"O estado português tem de reduzir a despesa em quatro mil milhões de euros, por imposição dos compromissos que assumiu com a troika. Na hora de proceder a cortes, exige-se que esta redução atinja os privilégios e as rendas atribuídos aos mais poderosos e não seja feita à custa de mais sofrimentos infligidos ao povo. Até porque ao nível dos privilégios há muito por onde cortar
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Os cortes e a Corte
"O estado português tem de reduzir a despesa em quatro mil milhões de euros, por imposição dos compromissos que assumiu com a troika. Na hora de proceder a cortes, exige-se que esta redução atinja os privilégios e as rendas atribuídos aos mais poderosos e não seja feita à custa de mais sofrimentos infligidos ao povo. Até porque ao nível dos privilégios há muito por onde cortar
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A bíblia de Passos
Texto de Manuel Maria Carrilho hoje publicado no "Diário de Noticias".
"Sempre que diz
que não, agora já sabemos que é sim. Ano e meio de governação revelaram a
função eminentemente táctica da negação no estilo de governo de Pedro
Passos Coelho: foi assim com tudo, os subsídios de férias e de Natal, as
reduções de salários, as amputações de funções nucleares do Estado, o
ataque às pensões, etc.
Trata-se de um tática batida, de eficácia
bem reconhecida, que não se deve menosprezar: é a tática de avançar
mascarado, jurando sempre respeitar o que se despreza, e rejeitar o que
se venera. O resto são meros expedientes e pequenos truques, fáceis para
quem gere o poder.
Foi assim que, depois de se ter fixado
arbitrária e secretamente um valor de cortes que se pretende fazer no
Estado (os tais quatro mil milhões de euros), se inventou um tema
suficientemente vago - a refundação - que permitisse abrir caminho para o
atingir negando estar a fazê-lo, jogando assim às escondidas com os
parceiros sociais, os partidos políticos, a opinião pública, afinal com
todos os portugueses.
O tema já leva três meses de laracha, e
ainda não foi apresentada uma só proposta, uma ideia que fosse ou um
único objetivo, para lá do tal valor fetiche dos quatro mil milhões, a
que também ninguém explicou como é que se chegou. Seria útil e não
devia ser difícil!...
Claro que se prometeu um debate, um "debate
nacional" evidentemente. Mas como debater o que literalmente não existe?
Este anúncio é parte da panóplia dos truques: ao anunciar esses debates
sempre futuros sobre um projeto sem existência concreta, o que se
visava era sobretudo - como se de uma inoculação se tratasse - ir
transformando o anúncio numa decisão incontornável.
Tão
incontornável que a simples referência ao tema acabasse afinal por...
dispensar todos os debates. Foi o que aconteceu. E os que agora se
montaram à pressa são - como bem se viu ontem e anteontem no Palácio
Foz, com o fórum "Pensar o Futuro - um Estado para a Sociedade" - uns
indignos arremedos de qualquer discussão séria, que ilustram sem
equívocos a extrema degradação política, intelectual e ética a que a
conceção e a prática do debate chegaram com este governo.
O lance
decisivo da manobra foi, contudo, outro. Ele consistiu em atirar-se
para aí com um "relatório" do FMI, um relatório "muito bem feito", dizia
com uma obscena e incontida excitação o secretário de Estado que o
divulgou.
Um relatório que, todavia, das pergunta enunciadas às
respostas escondidas, das palavras escolhidas às que foram
cuidadosamente evitadas, passando pelos números grosseiramente
manipulados, se revela uma mera encomenda governamental sem qualquer
credibilidade.
Mas o relatório não é só desonesto, ele é também
medíocre. A sua mediocridade técnica é, de resto, o que mais
imediatamente revela a sua natureza política e ideológica. Pedro Passos
Coelho veio, claro, dizer que não se trata da "bíblia" do Governo... Mas
os portugueses, agora, já sabem que quando Passos diz que não, é porque
é sim!
O momento, no entanto, é propício para se perceber e dizer
algo mais, e mais importante: é que a bíblia de Passos não é só este
relatório. Independentemente do seu destino, e do que dele venha de
facto a ser adoptado, a bíblia de Passos é a de um ultraliberalismo
estruturalmente fanático.
De um ultraliberalismo que nunca
tínhamos visto em ação em Portugal, e cujas características ideológicas e
políticas infelizmente têm sido descuradas - e, isso sim, é que devia
ser objeto de um exigente debate político nacional.
A ideia,
repito, foi a de avançar mascarado. Mas este ultraliberalismo tem como
que traído Passos Coelho em todos os momentos de verdade (sobre a
constituição, o emprego, a emigração, as funções sociais, os impostos,
etc.), revelando as suas verdadeiras convicções e intenções ideológicas.
É
esta forma de liberalismo - na verdade é muito mais "ultra" do que
"neo" - que, de um modo ora mais engenhoso ora mais atamancado, tem
definido a natureza, a ação e os objetivos do atual governo.
A
sua ambição fundamental é a mercantilização integral da sociedade, num
quadro em que a competição dispensa completamente a cooperação, e em que
o mercado é afirmado e assumido como a única forma de organização
social plenamente legítima. Nada mais conta!
É aliás neste ponto
que o ultraliberalismo (F. Hayek, G. Becker etc.) se distingue do
liberalismo clássico (A. Smith, Ricardo, etc.), que visava restringir a
intervenção do Estado no mercado, distinguindo duas racionalidades, a
política e a económica.
O ultraliberalismo, pelo contrário,
defende a generalização sem quaisquer limites do modelo de mercado a
todas as áreas e a todas as atividades da sociedade. Defende também que
se faça da finança - apesar de todos os desmentidos factuais dos últimos
anos - o modelo de eficiência desse mesmo mercado. E defende ainda que
tal seja feito por um intervencionismo político e jurídico radical. É
exatamente tudo isto que, neste momento, está em curso em Portugal.
A
ideologia ultraliberal é clara: é preciso subordinar todas as
racionalidades, sejam elas a política, a social, a cultural, a
educativa, etc., a uma só e mesma racionalidade, que é a do mercado: é
esta, e só esta, a inspiração do "relatório" do FMI.
Passos Coelho
segue sem reservas este fanatismo ultraliberal, é ele que dá coerência a
todas as suas declarações, mesmo - ou sobretudo - quando o nega. O que
ele ambiciona para Portugal é pôr o Estado sob a vigilância permanente e
sob controlo constante do mercado, é governar não só para o mercado
mas, fundamentalmente, em função do que a lógica mercantil quer da
sociedade.
Nesta perspectiva, inédita em Portugal mas que é hoje
absolutamente clara no discurso do Governo, é a economia que
verdadeiramente passa a controlar e a fundar a política, impondo-lhe os
seus objetivos - e isto é que é, afinal, a "refundação".
É por
isso um erro pensar-se que o seu adversário é apenas o Estado social -
na verdade, o seu adversário é todo o Estado, o Estado tout court. Qual é
o interesse de noções como "bem comum", "bem-estar social", "interesse
geral", perguntava há já algumas décadas F. Hayek, nesse clássico do
ultraliberalismo que é "A Estrada para a Escravidão"? Nenhum,
respondia, são ideias a combater, como acontece com as de autonomia, de
contrato social, de comunidade, de soberania.
São meras ilusões
que é preciso eliminar, como tudo aquilo que valorize os sentimentos
comuns dos cidadãos ou quaisquer perspetivas unificadoras da sociedade.
"A
sociedade não existe" é o dogma central deste ultraliberalismo, para
quem só existem os indivíduos na sua pluralidade e, claro, o mercado na
sua divindade . É esta a "bíblia" de Passos Coelho."
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Sem dó nem piedade
"Aos políticos corruptos nunca são assacadas nenhumas responsabilidades pelos seus atos. Violam leis e regulamentos, patrocinam negócios ruinosos para o Estado, enriquecem de forma obscena e nada lhes acontece.
Túnel
Texto de José Reis Santos, Historiador, hoje publicado no "Diário Económico"
Virado mais um ano, justo o da fortuna
ou do azar, verificamos que os projectos do Governo em desmantelar as
bases do Estado-social português construído nos últimos 30 anos, e de
transformar o País num Estado ‘low cost’ atraente ao lucro da alta
finança internacional, correm sérios riscos de passaram de conceito a
realidade irreversível.
Bem sei que por circunstâncias próprias do nosso sistema
político-partidário, elegemos para nos governar um bando de miúdos
traquinas, sem qualquer experiência política relevante, qualidades
intelectuais ímpares ou competências de gestão governativa. Dizem alguns
que tal é consequente da excessiva partidarização da vida política
contemporânea, da profissionalização resultante da consolidação
institucional dos sistemas democráticos, uma inevitabilidade. Até sou
capaz de concordar que, resultante da estabilização institucional e
democrática, a vida política se torne mais rotineira e burocratizada,
mais técnica e profissionalizada, logo menos excepcional e desafiadora,
intelectualmente menos atraente e recompensadora. Mas o que não consigo
admitir, o que não concebo, é que exactamente os que se dizem produto
desta profissionalização não ostentem qualidades ímpares que os
apresentem como excepcionais, como dignos de gerirem os destinos
colectivos de 10 milhões de pessoas.
Assim, vemos hoje nas lapelas dos (novos) blazers dos miúdos que há
20 anos eram chutados para as 5ª filas parlamentares, os ‘pins' do
escudo de Portugal, uma distinção já não legitimada pelo respeito social
e popular, mas uma marca de arrependimento eleitoral e símbolo para a
reflecção institucional, pois temos de saber encontrar forma de não só
impedir que se perpectue o laxismo constitucional e a ilegalidade social
e eleitoral deste Governo, como saber construir uma fórmula
institucional que impeça que no futuro um escasso triunfo eleitoral se
transforme num projecto totalitário de transformação integral, não
sufragada e fora-da-lei (constitucional), da realidade nacional, caminho
que o senhor Passos Coelho tem percorrido.
O problema prende-se, em teoria, com a relação entre o desenho
constitucional e a natureza dos titulares dos cargos da hierarquia
institucional. Assim, quer Cavaco como Portas detêm o poder de dar por
terminada a experiência laboratorial em curso em Portugal; mas não
intervêm com esse desiderato, curiosamente demonstrando um claro
desrespeito pelo sentido de Estado, por razões incógnitas ou anódinas
(Cavaco) e por um tacticismo político e invulgar preguiça em se levantar
das cadeiras do poder (Portas).
Assim, que fazer? Continuar com o protesto social? Mais e mais
manifestações? Esperar por novas cargas policiais e pela instauração
definitiva de um estado securitário em Portugal, com novos bufos e uma
PIDE 2.0? Ou respeitar o ciclo eleitoral, construindo uma alternativa
para 2015? Em teoria, e como institucionalista, tenderia em escolher a
solução que respeitasse os trâmites estabelecidos no nosso desenho
institucional, não tivesse este Governo rasgado essas mesmas
estipulações e nos tivesse colocado num túnel sem saída, sem lâmpadas ou
lampiões que iluminem qualquer esperança, e onde o El Dourado é
prometido apenas para os poucos que já tudo têm."
domingo, 13 de janeiro de 2013
O grande salto em frente
"Com mais de ano e meio de atraso Passos Coelho apresentou o seu manifesto eleitoral. Está finalmente perante nós, mascarado de relatório do FMI, o que Vítor Gaspar, Passos Coelho e Relvas querem para o País - saberemos dentro em breve se devemos acrescentar Paulo Portas a esta lista. Eis a agenda escondida, o ir para além da troika, aquilo que a Santíssima Trindade sempre quis mas não apresentou aos portugueses receando não ganhar as eleições.
Esqueçamos a falta de vergonha e o desrespeito pelos cidadãos de se mandar para um jornal um documento que a ser implementado mudaria o País para sempre e depois mandar um mero secretário de Estado explicá-lo.
Também não vale a pena debater a ideia que se quis vender dizendo que são simples propostas de âmbito técnico e de se dizer que é um texto que busca consensos: é um documento puramente político e não pretende ser minimamente consensual. A prova disso é que nem os partidos da oposição, nem sindicatos, nem nenhum parceiro social foram tidos ou achados.
A verdade é que Passos Coelho contratou o FMI para lhe escrever o seu programa ideológico.
Como qualquer programa político é marcado ideologicamente, a opção ideológica naturalmente reflecte-se na maneira de fazer os diagnósticos, na forma de levantar as questões e essencialmente nas soluções propostas. Este relatório do FMI não deixa de ter inexactidões graves, erros flagrantes e enormes falsidades, mas sempre com o mesmo objectivo: defender opções políticas (até nisso se aproxima de um manifesto eleitoral). Mais, quando se pede um estudo deste tipo ao FMI sabe-se o que se vai obter.
Digamos que a receita é conhecida e, para quem não saiba, não resultou em nenhum lado, da América Latina à Ásia. Pedir ao FMI um estudo sobre a reforma do Estado é perguntar a um muçulmano se prefere cordeiro ou porco. Já sabemos a resposta.
O documento põe em causa, por completo, o caminho seguido em Portugal após a revolução; pretende acabar com o Estado social, que tem sido consensual em Portugal, concorde-se ou não com a forma como está desenhado ou tem funcionado. Não se chega a meio de uma legislatura e se diz que se tem de despedir 50 000 professores, outros tantos militares, polícias e outros milhares largos de funcionários públicos.
Também não é o momento para anunciar que se vai roubar 20% do dinheiro que as pessoas emprestaram ao Estado para que lhes fosse devolvido quando fossem velhas. São propostas legítimas, mas o mandato eleitoral não é um cheque em branco. O que está em causa não é propriamente privatizar 49% ou 51% da RTP ou aumentar mais ou menos os impostos: é uma mudança radical na forma de estruturar a comunidade, não pode ser feita sem um mandato claro do povo. Não se podem fazer estas mudanças absolutamente radicais sem eleições e em muitos casos mudando a própria Constituição. Ainda é preciso ouvir o povo para dar o grande salto em frente.
Há aqui ainda, entre muitos outros, um par de problemas. O parceiro de coligação, o CDS? Em que estado fica depois deste episódio, sabendo-se que não concorda com o verdadeiro plano do Governo, apesar de lhe pertencer? Portas e Cavaco estão cada vez mais parecidos nas ideias e nos actos: não se pode esperar nada deles. Não querem, até ver, contar.
O segundo e mais importante tem que ver com o PSD. Revê-se o partido neste programa? É que tudo o que tem sido a actuação deste Governo, sobretudo este programa Governo/FMI, é contra toda a sua história, toda a sua tradição governativa, toda a sua raiz ideológica. Pois, é muito provável que antes mesmo de haver eleições para sufragar o dito plano fossem necessárias eleições no PSD. Os sinais são claros. De Carreiras a Capucho, passando por Mota Amaral e pelo descontentamento visível das bases do partido. Não deixa de ser muito interessante, aliás, comparar este documento do FMI com o Relatório da Plataforma para o Crescimento Sustentável presidida pelo primeiro vice--presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva. Não é preciso ler muitas páginas de ambos os documentos para percebermos o quão absolutamente distintas são as visões expostas. É muito difícil perceber como é que o Passos Coelho versão 2012/13 e Moreira da Silva são do mesmo partido.
Este Governo não é bem um Governo, é um terrível acidente. Talvez o pequeníssimo empurrão que falta para que caia não seja dado pelo Presidente da República ou pelo CDS mas pelo Partido Social--Democrata. Veremos se ainda sobra alguma força e carácter ao partido que teve um papel decisivo na construção da nossa democracia."
sábado, 12 de janeiro de 2013
Esta democracia
Texto de João Marcelino hoje publicado no "Diário de Noticias"
"1.
Há umas semanas Passos Coelho saiu-se com a refundação do Estado.
Poucas horas depois, no meio da confusão instalada, percebeu-se que a
questão nada tinha a ver com estratégia e visão. Era, apenas, mais um
problema financeiro. Importante, sim; mas financeiro. Faltavam 4 mil
milhões de euros para cortar até 2014 e a troika queria um plano até
fevereiro deste ano (de 2013). Passos Coelho, até aí tão cioso da
autoridade da maioria absoluta que coordena, convocou de repente o PS
para assinar os sacrifícios. Entretanto chegou o Natal. E agora, passado
este, chegou o estudo encomendado aos credores de que se conhecem já as
linhas gerais. Temos demasiado bem-estar, professores e polícias a
mais, lautas prestações sociais e durante tempo demasiado, etc., etc. Ou
seja: mais uma via sacra para percorrer rumo a uma economia radiosa.
Veremos o que o Governo aproveita deste estudo e quais as linhas gerais pelas
quais conduzirá os cortes. Mas é nestes momentos que devemos ponderar o
significado da nacionalização do Banif (sim, foi nacionalizado, à
sorrelfa, na véspera do réveillon) e refletir nas palavras de Nuno
Morais Sarmento que, em recente entrevista, garantia ser possível cortar
ainda quatro milhões nos gastos do Estado sem colocar em causa os
apoios sociais. Nuno Morais Sarmento foi, recorde-se, ministro de um
Governo social-democrata.
2. A vida é uma escolha permanente. Na
política sobretudo. O Governo tem um problema em mãos e deve assumir as
escolhas, como em determinada altura parece ter assumido que não
precisava de continuar a estimular o consenso político. Continuar a
queixar-se do PS e dos partidos da esquerda (que nem sequer convocou
para esse acordo nacional que gosta de reclamar) não faz qualquer
sentido. Quem tem legitimidade governa - e se Passos Coelho entende que
tem legitimidade, com aquilo que disse na campanha e depois escreveu no
programa de governo, para avançar... Pois faça o favor. Avance. Decida.
Acabe com a ladainha do consenso nacional, que soa a falso. Eleja-se lá a
comissão para o plano que tem de estar pronto em pouco mais de um mês e
já que não se quer poupar o País a alguns sacrifícios brutais em tempo
recorde ao menos que se poupe na hipocrisia, que já cansa.
3.
Portugal está a viver a maior revolução social desde o 25 de Abril. Tudo
isto se passa em democracia formal mas, infe- lizmente, muito do que
está a acontecer ao nível das decisões do Governo não passou pelo
escrutínio do voto. Mais uma vez a campanha eleitoral foi uma mentira e
está a ir-se para além do que é aceitável. É mentira, ainda, que de um
lado estejam os revolucionários liberais e do outro os conservadores
socialistas. Se fosse assim tão simples poder-se-ia até perguntar onde
para o PSD social-democrata, esse partido de esquerda sepultado algures.
Não! Na sociedade nacional existe, felizmente, um largo consenso
europeu e a visão de Portugal como um país honrado e necessitado de
reformas. O que não é consensual é es- ta velocidade suicida, quer na
conso- lidação orçamen- tal quer nas reformas estruturais, que não sendo
acompanhada por crescimento gera pobreza, desemprego, infe- licidade e
está a desarticular o País.
A reforma do chamado Estado
social, assim como a privatização de algumas empresas, deveria merecer
uma grande discussão, ou melhor: um referendo. Mas, tal como perguntar o
que pensam os cidadãos da construção da União Europeia, nem pensar
nisso! Os políticos desconfiam do Povo, têm medo da democracia. É por
isso que este processo português tem tudo para, de repente, ser
interrompido. Acabar mal. Gostava de estar enganado."
Saída de emergência
"O dito relatório do FMI é pura perfídia. Está eivado de dados incorretos e falhas técnicas. Depois, passa ao lado do nosso ponto de partida, do contexto europeu e da crise internacional. Afinal, o mundo acabou? Terceiro, ignora o impacto das medidas.
Relatório por encomenda
Texto de Carvalho da Silva hoje publicado no "Jornal de Noticias".
"Como é do domínio público, o relatório do FMI - que propõe
inqualificável degradação da segurança social, da saúde e da proteção
social, regressão no sistema de educação, mais desemprego, redução de
salários, aumento dos horários de trabalho e fragilização da defesa e da
segurança - foi encomendado pelo Governo.
A encomenda foi feita
com o objetivo de ser instrumento do Governo no desencadear daquilo que
designa de "redefinição das funções do Estado" e no "corte adicional" de
4000 milhões de euros na despesa.
Pelo processo da sua produção
e, acima de tudo, pelo seu conteúdo, tal relatório deve ser classificado
de ignóbil. Ele só tem interesse num aspeto: tornou mais claro, perante
os portugueses, a malvadez, o retrocesso social e civilizacional das
políticas deste Governo e, logo, a certeza de que elas negam o futuro do
país.
Como muito bem expressou neste jornal Silva Peneda, este relatório "não vale nada. É um disparate".
Jamais
se pode permitir o entretenimento da sociedade em torno da validade ou
não validade do que esses parasitas funcionários do FMI - municiados por
Gaspar, Moedas e outros governantes e assessores mercenários -
desavergonhadamente nos propõem. O "trabalho" desenvolvido nas últimas
décadas, pela maior parte dos diretores e "especialistas" do FMI, é hoje
confirmadamente a causa da imensa miséria em vários países africanos,
da América Latina e outros.
Que sociedade nos propõe estes
indivíduos? Por exemplo, a nova dose de desemprego direto que recomendam
significa tão-somente despedir os nossos professores, médicos e
enfermeiros, os nossos especialistas e trabalhadores de várias áreas que
nos garantem acesso à saúde, à educação, à segurança, à justiça, a uma
vida com direitos fundamentais.
Existem portugueses sérios e
competentes, de várias formações ideológicas e técnicas, capazes de
analisar a situação do país nos diversos setores e de produzirem
propostas sustentadas para debate da sociedade. Não é nisso que o
Governo aposta, porque este não é, comprovadamente, um Governo para
resolver os problemas do país. Por isso deve ser demitido e substituído.
Passos
Coelho e C.ª, com todo o cinismo e desonestidade política, consideram
agora que já têm, sob capa tecnocrática, quem represente o papel de mau
da fita. O passo seguinte é encenarem uma discussão sobre a matéria, de
preferência com a participação de figurões do centrão político, aliás já
anunciada para o Palácio Foz. E engajar o mais possível o Partido
Socialista. E nesta etapa os perigos continuam a ser muitos, pois há
gente que há muito vendeu a alma ao diabo e está sempre disponível para
"minorar" a dimensão da dose. Mesmo quando é inquestionável que o
neoliberalismo e o neoconservadorismo dominantes querem destruir o que
se vai designando por Estado social.
Os desafios são grandes para
quem, nos diversos espaços políticos, quer defender o Estado Social e
encontrar caminhos alternativos para o país. Quem se coloca deste lado
sabe que parte em desvantagem: estão impregnadas na sociedade cargas
ideológicas muito fortes que condicionam todo o debate.
O
Memorando e as políticas feitas em seu nome inculcaram a ideia de um
conjunto de inevitabilidades, de opções mentirosas, designadas de
inevitáveis, que limitam os recursos para o Estado social, quer porque
determinam a economia e impedem o crescimento, quer porque canalizam
toda a riqueza que se consegue produzir e juntar para servir os
credores, os agiotas e os grandes acionistas de grupos económicos
protegidos.
Quando Vítor Gaspar afirma que "está em causa o Estado
social que os portugueses querem ter e o que querem pagar", afirmação
profundamente ideológica, ele parte do pressuposto que todas as opções
políticas já assumidas pelo Governo serão inamovíveis.
À Esquerda
impõe-se então um amplo debate, aberto e participado pelos democratas
dos diversos quadrantes, que discuta a despesa pública e o Estado social
a sério, não debaixo daquelas falsas premissas.
Este episódio do
relatório do FMI veio colocar em evidência que só será possível e viável
discutir seriamente o Estado social no contexto da formulação de
políticas e de governação alternativas."
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
O liberalismo de Passos
Texto de João Cardoso Rosas, Professor Universitário, hoje publicado no "Diário Económico"
"A palavra “ideologia” alberga um campo
semântico quase inesgotável. No entanto, há duas acepções da palavra
que convém relevar. A primeira é, por assim dizer, aberta e refere-se a
uma visão do mundo e da sociedade que tem como objectivo congregar um
colectivo para a acção política. A segunda, fechada ou menos evidente, é
a de falsa consciência, isto é, a ideologia enquanto forma de encobrir
os interesses que verdadeiramente defende.
A acepção aberta da ideologia liberal está claramente presente no
discurso e na acção de Passos e do seu Governo: precarização das
relações laborais, programa de privatizações mais ambicioso de sempre,
cortes nos apoios sociais, desconfiança dos mecanismos democráticos e
constitucionais (na sua vertente mais radical o liberalismo não gosta da
democracia e ainda menos de Constituições programáticas), tudo isto
embrulhado pelo famoso argumento TINA de Margaret Tatcher ("There Is No
Alternative").
Mas Passos e o seu Governo têm também defendido medidas que estão
aparentemente nos antípodas do liberalismo: aumentos de impostos,
condescendência com as PPP, apoios aos bancos, a culminar na
nacionalização encapotada do BANIF, etc. Muitos interpretam isto como
uma incoerência com o liberalismo. No entanto, existe uma interpretação
alternativa e que requer o uso da ideia de ideologia não apenas no seu
sentido aberto, mas também como falsa consciência. Vejamos como.
Na prática, o liberalismo de Passos serve não apenas para atacar os
direitos dos trabalhadores em nome da liberdade económica, enquanto
ideologia aberta, mas também para defender os interesses do capital, em
especial do capital financeiro, enquanto falsa consciência. Por isso
Desta forma, o liberalismo de Passos faz aquilo que, enquanto ideologia,
o liberalismo sempre fez, pelo menos do ponto de vista dos socialistas.
Ou seja, a apresentação do liberalismo como ideologia aberta e amiga da
liberdade individual funciona como máscara daquilo que ele, em última
instância, significa: a defesa dos interesses do capital e o ataque aos
interesses dos trabalhadores.
Esta combinação das noções de liberalismo como ideologia aberta e de
liberalismo como falsa consciência, que mascara os interesses que
defende, chama a atenção para o facto de que o liberalismo de Passos é,
no fundo, consistente. As aparentes inconsistências que alguns detectam
advêm do facto de não compreenderem, por desconhecimento ou ingenuidade,
que as ideologias em geral - e o liberalismo em particular - têm uma
dimensão aberta, mas também uma dimensão de falsa consciência."
domingo, 6 de janeiro de 2013
Culpar a parede
"Existe um país onde o governo pressiona e ameaça publicamente o Tribunal Constitucional. Não, não é a Venezuela. É Portugal. E pela boca do secretário de Estado do Orçamento.
Disse Morais Sarmento que, em caso de chumbo, a ‘troika’ fecha-nos a torneira porque o ‘incumprimento’ do programa será inevitável. Não vale a pena lembrar ao secretário de Estado que o ‘incumprimento’ já começou a partir do momento em que a ‘troika’, sem surpresas, teve que amaciar as metas do défice para 2012, e 2013, e 2014. Mas, ainda que isso fosse verdade, nada legitimaria esta grotesca interferência no princípio da separação de poderes, base de qualquer Estado de Direito. Se houver chumbo do TC, ele resultará da incapacidade do governo em aprender e em não repetir os vícios passados de injustiça na hora de distribuir os sacrifícios. Continuar a marrar contra a mesma parede não é culpa da parede. "
sábado, 5 de janeiro de 2013
Bancarrota
"O Estado atirou 1100 milhões de euros no Banif, avaliado em metade e afundado em dívidas. Eis a nacionalização às direitas: o Estado paga e assume futuros riscos, sem quaisquer garantias. Você já viu este filme no BPN, no qual há mais três mil milhões de dívidas em incumprimento. Ou seja, o buraco pode chegar aos sete mil milhões.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Aumenta tudo menos a vergonha na cara do governo
Texto de Tiago Mesquita, publicado no seu blogue "100 reféns" no "Expresso"
A abstenção violenta de Cavaco Silva
Texto de Manuel José Manuel Pureza hoje publicado no Diário de Noticias.
"Temos um Presidente da República que, entre a Constituição de que é garante e o memorando com a troika, escolhe este e hipoteca aquela.
Bem pode o porta-voz do PS louvar a mensagem de ano novo do Presidente por ter deixado Passos Coelho politicamente isolado. Bem podem os opinadores encartados do costume encontrar na dita sinais de descolagem de Belém relativamente a São Bento. Um e outros querem que esqueçamos o essencial: Cavaco Silva é figura de referência das direitas tecnocráticas e dos economistas do deslaçamento social para quem a democracia é um estorvo.
Cavaco Silva é um político profissional. E a sua mensagem de ano novo foi isso mesmo: um exercício de pura política profissional. Daquela que, por dizer uma coisa e o seu contrário, tem conduzido a uma alergia crescente dos portugueses pela política. Do Orçamento do Estado disse que é um alimentador da espiral recessiva que está a destruir a economia portuguesa, que arrasa fiscalmente a população trabalhadora e o tecido empresarial, que é profundamente injusto e, para usar palavras brandas, que "suscita dúvidas" sobre a sua conformidade com os princípios elementares de equidade e não discriminação estatuídos pela Constituição. Isto dito, Cavaco pede desculpa mas promulga o dito horror. Fica claro: Cavaco partilha com Seguro a cultura da abstenção violenta. É o interesse nacional que mo impõe, diz com o ar grave que essa contrariedade requer. Queria não o ter promulgado mas se o não tivesse feito o País afundar-se-ia, seria o caos. E a gente pergunta: mas uma coisa assim tão má como o Presidente da República a pinta não traz o caos agarrado a ela? Um Orçamento tão destruidor não afunda o País? Uma lei com tão grande probabilidade de ser inconstitucional promulga-se e depois logo se vê? É isto um Presidente responsável?
Político profissional com muitos anos de prática, Cavaco Silva faz escolhas a coberto de imperativos gerais, pedindo desculpas por não poder alegadamente fazer outras. Na sua mensagem, Cavaco Silva enunciou com clareza a sua escolha política: repudiará qualquer crise política - leia-se: não quer que se force a demissão do Governo nem que haja eleições - e fará do cumprimento do memorando com a troika o mandamento maior da vida do País. Ora, criticar o Orçamento e fazer a apologia do cumprimento do memorando é uma contradição insanável. O Orçamento é o que é porque o memorando estabelece o que estabelece. O Orçamento do memorando é a crise da política real, mesmo se não houver crise política formal. Mas disso Cavaco Silva não quer saber. O que verdadeiramente lhe causa preocupação é que possa ganhar força a exigência de renegociação da dívida. Porque sabe que é aí que se desmorona a política de que ele é presidente, sabe que é aí que se rompe com a hegemonia da política do embaratecimento do trabalho, da política das privatizações a pataco, da política que rasga o contrato com os cidadãos mas sacraliza o contrato com os credores.
Cumprir o memorando para que tenhamos imagem de bom aluno e os credores possam continuar a financiar uma economia de baixos salários, de baixa qualificação e de direitos mínimos - esse é o desígnio de Cavaco Silva. E para que ele se cumpra, o Presidente toca a reunir. Ao lembrar que o memorando foi assinado por uma constelação partidária que representa 90% do espaço parlamentar, Cavaco põe no centro da política uma fórmula governativa de banda larga para apoio ao memorando da troika, seja com coligação formal ou com outra forma institucional. É a essa escolha de Cavaco que cada partido tem de responder. Alinhando com ela ou combatendo-a. Não há espaço para abstenções. Mesmo violentas."
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Resistir, nunca desistir
Texto de Baptista Bastos hoje publicado no "Diário de Notícias"
"Entrámos no ano de todos os perigos e de todos os medos. Ninguém
ameniza as perspectivas, e o primeiro-ministro acentuou a nossa angústia
afirmando que nunca as coisas, depois do 25 de Abril de 74, tinham
estado tão escuras. Os seus apaniguados, contentíssimos, aplaudiram as
declarações, considerando-as sinal de honrada "transparência".
Esqueceram-se, evidentemente, de que, à esquerda e à direita, gente
altamente qualificada e sensata já advertira da tragédia próxima. E
Passos Coelho continua a não reconhecer, claramente, o que a aplicação
da ideologia neoliberal nos tem feito. Nem o que essa ideologia
significa de risco para a própria democracia, cada vez mais acanhada até
ao ponto de constituir uma humilhação e um desespero intoleráveis para
quem nela acredita.
O ano traz, portanto, malvados prenúncios. E,
embora sabedor da nociva sorte que nos aguarda, Passos Coelho não move
uma palha para inverter a funesta tendência. Não move ou não sabe mover.
A representação do poder demonstra enorme desprezo pelos protestos de
rua, pelos movimentos de massas (o 15 de Setembro testemunhou a recusa
da apatia e da resignação, pelas razões que em si mesmo comportava),
pelos depoimentos e pelas declarações veementes de economistas,
sociólogos, políticos, alarmados com o caminho para o desastre a que o
País é impelido. Interpelado sobre se a população aguenta o caudal de
restrições, impostos e constrangimentos, o banqueiro sr. Ulrich admitiu:
"Aguenta! Aguenta!", num escabroso convencimento, a roçar o insulto e o
impudor. É em criaturas deste jaez e estilo que o primeiro-ministro se
apoia, pois elas mesmas caracterizam um dos pilares em que assenta a
ideologia que defende.
A ideologia. Eis a questão capital. E o
novo paradigma político e social, que nos tem sido imposto, inscreve--se
nessa nova experiência do capitalismo, como emergência de sair da crise
por si criada.
A regressão a que Pedro Passos Coelho nos obrigou
contém uma incerteza dramática, que o atinge, atingindo-nos cruelmente.
Ele abriu a caixa de Pandora e, agora, não sabe como fechá-la. É um
tonto perigosíssimo. Arruinou a pátria, não somente a pátria política,
social e económica mas, sobretudo, a pátria moral. Nem daqui a duas ou
três décadas o desastre será remediado, diz quem sabe. O nefasto
"rotativismo" ocultará ou dissimulará os erros e os crimes cometidos.
Ninguém vai parar à cadeia, porque eles protegem-se uns aos outros, com o
impudor de quem se reconhece acima de deus e do diabo.
É pungente
assistir-se às torções do PS, como aos embustes, ao vazio de sentido
dos discursos do PSD. Não desejo referir-me, neste texto, ao dr. Cavaco,
por nojo e estrito resguardo mental. Desejo, isso sim, demonstrar o
orgulho e a vaidade que sinto por pertencer a um povo como este,
sofrido, cercado, mas decente e indomável."
A culpa
Texto de João Cardoso Rosas, Professor Universitário, hoje publicado no "Diário Económico"
"Ao contrário do que por aí se diz,
este Governo tem uma excelente estratégia de comunicação. Em pouco
tempo, conseguiu impor um discurso que uma boa parte da sociedade e dos
fazedores de opinião absorveu acriticamente. Como caracterizá-lo?
O seu tema central é a culpa. Tudo começou pela interiorização do
chamado "discurso alemão" sobre a crise. De acordo com essa visão, os
culpados pela crise do euro são, em exclusivo, os países da periferia.
Por isso eles devem pagar pelos seus pecados, ainda que isso implique o
sacrifício da racionalidade na própria solução da crise.
Passos Coelho e os seus amigos nunca desafiaram esta ideia, nunca
pensaram a crise em termos estruturais e em função do sistema de
incentivos perversos criados pelo euro. A narrativa alemã da culpa
convinha-lhes porque ia ao encontro da sua própria narrativa de
demonização do anterior primeiro-ministro. Para os alemães a culpa era
nossa, dos portugueses no seu conjunto, mas a liderança política do
Governo assumia de bom grado essa culpa porque podia, ao mesmo tempo,
transferi-la para outrem.
Esta interiorização, seguida de transferência para um "bode
expiatório", prosseguiu em todas as áreas da vida colectiva. Assim, para
o primeiro-ministro os desempregados têm culpa do seu desemprego porque
não saem da sua zona de conforto. Os beneficiários de RSI têm culpa da
sua dependência porque não querem trabalhar. Os reformados têm culpa
pelo descalabro orçamental porque recebem pensões pelas quais não
descontaram. O Estado social tem de ser refundado porque, em suma, há
muita gente a viver à custa dele e são esses os culpados.
Mas a estratégia de culpabilização acaba por abranger quase toda a
sociedade. Os portugueses são culpados porque se endividaram, compraram
casa e carro, quiseram comer bife em vez de batatas. Os trabalhadores
por conta de outrem são especialmente culpados porque ficaram parados
nos seus postos de trabalho, inamovíveis, difíceis de despedir. Os
funcionários públicos são ainda mais culpados porque são eles os
responsáveis pela despesa pública. Por isso é necessário tornar precário
o trabalho em geral e o da função pública em particular, assim como
diminuir salários e regalias.
Passos Coelho e os seus amigos, dentro e fora do Governo, vêem-se
como uma espécie de sacrificadores dos "bodes expiatórios" nos quais
eles próprios agruparam todos os pecados do passado. Daí terem um
espírito de missão e uma linguagem moralista. O seu objectivo não é a
reforma social, é a purificação. Os sacrifícios que aplicam, longe de
incomodá-los, provocam neles a satisfação dos justos.
Quanto à compaixão, mesmo quando não se sente, encena-se. Basta uma
mensagem no Facebook. Afinal de contas, o Pedro é um sentimental. Quem
diria."