Texto de Pedro Sousa Carvalho, Subdirector do "Diário Económico" hoje publicado nesse jornal.
Os contratos ruinosos das PPP, o buraco das contas públicas da Madeira, a imoralidade dos contratos ‘swaps'.
É só levantar o tapete e ver o lixo que esteve escondido durante o
tempo das vacas gordas e que agora, pouco a pouco, estamos a descobrir.
Até lixo tóxico encontramos.
Hoje em dia, com as dificuldades que as
pessoas estão a passar, é quase ofensivo dizer que há um lado bom na
crise. Mas há. Estamos todos mais sensíveis e mais alertas para casos de
abusos, gestão danosa, demagogias ou simplesmente incompetência a gerir
a coisa pública.
Ontem ficámos a conhecer o relatório preliminar da Comissão de
Inquérito às PPP. Um relatório arrasador para um sem número de
governantes que - por incompetência ou outro motivo qualquer que a
Justiça há-de descobrir - foram cúmplices em contratos altamente lesivos
para os interesses do Estado e dos contribuintes. PPP que garantiam aos
privados taxas de rentabilidade de dois dígitos e que passavam o risco
dos contratos para os contribuintes. Contratos que foram assinados,
negociados e renegociados e que podem lesar os contribuintes em nove mil
milhões de euros.
Também ontem ficámos a saber que o Estado já gastou mil milhões de
euros para tapar os buracos dos contratos ‘swaps'. E se o Santander
fizer finca-pé, o estrago para cofres do Estado pode chegar a 2,5 mil
milhões.
Hoje estamos todos mais sensíveis para descobrir estas
situações, mas isso não chega. É preciso dar o passo em frente para
moralizar a política e a gestão dos bens públicos.
O que vai acontecer aos gestores das empresas públicas que fizeram
contratos ‘swaps' tóxicos? São despedidos e depois amigos como dantes?
Onde pára a auditoria do Tribunal de Contas sobre as parcerias
rodoviárias que encontrou ‘compensações contingentes' ou contratos
paralelos nas PPP? Não tinha seguido para a PGR e para o DCIAP?
Em que gaveta da PGR pára a investigação à ocultação de dívidas
públicas na Madeira que Alberto João Jardim publicamente assumiu ter
escondido e que nós ainda hoje estamos a pagar?
Não basta levantar o tapete e constatar que há lixo escondido. É
preciso varrer e afastar dos cargos públicos quem não sabe gerir a coisa
pública. E aqui a nossa justiça tem tardado e tem falhado.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Moralizar a gestão da coisa pública
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