Texto de Paulo Ferreira hoje publicado no "Jornal de Noticias".
"É evidente há muito tempo, mas o Governo,
empurrado pela troika e pelo presidente da República, só agora percebeu
que, sem um compromisso com o maior partido da Oposição, é
inultrapassável a tarefa de pôr as contas em dia e resgatar a
independência de Portugal. E mesmo que o acordo seja alcançado não é
certo que consigamos seguir em frente sem um segundo resgate.
O
problema é que o convite que Passos Coelho dirigiu a António José Seguro
chegou tarde e a más horas. Tem muito de tático e pouco de político. É
um ato falhado, a menos que o primeiro-ministro esteja na disposição de
mudar de rumo assim do pé para a mão. Não é possível extremar posições
para, de seguida, as amenizar. Não é possível atacar com dureza, como
Passos fez reiteradas vezes, as propostas do PS para, de seguida, as
acomodar no seio da governação. Não se fecham portas com estrondo para,
de seguida, as abrir com todo o cuidado, como se nada tivesse
acontecido.
Além de falhado, é um ato de desespero. Se o Governo continuasse a ter a certeza absoluta de que a receita que tem seguido provará, um dia, a sua eficácia, por que razão chamaria agora Seguro para conversar? Aplica-se o mesmo aos representantes da troika: o apelo ao estabelecimento de duradouras pontes com o PS é o reconhecimento de que os problemas gerados pela receita não se resolvem numa legislatura. Nem, provavelmente, em duas ou três. Isto é: a troika deseja amarrar já quem vier a tomar conta do país nos próximos anos.
Há um pequenino pormenor aqui no meio: o presente não garante legitimidades políticas futuras. Essa garantia pertence ao povo e exerce-se pelo voto. Que isto custe a entender à troika pode perceber-se. Que os partido se deixem sujeitar a esta espécie de nova regra aplicada a democracias em dificuldades não pode aceitar-se.
É claro que, para Seguro, só resta uma saída: reafirmar, como ontem reafirmou, aquilo que anda a dizer há meses. Resumidamente: uma agenda para o crescimento e para o emprego; apoio ao regresso do país aos mercados; contra medidas que abalem mais o Estado social; inversão, numa palavra, da "política de austeridade". Dizer o contrário, nesta altura, era fazer o caminho rumo ao precipício.
De modo que, para citar o líder do PS, "no essencial, não houve nada de novo" nas conversas com o Governo e com a troika. Quer dizer: tratou-se de um ato de pura encenação promovido por Passos Coelho, que agora pode vir dizer aos portugueses que o PS se pôs fora da solução que ele e Gaspar laboriosamente criaram. Já vimos um filme parecido quando, em 2009, Sócrates chamou os partidos a S. Bento, na tentativa de formar um governo maioritário. Então como hoje, assistimos a um filme de classe B.
Gostará Cavaco Silva de filmes de classe B?"
Além de falhado, é um ato de desespero. Se o Governo continuasse a ter a certeza absoluta de que a receita que tem seguido provará, um dia, a sua eficácia, por que razão chamaria agora Seguro para conversar? Aplica-se o mesmo aos representantes da troika: o apelo ao estabelecimento de duradouras pontes com o PS é o reconhecimento de que os problemas gerados pela receita não se resolvem numa legislatura. Nem, provavelmente, em duas ou três. Isto é: a troika deseja amarrar já quem vier a tomar conta do país nos próximos anos.
Há um pequenino pormenor aqui no meio: o presente não garante legitimidades políticas futuras. Essa garantia pertence ao povo e exerce-se pelo voto. Que isto custe a entender à troika pode perceber-se. Que os partido se deixem sujeitar a esta espécie de nova regra aplicada a democracias em dificuldades não pode aceitar-se.
É claro que, para Seguro, só resta uma saída: reafirmar, como ontem reafirmou, aquilo que anda a dizer há meses. Resumidamente: uma agenda para o crescimento e para o emprego; apoio ao regresso do país aos mercados; contra medidas que abalem mais o Estado social; inversão, numa palavra, da "política de austeridade". Dizer o contrário, nesta altura, era fazer o caminho rumo ao precipício.
De modo que, para citar o líder do PS, "no essencial, não houve nada de novo" nas conversas com o Governo e com a troika. Quer dizer: tratou-se de um ato de pura encenação promovido por Passos Coelho, que agora pode vir dizer aos portugueses que o PS se pôs fora da solução que ele e Gaspar laboriosamente criaram. Já vimos um filme parecido quando, em 2009, Sócrates chamou os partidos a S. Bento, na tentativa de formar um governo maioritário. Então como hoje, assistimos a um filme de classe B.
Gostará Cavaco Silva de filmes de classe B?"
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