Texto de António Costa, Director, hoje publicado no Diário Económico
"Pedro Passos Coelho perdeu uma oportunidade
para abrir um novo ciclo político ao fazer uma remodelação minimalista,
um remendo, ao substituir Miguel Relvas por dois novos ministros. Mas a
estratégia do primeiro-ministro diz-nos mais do que pensa sobre o futuro
do país, económico e político, do que mil declarações políticas.
Em primeiro lugar, Passos Coelho mostrou quem manda no Governo,
se houvesse algum tipo de dúvida. Ao longo da semana, estiveram em cima
da mesa todos os cenários, as discussões sobre o modelo de remodelação,
os nomes e a orgânica dominaram as discussões de bastidores entre o
primeiro-ministro e Paulo Portas, mas a decisão foi solitária, e
pessoal. Mais: sem cedências.
O líder do CDS queria uma remodelação abrangente, desde logo do
ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, além de Miguel Relvas. A
demissão do principal aliado pessoal e político de Passos Coelho criou o
espaço para Portas pôr as cartas em cima da mesa. O ministro dos
Negócios Estrangeiros percebeu, cedo, que não poderia pressionar Passos
Coelho, que não é Durão Barroso, mas foi tarde.
A decisão de Passos Coelho, a decisão de não ceder às pretensões
de Portas, de não aceitar sequer dar ao líder do CDS a coordenação
política, revela que o centro de poder do Governo, de facto, reduziu-se a
dois, a Passos e a Gaspar. Porque Marques Guedes e Poiares Maduro, os
dois novos ministros, credíveis e competentes, não têm o peso político
para desempenharem esse papel.
Se houve um problema na primeira metade deste mandato foi,
precisamente, o facto de Passos Coelho não contar, verdadeiramente, com
Paulo Portas, com o CDS. Ficou, para a história, a declaração do
primeiro-ministro de que o número dois do Governo era Vítor Gaspar. E
continua, apesar do Governo, da estabilidade política do executivo,
depender do segundo partido da coligação. Por opção, por pressão do PSD,
Passos Coelho mantém Portas à margem, mas também não o compromete. O
CDS continuará, assim, com um pé dentro e outro fora do Governo.
Esta
pseudo-remodelação confirma, também, que o primeiro-ministro está
convicto de que a solução para os problemas do país, para a execução do
plano de ajustamento passa pela manutenção do ministro das Finanças e
depende da sua credibilidade externa, leia-se, também da vontade dos
ministros das Finanças do euro.
Verdadeiramente, uma remodelação sem incluir o ministro das
Finanças, que está no melhor e no pior do desempenho deste Governo, não
será nunca uma remodelação. Mais ainda neste Governo, em que o poder do
ministro das Finanças é enorme, de facto e de direito. Pedro Passos
Coelho poderia ter aproveitado estas mudanças para reequilibrar a
relação de forças entre as finanças e a economia. Pelo contrário,
acentuou a perda de poderes de Álvaro Santos Pereira ao retirar-lhe o
que ainda tinha de fundos comunitários, que passam para Poiares Maduro.
A manutenção do centro de poder do Governo na dupla Passos/Gaspar
evidencia também que a resolução dos problemas do País joga-se, na
perspectiva do primeiro-ministro, sobretudo, na Europa, na relação com o
ministro das Finanças da Alemanha e com a ‘troika'. Particularmente
esta semana, por causa da reunião que decorre hoje e amanhã em Dublin,
mas nos próximos doze meses, até ao fim da presença dos credores
externos em Portugal.
O primeiro-ministro deveria ter avançado já com uma remodelação
alargada, prefere, antes, levar esta equipa até ao limite, provavelmente
até às autárquicas, mas o tempo deste Governo não é normal, é
excepcional, como a situação económica e financeira do País. Ao não
fazê-lo, Passos Coelho vai prolongar os problemas políticos já evidentes
há meses. Até quando?"
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Remodelação? Qual remodelação!?
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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