Texto de Manuela Moura Guedes hoje publicado no "Correio da Manhã".
"A ideia de que o Governo aldraba a troika até podia ser simpática e desculpável se isso significasse uma tentativa de poupar os portugueses a mais sacrifícios.
Mas não, o Governo carrega na austeridade em cima de uma pobre classe média, cada vez mais pobre e menos média, e adia esforços, mantém contratos e regalias inaceitáveis com quem já tem uma posição de privilégio na sociedade. Chega até a ‘suavizar’ os números das rendas excessivas da electricidade para que os beneficiados do costume não fiquem a perder com as exigências da troika.
O relatório do secretário de Estado da Energia que se demitiu e que foi chumbado pelo Governo, apesar de ter por base um estudo da Universidade de Cambridge encomendado pelo próprio Governo, dizia que era preciso cortar 165 milhões por ano no que a EDP cobra a mais aos consumidores na factura da luz. Já no relatório de Carlos Moedas para a troika, esses cortes ficaram-se nuns miseráveis 4 milhões. Entre um e outro apenas houve as críticas feitas por António Mexia ao estudo dos ingleses e a que terá tido acesso poucas horas depois de ter sido entregue ao Governo, segundo Henrique Gomes.
Mexia está no seu papel, ao não querer menos rendimentos à empresa que gere. Não é ele o mau da fita, e, se faz pressões, há quem ceda a elas, mas também há quem se demita porque não quer ceder. Estranha é a razão por que há no Governo quem defenda os interesses da EDP, sendo ela privada, e se esteja nas tintas para os interesses dos portugueses, que vêem cerca de metade do que pagam da factura da luz ir para os tais "custos políticos".
Eduardo Catroga e Carlos Moedas, que se juntaram para as negociações do orçamento para 2011, também se uniram, no programa eleitoral do PSD, para defender uma nova política energética preocupada com os custos das famílias e que visava a redução dos défices tarifários. Agora que está no Conselho Geral da EDP, Catroga já não pensa assim, e, pelos vistos, Moedas voltou a estar com ele, reduzindo quase a zeros os cortes para a empresa. Certo é que, passado quase um ano, está tudo por fazer e não há semana em que Passos Coelho não junte ao seu arzinho de bom rapaz um ar indignado para prometer uma razia. Quatro milhões? Está a brincar!..."
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Rendas políticas
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