Texto de Manuela Moura Guedes hoje publicado no "Correio da Manhã".
"Em vez de reconhecer que a política de Gaspar falhou, o Governo entrou no mundo maravilhoso do irreal.
Na sua tournée pelos EUA, Vítor Gaspar não incluiu no reportório os números da execução orçamental. É certo que um verdadeiro artista põe de lado os falhanços e só mostra os êxitos, mas, então, que anda a exibir o ministro das Finanças, se só há para ver o fiasco da sua política ?O défice do Estado triplicou, a despesa cresceu 3,5%, as receitas fiscais diminuíram 5,3%... E se Passos Coelho justificou o aumento da despesa com os 348 milhões para a RTP omitiu, no entanto, a receita extraordinária de 270 milhões com o leilão de licenças para a 4ª geração.
Percebe-se, as coisas estão a correr mal, a recessão vai muito para além do que previa o Governo e isso é da responsabilidade do ministro das Finanças. É dele a austeridade para além das exigências da troika, o que restringiu a actividade económica e o consumo e não deixou qualquer margem para a Economia se desenvolver. É espantoso como, por exemplo, as receitas da venda de carros caíram 44,6% e Gaspar previu que aumentem 7,5%. Só um milagre mesmo é que fará com que se chegue a este número até ao final do ano, como a todos os outros valores previstos no OE. O milagre chama-se Economia, mas Gaspar paralisou-a, foi ele e não Santos Pereira. Os raides em aumentos e em cortes para obter receitas não tiveram contrapartida na despesa pública, tudo está igual nas grandes despesas do Estado, o que só podia dar para o torto.
Mas, em vez de reconhecer que a política de Gaspar falhou, o Governo entrou no mundo maravilhoso do irreal, a negar o óbvio, tal como fizeram Sócrates e Teixeira dos Santos. Como "não somos a Grécia" não se ligou nenhuma aos erros que Juncker e Thomsen admitiram que a Zona Euro e o FMI cometeram no programa de ajuda aos gregos, como foi um excessivo aumento de impostos sem olhar para o crescimento económico, receita também aplicada a Portugal. Mas, como "não somos a Grécia", somos mesmo Portugal, o povo arguto e perspicaz, como sempre, acha Gaspar brilhante como, em geral, a imprensa (aliás, é por a imprensa achar, que o povo acha). Portanto, não faz mal que a digressão do artista inclua momentos de delírio como "vamos crescer em 2013" ou "estamos a meio da ponte". Só fica um aviso: o artista não sabe nadar (yohh)!"
sexta-feira, 23 de março de 2012
Nada, Gaspar, nada!
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