o diploma for publicado e entre em vigor, o chefe de Estado irá solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva da constitucionalidade daquelas disposições”.
Ou seja, primeiro promulga-se o assalto ao povo e depois logo se vê se vai contra a Constituição.
Para os mais distraídos, este é o pacote que corta a maior parte dos apoios sociais e que, sem qualquer escrúpulo, não só aumenta os impostos como o faz de forma retroactiva desde o principio do ano.
A verdade é que não se poderia esperar que actuasse de forma diferente.
Cavaco Silva representa o poder instalado que, através dos partidos políticos, suga os recursos do País e rouba a economia.
Enquanto Primeiro-Ministro, Cavaco foi o "bom aluno" da Europa que a troco de muito dinheiro destruiu os sectores produtivos nacionais. Ainda está por explicar para onde foram os muitos milhões que recebeu de fundos estruturais.
Não venham com histórias que os aplicou em "betão". É verdade que foram construídas algumas estradas mas é também sabido que, nesse período, qualquer militante laranja que tivesse um quintal podia candidatar-se, receber fundos para agricultura e à pala disso comprar pelo menos, pelo menos, um Range Rover.
No presente, Cavaco é ainda a garantia de que os partidos continuam a fazer o que querem, quando querem, como querem. Há quem diga que ele se move pelo calendário da sua re-eleição e que é por isso que ainda não correu com Sócrates e com o Partido Socialista.
Mas irá isso trazer algo de novo? Sai Sócrates, entra Passos Coelho.
Se Sócrates é o responsável governativo por o País estar à beira do abismo, Passos Coelho vai continuar com as mesmas politicas e, preparem-se, vai criar algumas dele que se mostrarão ainda piores.
Por todo o lado se verifica a degradação moral e o desinteresse das pessoas e dos empresários. Para quê produzir? Para quê poupar? Para este "Estado" partidário nos vir depois roubar para "baixar o défice"?
Com Cavaco Silva a servir de "Padrinho" a Máfia partidária vai continuar a sugar os parcos recursos do País e a encher despudoradamente os bolsos.
Há que pôr cobro a isto e rápido!
domingo, 27 de junho de 2010
Alternativas destas ... não!
Paulo Portas, líder do CDS-PP não é flor que se cheire especialmente quando se alia com o PSD e ocupa cargos governamentais mas, enquanto se fica pela oposição, lá vai dizendo algumas coisas muito interessantes.
A ultima é que o seu partido apresentou no parlamento uma proposta para reduzir o numero de administradores nomeados pelo estado para as empresas publicas, institutos e fundações. Sendo verdade que as empresas privadas são, em muitos casos, geridas por um só administrador porque razão as publicas precisam de três, cinco, até mesmo 13 ou mais?
Na situação de contenção de despesa em que nos encontramos, em que Sócrates, o seu (des)governo socialista e o PSD de Passos Coelho impõem tantos e tão graves sacrifícios à população seria de esperar que aceitassem, de bom grado, a proposta do CDS, Certo?
Não, errado!
Na votação no parlamento o PS votou contra e o PSD não votou a favor ou seja ambos defenderam os "tachos" para os seus "boys".
Já tínhamos tido um vislumbre do que se aproximava quando os mesmos partidos se puseram de acordo para que os chefes de gabinete, os assessores, os adjuntos, toda a corja parasita que se movimenta nos corredores do poder, não fosse afectada pelo corte de 5% no vencimento dos políticos. Como pergunta Paulo Portas, "um ministro é um político e um chefe de gabinete nomeado pelo ministro não é um político?".
A triste verdade é que Passos Coelho e o PSD não vão trazer nada de diferente para a politica. Os boys laranjas vão suceder aos boys rosa, os sacrifícios vão continuar a ser impostos ao povo, o desperdício e esbanjamento de dinheiros públicos vão manter-se e a corrupção e compadrio vão continuar a existir.
Mudar o partido no poder há muito que deixou de ser a solução.
A solução passa por uma sociedade sem partidos, com um governo nomeado por um presidente da republica, também sem ligações partidárias, democraticamente eleito pelo povo e por uma assembleia da republica eleita de forma totalmente diferente da actual.
Só assim se conseguirá uma sociedade mais justa e um estado que defende e proteje os seus cidadãos.
Sabemos que é difícil chegar lá mas temos esperança que já esteve mais longe.
sábado, 26 de junho de 2010
Que Deus nos ajude
Uma sondagem publicada hoje pelo "Diário Económico" dá 47.7% de intenções de voto no PSD de Passos Coelho contra apenas 24.1% no PS. Segundo o jornal, o PSD obteria assim maioria absoluta para governar.
Curiosamente. no mesmo dia mas no "Expresso", o porta-voz do partido, Miguel Relvas, diz que mesmo em situação de maioria absoluta, o CDS e o seu líder, Paulo Portas, terão sempre "um papel importante" no projecto social democrata.
É inacreditável como José Sócrates conseguiu fazer tanto, mas tanto mal, a Portugal a ponto de o povo estar prestes a entregar-se de olhos fechados e de mão beijada a Passos Coelho.
Não se sabe muito bem o que Passos Coelho pensa nem que modelos económicos pretende criar no País, mas sabemos que se trata de um liberal para quem os "mercados" são soberanos e são eles que ditam o modelo de sociedade.
Na mesma edição do "Expresso" ficamos a saber que pretende privatizar a RTP e as "Águas de Portugal". Não vamos tecer considerações sobre a televisão publica mas, em relação às águas ... mais um bem essencial entregue aos lucros privados?
Declarações anteriores de Passos Coelho indicam que ele pretende privatizar também a educação, a saúde e a segurança social, tudo debaixo da falácia de que assim o povo terá mais "escolha".
Mais "escolha"? Mas estes também pensam que podem dizer todo o tipo de patranhas que o povo engole e, no dia das eleições, lá corre a depositar o voto neles?
Os socialistas sabem que, por culpa de Sócrates, estão prestes a perder o poder e que tão cedo não o vão recuperar, sendo por isso que o defendem com unhas e dentes e, enquanto o aguentam, vão tendo tempo para se apropriar de mais uns "tachos" no aparelho de Estado e em empresas publicas.
A triste verdade é, no entanto, que não temos nenhuma razão para acreditar que os "laranjas" venham a proceder de modo diferente, bem pelo contrário, tendo em conta o que se passou quando foram poder.
Mas, ainda mais importante, vai ser a desagregação que Passos Coelhos e os seus liberais de pacotilha vão fazer ao País, destruindo o que ainda resta do modelo social e, certamente, criando ainda maiores assimetrias entre os que têm muito e os remediados com pouco e os que não têm nada,
Perante esta perspectiva de um futuro tenebroso só nos resta aconselhar todos os que acreditam em Deus que comecem já a pedir a ajuda divina para o País e para os portugueses.
Que Deus nos ajude!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
"Esperança"
Por concordarmos com muito do que é dito transcrevemos aqui um artigo de opinião hoje (24 Junho 2010) publicado no Correio da Manhã .
"Esperança.
A solução estrutural não é taxar e taxar e taxar: é criar riqueza e diminuir a despesa pública."
"O País está mergulhado em semidepressão colectiva: instalou-se a ideia do empobrecimento fatal e cresce o sentimento de que o pouco que há é objecto de saque por poucos. Estão longe os ensinamentos de Séneca em ‘Cartas a Lucílio’: "Um homem que entender o dever como limite rigoroso ao poder, pode exercer o poder sem perigo para os demais..." No último inquérito Eurostat, a maior preocupação dos Portugueses é a Pobreza e a segunda é o receio de serem pobres na velhice, por diminuição das reformas, referindo ainda que a grande maioria dos Portugueses paga as suas contas mensalmente, mas com dificuldade: qualquer oscilação para pior leva-os à insolvência.
Vale a pena meditar nesta situação e não ignorá-la, como o fez a Ministra do Trabalho no Parlamento, insinuando que este estudo é sobre o que os Portugueses sentem e não sobre o que realmente se passa (pergunto-me se quando a Senhora Ministra tem uma dor, se dói mesmo ou se apenas pensa que dói).
Como sair desta situação?
s soluções passam em primeiro lugar por colocar à frente do Governo do País das múltiplas direcções de todos os organismos públicos e empresas públicas nomeados, directa ou indirectamente, pelo Governo, pessoas para Servir e não para se servirem. Acabar com a lógica de colocar os amigos em lugares de Poder para depois daí tirar os proveitos que esses cargos permitem.
Já todos percebemos que com o actual Governo os amigos dos actuais governantes, os dirigentes nomeados pelos actuais governantes e os amigos dos dirigentes dos actuais governantes, ou de outros que se sigam, não chegamos lá! Só com uma nova classe dirigente se afastará, por boa gestão, a Pobreza do horizonte.
Depois, temos de saber o que produzir, onde, o que incentivar, fiscalizar os incentivos e punir quem os use abusivamente.
Temos a agricultura por reconstruir, indústrias para instalar e tecnologia de excelência. O sistema de comprar o cão com o pelo do cão (refiro-me a certas alavancagens financeiras) está esgotado.
E se transitoriamente foi preciso um aumento de impostos, é preciso compreender que a solução estrutural não é taxar e taxar e taxar: é criar riqueza e diminuir a despesa pública, redesenhando o Estado, extinguindo uma parte substancial de instituições (da administração indirecta ao sector empresarial estadual e municipal), fundindo outras. E ter em quem nos governe um referencial, não uma fonte de desconfiança permanente."
À primeira vista este artigo põe o dedo na ferida, chamando os bois pelos nomes e falando de muito do que está mal no (des)governo de Sócrates e do Partido Socialista.
No entanto, ao ver quem o escreveu, a esperança fica a um passo de morrer!
Trata-se de um artigo de opinião assinado por "Paula Teixeira da Cruz, Advogada" que é também vice-presidente do PSD de Passos Coelho e, portanto, a pergunta seguinte é absolutamente lógica e inevitável:
Em relação à nomeação de "boys" para cargos políticos e em empresas publicas, em que é que o PSD difere do PS?
A resposta, infelizmente, é ... NADA! Como o povo diz e bem, "mudam as moscas".
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Nepotismo e compadrio
Mário Lino, o ministro "jamais", vai ser nomeado presidente do Conselho Fiscal das seguradoras da Caixa geral de depósitos, o banco estatal controlado pelo governo.
Com efeito, é absolutamente transparente que um ex-ministro, engenheiro civil de profissão, seja também um proeminente fiscalista.
Relembramos que já antes tinham tentado nomear o personagem para presidente da Cimpor, empresa cimenteira também controlada pelo estado mas, porque a opinião publica se indignou devido ao desrespeito pela Lei, voltaram atrás nesse propósito, tendo agora acabado por arranjar este fabuloso "TACHO".
Já não há vergonha!
José Sócrates e os outros facínoras que com ele tomaram conta do partido socialista e, através deste, do aparelho de estado, pensam que o País é a sua coutada privada e que dele podem dispor como quiserem em proveito próprio.
A nomeação de Mário Lino é apenas a ultima de um longa lista de nomeações politicas em que o nepotismo e o compadrio são a tónica dominante, completamente alheias aos requisitos dos cargos ou às habilitações do nomeados.
Perdeste as eleições para a Câmara Municipal?
Não faz mal, vais para Governador Civil!
De notar que muitos analistas consideram que esses cargos deveriam acabar por serem totalmente inúteis.
O caso mais notórios dos derrotados nas eleições autárquicas é o de Marcos Perestrello que, derrotado em Oeiras por um outro "modelo de virtude", Isaltino Morais, vê-se nomeado para Secretário de Estado da Defesa Nacional.
Por todo o Pais multiplicam-se os casos de corrupção e compadrio entregando cargos no aparelho de estado a pessoas incompetentes, sem qualquer tipo de habilitações para as funções e cuja única qualificação é serem membros da corja que domina o PS.
A ascensão meteórica do lacaio "aprendiz de feiticeiro" de Sócrates, Rui Pedro Soares, à administração da Portugal Telecom é um bom exemplo do mal que esta gentalha anda a fazer ao País.
Empresas municipais entregues aos familiares dos autarcas, institutos e fundações com extensos (e desnecessários) Conselhos Directivos, consultores, assessores, etc, etc, etc.
Mas, sendo assim, porque razão os outros partidos não dizem nada?
Porque, infelizmente, são todos iguais e, em maior ou menor escala todos fazem o mesmo.
Já se esqueceram da inclusão nas listas para as eleições legislativas de 2009 de filhos dos presidentes das distritais e de outros dirigentes do PSD? Querem maior exemplo de nepotismo?
Poderá alguém no seu perfeito juízo pensar que esses jovens merecem ser deputados da nação?
Mas, verdade seja dita, do CDS ao Bloco de esquerda, passando pelos comunistas, todos fazem o mesmo.
Bernardino Soares, o líder parlamentar do PCP, chegou ao parlamento com 24 anos depois de uma "brilhante" carreira como ... Membro da Direcção Nacional da juventude comunista!
Anda a circular na net um mail denunciando que a mãe de Francisco Louçã, o "virtuoso" coordenador do Bloco de Esquerda, desempenha funções como assessora do grupo parlamentar desse partido. O curioso é que senhora tem 78 anos de idade!!!
O bloco ainda não desmentiu, formalmente, o teor da noticia.
Os exemplos são muitos e variados e apenas servem para mostrar que a "elite" politica se rege por princípios muito diferentes dos que exigem à restante população.
Não fosse o povo português tão pacifico, para não dizer "amorfo" e esta gente, a começar por Cavaco Silva e Sócrates, já estaria no local onde pertencem, na prisão a ver o sol nascer aos quadradinhos.
Mas temos esperança que esses tempos já estiveram mais longe.
sábado, 19 de junho de 2010
A comissão da hipocrisia
Chegou ao fim a comissão parlamentar de inquérito sobre o envolvimento de Sócrates no negócio PT/TVI e se ele mentiu ou não no Parlamento quando disse não saber nada sobre o assunto.
As conclusões elaboradas por João Semedo, do Bloco de esquerda e que os deputados da oposição aprovaram diz que o Primeiro-Ministro e o Governo tinham conhecimento»da tentativa de compra da TVI.
Para qualquer pessoa não politica isto resume-se, em bom português, dizendo que José Sócrates MENTIU!
Mas os meandros da politica partidária são muito, mesmo muito tortuosos e o tal relatório não fala, taxativamente, na mentira de Sócrates dizendo que, embora indiciando factos manifestamente graves, não são suficientemente categóricos que sustentem uma consequência institucional ...
Perceberam? Mentiu, mas ...
Recorde-se que Passos Coelho, o líder do PSD, afirmou repetidas vezes que, se a comissão de inquérito ao processo PT/TVI apurasse matéria que incriminasse o Governo do ponto de vista político "isso teria que ter consequências", apontando-se mesmo a hipótese da moção de censura que derrubaria o Governo no Parlamento.
Questionado sobre o papel de Mota Amaral, presidente da comissão que proibiu a utilização das escutas telefónicas enviadas pelos magistrados, diz Passos Coelho:
"O doutor Mota Amaral, como presidente da comissão, tomou uma decisão que foi polémica. Tenho pena que a comissão não tenha podido ir mais longe, dado que dispunha de informação que talvez tivesse permitido outro tipo de actuação da própria comissão de inquérito. Respeito a sua decisão, embora lamente que ela não nos tenha permitido fazer outro trabalho na comissão de inquérito"
Mas Passos Coelho vai mais longe dizendo que:
"O que resultou dos trabalhos da comissão de inquérito à compra da TVI foram conclusões muito incompletas, inconclusivas e mais dúvidas do que havia no início do processo. Ninguém está hoje em condições, face ao que se passou na comissão de inquérito, de dizer, com rigor, qual foi o nível de envolvimento que o Governo teve".
E remata o presidente do PSD:
"Nós não podemos fazer política lançando conclusões que não estejam suportadas em factos. E, portanto, uma coisa são as suspeitas que se possam ter, outra coisa são as evidências, as provas"
Como já toda a gente percebeu, Passos Coelho não quer derrubar Sócrates e assumir o governo pois tem mais vantagem em deixar o PS ferver em lume brando, afundar-se mais e mais nas sondagens e, quem sabe, quando chegar às eleições, até poderá conseguir uma maioria absoluta para governar.
Cavaco Silva, empenhado que está na sua própria re-eleição, também não tem interesse em promover eleições antecipadas, o que já deveria ter feito há muito tempo a bem do País e dos cidadãos.
Mas não é só no campo do PSD que se quer evitar novas eleições.
Comunistas, bloco de esquerda, CDS, todos eles tiveram resultados inesperados nas eleições de 2009, em grande parte devido ao voto de castigo contra o PS. No entanto, com Passos Coelho, o PSD é visto como uma real alternativa aos socialistas o que, consequentemente, lhes iria enfraquecer as posições.
Quanto ao PS nem vale a pena dizer nada pois sabe que, por culpa própria, quando cair vai estar muitos anos sem conseguir voltar ao poder.
Mais uma vez estamos perante um caso flagrante de hipocrisia partidária.
Todos estão contra Sócrates e o Partido Socialista mas ninguém o quer fazer cair. O interesse partidário sobrepõe-se ao interesse nacional.
Não que Passos Coelho vá ser melhor Primeiro-Ministro que Sócrates ou que vá fazer mais pelo País.
Não será suficientemente esclarecedor o facto de, quando do seu primeiro apoio a Sócrates, o resultado ter sido o anuncio conjunto de cortes no subsidio de desemprego? Malandros dos desempregados que fazem subir o défice!
Não é também suficientemente esclarecedor querer facilitar despedimentos e deixar os contratos a prazo sem limite, tudo com base na premissa falsa de que isso vai promover a criação de emprego?
Tudo o que ele disse até agora, todo o seu pensamento liberal conhecido aponta no sentido de dificultar ainda mais as condições de vida da maioria da população em nome do controle do défice exigido por Bruxelas.
Favorecendo grupos económicos e "os mercados", Passos Coelho propõe-se privatizar tudo e mais alguma coisa, da saúde à educação, dos transportes às comunicações, bens essenciais como a água e a energia, etc, etc, etc.
Infelizmente não é com esta máfia partidária que vamos resolver os problemas do País.
Alguns dirão que não há alternativa mas estão errados.
Alternativa há, mas exige uma profunda mudança no sistema politico.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Cortes nas prestações sociais
O governo do Partido Socialista, pela voz de Pedro Marques, Secretário de Estado da Segurança Social, anunciou ontem novos cortes nas prestações sociais para reduzir o défice, como manda Bruxelas-
Convém recordar que foi este espécime, certamente muito inteligente e esclarecido, quem defendeu publicamente há um par de anos atrás que os retroactivos das pensões de reforma deveriam ser pagos em mensalidades de alguns cêntimos para, imagine-se, os pensionistas não gastarem de imediato os poucos euros que receberam de aumento. A aberração só não foi adiante porque se reuniu um coro de indignação social que obrigou o Governo a recuar nos seus sinistros intentos.
Mas agora o caso muda de figura.
Para além do aumento de impostos e das anteriormente anunciadas alterações a aplicar ao Rendimento Social de Inserção, subsídio social de desemprego e apoios à parentalidade, agora também a comparticipação de medicamentos, as taxas moderadoras, a acção social escolar, o apoio a acamados, o abono de família, quase nada fica de fora das novas medidas de austeridade que entram em vigor a 1 de Agosto e afectam dois milhões de portugueses, tudo para poupar 90 milhões de euros na despesa publica.
O que muda neste cenário é que o PSD de Passos Coelho não só apoia agora o Governo em tudo o que tem a ver com os cortes dos apoios, dizendo até que "vêm tarde" e, ainda por cima, o CDS também concorda e aplaude.
Da mesma forma, também vários comentadores da área económica defendem estas medidas com a justificação de haver muitos abusos por parte de beneficiários.
Será que está tudo doido?
Será que não percebem o que estão a fazer?
Ou, pelo contrário, sabem exactamente o que fazem e fazem-no deliberadamente sem se importarem com o mal que fazem aos cidadãos?
Todos concordamos que os abusos têm de ser combatidos e é preciso limitar os apoios a quem efectivamente deles necessita mas usar essa justificação para os cortes?
À conta de poupar 90 milhões, a "elite" politica vai impor enormes sacrifícios à população com menos recursos enquanto o regabofe do despesismo, desperdício e do esbanjamento continua a florescer em tudo o que são institutos públicos, fundações, autarquias, gabinetes de assessores, etc, etc.
Vencimentos elevados, viaturas, ajudas de custo, despesas de representação, pensões que se atribuem a eles próprios e muitas outras mordomias escondidas e disfarçadas, para a corja partidária nada pode faltar, nada se pode sacrificar.
Isto é grave, muito grave mesmo e o povo tem de dizer BASTA!
Começa a ser necessário um movimento que promova a desobediência civil, algo que assuma proporções tais que a corja politica não possa ignorar.
É preciso mudar o sistema politico, acabar com os partidos e com as suas clientelas mafiosas e criar um sistema que represente, efectivamente, a velha fórmula democrática do governo do povo, pelo povo, para o povo.
Só assim Portugal será uma verdadeira democracia.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Democracia ou Plutocracia ?
Significado de Plutocracia
Governo em que o poder pertence às classes ricas
Ao pesquisar o significado de plutocracia para aqui o colocar, apareceu diante de nós o texto que a seguir transcrevemos. Foi escrito tendo em conta a realidade do Brasil mas, com pequenos ajustes, é muito fácil associá-lo também ao que se passa em Portugal. Para ler e meditar.
"Os atuais problemas de corrupção, de falta de ética com a coisa pública, de bate boca interminável entre fanfarrões do Congresso e todas as baixarias que alimentam os lucros e os salários da mídia comprometida, passam necessariamente por um problema estrutural de nossa democracia: o caráter apenas formal do modelo democrático liberal. Modelo perverso que destrói o interesse público, anula a preocupação com o próximo, em nome de um individualismo egoísta e agressivo, da concorrência desagregadora, da luta de todos contra todos, da mesquinharia daqueles que crêem que as pessoas só são, só existem, apenas se podem consumir num mercado cada vez mais fechado, excludente e instável.
Essa democracia manca, capenga, de fachada, doente em seus alicerces baseados, não na preocupação solidária e cívica, mas no poder do dinheiro, na capacidade de consumo, gera uma elite política predominantemente comprometida apenas com seus interesses, justamente aqueles que vêm a coisa pública como negócios privados. É a mercantilização de tudo e de todos destruindo as instituições políticas e os valores sociais. Ao contrário do que se diz normalmente, essa elite parasitária e sua visão privatista e corrupta acerca da República, infelizmente, não são apenas resultantes de um desvio individual de caráter, uma anomalia comportamental, mas, pelo contrário, são parte do próprio mecanismo de funcionamento da doutrina liberal. Pensamento que permite e estimula a proliferação de ladrões de uma forma epidêmica. A corrupção é, nesse mundo que prioriza a competição desenfreada e a mercantilização dos valores, não uma exceção, mas parte integrante, estrutural, do modelo capitalista liberal.
O povão, analfabeto e oprimido pelas necessidades básicas totalmente ausentes, é marginalizado dessa abstração monstruosa que os neo-bobo-liberais chamam ´´O Mercado ``, esse verdadeiro demiurgo que transforma feios em bonitos, corruptos em Madre Teresa de Calcutá, coronéis em trombones anti-corrupção. Esse povão, ingênuo e massacrado, sem amor próprio, é impelido a acreditar na sua incompetência e procura votar naquele que, diferentemente dele, considera um vencedor. É o patrão, o fazendeiro, o doutor, aquele que fala bonito e de forma indecifrável, pessoa influente e educada, ou seja, a sua antinomia: a elite.
Há uma introjeção da própria inferioridade, mecanismo ideológico esse que decorre da total falta de uma verdadeira e substancial política educacional. Desde Roma Antiga, quando os plebeus lutaram durante quase trezentos anos para terem um representante político (Tribunus Plebis) que defendesse seus interesses e acabaram escolhendo apenas patrícios para essa tarefa, que qualquer moleque alienado sabe que pobre não vota em pobre. Por isso estarão sempre fadados à pobreza, coitados! Principalmente nessa nossa democracia de cartões de crédito...
Hoje, o jogo democrático, que é teoricamente o poder do povo, pelo povo e para o povo, iguala patrões e empregados, pretos e brancos, homens e mulheres, velhos e jovens somente diante da Lei, do Estado ou de Deus; porém, no mundo real, fora do idílio da urna, da histeria dos palanques, das artimanhas dos showmícios e da irritante insistência dos cabos eleitorais, o que predomina são as profundas e insuperáveis desigualdades socioeconômicas que fazem desta mesma democracia um anacronismo político, um governo apenas vindo da alienação do povo, mas não pelo e para o povo. Uma pseudodemocracia apenas de abonados, dos que estão incluídos na possibilidade de consumo farto, numa verdadeira e cruel plutocracia (governo dos ricos).
Liberais hipócritas!!! Parem de tagarelar falácias e sejam honestos. Não há como ter uma democracia político-institucional sem uma democratização socioeconômica. Com a atuação do poder econômico, a fragilidade dos tribunais eleitorais, a atuação muito pouco imparcial da mídia lacaia dos conglomerados econômicos e o absurdo inominável das tentativas de anistia das multas eleitorais, a lisura e a isenção das eleições tornam-se tão confiáveis quanto promessa de fidelidade de marido patife.
Votar e ser votado, liberdade de expressão, de locomoção,etc., são apenas abstrações, retórica diante de uma realidade profundamente desigual que não permite uma verdadeira isonomia nas competições entre os grupos sociais. Isso é conversa pra boi dormir ou pra pobre não chiar. É saudosismo tacanho de liberal que acha que ainda estamos na Revolução Francesa, quando surgiu a democracia formal burguesa como alternativa aos regimes absolutistas e, ao mesmo tempo, desesperada com a possibilidade de que o povo levasse a sério o seu discurso libertário.
Essa matilha apátrida e globalizada acha que as pessoas, os seres humanos, só existem, só são gente, cidadãos, se estão dentro do deus ´´Mercado``. Que é isso?!? Quanta bobagem! Que verdadeira Sodoma estamos nos tornando! Mesmo com a realidade assustadora de hoje, com todo esse processo de globalização, de competição louca entre desiguais, de desemprego crônico, de medo e violência, de sociedade da informação, esses ditos liberais se esquecem, ou por ignorância ou por má fé, que a grande massa da população está excluída da saúde, da solidariedade, do reconhecimento, do status, da tranqüilidade, do respeito como seres humanos, da dignidade, enfim, da cidadania, justamente porque não estão e não estarão jamais integrados ao mercado, principalmente se esse tipo de mentalidade persistir.
Hoje, nossa luta democrática deveria dar um salto qualitativo, ou seja, deveria aplicar na realidade o que já conquistamos no papel. E isso só tem um nome: distribuição de renda e valorização de nossos recursos, nosso mercado interno, nossas mentes, nosso Brasil. Se um décimo do que a Constituição prescreve no capítulo social fosse cumprido, estaríamos na ilha da Utopia de Thomas Morus, a começar pelo salário-mínimo. Não há como transformar pessoas tratadas como animais de carga pela sociedade em cidadãos. Isso é loucura! Paremos de, apenas, nos indignar com a questão da violência sem que abordemos essas questões estruturais. Sejamos honestos.
Os países que as nossas elites despersonalizadas e medíocres gostam tanto de citar como modelos de democracia, descobriram isso há muito tempo, por isso são o que são na aplicação de suas instituições democráticas. Ou para evitar o comunismo ou para não permitir a morte do capitalismo pelas suas próprias crises cíclicas internas; ou, mesmo, para permitirem conquistar suas posições na geopolítica internacional, todos as chamadas Democracias Ocidentais tiveram que encarar a questão social não como uma questão apenas de desvio do mercado ou mau aplicação de modelos de desenvolvimento, mas através de enérgicas atuações do Estado junto às desigualdades sociais. E é bom que se diga, as custas da pobreza do Terceiro Mundo. Haja vista a social-democracia dos países nórdigos, o New Deal nos EUA, o trabalhismo britânico, etc. Todos, modelos que transformaram os países do chamado G 7 em donos do Mundo e modelos de democracia, não apenas formais como a nossa, mas substanciais, portanto, também socioeconômicas. Fica o desabafo. Estamos cansados de sermos feitos de idiotas.
Que o nosso processo democrático amadureça, não apenas com esse ou aquele partido, esse ou aquele setor social, mas com a percepção e luta de todos nós brasileiros. E aí incluo as elites que tinham que perceber que poderiam ganhar muito mais se valorizassem os interesses nacionais sem pensar apenas no curto prazo, no ganho imediato, na dependência viciosa para com os ´´investimentos`` estrangeiros. A mera contraposição da atual democracia ao Regime Militar já não cola mais, temos de encarar a questão social como o grande empecilho ao desenvolvimento do País como um todo."
Autor:
Said Barbosa Dib, Professor de História
quarta-feira, 16 de junho de 2010
O País refém
África do sul, campeonato do mundo 2010.
Antes do jogo com o Brasil, o seleccionador da Coreia do Norte disse aos repórteres que a equipa iria surpreender tudo e todos para dar uma grande alegria ao "querido líder" referindo-se assim ao ditador Kim Jong-Il que domina aquele país.
Estas declarações trouxeram-nos à memória um documentário, exibido há algum tempo por um dos nossos canais de noticias, sobre um grupo de médicos voluntários que se deslocaram àquela nação asiática para fazer operações aos olhos e às cataratas. Com grande espanto dos médicos, ao saírem da sala de operações, os pacientes dirigiam-se de imediato ao retrato do ditador e "agradeciam-lhe" por já puderem ver.
Qual a razão para estes comportamentos que nos parecem tão irracionais?
Porque vemos, em muitos países islâmicos e do terceiro mundo, o mesmo tipo de comportamento cego e de obediência completa a lideres não eleitos e a conjuntos de leis que nos parecem bárbaras e completamente desajustadas para o século XXI?
A resposta, por estranho que pareça, é muito simples:
Porque eles não conhecem outro tipo de realidade!
É por essa mesma razão que 40% do povo português vai, de quatro em quatro anos, exercer um "direito de voto" que muitos sabem estar viciado na sua base mas, por acreditarem viver num regime democrático, lá vão escolhendo um dos lideres partidários concorrentes.
Os restantes 60% não votam por variadíssimas razões que vão do comodismo até ao descrédito no sistema mas, na sua maioria, ignorando existirem alternativas democráticas.
É esta, com efeito, a grande mentira promovida pelo sistema politico-partidário, a de não existirem alternativas que excluam os partidos sem que as sociedades fiquem sujeitas a um qualquer ditador que apareça a dar voz ao descontentamento popular.
Esta mentira está, infelizmente, profundamente enraizada nas sociedades ocidentais e, quando um povo começa a dar os primeiros passos em democracia, lá aparecem os partidos ditos representativos das várias doutrinas politicas e Portugal, a seguir ao 25 de Abril, não foi excepção.
É assim que aparecem partidos conservadores, nacionalistas, liberais, socialistas, comunistas e de extrema esquerda, etc, etc, etc.
O que todos os partidos têm em comum é o modelo de organização em que um reduzido núcleo central de dirigentes define orientações e estratégias e, de modo geral, controla todo o aparelho partidário.
Quando esse partido toma conta do governo fácil é de perceber que o tal núcleo central passa também a controlar todo o país e os seus recursos com o único objectivo de se perpetuar no poder e distribuir benesses pelos seus correlegionários e apaniguados.
Enquanto isso, os dirigentes dos outros partidos vão também fazendo os seus jogos na esperança de ganharem uma eleição e poder formar governo, passando então eles a controlar o país, os recursos e, naturalmente, as benesses.
A verdade é que o país está refém de 150 mil pessoas distribuídas pelos vários partidos, muitos sem competências profissionais que vêm na politica a ultima chance de serem alguém na vida, todos á espera de serem beneficiados quando o “seu” partido ganhar o poder.
É isto a “democracia”?
Democracia é poder escolher entre um ou outro núcleo central partidário?
Democracia é poder escolher qual a “máfia” que vai controlar os recursos nacionais?
NÃO, democracia é muito mais, só que o povo (ainda) não o sabe ... mas vai descobrir a breve prazo!
Está na hora!
Está na hora de voltar à luta pela defesa de Portugal e do seu povo.
Não podemos consentir que a corja politico-partidária continue a destruir o que demorou oito séculos a construir.
Está na hora de dizer BASTA!