Pedro Ivo Carvalho é um jornalista que publica hoje hoje no "Jornal de Noticias" um texto sobre a nomeação de militantes partidários para cargos na administração publica pagos a peso de ouro.
Pouco a pouco, comentador a comentador, o povo vai abrindo os olhos, Os oportunistas que se acautelem porque o despertar já esteve mais longe.
"Boys, boys, boys"
" O Estado português, é sabido, tem as costas largas. Demasiado largas. Tão largas que há quem trepe por ele acima, se empoleire nos seus ombros e, lá do alto, grite, a plenos pulmões: "Também eu já bebi do seu cálice, também eu já fui bafejado pela sorte!"
O cálice é o Orçamento do Estado, a sorte é ser amigo de alguém que mexe uns cordelinhos no partido que está no poder. Ou, como normalmente são designados, os "boys" que se acotovelam nas trincheiras desta Função Pública que oscila de regime para regime, gente esperta o suficiente para não fazer muitas perguntas inteligentes.
Veja-se o caso do jovem dirigente socialista que, sem currículo profissional ou canudo académico, conseguiu a proeza de ser, simultaneamente, assessor político da Câmara de Lisboa (lá está, a confiança) e receber subsídios do Instituto do Emprego para criar uma empresa que, entretanto, está desactivada.
Tudo somado, recebeu qualquer coisa como 41 mil euros indevidos. Tanto quanto ganhariam 86 trabalhadores que aufiram o salário mínimo. Mas o partido achará que o jovem "boy" vale bem por 86.
Veja-se, ainda, o exemplo dos arábicos salários de que beneficia(ra)m os elementos do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães, entidade que gere a Capital Europeia da Cultura, e que ontem levaram uma castanhada. Haja justiça, pensará o incauto leitor. Mais ou menos.
Isto porque o corte de 30% decretado pela autarquia, parecendo salomónico, não corrige o erro e a falta de pudor. Mesmo com o acerto de contas, o vencimento de Cristina Azevedo, presidente do Conselho de Administração, baixa de 14.300 para 10 mil euros mensais (mais do que, por exemplo, ganha o presidente da República e o primeiro-ministro).
A mais extraordinária lição a tirar desta história é que foi António Magalhães, autarca local, a decidir o montante a pagar aos representantes daquele órgão, num acto de desprezo pelos dinheiros públicos. Se um deputado do PCP chamado Agostinho Lopes não tivesse reparado, calava-se tudo bem caladinho.
Não custará muito projectar, a partir destes dois casos, milhares de outros. Um exército silencioso que se encosta ao poder, que priva com ele, que desfruta das suas mordomias, que tem do Estado uma visão maniqueísta ("eu sou o Estado, por isso, ele tem de me servir"), gente que não abunda nos discursos dos políticos, porque é sempre mais fácil atacar os desempregados e os beneficiários de prestações sociais. Esses sim, são as sanguessugas dos nossos impostos. Os outros não. Os outros são "atarefados" funcionários públicos. Com amigos nos sítios certos"
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Boys, boys, boys
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