A austeridade que nos impingiram é socialmente insuportável, injusta e está apontada aos alvos errados. O Estado português tem de pôr as contas em dia.
É verdade. Se a receita anual anda na ordem dos
sessenta mil milhões e a despesa nos setenta, obviamente que este défice
tem de ser diminuído ou até eliminado. O Estado tem de reduzir – e
muito – as suas despesas. Mas deve penalizar os que provocaram a crise e
não todos os outros.
Em primeiro lugar, o Estado
tem de poupar nos juros da dívida. Milhares de milhões de euros em cada
ano, bem entendido. Não é admissível que os juros representem a maior
despesa do Estado em 2013. É irracional. Seria como se alguém na sua
economia familiar gastasse mais em lavagens do automóvel do que na
alimentação dos filhos. É claro que este corte viria agastar o "lobby"
da banca, Ricardo Espírito Santo, Fernando Ulrich ou até a filha do
presidente angolano. E não há coragem política para o fazer. Além de que
alguns políticos influentes são, eles próprios, administradores de
bancos, de Vera Jardim no PS, a Lobo Xavier no CDS… entre outros.
Outra
despesa a ser imediatamente reduzida é a das rendas com as parcerias
público-privadas. Poder-se-iam poupar, sem dificuldade, mil milhões.
Isto se houvesse coragem para enfrentar os maiores parceiros privados,
como os grupos Mello ou Mota-Engil. Não há! Acresce que estes grupos
garantem a sua intocabilidade colocando nas suas administrações atores
políticos como Joaquim Ferreira do Amaral, Valente de Oliveira ou Jorge
Coelho.
Muitas outras despesas se poderiam evitar no Estado, a começar na renda
milionária contratada com o fundo detentor do Campus de Justiça em
Lisboa, presidido por Alexandre Relvas, diretor de campanha de Cavaco
Silva. Etc., etc., etc. A verdadeira salvação nacional consiste em
cortar neste tipo de gorduras do Estado. E não nas pensões, nas
reformas, ou nos salários e subsídios dos funcionários. E muito menos no
ensino, na saúde ou na segurança social. Portugal precisa apenas de ser
governado por quem, seguindo a máxima de António Vieira, impeça que "os
peixes grandes comam os pequenos. O contrário seria menos escandaloso,
porque um peixe grande poderia alimentar muitos peixes pequenos".
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