Texto de José Reis Santos, Historiador, hoje publicado no "Diário Económico"
Virado mais um ano, justo o da fortuna
ou do azar, verificamos que os projectos do Governo em desmantelar as
bases do Estado-social português construído nos últimos 30 anos, e de
transformar o País num Estado ‘low cost’ atraente ao lucro da alta
finança internacional, correm sérios riscos de passaram de conceito a
realidade irreversível.
Bem sei que por circunstâncias próprias do nosso sistema
político-partidário, elegemos para nos governar um bando de miúdos
traquinas, sem qualquer experiência política relevante, qualidades
intelectuais ímpares ou competências de gestão governativa. Dizem alguns
que tal é consequente da excessiva partidarização da vida política
contemporânea, da profissionalização resultante da consolidação
institucional dos sistemas democráticos, uma inevitabilidade. Até sou
capaz de concordar que, resultante da estabilização institucional e
democrática, a vida política se torne mais rotineira e burocratizada,
mais técnica e profissionalizada, logo menos excepcional e desafiadora,
intelectualmente menos atraente e recompensadora. Mas o que não consigo
admitir, o que não concebo, é que exactamente os que se dizem produto
desta profissionalização não ostentem qualidades ímpares que os
apresentem como excepcionais, como dignos de gerirem os destinos
colectivos de 10 milhões de pessoas.
Assim, vemos hoje nas lapelas dos (novos) blazers dos miúdos que há
20 anos eram chutados para as 5ª filas parlamentares, os ‘pins' do
escudo de Portugal, uma distinção já não legitimada pelo respeito social
e popular, mas uma marca de arrependimento eleitoral e símbolo para a
reflecção institucional, pois temos de saber encontrar forma de não só
impedir que se perpectue o laxismo constitucional e a ilegalidade social
e eleitoral deste Governo, como saber construir uma fórmula
institucional que impeça que no futuro um escasso triunfo eleitoral se
transforme num projecto totalitário de transformação integral, não
sufragada e fora-da-lei (constitucional), da realidade nacional, caminho
que o senhor Passos Coelho tem percorrido.
O problema prende-se, em teoria, com a relação entre o desenho
constitucional e a natureza dos titulares dos cargos da hierarquia
institucional. Assim, quer Cavaco como Portas detêm o poder de dar por
terminada a experiência laboratorial em curso em Portugal; mas não
intervêm com esse desiderato, curiosamente demonstrando um claro
desrespeito pelo sentido de Estado, por razões incógnitas ou anódinas
(Cavaco) e por um tacticismo político e invulgar preguiça em se levantar
das cadeiras do poder (Portas).
Assim, que fazer? Continuar com o protesto social? Mais e mais
manifestações? Esperar por novas cargas policiais e pela instauração
definitiva de um estado securitário em Portugal, com novos bufos e uma
PIDE 2.0? Ou respeitar o ciclo eleitoral, construindo uma alternativa
para 2015? Em teoria, e como institucionalista, tenderia em escolher a
solução que respeitasse os trâmites estabelecidos no nosso desenho
institucional, não tivesse este Governo rasgado essas mesmas
estipulações e nos tivesse colocado num túnel sem saída, sem lâmpadas ou
lampiões que iluminem qualquer esperança, e onde o El Dourado é
prometido apenas para os poucos que já tudo têm."
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Túnel
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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