"A remodelação a prestações continua. E esta
semana foi-nos dado a conhecer o estado em que se encontra este
governo. Para a secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da
Cooperação entrou Francisco Almeida Leite. O leitor é capaz de não conhecer a figura, mas trata-se de um ex-jornalista do "Diário de Notícias" conhecido pelos pouco discretos, muito comentados e embaraçosos fretes ao então líder da oposição Pedro Passos Coelho.
A fama vinha de longe, ainda Passos fazia oposição
interna a Ferreira Leite.O que levou, a 4 de Março de 2009, Pacheco
Pereira referir-se a este jornalista como "especialista na intriga interna do PSD" e a integra-lo num grupo de bloggers (quase todos do DN) que frequentemente "atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho".
Com Passos já no governo, os fretes continuaram, o que lhe valeu, há um ano, uma reprimenda do então Provedor do Leitor,
por publicar informações dadas pelo governo (sobre das férias dos
motoristas da Carris) sem cuidar de ouvir mais ninguém. E tendo, coisa
inédita, como única fonte um "relatório interno que funciona como uma
espécie de argumentário do Governo de resposta à greve" (palavras do
jornalista). O moço de recados já nem disfarçava.
Não sendo este currículo jornalístico merecedor de
grande orgulho, sobra o currículo político e técnico. Político? Tirando
estes favores, zero. Currículo técnico para o cargo? Não se lhe conhece
nenhum. A não ser ter aterrado, em junho do ano passado, pela mão de
Passos Coelho, no Instituto Camões, diretamente vindo do DN. Uma
queda para a política externa ou política cultural que surpreendeu
todos. Talvez tivesse sido por causa da sua passagem pela "Guia TV
Cabo". Sem rodriguinhos: esta subida meteórica não é mais do que um
vergonhoso pagamento de favores a um jornalista pouco escrupuloso que
ajudou o candidato à liderança do PSD, o candidato a primeiro-ministro e
o primeiro-ministro. Ponto final, parágrafo.
Ainda assim, esta assombrosa escolha revela três
boas notícias. Primeira: o PSD respeita a independência da comunicação
social. Se noutros tempos os partidos que estavam no poder punham
pessoas da sua confiança no "Diário de Notícias", o PSD vai tirando de
lá os seus mais fiéis amigos. Dá-lhes lugares de assessores,
administradores de institutos e, para o mais dedicado, guardou um lugar
de secretário de Estado. Carla Aguiar, Eva Cabral, Francisco Almeida
Leite, João Baptista, Licínio Lima, Luís Naves, Maria de Lurdes Vale,
Paula Cordeiro, Pedro Correia e Rudolfo Rebelo. São estes os 10
jornalistas que passaram do DN para o governo. Alguns conheço
pessoalmente e até trabalhei com eles. Alguns eram, antes abandonarem a
profissão, bons jornalistas e nunca fizeram favores a ninguém. Mudaram
de vida e têm direito a isso. Não é, definitivamente, o caso de
Francisco Almeida Leite. Esta é a segunda boa notícia: o PSD não é ingrato e lembra-se dos serviços prestados, dando os melhores lugares aos mais empenhados.
A terceira boa notícia é que um governo que convida Francisco Almeida Leite para secretário de Estado só pode estar no fim da linha. Ou seja, está em estado de desintegração. Recordo que este lugar foi ocupado por Durão Barroso e Luís Amado.
As duas figuras não me inspiram especial simpatia. Mas convenhamos que
serem sucedidos por Francisco Almeida Leite é uma indecência."
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