Artigo de opinião de baptista Bastos hoje publicado no "Jornal de Negócios"
"Chegará o dia em que todos lhes pediremos contas."
"É uma frase extraída de um email que me enviaram. Temo que as coisas não irão passar-se rigorosamente assim. As alternâncias de poder, entre o PS e o PSD, têm permitido que eles se protejam e ocultem uns aos outros. Mentem, aldrabam, entram em conflito com as nossas carteiras, enriquecem, sucedem-se nos Governos, seguem a caminhada para gestores, administradores de instituições públicas, uma, duas, três reformas, e nada lhes acontece. A impunidade lavra nesta II República (os 48 anos de fascismo foram um interregno), e ninguém é responsável por coisa alguma.
A I República cometeu erros crassos, mas era constituída por homens virtuosos. E esta qualidade só pode ser omitida por "historiadores" de terceira divisão. O centenário da Implantação decorreu com a pompa que a efeméride merecia. Dois ou três preopinantes bolçaram umas injúrias, apagando com zelo os crimes monstruosos da monarquia. É lá com eles. Mas esses atropelos à verdade escarmenta-os como vulgares canalhas. Nada a fazer. Um canalha é um canalha, um canalha, um canalha.
A desgraça que tombou em Portugal resulta da pequenez do nosso espírito. Roma não pagava a traidores. Portugal promove-os. Os "políticos" que têm dirigido o País, desde a "normalização" de Novembro de 1975, são minúsculos morais ante a grandeza e a decência dos homens do 5 de Outubro. Ouvi, como muita gente, creio, os discursos de Sócrates e de Cavaco. A miséria do pensamento destes dois cavalheiros é proporcional ao seu espírito. Cavaco, esse, chega a ser deplorável, e até Luís Delgado lhe colocou reservas. Em forma e em conteúdo, tanto um como outro atingiram o grau zero da compreensão.
A fome alastra entre nós. Os ministros deviam vestir-se à paisana, deslocar-se até à Sopa do Sidónio, em frente à igreja dos Anjos, e indagar, junto daquelas centenas de desafortunados que se juntam, ali, diariamente, em busca de um pão e de uma sopa, a origem dos seus infortúnios. Obteriam respostas surpreendentemente dolorosas. Assinalamos o Ano da Pobreza e da Exclusão (parece que é assim a designação da piedosa lembrança), dizemos umas palavras comovidas, ou passamos indiferentes, ou entregamos um óbulo misericordioso, e desandamos para a nossa vidinha.
As coisas não acabam desse modo. A questão, a gravíssima questão, é política. E os responsáveis são, naturalmente, os políticos. Temos assistido à birra dos dois dirigentes do rotativismo. Um vai ser corrido, como tudo o faz supor. O outro, com as ameaças que faz, sobretudo à Constituição, fornece-os o retrato de uma completa distorção do País. Nem um nem outro servem. Então, quem? Depende de nós, aí sim, uma alteração de rumo.
Há anos que Portugal anda ao deus-dará. Nunca é de mais insistir na calamitosa herança do dr. Cavaco, um dos mais ineptos primeiros-ministros que tivemos. O monstruoso embuste criador em torno deste senhor é, ele mesmo, monstruoso. E os tenores que lhe entoam loas têm sido copiosamente beneficiados pelo "sistema". As coisas estão estruturadas e foram montadas de forma a não haver deslizes. E eles estão por toda a parte: nos jornais, nas televisões, nas rádios; nos "comentadores" que, sem sobressalto, transitam para as abas do poder, sem vergonha nem um pingo de compostura. Agora, anda por aí um, balofo e zeloso, ainda não há muito grave "analista", na televisão do Estado, dos fenómenos políticos circundantes. O caminho foi iniciado. Vejamos o que se segue.
O ambiente é de cortar à faca. Tenho por hábito percorrer as ruas de Lisboa, conversar com as pessoas, e cada dia me convenço mais de que estes cavalheiros estão a enfiar-nos numa camisa-de-onze varas - mas não sabem prever a explosão social que se aproxima. Penso no seguinte: se não estivéssemos inseridos nesta "União Europeia" (muito desavinda) a situação teria, certamente, tomado outro caminho. O que não impede de o desgosto, a inquietação e o desespero dos portugueses escolherem um atalho, de certeza mais agressivo e violento do que as marchas de protesto.
O que nos enoja é assistir às análises, aos prognósticos, aos palpites e às sugestões de bravos e distintos economistas, gente de alto préstimo e com duas e três reformas chorudas, a propor que se reduzam ainda mais os salários, e que caia nos lombos dos pobretanas o sarrafo das "restrições". Dizem eles que é para bem do "interesse nacional" expedito palavrão que tem encoberto as mais sórdidas infâmias."
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Eles protegem-se uns aos outros
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