O "Correio da Manhã" publica hoje um texto tão inesperado como surpreendente da autoria de Luís Marques Mendes, antigo presidente do PSD e considerado um dos "senadores" desse partido.
Se até já gente desta fala contra a democracia partidária então é porque deve estar mesmo, mesmo muito podre!
"Choque de vida"
Por: Luís Marques Mendes, Ex-líder do PSD
"Com eleições à porta, a escolha dos deputados obriga-nos a reflectir sobre alguns vícios trágicos do nosso sistema eleitoral.
Primeiro vício: a falta de relação entre eleito e eleitor. Em 5 de Junho, vamos escolher 230 deputados. Mas será que alguém vai votar nos deputados que estão em jogo? Formalmente, sim. Na prática, o voto é nos partidos e nos candidatos a primeiro-ministro. Nos deputados é que não é. De resto, a maioria deles nem sequer é conhecida dos eleitores.
Segundo vício: a desvalorização do mérito. Em eleições locais, os partidos têm normalmente um especial cuidado na escolha dos seus candidatos autárquicos. Porque sabem que o voto no partido não chega para vencer. É preciso ter candidatos reconhecidos e prestigiados. Ainda bem. Só que em eleições nacionais, onde o grau de exigência devia ser maior, passa-se tudo ao contrário. Como aqui o voto é mais partidário do que pessoal, os partidos não valorizam o mérito. Preferem os yes men. Assim, de eleição para eleição, baixa a qualidade.
Terceiro vício: a desresponsabilização. Os deputados têm um mandato importante. Mas será que o exercem? Que prestam contas aos eleitores? Que fazem trabalho político junto das populações? Que batem o pé e afirmam a sua autonomia? Claro que não. A preocupação do deputado é agradar ao partido que o escolheu, não ao cidadão que o elegeu.
Estes vícios mostram bem que o nosso sistema eleitoral está caduco. Não prestigia a função política nem o cargo parlamentar. Agrada aos directórios partidários mas não serve os cidadãos. O País merece uma ruptura. Um novo sistema eleitoral, com círculos uninominais (um círculo, um deputado), compensados com um círculo nacional.
As vantagens desta mudança são inequívocas. A começar na personalização – cada eleitor escolheria o seu deputado como escolhe o seu presidente de câmara. A continuar na responsabilização – o deputado sentir--se-ia obrigado a fazer trabalho palpável e a prestar contas aos cidadãos. A terminar na exigência do mérito e da qualidade – é tempo de os partidos escolherem pela competência e não pelo seguidismo.
Sei bem que os partidos fogem desta reforma como o diabo da cruz. Receiam perder os seus pequenos poderes. Falam muito de credibilidade mas pouco a praticam. É tempo de a sociedade os obrigar a mudar. Afinal, os partidos precisam mesmo de um choque de vida."
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Choque de vida
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