O mea culpa irónico de Gaspar é um pedido de demissão do governo
A
eminência Gaspar, primeiro-ministro de facto deste governo, demitiu-se
ontem e comunicou ao primeiro-ministro de direito - o seu duplo Pedro
Passos Coelho - que perante o falhanço do ajustamento cada um tem de
assumir as suas responsabilidades. A carta de Gaspar a Pedro Passos
Coelho é um monumento político: Vítor Gaspar assume em pormenor o
falhanço das políticas que o governo levou a cabo e decide-se pela
retirada de cena, não sem responder aos seus críticos no interior do
executivo, afirmando que sem ele a possibilidade de o governo se manter
coeso aumentou exponencialmente.
Certamente Gaspar percebeu que a sua espécie de mea culpa e assunção de falta de credibilidade acabam por ser, na prática, uma justificação para a demissão em bloco do governo. Gaspar era um problema, mas não é o problema - todos os seus falhanços macroeconómicos são partilhados pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que ainda é quem institucionalmente manda e por uma Europa em alucinação colectiva.
Ao assumir o ónus da culpa - nomeadamente o da "queda da procura interna", uma consequência óbvia de um programa de ajustamento deste género mesmo para um não economista - e ao comunicar publicamente a Passos Coelho que sem ele o primeiro-ministro poderá "reforçar a sua confiança e a coesão da equipa governativa", Gaspar opta na hora da despedida pela ironia (misturada com arrogância) com que tantas e tantas vezes se dirigiu aos deputados. O que Gaspar proclamou ontem ao povo é que o governo falhou as suas metas e tem que assumir as responsabilidades pelo seu falhanço. E nem as referências ao "tempo do investimento" - com um curioso ponto de exclamação - e ao "fardo da liderança" que agora é deixado a Passos Coelho podem ser lidas se não à luz da ironia gaspariana.
A escolha de Maria Luísa Albuquerque para sucessora do ministro das Finanças é uma cabal demonstração de que o governo está a viver os seus últimos dias. O envolvimento da secretária de Estado no escândalo dos swaps faria dela a última hipótese para o cargo, se vivêssemos tempos normais. Como qualquer primeiro-ministro na decadência, Passos Coelho já não tem outra margem de manobra senão recrutar no seu círculo íntimo. Infelizmente para todos nós, a queda do governo será uma excelente desintoxicação, mas não resolverá o problema na raiz - o PS de Seguro terá de se confrontar com os mesmos loucos que governam a Europa, o mesmo euro disfuncional e a sua margem de mudança será, infelizmente, reduzida.
Certamente Gaspar percebeu que a sua espécie de mea culpa e assunção de falta de credibilidade acabam por ser, na prática, uma justificação para a demissão em bloco do governo. Gaspar era um problema, mas não é o problema - todos os seus falhanços macroeconómicos são partilhados pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que ainda é quem institucionalmente manda e por uma Europa em alucinação colectiva.
Ao assumir o ónus da culpa - nomeadamente o da "queda da procura interna", uma consequência óbvia de um programa de ajustamento deste género mesmo para um não economista - e ao comunicar publicamente a Passos Coelho que sem ele o primeiro-ministro poderá "reforçar a sua confiança e a coesão da equipa governativa", Gaspar opta na hora da despedida pela ironia (misturada com arrogância) com que tantas e tantas vezes se dirigiu aos deputados. O que Gaspar proclamou ontem ao povo é que o governo falhou as suas metas e tem que assumir as responsabilidades pelo seu falhanço. E nem as referências ao "tempo do investimento" - com um curioso ponto de exclamação - e ao "fardo da liderança" que agora é deixado a Passos Coelho podem ser lidas se não à luz da ironia gaspariana.
A escolha de Maria Luísa Albuquerque para sucessora do ministro das Finanças é uma cabal demonstração de que o governo está a viver os seus últimos dias. O envolvimento da secretária de Estado no escândalo dos swaps faria dela a última hipótese para o cargo, se vivêssemos tempos normais. Como qualquer primeiro-ministro na decadência, Passos Coelho já não tem outra margem de manobra senão recrutar no seu círculo íntimo. Infelizmente para todos nós, a queda do governo será uma excelente desintoxicação, mas não resolverá o problema na raiz - o PS de Seguro terá de se confrontar com os mesmos loucos que governam a Europa, o mesmo euro disfuncional e a sua margem de mudança será, infelizmente, reduzida.
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