Por Baptista Bastos hoje publicado no "Diário de Noticias".
Um dos poucos que vê Cavaco Silva como ele realmente é!
"Coesão" e "verdade" são termos muito utilizados nos últimos discursos do dr. Cavaco. Não querem dizer nada e não se escoram em coisa alguma. O País está dividido, desenganado, irritado e furioso com aquilo que os políticos lhe têm feito; e a palavra "verdade" faz com que fuja espavorido. Todos mentem, com maior ou menos ração, e até o dr. Cavaco não está propriamente limpo do feio pecado. Acresce que os seus textos expõem uma mediocridade de forma e de conteúdo, uma sensaboria gelada que a ninguém empolgam.
O homem pode dizer o que quiser, que veio do povo, que ao povo pertence, mas não provoca nenhum sentimento de emotiva mobilização. Ele não sente, nunca sentiu, o impulso da insubmissão e da revolta. É um ser "institucionalizado." Os indivíduos ou os grupos agem e procedem a rebeliões específicas de conduta quando as ameaças que os cercam quase elaboram a alternativa de um contra-governo. As imponentes manifestações da "geração à rasca" são sintomas e indicações.
A maneira como temos sido conduzidos e governados, prolonga a ideia de que todo o poder encontra resistência, mais tarde ou mais cedo. E a alternância, sem alternativa, entre PS e PSD, obrigando à servidão monótona do voto, atinge a sufocação. Bem pode o dr. Cavaco suspirar pela "verdade" e aspirar à "coesão." Olhe-se e veja-se. No PS de Sócrates a intriga não chegou para amolgar os 93 por cento obtidos pelo mal-amado. Os socialistas estão cegos e arfantes? Não têm é outro "camarada" que substitua Sócrates, e Sócrates representa a garantia de que talvez se mude alguma coisa para permanecer tudo na mesma. E se, nas próximas eleições, o PS voltar a ganhar e a apostar, de novo, no seu secretário-geral?
O PSD de Passos Coelho é o labirinto de onde nunca ninguém soube sair. Continuam lá todos aqueles que, através das fórmulas mais paradoxais, e dos entrelaçamentos mais duvidosos, se foram governando sem pudor nem inquietação. A ausência da tal "verdade" tem sido uma constante naquele partido, exactamente porque foi ele um dos construtores e sustentáculos do "sistema". É, pois, a título de parceiro e de adversário que o PSD e o PS têm partilhado o poder e dividido as benesses e privilégios que lhes são afins. A "mentira" começa nesse embuste da "verdade" e o dr. Cavaco é um dos arquitectos desta estática.
Torna-se cada vez mais evidente que Passos Coelho (com quem pessoalmente simpatizo) não está à altura da situação. O apelo às coligações, feito por dirigentes políticos e por jornalistas e preopinantes estipendiados, enuncia, claramente, o problema e a enorme baralhada em que nos envolveram. Em que nos envolveram aqueles mesmos ou os seus directos descendentes. No entanto, talvez as coisas, desta vez, não sejam tão felizes para eles."
quarta-feira, 6 de abril de 2011
A partilha do poder
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cavaco silva
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