Texto de Paulo Morais, Professor Universitário, hoje publicado no "Correio da Manhã"
A crise política mais recente, provocada pela
pseudodemissão de Paulo Portas, agitou os diversos grupos e fações que
se digladiam no seio dos vários partidos do arco do poder.
No PSD, os elitistas, próximos de Cavaco, querem
eleições legislativas no imediato. Arredados do poder pelo passismo,
estão saudosos do acesso aos lugares de topo da administração pública, a
que sempre estiveram habituados. Este grupo, liderado por Ferreira
Leite, Rui Rio ou Pacheco Pereira, quer substituir Passos Coelho na
liderança do partido, mesmo antes de eleições antecipadas. Neste
cenário, terão até como aliados os caciques do aparelho mais
cavernícola, os detentores dos sindicatos de voto interno. Os dirigentes
ligados ao poder autárquico, que aclamaram Passos, serão os primeiros a
despedi-lo. Pois não quererão ir a sufrágio nas eleições locais ligados
à imagem do primeiro-ministro, à sua impopularidade e aos seus
fracassos governativos.
Já no Partido Socialista,
é o setor mais basista que quer a antecipação de eleições. O aparelho
socialista de Seguro sabe que o equilíbrio interno é frágil e que os
socratistas espreitam a primeira brecha para recuperarem o poder. Os
herdeiros de Sócrates são hoje – pasme-se! – a elite socialista.
Representam as ligações aos grandes negócios e à Banca, com quem o PS
viveu em conúbio durante os governos de Sócrates. António Costa,
Francisco Assis ou Vieira da Silva não querem eleições para já. São os
melhores aliados de Passos Coelho.
Neste xadrez, o
CDS hesita. O aliado de Portas será conjunturalmente Passos, num
cenário de continuidade da coligação. Mas Seguro também será um bom
parceiro, em caso de eleições antecipadas. Depende de quem der mais. O
dilema do CDS está entre jogar pelo seguro e manter o enorme poder
adquirido. Ou provocar a antecipação de eleições, apoiando Seguro... e
arriscar um desaire eleitoral.
Todas estas fações
partidárias desprezam os cidadãos que representam. Não passam afinal de
bandos de assalto ao poder, que se organizam para aceder a negócios
proporcionados pelo estado ou a cargos na administração. Como diria
Bordalo Pinheiro, transformaram "a política numa porca em que todos
querem mamar".
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