Eis aqui uma grande surpresa, uma voz que nunca se pensou ouvir a falar contra o sistema de partidos.
Texto de Manuel maria Carrilho hoje publicado no "Diário de Noticias".
"Neste começo de pré- -campanha eleitoral, um traço se destaca: o da aguda irresponsabilidade política que atravessa o espectro político-partidário, que patina num exasperante charco do passa-culpas.
O País vê-se assim nas mãos de partidos virados para os seus umbigos e para os seus interesses de curto prazo, refém da lei que lhe reserva um intolerável exclusivo da representação política parlamentar. É vital acabar com este garrote que cada vez mais descredibiliza a nossa democracia.
O que temos visto é circo - sem a arte do circo: enquanto uns insistem propostas completamente ilusórias, outros casmurram nos mesmos erros e outros, ainda, agitam miragens de consensos futuros, tão amplos como, na verdade, improváveis. E tudo isto enquadrado, no topo, por uma obsessão pelo poder que há muito esqueceu o interesse nacional.
Viram-se assim as costas ao País, que - e neste paradoxo reside a maior esperança - ainda parece melhor do que a política. País que, convém percebê-lo, paga hoje bem caro a sua confortável demissão da vida colectiva, que atinge entre nós (ao contrário do que se passa em países com mais tradição democrática) proporções catastróficas. Aqui não há inocentes: a responsabilidade política só alastra porque é consentida, quando não estimulada, pela irresponsabilidade da própria sociedade.
É por isso que se fala do Estado como se ele não tivesse nada a ver connosco, do endividamento (público, empresarial ou privado) como se fosse sempre um problema dos outros, e da crise como se de um inesperado meteorito se tratasse. Por isso se ignoram quase completamente as lições do passado e se fala do futuro com se ele dependesse do euromilhões ou de alguma varinha mágica. E, assim sendo, não admira que tudo acabe por convergir na autoflagelação do presente, fórmula bem conhecida de catarse da irresponsabilidade."
Segue-se um texto sobre Sócrates de Fernando Sobral publicado no "Jornal de Negocios"
"10 milhões de danos colaterais"
"José Sócrates sabe tabuada como poucos.
Por isso tem a convicção absoluta de que "entre nós e o FMI há 10 milhões de portugueses".
Exagera um pouco.
Existem talvez uns milhares de portugueses nomeados pelo Governo para o Estado pelas suas provas dadas ao serviço do PS.
São o escudo humano do Governo contra o FMI.
Tudo farão para não ser removidos.
Os outros 10 milhões serão vítimas ou danos colaterais da sua alucinação.
Sócrates pode sonhar que há uma Muralha da China constituída por portugueses que darão o corpo contra o assalto das tropas do FMI, mas engana-se.
O único legado que deixa ao próximo Governo e aos portugueses é uma fotocópia da nota que o antigo secretário do Tesouro britânico de Gordon Brown deixou ao seu sucessor: "desculpe-me informá-lo de que não há dinheiro nenhum".
Ou seja, Sócrates deixa uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, e ainda acha que tem tropas para uma nova marcha da Maria da Fonte?
O que Sócrates lega a Portugal é típico do jacobinismo revolucionário iletrado. Em 1789, os revolucionários acreditavam que a bancarrota libertaria o povo da opressão.
Na verdade, um ano antes, o grande medo era que a bancarrota causasse o caos político e abrisse as portas para o despotismo.
Foi o que aconteceu.
Por aqui foi diferente.
O despotismo alucinado de José Sócrates colocou o País à beira da ruína.
Criar inimigos externos sempre foi uma forma de os regimes autoritários se fortalecerem.
Numa democracia, esse método deveria ser substituído pela competência política e pela seriedade intelectual.
Mas Sócrates desconhece esses valores democráticos."
quinta-feira, 7 de abril de 2011
O carrossel
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