Texto de Tomás Vasques hoje publicado no jornal I-online
Apareceram
os slogans que sustentaram esta revolução invertida - a expropriação
dos pobres para dar aos ricos: "Viveram acima das suas possibilidades,
agora têm de pagar"
Esta "nova crise", decorrente da anterior, teve início no princípio de 2010, depois dos socialistas gregos, recém-eleitos, terem denunciado falcatruas nas contas públicas, perpetradas pelos seus antecessores, que colocavam em causa a capacidade de pagamento das dívidas contraídas pelo Estado grego. Daí para cá, sob o comando dos conservadores alemães, chefiados pela senhora Merkel, começou um doloroso processo de desconstrução europeia - desconstrução civilizacional, democrática e económica. A "economia de casino" que até aqui nos conduziu, os desmandos e os crimes financeiros de banqueiros e correctores, dos Madoff e companhia, e à nossa escala, dos Oliveira e Costa e Rendeiro, tinham que ser pagos, até ao último tostão, com língua de palmo, e com juros avultados, por quem anda por cá mais a vegetar do que a viver. Mais: pagar as dívidas do Estado e recapitalizar os bancos, autores de todas estas "proezas". Apareceram, então, para sustentar o engodo, os slogans que sustentaram esta revolução invertida - a expropriação dos pobres para dar aos ricos: "viveram acima das suas possibilidades, agora têm de pagar", "não há dinheiro, qual das três palavras não perceberam", "é preciso baixar os salários ainda mais" e muitos outros do mesmo género. Não é por acaso que os principais defensores destas "ideias" do governo são banqueiros, como Fernando Ülrich ou o falecido António Borges.
Esta lógica imoral e infernal, segunda a qual os que menos têm, devem suportar os luxos dos que mais têm - numa estratégia premeditada, que Dante desconhecia quando escreveu "O Inferno" - tem levado a esta permanente expropriação de quem mais precisa: subsídios de natal e férias, salários, indemnizações por despedimento, reformas e pensões de sobrevivência, impostos e tudo o mais, deixando incólume as PPP, os contratos swap, as rendas à EDP e tudo o que esteja relacionado com os autores do grande crime: os bancos e o sistema financeiro. É este o governo que temos e não há no horizonte a menor brisa de mudança.
PS - Dizem que, depois da falência do Lehman Brothers, o mundo mudou, mas é mentira. Nada mudou a não ser a pobreza em que muitos milhões de cidadãos caíram. Um exemplo: realizou-se há dias uma feira de automóveis, na Alemanha. Entrevistado o vendedor de um automóvel em exposição, cujo preço ultrapassa largamente os salários de centenas de pessoas durante toda a vida, o vendedor declarou: "Claro que se vende. O cliente Bugatti tem em regra 32 carros na garagem."
Sem comentários:
Enviar um comentário