Contava o inesquecível Raul Solnado numa das suas inesquecíveis rábulas que em sua casa andava um senhor de fato castanho que ninguém sabia quem era nem o que fazia.
Portugal está como o Solnado. com um senhor de fato cinzento que, embora todos saibam quem é, ninguém sabe o que faz.
Esse "senhor" é Cavaco Silva, presidente da republica há cinco anos e que se prepara para ver o mandato renovado por mais outros cinco.
Numa entrevista hoje publicada no "Expresso", Cavaco Silva diz, entre outras tretas, sentir-se cada vez mais perto dos portugueses e presenteia-nos com algumas tiradas "memoráveis".
Diz o "senhor" ser uma das pessoas que melhor sabe o que se passa sobre a situação em que o país se encontra mas, logo a seguir, admite não saber que estava tão mal e sentir-se triste por ter chegado a este ponto.
Não foi este "senhor" que começou a aumentar o peso do estado promovendo a criação de institutos públicos para colocar os seus militantes do psd?
Não foi este "senhor" que desbaratou incontáveis milhões e milhões de euros de fundos estruturais recebidos da Europa e que ninguém sabe onde foram parar?
Não foi este "senhor" que, quando era primeiro ministro e "bom aluno" da Europa, destruiu a industria e a agricultura nacionais a troco de mais uns quantos subsídios que entraram nos bolsos dos seus correlegionários do psd?
Diz o "senhor" que Portugal tem de se virar para o mar porque aí reside o futuro da economia.
Mas não foi este "senhor" que, quando era primeiro ministro e "bom aluno" da Europa, destruiu as frotas nacionais, da mercante à pesqueira?
Diz o "senhor" que não lhe passa pela cabeça demitir Sócrates e o seu governo porque defende a estabilidade.
O facto do primeiro ministro ter conduzido o país à quase ruina é, na opinião do "senhor", totalmente acessória pelo que dá o aval à manutenção do governo e à estabilidade do caminho para o abismo.
Diz o "senhor" que passa muitas horas a ler jornais e revistas.
Perfeitamente compreensível já que o "senhor" precisa de ocupar o muito tempo que tem livre por não fazer nada.
Fosse o povo português menos fatalista e resignado e este "senhor" estaria atrás das grades acompanhado por Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e, claro, José Sócrates.
Infelizmente, para Portugal, o "senhor" vai ter mais cinco anos sem fazer nada.
sábado, 23 de outubro de 2010
O senhor de fato cinzento
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