É incrível ouvir os imbecis que nos desgovernam dizer que estamos no bom caminho, o programa está a resultar e outras imbecilidades semelhantes. Felizmente há gente que os desmascara na Comunicação Social.
O verão do nosso descontentamento
Pedro Bacelar de Vasconcelos, Jornal de Noticias
"Multiplicam-se perigosamente os sinais de uma governação que, afinal, apenas acredita nas virtudes da sua própria desqualificação, como se a supressão do Estado fosse o remédio miraculoso para o florescimento do mercado, o crescimento da economia e a felicidade geral. Assim, sem outra política para além das finanças públicas, o número de ministérios foi drasticamente reduzido e os ministros passaram a viajar pela Europa em classe turística, o que pareceria lógico e coerente, não fora o despudorado regresso ao favorecimento das clientelas partidárias com a distribuição de benesses e as nomeações sem concurso nem critério, ainda há pouco vigorosamente denunciadas como "gorduras" a extinguir.
Entretanto, os escândalos perseguem o ministro Adjunto, agora, no seu oportuno "exílio" timorense donde, com extrema leviandade, encomendou a um consultor sem credenciais políticas o anúncio do projeto precocemente falhado de atribuir a concessão da RTP a interesses privados. O serviço público de televisão - por cuja "existência e funcionamento" a própria Constituição responsabiliza diretamente o Estado - não podia ser tratado com tamanha ligeireza. Por último, veio o folhetim dos sucessivos lapsos e correções do relatório de avaliação das 800 fundações que, dizia-se, constituíam um imenso sorvedouro dos dinheiros públicos. Destas, por razões diversas, apenas 190 foram efetivamente avaliadas, de acordo com a pontuação alcançada com base em três parâmetros distintos: a pertinência, a eficácia e a sustentabilidade. A Fundação Paula Rego - "a artista portuguesa com maior prestígio internacional" - recebeu uma classificação negativa que a condenava à extinção, para mais tarde, após veementes protestos, obter a retificação de um erro flagrante. Por outro lado, como relata Luís Miguel Queirós, na edição do "Público" de 26 de agosto, a Fundação Calouste Gulbenkian - que só após protesto público saltou do 84.º para o 57.º lugar deste fabuloso "ranking" - iria ficar definitivamente colocada, em matéria de "pertinência/relevância", ligeiramente abaixo da "Fundação Social-Democrata da Madeira" e da "Fundação Caixa Agrícola de Leiria"!
E quanto a relatórios, falta o da execução fiscal do primeiro semestre deste ano, onde o mais grave não é a demonstração da impossibilidade, há muito anunciada, de atingirmos as metas de endividamento prometidas aos credores internacionais para o ano corrente. Grave, recorrendo ao eufemismo usado por Adriano Moreira na Universidade de Verão do PSD, é aquilo a que chamou "o limite da fadiga tributária". De entre as várias razões que podem explicar por que ficaram as receitas dos impostos tão longe do valor esperado - o recuo da atividade económica, a diminuição dos rendimentos das pessoas, o aumento do desemprego - a mais insidiosa de todas é o crescimento da economia paralela e da evasão fiscal. Porque é o sinal de uma falência sistémica que ameaça os próprios fundamentos do processo de modernização da sociedade portuguesa iniciado com a revolução democrática de 1974 e acelerado pela integração europeia desde 1985. Ao longo destes 38 anos foi-se generalizando a consciência de que o cumprimento das obrigações fiscais era um dever e que ao aumento dos impostos e outras exigências cívicas correspondiam melhorias substanciais da qualidade de vida - na saúde, educação, segurança social, habitação, transportes - padrões de dignidade e de cidadania mais ambiciosos e, em resultado de tudo isso, uma sociedade mais aberta e solidária. Foram aquisições civilizacionais inestimáveis para um povo que nos 50 anos anteriores vivera alheado do Mundo e dos progressos democráticos conquistados na Europa, humilhado por uma ditadura agressiva, tacanha e provinciana, aparentada com os fascismos escorraçados pela vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial.
Sem políticas capazes de gerar confiança, sem motivos de esperança que projetem o futuro, é difícil resistir aos apelos da selva e à lógica do "salve-se quem puder". As dificuldades que enfrentamos requerem o envolvimento e a mobilização dos cidadãos se quisermos preservar a sociedade democrática que, embora tardiamente, conseguimos construir."
A culpa e os reais culpados
Paulo Ferreira, Jornal de Noticias
"O povo português usa e abusa da terceira pessoa do plural para apontar os culpados pelos males do mundo. Os malvados são sempre "eles". E quem são "eles"? Depende da matéria em causa, mas, geralmente, "eles" são os políticos e governantes, os ricos, as empresas que prestam serviços de primeira necessidade (luz, água, etc.) e organismos públicos que infernizam a vida do desprotegido indígena (as Finanças e a Segurança Social, por exemplo).
O recurso à terceira pessoa do plural é também é uma declaração de impotência e de incapacidade para lutar contra as "forças do mal" que pairam bem acima do pobre cidadão. Quando alguém diz que a culpa é "deles", está a dizer: eu não tenho nada a ver com isto, não quero ter e tenho raiva de quem quer ter. Que este desabafo, que nos afasta da condução do nosso destino, possa ser proferido por um martirizado contribuinte, ou por um maltratado cidadão, pode perceber-se. Percebe-se menos que seja uma rotineira arma de arremesso contra fantasmas em conversas de café. O futuro não nos obedece, é certo, mas convém que o tentemos construir. Contra "eles", se for preciso.
Mas como podemos pedir aos nossos concidadãos mais empenho e menos desculpas quando o exemplo chega de cima? Na abertura da Universidade de Verão do PSD, o jovem Jorge Moreira da Silva, a quem dentro do partido se augura um risonho futuro, usou a mesma tática para avaliar o estado do país e o trabalho do Governo. Disse ele: as contas estão a derrapar, há um buraco gigante, atingir a meta do défice seria um milagre, mas, atenção, a culpa não é do Executivo, porque, naquilo que depende da capacidade de Passos Coelho e respetivos ministros, tudo corre às mil maravilhas.
Ora, se a culpa pela queda da economia, do consumo e dos impostos e pela subida desenfreada do desemprego, das falências, da fome e das dificuldades não é do Governo, é de quem, afinal? Os culpados só podem ser "eles" - os que fogem ao Fisco, os que desempregam, os que não consomem, os que roubam receitas ao Estado e incentivam a economia paralela, os que vivem à custa dos subsídios da Segurança Social e não querem trabalhar, os que, enfim, não contribuem para a produtividade como deviam.
Os jovens presentes na Universidade de Verão do PSD que escutaram o (menos) jovem Jorge a perorar desta incisiva forma tiveram sorte. No dia seguinte, calhou-lhes ouvir Adriano Moreira. O professor explicou-lhes que o povo, ainda sereno, não aguenta mais austeridade. A "fadiga tributária" (quer dizer: o rapa-o-tacho dos contribuintes) está no limite do aceitável. Esta é a verdade: o problema da receita não tem solução a curto prazo, pelo que cabe ao Governo descobrir onde cortar mais despesa. Se não o conseguir, a culpa será dele - do Governo. E não deles - dos contribuintes."
A falta que faz gritar
Fernanda Câncio, Diário de Noticias
"Digam o que disserem, o programa está a correr melhor do que se pensava." Isto foi António Borges, ontem, na Universidade de Verão do PSD, o programa, sendo a aplicação do ditado da troika para Portugal, na sua atual versão (o memorando original, assinado em abril de 2011, já foi revisto quatro vezes), conjugado com as medidas, "além de", que Passos entendeu associar-lhe. Digam o que disserem, diz Borges, referindo-se, supomos, aos números da execução orçamental, que dizem o contrário. Mas, alerta, ele é que sabe. Porquê? Porque tem "conhecimento de causa": "Estava no FMI quando o programa foi desenvolvido."
É vero: Borges era diretor do FMI para a Europa quando o memorando foi negociado. E, apesar de a 15 de abril de 2011 ter invocado uma norma do FMI de não envolvimento de nacionais nas questões dos seus países - "Não vou estar muito envolvido com o processo português - na verdade, vou distanciar-me do programa português e não me vou envolver com Portugal" - a sua proposta enquanto "vice" do PSD na era Ferreira Leite, de baixar dramaticamente a taxa social única, que não estava nos memorandos negociados antes com Grécia e Irlanda, tornou-se não só a medida estrela do português, imposta ao governo de então, que dela discordou abertamente, como do programa do PSD para as legislativas de junho de 2011. Coincidência, claro. Como terá sido feliz coincidência para Borges, que em 2009 defendia "a privatização total" até da Segurança Social, a imposição de privatizações de sectores estratégicos no memorando português - privatizações que, como reconheceu nas declarações de abril de 2011, não estavam noutros acordos. E se concedia que "nem tudo pode ser privatizado e o processo leva tempo porque há interesses nacionais muito importantes a ter em causa", logo a seguir concluía: "As privatizações podem suceder muito depressa. Se se contratar externamente o processo e se se encontrar as pessoas certas para o fazer, pode acontecer muito muito depressa, asseguro-vos."
A pessoa certa, pois. O homem que saiu da direção do FMI Europa direto para se ocupar do aspeto mais lucrativo do programa português (entre o anúncio da saída, em novembro de 2011, e o de que iria supervisionar as privatizações portuguesas passaram 47 dias - incrivelmente, o FMI não impõe regras para tais "transferências"), é sem dúvida um prodígio de rapidez. Já o provara ao passar da Goldman Sachs, no centro da crise financeira internacional, para o FMI; mas ao impor as suas ideias ao País e aplicá-las sem se submeter à prova das urnas, e ser ministro sem nenhuma das desvantagens - da baixa retribuição à interdição de flagrantes conflitos de interesses e ao escrutínio público -, Borges bateu todos os recordes.
Que isto suceda, sem escândalo, no País onde se exige a responsáveis políticos um período de nojo de três anos antes de trabalharem no sector que tutelavam só pode levar-nos a concluir que andamos muito lentos - parados, mesmo. A precisar de uma boa gritaria."
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
O "sucesso" desmascarado
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Aumento de 81 euros
Texto de Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto, hoje publicado no "Correio da Manhã"
"No ano de todos os cortes para a Função
Pública e de alguns para os trabalhadores do sector privado os
governantes e os deputados aumentaram-se 81 euros por mês.
Os números da Direcção-Geral da Administração não mentem. Por caminhos
ínvios alguns conseguiram o que milhões de portugueses não têm há uns
anos: um aumento. O valor do aumento não é menosprezável num tempo de
tanto desemprego, salários precários e pensões miseráveis. Mas a falta
de transparência, o esquemazinho debaixo da mesa é ultrajante.
Admirem-se se um dia começarem a ser brindados na rua com moedas negras,
como aconteceu a Andreotti e Craxi no fim da I República italiana."
sábado, 25 de agosto de 2012
O fracasso de Passos e de Gaspar
Foi há pouco mais de uma semana que Passos Coelho, o incompetente imbecil neoliberal que está a destruir o País, anunciou no comício da pandilha mafiosa PSD no Algarve que o fim da crise está ao virar da esquina por obra e graça da sua "magnifica" acção governativa.
Pois bem, a realidade tem o péssimo "vicio" de desmascarar a demagogia, a mentira e o engano.
Monstro 2- Gaspar 0
Por Bruno Proença, Director Executivo, Diário Económico
"Mudam os governos, alternam as cores políticas e os ministros das Finanças começam sempre por ter a melhor das reputações, no fim o resultado é o mesmo: o monstro do Estado ganha.
Depois da manchete de ontem do Diário Económico, que assinala um buraco de três mil milhões de euros na cobrança de impostos, o Ministério das Finanças acaba por admitir que o objectivo de 4,5% para o défice orçamental deste ano não será atingido nas actuais circunstâncias. Pelo segundo ano, Vítor Gaspar perde o combate. O ano passado teve a justificação de entrar a meio do ano e ter de aplicar um plano da ‘troika' que não tinha negociado. Por isso, acabou por ganhar na secretaria com a mega receita extraordinária dos fundos de pensões da banca.
Este ano a derrota é mais estrondosa. O Orçamento do Estado para 2012 foi elaborado pela equipa de Vítor Gaspar, já teve um Rectificativo em Março e, mesmo assim, no fim de Agosto já se percebeu que não é executável. Nos primeiros sete meses do ano, o valor do défice já corresponde a cerca de 70% do combinado com a ‘troika' para o conjunto do ano. Perante este fracasso, o ministro das Finanças deve tirar lições, até porque a consolidação orçamental é para continuar.
Desde logo, a equipa das Finanças não soube prever o impacto da recessão nas receitas fiscais. O Orçamento inicial já previa uma contracção forte da economia (-2,8%) mas esperava uma subida de 12,6% nas receitas do IVA e de 3% nas receitas fiscais totais. Puro engano. Até Julho, a máquina fiscal arrecadou menos 3,5% e as entradas resultantes do IVA caíram 1,1%. Vítor Gaspar está a aprender uma lição: subir impostos não significa automaticamente mais receita, sobretudo quando a economia está em recessão. Assim, assentar a estratégia de consolidação orçamental na receita fiscal não foi boa ideia.
Os dados da execução orçamental mostram que o ministro das Finanças está a reduzir a despesa mas tem que ir mais longe se quiser cumprir as metas impostas pela ‘troika'. Na segunda-feira escrevi neste espaço sobre esta derrapagem que se adivinhava e apontei três soluções: mais austeridade, novas receitas extraordinárias ou não fazer nada. A ‘troika', que chega para a semana a Lisboa, vai ter a palavra decisiva sobre o caminho a seguir. Mais austeridade este ano, nomeadamente mais carga fiscal, já se percebeu que não resolve nada, só ajudará a afundar a economia. Novas receitas extraordinárias apenas mascaram o problema, não resolvem nada estruturalmente.
A solução menos má é o Governo conseguir cortes adicionais do lado da despesa que tapem parte do buraco na receita fiscal e deixar derrapar o défice na parte remanescente. Até porque, apesar do falhanço, a diminuição do saldo negativo das contas públicas é significativo. O FMI já abriu a porta a esta solução quando admitiu que fechará os olhos a um agravamento do défice em 0,5% face ao valor inicial de 4,5%. Ainda assim, este caminho tem consequências. O Orçamento do Estado para 2013 ficará automaticamente mais difícil porque o ponto de partida para chegar ao défice de 3% - imposto pela ‘troika' - é mais alto e há dúvida sobre a recuperação da actividade económica. Assim, a questão de voltar a pedir mais tempo para cumprir o plano de resgate poderá saltar novamente para a agenda política.
Seja como for, Vítor Gaspar não fica bem na fotografia e este falhanço orçamental poderá ter consequências na credibilidade externa do País junto dos investidores internacionais, tornando mais difícil o regresso aos mercados em Setembro de 2013. Os mercados podem duvidar da capacidade de Portugal corrigir os problemas nas contas públicas. Porém, é igualmente um fracasso para a ‘troika', e para a sua estratégia que deve ser repensada. É cada vez mais evidente que a solução para a crise depende de nós mas está sobretudo dependente das manias e do humor da ‘troika' e dos grandes Estados europeus."
O monstro
Por Helena Garrido, Sub-Directora, Jornal de Negócios
"O monstro não se deixa controlar com facilidade. É já certo que o objectivo do défice público deste ano não será atingido. O que se vai passar a seguir está por decidir. Ou enfrentaremos mais medidas de austeridade ou teremos mais tempo para reduzir o défice. Tudo depende agora da troika, que chega a Lisboa na próxima semana.
O ministro das Finanças começou a preparar os seus parceiros europeus e a opinião pública portuguesa em Junho. Há um "aumento significativo dos riscos e incertezas que estão associados às perspectivas orçamentais", disse Vítor Gaspar em Junho, no Luxemburgo, numa das madrugadas das reuniões dos ministros das Finanças, dias antes de se conhecerem os números da execução orçamental dos primeiros cinco meses de 2012. Os resultados ficaram depois à vista: a previsão da receita de IVA consagrada no Orçamento revelava-se significativamente sobrestimada. O mês de Junho confirmou, depois, os receios desenhados com os números de Maio. A despesa pública estava controlada e a cair - com os cortes nos subsídios da função pública -, mas a receita de impostos reflectia a acentuada travagem do consumo privado.
Os países do euro na sua última reunião a 9 de Julho fizeram saber através do seu comunicado que recomendaram à troika que trabalhasse em conjunto com as autoridades portuguesas para que o programa de ajustamento se mantivesse na trajectória prevista. O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, foi na altura um pouco mais longe dizendo aos jornalistas que foi "pedido à troika que, no contexto do quinto exame, olhasse, em colaboração com as autoridades portuguesas para formas de favorecer o sucesso do processo de ajustamento em Portugal". E assim se entrou nas férias estivais, com este primeiro sinal de que o objectivo orçamental deste ano estava seriamente ameaçado.
Os valores de Julho, divulgados nesta quinta-feira de Agosto, já não deixam qualquer dúvida: o objectivo de um défice público de 4,5% do PIB para este ano não vai ser atingido.
O que fazer agora? Restam três alternativas: adoptar mais medidas de austeridade para cumprir rigorosamente o objectivo; deixar défice público subir ou optar por uma combinação entre mais medidas e flexibilização do objectivo, dando a Portugal mais tempo.
O FMI tem-se mostrado disponível para deixar aumentar o défice. O actual chefe da missão para Portugal, Abebe Selassie, disse-o claramente nas entrevistas que deu após a quarta avaliação ao Programa de Ajustamento Económico e Financeiro. O pensamento da Comissão Europeia não é tão claro.
É nesta frente europeia que o governo poderá ter mais dificuldades em negociar a flexibilização da meta orçamental. Como vão os líderes europeus explicar que dão mais tempo a Portugal e não o dão à Grécia? Claro que Portugal pode ter condições para dizer que mais tempo, para si, não significa mais dinheiro. Porque o Estado tem conseguido financiar-se no mercado - já foi este ano buscar 20 mil milhões de euros - e o que faltou no ajustamento do sector público foi além do previsto no sector privado, onde as necessidades de crédito externo se reduziram significativamente.
O que se está a passar apenas revela que temos de estar preparados para o pior cenário que, neste caso, é mais um imposto extraordinário. O "monstro" como lhe chamou o actual Presidente da República não se deixa domar com facilidade."
Reacções alérgicas a Borges
Depois logo se vê
Pedro Marques Lopes. Diário de Noticias
"De muitas coisas se pode acusar este Governo, mas não de falta de criatividade ou de capacidade para surpreender.
Desta feita tivemos a novidade de assistir a um consultor do Governo a dar uma entrevista a um canal de televisão, em horário nobre, para nos explicar em que pé andam as privatizações. Ou seja, sobre um assunto importantíssimo para o País, convenhamos que as privatizações da TAP, ANA ou RTP não são propriamente temas de lana caprina, em vez de termos um ministro ou mesmo o próprio primeiro-ministro a informar os portugueses (e, já agora, o CDS) dos respectivos processos, aparece António Borges. Mas, tentemos compreender, até se entende a ida de António Borges à TVI para informar os cidadãos sobre os dossiers em causa: o ministro da Economia não sabe e o ministro para a Comunicação Social não pode.
Santos Pereira anda perdido num ministério ingovernável e só aceitou ser ministro de semelhante monstro por não ter o mínimo de experiência governativa ou empresarial. Como a sua gritante falta de capacidade para um cargo destes ficou logo à vista de toda a gente, Passos Coelho tratou de lhe tirar as suas atribuições espalhando-as por este ou aquele ministro e por um sem-numero de comissões e comités. Pode lá ele falar sobre a TAP ou privatizações e ser levado a sério por quem quer que seja.
Miguel Relvas não pode aparecer sem que não lhe façam perguntas incómodas sobre licenciaturas, serviços secretos, mentiras em inquéritos parlamentares e tudo mais. A sua popularidade e credibilidade junto do cidadão comum faz com que qualquer proposta vinda da sua boca seja imediatamente repudiada. Relvas é um zombie político. Pode ser essencial para Passos Coelho, e, como muito boa gente diz, o único ministro que não tem medo de tomar decisões, mas politicamente acabou. Não podia ser ele a apresentar o que quer que fosse sobre a RTP.
Mas, seja como for, o Governo demonstrou uma falta de respeito gritante pelos portugueses quando enviou um consultor falar sobre o destino a dar a empresas tão importantes como a RTP e a TAP. Além disso, como se fosse pouco, mostrou outro mal bem mais profundo que este Executivo vem amiúde revelando: não havia planos nenhuns para assuntos vitais da governação e foi preciso arranjar uns senhores muito inteligentes para dizer o que fazer. Havia assim umas ideias coladas a cuspo, decoradas à pressa e sem o mínimo de reflexão.
Não, longe disso, não é o facto de os dois ministros teoricamente responsáveis pelos dossiers não poderem aparecer e terem de mandar um consultor que, na ignorância deles, pensam ser mais credível, é sobretudo nós percebermos que afinal não havia nenhuma ideia para a privatização da TAP, ou que ninguém tinha pensado verdadeiramente o que fazer com a RTP.
O caso da RTP é chocante: aquela patética comissão, as notícias plantadas nos jornais sobre possíveis compradores, fica com este canal, vende o outro ou fica com este e vende o outro, e agora esta coisa que Borges conseguiu apresentar aparentemente sem um pingo de vergonha. Uma revolucionária solução em que o Estado cede uma estação de televisão e garante um lucro chorudo ao feliz contemplado que é pago com os impostos de todos nós. Genial. Não, não é bem uma PPP, é, para o investidor privado, muito melhor. Este fica com uma companhia com mais de cinquenta anos de vida, com um enorme prestígio, com um património tangível e intangível único e ainda lhe garantem uma rentabilidade que fará roer as unhas de inveja um qualquer concessionário de auto- -estradas.
É evidente que esta vergonha cairá no caixote do lixo das ideias, junto do fim da TSU e outras, que o Governo manda "cá para fora" para serem testadas. A comunidade ainda não está suficientemente adormecida para deixar passar uma coisa destas. Todo este processo é dum experimentalismo bacoco, duma falta de sentido de Estado, duma evidente impreparação, que assusta o mais crente nas qualidades deste Governo. Onde estão afinal as milhares de páginas de planos? As contribuições dos diversos grupos de trabalho? As ideias sólidas sobre o que fazer com a televisão pública? Eram precisos consultores para mostrar que a privatização da RTP não valia um chavo?
António Borges prestou-se, mais uma vez, a um triste papel: o de mostrar que afinal Passos Coelho e a sua equipa não sabiam o que fazer em questões fulcrais e mentiram dizendo que sabiam. O drama é que ainda não sabem e não é só, infelizmente, no caso da RTP. "
Dr. Borges e Mr. Sachs
por Nuno Saraiva, hoje no Diário de Noticias
"Foi há pouco menos de três meses. António Borges, privatizador-geral da República (PGR), abriu a boca para falar da "urgência" em reduzir salários. Perante o clamor gerado por tamanha alarvidade, lá veio a terreiro dizer que não disse o que tinha dito e que jamais defenderia uma política de empobrecimento. O que é facto é que ela aí está.
Esta forma de intervenção, "em defesa da destruição do que existe para, a posteriori, criar riqueza para os amigos", é típica dos homens da Goldman Sachs, como muito bem descreve Marc Roche, o jornalista francês autor do livro O Banco: Como o Goldman Sachs Dirige o Mundo.
E aquilo a que assistimos quinta-feira passada foi, mais uma vez, a verbalização da doutrina messiânica de Lloyd Blankfein, o homem que dirige o banco que, dizem as más-línguas, estará por detrás da atual crise financeira que abala o mundo: "Eu faço o trabalho de Deus."
Bizarra e incompreensivelmente, coube ao consultor do primeiro-ministro ser porta-voz das intenções do Governo - ou será de Deus? - para a RTP. Disse o Dr. Borges, ou melhor, o Mr. Sachs, que o que está em cima da mesa é o encerramento do Canal 2 e a concessão de tudo o resto - televisão e rádios públicas - por um período de 15 a 20 anos, ao operador privado "que der mais dinheiro". Não importa quem, nem de onde vem, desde que pague bem.
O Governo, que declarou guerra às parcerias público-privadas (PPP), parece preparar-se agora para, ele próprio, criar uma espécie de PPP comprometendo o Estado com o pagamento, a quem adquira a concessão, de uma renda de 140 milhões de euros por ano resultantes da taxa do audiovisual cobrada a todos os portugueses na fatura de eletricidade.
Mas o Dr. Borges, ou melhor, o Mr. Sachs, que, ao que consta, ainda não faz parte do Governo, disse mais. Garantiu aos potenciais interessados que terão total liberdade para despedir se entenderem que a RTP tem trabalhadores a mais, lançando assim o sobressalto na televisão e rádios públicas.
O "atraente" plano, na boca do Dr. Borges e de uma fonte do gabinete do ministro que tutela a RTP, é, antes de mais, uma flagrante violação do Programa Eleitoral do PSD e do Programa de Governo. O que neste capítulo foi prometido e está sufragado pelos eleitores é, concorde-se ou não, a alienação de um dos canais da RTP. Mas, já estamos habituados, que se lixem as promessas.
Em Portugal, existe uma cultura de que todos os governos são culpados, de que pelo facto de se tratar de uma empresa pública não tem de ser bem gerida. Esta é uma premissa absolutamente inaceitável. E este é o paradigma que é urgente alterar. Se se considera que a RTP custa dinheiro a mais - e admito que assim possa ser -, pois que se imponha uma gestão austera e profissional. Nunca esquecendo que quem escolhe as administrações da RTP e da RDP são os governos.
O que está em causa em tudo isto é saber se queremos manter um Serviço Público de rádio e televisão, em sinal aberto, ou se, pelo contrário, queremos ser pioneiros na Europa na aberração de acabar com este património que é, antes de tudo o mais, uma obrigação de qualquer Estado civilizado.
O Serviço Público de televisão existe, entre outras coisas, para garantir o pluralismo, os equilíbrios regionais, a difusão e preservação da língua, a divulgação cultural, a própria democracia. Isto para já não falar na memória coletiva de mais de 50 anos contida no arquivo histórico de valor incalculável que é propriedade de todos nós. Tudo isto é, naturalmente, da responsabilidade dos Estados.
Por definição, o Serviço Público não deve ser concorrencial e, por consequência, não pode reger-se por critérios de audiências mas sim de interesse público. O que contraria, naturalmente, a justificação do Dr. Borges, ou melhor, do Mr. Sachs, para encerrar a RTP 2 porque "é um serviço muito caro com uma audiência muito pequena". Por exemplo, o que a RTP fez nos últimos Jogos Olímpicos foi verdadeiro Serviço Público e de qualidade. Goste-se ou não, o que a RTP faz todos os anos com o Natal dos Hospitais é Serviço Público. Por mais desinteressantes que possam ser, a transmissão integral dos debates quinzenais na Assembleia da República é Serviço Público. Os programas infantis, todos os dias de manhã, são Serviço Público. A informação séria, rigorosa e de qualidade - não que a dos outros canais não o seja - é Serviço Público. E por aí adiante.
Como é óbvio, nenhum concessionário ficará com a RTP se não for para ter lucro, ficando refém de um contrato de Serviço Público. E o lucro só existe se houver audiências. Se este modelo avançar, que ninguém tenha dúvidas: jamais assistiremos a partidas vibrantes de ténis de mesa, a finais entusiasmantes de K-2, a teatro português na televisão e a tantas outras manifestações que não são de massas e, por isso, não geram audiências.
Resta pois saber o que motivou mais esta intervenção do Dr. Borges. Se foi apenas para testar a ideia na opinião pública, é grave; se se tratou de um anúncio formal feito por um funcionário que não faz parte do Governo, é muito grave; se a ideia era retirar do debate público os números assustadores da execução orçamental, é ainda pior, porque não se brinca com coisas sérias. Seja porque for, só resta parafrasear Almada Negreiros: cale-se o Borges, cale-se Pim! "
Português vende-se
Por Joana Amaral Dias no Correio da Manhã
"O serviço público de televisão é o garante do pluralismo. Possivelmente mais imprescindível que nunca. Também é o assegurador do pluralismo político.
Talvez mais necessário que noutro tempo qualquer em democracia. E é o garante da independência do governo. Provavelmente mais essencial agora que jamais. Muito haveria a dizer sobre a necessidade de um serviço público , e, claro, da sua melhoria.
Nada, porém, para o qual o relatório do grupo de estudo para a RTP e Lusa contribuísse, lembra-se? Enfim, para além desta questão essencial, a verdade é que, seja qual for a opinião sobre este tema, a forma como o executivo a está gerir ultrapassou todos os limites.
É inaceitável que seja um consultor pago, António Borges, a apresentar a operação. O mínimo respeito exigiria que fosse o governo a explicá-la. Bem esmiuçadinha, sff. Já a ideia de entregar os 140 milhões de euros que a RTP arrecada a quem a comprar é obscena.
Trata-se de financiar o grupo que deterá a televisão pública. E de privatizar o dinheiro dos contribuintes. É o fim da linha. Só falta privatizarem os próprios portugueses. "
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
PQP Passos, Relvas, Borges e os outros imbecis que estão a destruir o País.
As noticias deste final de semana estão a ser marcadas pelo falhanço económico do governo e pelas afirmações de António Borges sobre a privatização da RTP.
Sobre a primeira, os dados da execução orçamental de Julho tornam evidente aquilo de que toda a gente já desconfiava:
Portugal não vai conseguir cumprir a meta do défice público, acordada com a troika para este ano, de 4,5% do produto interno bruto (PIB). Vítor Gaspar apostava num crescimento de 2,8% das receitas fiscais este ano, mas nos primeiros sete meses do ano enfrenta uma quebra de 3,5%.
foto de www.ionline.p |
O curioso é que o imbecil Passos Coelho e o seu ministro das finanças, Vítor Gaspar, diziam acreditar que a destruição da economia não iria ter os efeitos nocivos que são agora forçados a reconhecer.
Perante isto há vozes que não alinham na teoria da incompetência de Passos e dos que o rodeiam e, assim sendo, a alternativa é óbvia:
Os seus actos são deliberados e pretendem mesmo levar o País e os portugueses à ruína para poderem vender e colocar tudo e todos nas mãos gananciosas do capital e grupos económicos que servem.
foto de http://www.tvi24.iol.pt |
Borges é considerado o 12º ministro, tendo em mãos as politicas de privatizações de tudo o que Passos Coelho que vender ao desbarato e, em directo nos ecrans de televisão, saiu-se com esta pérola de demagogia:
"A tap tem de ser privatizada para crescer" acrescentando que será vendida por baixo preço porque tem muitas dividas.
Borges também referiu o novo "credo" do governo de estar a resolver o desequilíbrio do défice externo do pais mais rápido do que previsto, com as exportações em alta e com os portugueses a "gastar apenas o que produzem". Este é, aliás, o argumento mais demagógico que esta gentalha usa, dizendo que foi o povo que andou a gastar à tripa forra, que foram as famílias que se endividaram para comprar casa própria, carros e viagens. Alguém ainda acredita nestes bandidos?
Mas o ponto "alto" da entrevista foi quando este energumeno neoliberal declarou o fim da RTP2 e a privatização da RTP1 e das rádios publicas.
Sobre os trabalhadores acrescentou, com a maior frieza, que se o privado entender que tem gente a mais, pode avançar com despedimentos e redução de pessoal.
Dado a perplexidade geral sobre este anuncio, o gabinete de Miguel Relvas, esse sim ainda ministro para mal dos nossos pecados, veio confirmar que o modelo anunciado por Borges é interessante. Será por simples coincidência que a angolana Newshold cria empresa para comprar RTP? Com Relvas ao barulho não é, infelizmente, coincidência nenhuma, é mais uma acção deliberada contra o interesse nacional.
No rescaldo destes eventos a SIC Noticias promoveu um debate com deputados de vários partidos e o mínimo que se pode dizer é que foi constrangedor ver os representantes do PSD, Duarte Pacheco e do CDS, João Almeida. tentarem defender as acções governamentais e continuarem a afirmar que vão dar resultados positivos.
Estes dois imbecis fazem ambos parte do grupo de deputados que nunca fizeram nada válido na vida
.João Almeida fez um curso de Direito, estagiou num gabinete de advogados e foi pela Juventude Popular que chegou ao parlamento. Duarte Pacheco é economista, foi consultor em empresas de consultoria e é deputado desde 1991. Qualquer deles dá sempre nas vistas pelos piores motivos, pela ausência de ideias, pelo seguidismo aos lideres e pela defesa do que não tem defesa possível.
A propósito de demagogia, eis a ultima pérola parida pela cabeça do ministro da caridadezinha, o também ex-líder da juventude centrista Pedro Mota Soares:
Beneficiários do RSI forçados a trabalhar a sem pagamento!
Os beneficiários de Rendimento Social de Inserção vão ser forçados a "actividade socialmente útil" em instituições não lucrativas, sem pagamento e não o fazendo, serão excluídos do apoio social. Para este imbecil o facto de estar a condenar os mais miseráveis dos miseráveis a "trabalhos forçados" é irrelevante. O que interessa é promover a falácia demagógica da obrigação de retribuir o RSI à sociedade e, já agora, poupar uns dinheiritos.
Por ultimo e para rematar, duas noticias de responsabilidade directa de Passos Coelho:
Passos Coelho integra no quadro da Presidência do Conselho de Ministros e com o mesmo salário o "espião" acusado no caso das "secretas". Que podres terá o espião sobre Passos Coelho para beneficiar deste regime de favor?
Também sobre regimes de favor, os assessores que vieram do privado receberam subsídio de férias e o Governo justifica-se afirmando que "os subsídios que poderão ter tido lugar referir-se-ão a férias adquiridas e vencidas em 2011 que nos termos da lei só puderam ser gozadas (e pago o subsídio referente a 2011) em 2012". Mas não é esse o caso dos trabalhadores da função publica e dos pensionistas a quem Passos Coelho roubou esses mesmos subsídios?
Se já havia pouca tolerância para com o imbecil Passos Coelho e para o governo de medíocres que chefia, estas noticias foram as ultimas gotas que fizeram transbordar o copo e, a partir de agora, sem contemplação, tiram-se as luvas e vale tudo para o derrubar e para evitar a destruição e venda do que ainda resta de Portugal.
PUTA QUE PARIU Passos, Relvas, Borges e os outros imbecis que estão a destruir o País. Está na hora do povo acordar e correr esta corja a pontapé!
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Indignação
Assessores do Governo recrutados no privado recebem subsídio de férias
Passos Coelho e Vítor Gaspar argumentam que férias foram "adquiridas e vencidas em 2011".
Noticia de hoje no Diário de Noticias e alguns comentários de leitores justamente indignados:
"As férias de 2011 são adquiridas e gozadas em 2011.As de 2012 são de 2012. Onze meses de trabalho em de férias. Paços! Vai para a PQTP."
"Tudo isto e muito mais , como por exemplo rapazes e rapariguinhas , recentemente formados , sem nenhuma experiência a trabalharem nos ministérios com vencimentos a rondarem os 5000 euros . Como felizmente as nomeações têm de ser publicadas em diário da república , fica-se a saber as aldrabices todas deste governo de mentirosos."
"Bom argumento. As minhas também foram adquiridas e vencidas em 2011. Por isso devolvam o que roubaram. Estes cretinos tomam todos por parvos."
"Que novidade sr. 1 ministro, então isso não acontece com todos,e para quem sebe alguma coisa, quando se sai duma empresa as férias são pagas na totalidade.Não nos engane mais, e faça-os um favor , não minta."
"afinal as tarefas dos funcionários públicos não é trabalho por isso não trabalharam durante 2011, como é possível tanta falta de sentido de equidade, tanto despudor???"
"A JSD e a Juventudes Populares agora são privados?"
sábado, 18 de agosto de 2012
Ainda Passos Coelho e o Pontal
Algumas reacções publicadas em jornais ao discurso infeliz e imbecil de Passos Coelho no comicio do PSD no Algarve.
Pedro no Pontal
Alberto Gonçalves, Diário de Noticias
"No excitante discurso da excitante rentrée, Pedro Passos Coelho não brindou os jornais com manchetes prontas a utilizar, género "Que se lixem as eleições!". A hora é de entrelinhas, e o desprendimento, por bonito que seja, tem limites, e já ninguém, incluindo o próprio primeiro-ministro, finge acreditar nele.
Tudo espremido, do Pontal saíram dois arremedos de ideias, ou duas informações codificadas. Uma: "Temos de cumprir as metas orçamentais e ainda encontrar outra medida de efeito orçamental equivalente ao corte de subsídios. Não vai ser fácil, mas temos de o fazer e serei eu próprio a anunciá-lo no momento certo." Outra: "Estou muito confiante, apesar das adversidades externas, que nós temos todas as condições para que 2013 seja um ano já de estabilização da nossa economia e de preparação da recuperação económica para Portugal."
Traduzida, a primeira "ideia" anuncia as próximas medidas de austeridade, naturalmente concebidas por quem manda e patrocinadas por quem obedece. A segunda "ideia" sugere o advento da lendária "retoma", enquanto de facto prepara terreno para justificar o respectivo e previsível falhanço com as igualmente lendárias "adversidades externas". É um filme muito visto.
Tão visto que, na verdade, dispensa a exegese das palavras do dr. Passos Coelho. Não vale a pena adivinharmos aquilo que o homem quer dizer na medida em que é altamente previsível aquilo que o homem acabará por fazer: o que o indígena médio faria no lugar dele. O objectivo imediato consiste em encolher suficientemente o défice para manter a confiança (e o dinheiro) da troika. De que maneira? Emagrecendo o rendimento dos contribuintes, pequeno vício que a troika afinal tolera, e evitando bulir nas sinecuras do Estado, ofensa que as clientelas não tolerariam. O segredo é iludir o povo ordeiro com promessas de mudança e apaziguar o restante com a certeza de que pouco ou nada mudará. Se alcançado, o equilíbrio permitirá ao dr. Passos Coelho aguentar-se no poder até 2015 e, se não for maçada, vencer as eleições de então, o objectivo supremo. Sem surpresa nenhuma, lixados estamos nós. "
(Transcrição parcial)
Acelerar alternativas
Texto de Manuel Carvalho da Silva, Jornal de Noticias
" As ideias e propostas que Passos Coelho transmitiu aos portugueses, no passado dia 14 de agosto, desafiam as forças políticas, sociais e económicas e os cidadãos que dizem não à política de desastre nacional a um esforço redobrado para a construção de políticas e soluções governativas alternativas, que tragam progresso para o país.
O discurso foi, em vários aspetos, um desastre. Não porque o cidadão Passos Coelho estivesse menos feliz ou se "espalhou", mas sim porque as políticas da governação externa (da troika) e, em particular, da governação interna (do PSD/PP) são desastrosas. Elas estão a infernizar a vida de milhões de portugueses no imediato e a comprometer o nosso futuro coletivo.
As mensagens de Passos Coelho, primeiro-ministro (PM) de Portugal, devem ser tomadas como um facto de relevo face ao seu conteúdo e ao contexto político em que vivemos.
O PM nada disse sobre o enquadramento de Portugal na União Europeia (U.E.) e sobre as políticas erróneas que estão a ser impostas nesse espaço; ignorou o significado dos graves indicadores sobre o emprego e a economia conhecidos nos últimos dias, e não apresentou nenhuma medida política nessas áreas vitais; vendeu gato por lebre e prometeu o que não poderá cumprir; colocou a Constituição da República Portuguesa como obstáculo e relevou uma patranha a que chama "regra de ouro" para, numa conceção neoliberal e retrógrada, justificar o não investimento e atacar a solidariedade entre gerações; anunciou aos portugueses mais austeridade, sem um mínimo de garantia de os violentos sacrifícios nos conduzirem a um futuro melhor.
O PM não pode, com verdade, dizer que "no mais importante ganhámos", pois, nem com todas as manipulações contabilísticas e com os saques feitos diretamente aos trabalhadores e ao povo, vai cumprir os objetivos de redução do défice.
O PM sabe que a dívida continuará a aumentar. Os juros e compromissos de Portugal para com os seus credores (e agiotas) conduz inevitavelmente para aí, e a nossa economia está a debilitar-se. A produção industrial caiu 4,4% num ano. As exportações estão a desacelerar e o contexto europeu não lhes vai ser favorável.
Temos crescimento da exportação de ouro, o que não admira quando vemos proliferar por cidades e vilas as casas de "Compra e Venda". Os portugueses estão a vender os anéis para sobreviver e as políticas seguidas aprisionam-lhes os dedos e as capacidades físicas e intelectuais.
Como pode Passos Coelho dizer que "no mais importante ganhámos" perante a violenta destruição de emprego, que num ano atingiu mais 205 mil pessoas, ou quando temos 827 000 desempregados e cerca de 1,3 milhões de desempregados e subempregados?
Como pode ser feita aquela afirmação perante os graves bloqueios com que se depara a juventude?
Um estudo conhecido esta semana mostra-nos cerca de 70% dos alunos universitários a pensarem emigrar, surgindo à cabeça os estudantes de engenharia, de tecnologias e de arquitetura. A emigração de jovens (muitos qualificados) em massa e a existência de uma baixa taxa de fertilidade condicionarão o de-senvolvimento da sociedade portuguesa por longo tempo.
É uma autêntica fraude dizer que vai haver crescimento económico num quadro de acentuada quebra salarial, de inexistência de investimento, de privatizações oportunistas, de destruição de empresas, de reformismo retrógrado no ensino e na saúde, de aumento dos combustíveis e das rendas de casa.
Para o PM quais são os reais problemas dos portugueses?
Este discurso torna mais urgente "mobilizar as energias e procurar os denominadores comuns entre todos os que estão disponíveis para realinhar as alianças na U.E. e reforçar a frente dos que se opõem à austeridade e pugnam pela solidariedade, pela coesão social, pelo Estado de Bem-Estar e pela efetiva democratização das instituições europeias" como é assumido na "Convocatória para um Congresso Democrático das Alternativas".
Travar o ciclo vicioso austeridade/recessão/austeridade é hoje um imperativo que não se compadece com ciclos eleitorais normais."
Passodologia
Joana Amaral Dias, Correio da Manhã
"Já se sabe que a festa do PSD no Pontal é um dos maiores comícios-feira do país. Mas, este ano, em que a coisa foi transferida da rua para uma caixa de fósforos, não fosse o povo tecê- -las, ainda mais entre quem sofre as passas do Algarve, os sociais-democratas atingiram o grau zero.
Além dos moralismos meio salazarentos meio merkelianos, Passos Coelho conseguiu nada dizer além da ladainha a troika custe o que custar, a troika ama-te e não há vida além da troika. Nem uma palavra sobre dois aspectos cruciais: orçamento e desemprego, que o Primeiro--ministro considera que não é um problema importante mas tão-só uma "nota negativa". Isto no dia em que se soube que 15% de portugueses já não têm emprego.
Calma. Como em qualquer festa do Pontal, existiram dois momentos futurologistas. Passos Coelho já não quer que as eleições se lixem, está convencido que vencerá as de 2015. E ainda anunciou 2013 como o ano da retoma. É. Tudo o que nega, como o desemprego e a recessão, acontece. Tudo o que vaticina, como a recuperação e nova vitória eleitoral, não se verifica. Como governante, Passos Coelho é um falhanço. Mas estávisto que como profeta também não se safa. "
Que se lixem as intenções
Nuno Saraiva, Diário de Noticias
" Não durou sequer um mês. Esta semana, Pedro Passos Coelho foi à Festa do Pontal refazer parte da sua narrativa e desvendar que, afinal, o aparente desprendimento em relação ao poder revelado num jantar de julho com os deputados do PSD não passou de um sound bite de verão.
A 24 do mês passado, afirmava, impante e messiânico, o primeiro-ministro: "Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o País, como se diz, que se lixem as eleições."
22 dias depois, terça-feira, dia 14, o mesmo chefe do Governo confessava perante uma plateia partidária: "Só estamos a um quarto do mandato e temos a ambição de renová-lo."
O propósito é legítimo, ninguém contesta. Mas é, ao mesmo tempo, revelador de que Passos Coelho, no que a eleitoralismo diz respeito, não é nem melhor nem pior do que outros primeiros-ministros. É igual!
Foi, aliás, a pensar em eleições - nas legislativas de 2015 mas também nas autárquicas do próximo ano - que o primeiro-ministro fez o único anúncio em pouco mais de 40 minutos de autojustificações. "Estamos mais próximos de vencer a crise e voltar uma das páginas mais negras da história da nossa Pátria. (...) 2013 será o ano da inversão na atividade económica", assegurou.
É certo que, nestas coisas, o risco de ser preso por ter cão ou por não ter é gigantesco. Isto é, fosse pelo otimismo excessivo ou por um discurso marcado pela ausência de esperança, não faltaria quem crucificasse Passos Coelho. Mas mandaria a prudência e o bom senso que o mesmo primeiro-ministro que num exercício de honestidade e humildade - é certo que forçado pelas revelações do INE sobre a economia portuguesa - reconheceu ter-se enganado nas previsões ao dizer que nem em 2011 a crise foi tão profunda como se esperava, nem as perspetivas faziam adivinhar um 2012 tão difícil como o que estamos a viver, não se comprometesse agora com um calendário para o fim da recessão.
Não vale sequer a pena enfatizar, mais uma vez, o facto de que a crise existe e é internacional. Coisa que há um ano, antes de eleições, não se reconhecia. Que a taxa de desemprego bate recordes e ultrapassa o estimado, surpreendendo inclusive os senhores da troika. Ou que a meta do défice para este ano, apesar da austeridade brutal, dificilmente será cumprida.
Mas o primeiro-ministro sabe, e se não sabe devia saber, que, como cautelosamente afirmou o ministro da Economia, "previsões macroeconómicas são sempre previsões macroeconómicas", o que equivale a dizer que há sempre imponderáveis que escapam ao controlo de quem governa e que a margem de incerteza das previsões é enorme. Sobretudo quando em causa estão o futuro da moeda única europeia - tópico central e sobre o qual Passos Coelho, inexplicavelmente, não disse uma palavra - e o destino de países como a Grécia, a Itália, mas também a Espanha ou a própria França, a cujo futuro Portugal não é de modo algum alheio, estando na primeira linha do contágio potencial.
Ora, o que Pedro Passos Coelho fez esta semana foi isso mesmo, previsões macroeconómicas. E como bem o advertiu Álvaro Santos Pereira, estas podem ser falíveis. Mas para o primeiro-ministro, ficou claro, as eleições contam. Mesmo que antes tivesse feito juras do contrário. Mas em política, já estamos habituados, é assim: que se lixem as intenções. "
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
"Alice" Passos Coelho
«Quero reafirmar aos portugueses que se o ano que estamos a viver ainda é um ano de contracção da actividade económica, em que empresas estão a fechar portas e o desemprego não conseguiu ser contido, o ano de 2013 será um ano de inversão na situação da actividade económica em Portugal»
Ou seja, Passos Coelhos decretou o fim da recessão para o próximo ano.
As palavras do rapazola neoliberal de Massamá não colhem a aprovação de ninguém que não seja do PSD (e mesmo assim nem de todos *). Com o discurso de ontem Passos Coelho mostrou ter já ultrapassado a condição de "iluminado" que, sózinho contra tudo e contra todos, vai salvar Portugal e transformou-se, com apenas um ano de governação, numa "Alice" que vive num país fantasista de maravilhas que só ele vê e entende.
Para o resto dos portugueses as únicas palavras reais de Passos Coelho são as que pronunciou a propósito do corte dos subsídios de Natal e de férias considerados inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional e que apenas representam mais más noticias para todos:
"Será ainda necessário implementar uma medida, partilhada pela generalidade dos portugueses, com o mesmo efeito orçamental dos cortes dos 13 e 14 meses. Na altura própria não deixarei de ser eu mesmo a apresentar perante ao país essa solução».
Em contraste, "Alice"Passos Coelho fez rir o País quando disse que os cargos nas empresas publicas e outros tachos já não são entregues por "partidarite" mas sim por mérito dos nomeados. Só mesmo para rir e a bandeiras despregadas.
A conclusão de tudo isto é inevitável:
Este governo Passos Coelho tem de ser posto na rua o mais depressa possível sob pena de fazer regredir Portugal e o povo português para uma idade de trevas dominada pelos donos do dinheiro e pelos seus lacaios, que tudo exploram e que a todos roubam. É preciso mudar o governo e de forma a que nenhum partido (ou coligação) tenha maioria absoluta para que Portugal tenha futuro,
A partir de agora já não é apenas necessidade, é obrigação de qualquer cidadão português não alinhado com Passos Coelho e os partidos que o suportam, tudo fazer (e por qualquer meio) para destruir, demitir, dissolver, derrubar, etc o governo!
* O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, disse estar mais "pessimista" que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho quanto à recuperação económica do país
domingo, 12 de agosto de 2012
Baixar salários ...
A perspectiva neoliberal vigente na Europa em acção no seu melhor (ou será ... pior?).
Troika tirou mais de 1,5 mil milhões de euros em salários
Diário de Noticias
"Os salários dos portugueses baixaram 1 537 milhões de euros desde que Portugal assinou o memorando de entendimento. Em maio do ano passado o país recebeu 78 mil milhões de euros de ajuda financeira o que tem levado a duras medidas de austeridade.
Em média cada trabalhador português por conta de outrem perdeu 30 euros por mês, segundo noticia hoje o Correio da Manhã. Os cálculos são do economista Eugénio Rosa, feitos com base nos números do Instituto Nacional de Estatística.
"Antes de ter sido assinado o memorando com a troika os portugueses ganhavam em média 813 euros. No primeiro trimestre deste ano, esse rendimento tinha caído para 805 euros, em termos nominais. É preciso, contudo, descontar a inflação para calcular que os portugueses ganhavam na realidade, em média, 783 euros nos primeiros três meses do ano", pode ler-se no diário.
Feitas as contas a uma perda de 30 euros por um dos 3,66 milhões de trabalhadores por conta de outrem, a quebra real do poder de compra é de 109,8 milhões por mês ou 1,53 mil milhões por ano.
Entre as razões para esta descida estão novas contratações a salários menores, recibos verdes ou desempregados que se vêem obrigados a aceitar trabalhos com remunerações mais baixas. Apesar disso, o Banco Central Europeu recomenda que os salários desçam ainda mais para aumentar a competitividade e o emprego."
BCE pede a Portugal para baixar salários
Correio da Manhã
"O Banco Central Europeu (BCE) recomenda que os países que pediram ajuda externa, onde se inclui Portugal, baixem os salários para reduzir o desemprego.
Todos estes países necessitam de adpotar reformas ambiciosas e introduzir medidas para aumentar a sua competitividade", lê-se no relatório mensal da instituição liderada por Mario Draghi, citado pelo diário espanhol ‘El País’.
Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e Chipre precisam, de acordo com o BCE, de levar a cabo mais reformas estruturais, que além da redução dos salários promovam também a redução das indemnizações por despedimento. A instituição monetária europeia diz ainda que é preciso que estas economias lancem medidas para "reduzir o desemprego e restaurar a sustentabilidade das finanças públicas."
Entre as principais medidas, o BCE considera vital apostar na diminuição dos custos laborais, baixando o salário mínimo, revendo as leis de protecção laboral, abolindo a inter-relação entre os salários e a inflação e permitindo a negociação salarial a nível da empresa e as margens excessivas.
Para aumentar a competitividade, a instituição presidida por Draghi recomenda ainda que estes países apostem nas privatizações, na inovação e em iniciativas que promovam a criação de negócios."
É com isto que Passos Coelho se identifica
É esta a cartilha que Passos Coelho segue para empobrecer o povo e destruir a economia entregando todas as actividades económicas nas mãos da "iniciativa privada". Bancos, construtoras, grupos económicos, são estes que Passos Coelho serve e é para eles que governa promovendo uma colossal transferência de riqueza das mãos do povo trabalhador para as dos interesses obscuros que tudo querem e tudo roubam.
Enquanto a "elite" politica anda a banhos, de ferias, alguns anónimos fazem o que podem para alertar o povo, levá-lo a acordar, erguer-se e correr com a corja politico-partidária para os calabouços onde devem prestar contas pelas roubos e malfeitorias praticadas.
É o caso dos mails se indignação que circulam na internet. O primeiro teve a sua origem em Espanha, também sob ataque neoliberal, mas aplica-se igualmente a Portugal:
"Em nome dos cortes salariais e do roubo do subsídio de Natal e férias, vamos circular este apelo que ESTÁ CIRCULANDO EM TODA A ESPANHA!
Exigimos também aqui em Portugal :
Reduzir os salários de TODOS os cargos políticos em 50%.
Retirar TODOS os subsídios, abonos ou subvenções. Apenas poderão auferir o salário.
Limitar o salário dos cargos políticos ao valor de 25* salários mínimos (+/- 12.500).
Apenas poderão auferir UM salário.
Reforma para os políticos aos 65 anos de idade."
* 25 salários mínimos é muito para Portugal. O limite deveria andar pelos 10 a 12!
Para que não haja duvidas sobre a justeza destas medidas e contrariando os lacaios do poder que, na televisão e nos jornais tentam fazer crer que os políticos são mal pagos, aqui fica a lista de Vencimentos (anuais) de alguns cargos políticos em 2011:
Presidente da República 122.649,86 €
Presidente da Assembleia da República 98.119,88 €
Primeiro‐Ministro 91.987,46 €
Ministro 79.722,48 €
Secretário de Estado 71.241,40 €
Deputado 49.581,98 €
Gabinetes Ministeriais
Chefe de Gabinete 61.689,88 €
Adjunto 47.610,16 €
Secretário Pessoal 30.336,98 €
Câmaras Municipais
Presidente de Câmara de Lisboa e Porto 63.151,64 €
Vereador 47.076,74 €
Presidente de Câmara 40.000+ eleitores 57.410,66 €
Vereador 42.797,16 €
A lista completa pode ser consultada em Vencimentos de Cargos Políticos
A verdade é que não se produz em Portugal riqueza suficiente para alimentar a gatunagem partidária distribuída por:
3 governos no continente e ilhas
333 deputados no continente e ilhas
308 câmaras
4259 freguesias
1770 vereadores
30000 carros
639 fundações
343 empresas públicas municipais
95 empresas públicas centrais
87 parcerias Público Privadas
4 560 gestores e administradores, ou boys de todos os partidos
500+ assessores
30 000 carros
Para exemplificar o desperdício, para a Assembleia da República Portuguesa ter um número de deputados equivalentes à Alemanha teriam de ser reduzidos para menos de metade.
Esta corja partidária é uma das razões porque Portugal é o país da Europa em que simultaneamente se verificam os salários mais altos a nivel de gestores e o salário mínimo mais baixo para os trabalhadores assalariados
O povo português tem de acordar e depressa sob pena de poder vir a ser tarde demais para salvar o País
sábado, 11 de agosto de 2012
O Estado e os partidos
Texto de João Marcelino hoje publicado no Diário de Noticias
"1. As chamadas
parcerias público-privadas (PPP), criadas no tempo dos Governos Cavaco
Silva, eram uma razoável construção teórica. Os privados construíam
logo. Os governos garantiam e pagavam a prestações. A lógica, a
reboque de uma certa ideia de progresso, sobretudo no alcatrão,
decalcava a fúria consumista que então se começava a abater sobre a
sociedade portuguesa para gáudio dos bancos.
Se as PPP se tornaram
o escândalo que hoje se conhece, isso não foi principalmente culpa dos
privados. As empresas propõem os negócios que entendem. O problema
esteve em que, do outro lado, o dos partidos - perdão, o do Governo -,
sempre esses privados puderam contar com gente pouco capaz de defender
os interesses do País. Fosse por benigna incompetência ou lá pelo que
fosse.
2. A feliz mando da troika, e porque o Tribunal
Constitucional também decidiu o que decidiu em relação ao ataque aos salários da função pública e às pensões, começou agora a renegociar-se
estas PPP. Em apenas duas, e sem sair do sector rodoviário, o Estado
poupou 400 milhões numa e 80 noutra!
Não sabemos se houve muito
esforço negocial ou se foi coisa simples em função do eventual carácter
leonino de ambos os contratos. O certo é que se fez, e rápido, como o
País exige e as finanças precisam.
3. Este exemplo mostra como é
frágil o poder em Portugal. Dá-nos uma ideia de como os partidos, que
deveriam chegar ao poder para servir o Estado e os cidadãos, sempre que
têm oportunidade se aliam aos interesses privados, e só mostram
verdadeira vontade reformista perante a absoluta necessidade. Não foi
por acaso que, descontada a atual crise da Zona Euro, que amplia a
dimensão da nossa precariedade económica, Portugal já vai na terceira
ajuda externa desde Abril de 1974.
Mandados, os partidos - perdão, os governos - fazem.
Deixados à rédea solta é o que se sabe.
E
é sobre esta realidade brutal que uma ínfima parte dos portugueses,
militantes dos partidos, insistem em discutir o acessório: quem é que
tem a culpa maior, o PS ou o PSD? Alguns, genuinamente, parecem até
acreditar que a polémica, derramada em entrevistas, artigos,
intervenções e posts, faz sentido para a grande maioria dos portugueses.
4.
Bem se sabe que em todas as sociedades é mais ou menos assim. O Homem,
mais as suas fraquezas, vale o que vale - e vale o mesmo em toda a
parte.
A grande diferença da sociedade portuguesa, em comparação
com as demais europeias, é a fraqueza da sua estrutura de cidadania. Os
portugueses, de uma maneira geral, vivem pouco a dimensão coletiva e
perdem-se nos seus afazeres. Protestam pouco, vigiam quase nada. Há
pouco movimento associativo, faltam candidaturas políticas
independentes, seja no poder local seja para a Presidência da República.
Este caminho que desagua nas PPP, no BPN, no Freeport, e por aí
adiante, só tem a ver com a forma como os partidos, essenciais ao
funcionamento de democracia tal qual a entendemos, têm feito parte do
problema"
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
O tal canal
Texto de Manuel José Manuel Pureza hoje publicado no Diário de Noticias.
A privatização
da RTP não é uma questão financeira. O Estado não gasta mais de 220
milhões de euros por ano com a RTP. Os custos operacionais da empresa
são substancialmente mais reduzidos do que os das suas congéneres
europeias e estima-se que termine o exercício de 2012 com um lucro de
cerca de 15 milhões de euros (à custa de um preocupante desinvestimento
na urgente renovação do parque tecnológico). Ora, nem os custos baixarão
significativamente com a alienação de um dos canais nem o encaixe
financeiro da operação terá impacto relevante no equilíbrio das contas
públicas.
A privatização da RTP não é tão pouco um problema de
reforço da sã concorrência. Justificar esta escolha com a necessidade de
o Estado não fazer concorrência desleal aos operadores privados é
esquecer que são precisamente os operadores privados que hoje mais se
batem para que o Governo não venda um canal da televisão pública. Porque
sabem que a recessão tem como consequência uma retração fortíssima do
mercado publicitário, sendo que, neste quadro, o aumento de 20% de
espaço televisivo para publicidade resultará num agravamento dramático
das dificuldades não só dos operadores privados de televisão, como de
toda a imprensa escrita e falada. Os trabalhadores dessas empresas e a
independência e qualidade da informação por elas prestada serão as
vítimas maiores desta obsessão ideológica de Passos e Relvas.
A
privatização da RTP é apenas isso: uma pura questão ideológica. Que em
toda a Europa a transição do analógico para o digital tenha sido
acompanhada de um aumento dos canais de serviço público (6 em Espanha,
10 em França, 11 na Alemanha, 22 no Reino Unido) enquanto em Portugal se
verifica o inverso é puro fanatismo ideológico. O Governo acha que o
serviço público de televisão deve ser residual, como acha exatamente o
mesmo sobre serviços públicos de saúde, edu-cação ou cultura. É isso, e
só isso, que importa discutir.
Tal como naquelas outras áreas, é a
democracia que exige um serviço público de televisão. Porque só assim
se consegue garantir uma efetiva universalidade do direito a fruir dos
bens informativos, formativos e de entretenimento que a televisão
propicia. Os anos que levamos de televisão privada já nos mostraram que
não é o mercado que garante essa universalidade - bem pelo contrário, a
diversidade das estéticas, dos conteúdos e a pluralidade informativa só
têm tendência a encurtar. É pois de direitos de todos - o avesso do
estreitamento produzido pelo mercado - que se trata para quem defende a
centralidade do serviço público de televisão.
E isso exige
qualidade e coerência de programação. Algo que a privatização de um dos
dois canais até agora públicos impedirá. Exigir a um canal único que
preste com qualidade todo o serviço público e que, ao mesmo tempo, se
afirme contra a concorrência dos privados é puro cinismo. Encaixar a
martelo a programação da RTP2 na grelha da RTP1 é descaracterizar ambas e
impor uma truncagem irremediável do alcance do serviço público.
Mas
o que ficará para a História é outra coisa: o cumprimento das promessas
de Passos e de Relvas de negócio chorudo para capitais portugueses ou
angolanos, combinada com a manutenção do controlo governamental sobre a
RTP e com a fragilização de toda a comunicação social. Três em um. É de
génio, reconheça-se. Com ou sem diploma e certificado.
E ninguém vai preso?!
E claro que estas e outras tratantadas, pelas quais todos estamos a pagar como se fossem por nós praticadas, só foram possíveis em nome do bem comum de que o Estado é fiel depositário. Ora, sendo certo que o Estado não poderá ser incriminado, nem vir a ser preso, resulta que só há uma via: colocar os parceiros perante o dilema de receberem algum ou nada.
Acontece que por muito que as renegociações de contratos resultem em poupanças consideráveis, o problema de fundo permanece. O qual é muito simples de enunciar: o mal deste modelo está em que o Estado e afinal todos nós financiamos privados garantindo-lhes negócios de risco muito limitado ou mesmo sem risco.
O esforço que a atual gestão da Estradas de Portugal está a fazer é de aplaudir, mas o seu suor, engenho e arte somados dão uma redução na casa dos 600 milhões de euros em projetos que estavam a nascer e por isso foi mais fácil atalhar custos. E, por mais e melhor que consiga obter, em ganhos de exploração e renegociação das rendas, aqueles 14 mil milhões de dívida prevista para 2020 permanecem como um garrote sobre todos nós.
Lamentando que ninguém tenha sido preso até agora, resta reclamar do poder político que nos elucide rapidamente de que modo pretende evitar que este modelo de negócio em que o Estado pode - e em muitos casos deverá - ser parceiro dos privados não continua a ser este luxurioso banquete de amigos. Em que cada um vai dizendo à saída que a conta será paga pelo que vem atrás.
Se a crise é de todos, como nos relembram dia a dia, então que ela nos traga a esperança de que estas coisas não continuam impunes.
Caça ao dinheiro
A Autoridade Tributária acaba de atiçar as feras aos contribuintes em falta: os funcionários que mais cobrarem passam a ter direito a um prémio em dias de férias.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Democrata mas ... pouco!
Mas as aparências de democracia iludem já que a ministra Cristas tratou de não permitir que os visitantes à página possam livremente "subscrever" e publicar mensagens.
Não permitindo que os cidadãos escrevam o que lhes vai na alma, Assunção Cristas assegura que a página apenas mostra o que quer e lhe convém, tornando-se assim num escandaloso meio de propaganda pessoal.
Para a "democrata" Assunção Cristas toda a gente terá direito a ter opinião. Tem é de ser igual à dela!
Democracia sim mas... com calma!
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Entretanto em França ...
- Suprimiu 100% dos carros oficiais e mandou que fossem leiloados; os rendimentos destinam-se ao Fundo da Previdência e destina-se a ser distribuido pelas regiões com maior número de centros urbanos com os suburbios mais ruinosos.
- Tornou a enviar um documento (doze linhas) para todos os órgãos estatais que dependem do governo central em que comunicou a abolição do "carro da empresa" provocativa e desafiadora, quase a insultar os altos funcionários, com frases como "se um executivo que ganha € 650.000/ano, não se pode dar ao luxo de comprar um bom carro com o seu rendimento do trabalho, significa que é muito ambicioso, é estúpido, ou desonesto. A nação não precisa de nenhuma dessas três figuras " . Fora os Peugeot e os Citroen. 345 milhões de euros foram salvos imediatamente e transferidos para criar (a abrir em 15 ago 2012) 175 institutos de pesquisa científica avançada de alta tecnologia, assumindo o emprego de 2560 desempregados jovens cientistas "para aumentar a competitividade e produtividade da nação."
- Aboliu o conceito de paraíso fiscal (definido "socialmente imoral") e emitiu um decreto presidencial que cria uma taxa de emergência de aumento de 75% em impostos para todas as famílias, líquidas, que ganham mais de 5 milhões de euros/ano. Com esse dinheiro (mantendo assim o pacto fiscal) sem afetar um euro do orçamento, contratou 59.870 diplomados desempregados, dos quais 6.900 a partir de 1 de julho de 2012, e depois outros 12.500 em 01 de setembro, como professores na educação pública.
- Privou a Igreja de subsídios estatais no valor de 2,3 milhões de euros que financiavam exclusivas escolas privadas, e pôs em marcha (com esse dinheiro) um plano para a construção de 4.500 creches e 3.700 escolas primárias, a partir dum plano de recuperação para o investimento em infra-estrutura nacional.
- Estabeleceu um "bónus-cultura" presidencial, um mecanismo que permite a qualquer pessoa pagar zero de impostos se se estabelece como uma cooperativa e abrir uma livraria independente contratando, pelo menos, dois licenciados desempregados a partir da lista de desempregados, a fim de economizar dinheiro dos gastos públicos e contribuir para uma contribuição mínima para o emprego e o relançamento de novas posições sociais.
- Aboliu todos os subsídios do governo para revistas, fundações e editoras, substituindo-os por comissões de "empreendedores estatais" que financiam acções de actividades culturais com base na apresentação de planos de negócios relativos a estratégias de marketing avançados.
- Lançou um processo muito complexo que dá aos bancos uma escolha (sem impostos): Quem porporcione empréstimos bonificados às empresas francesas que produzem bens recebe benefícios fiscais, e quem oferece instrumentos financeiros paga uma taxa adicional: é pegar ou largar.
- Reduzido em 25% o salário de todos os funcionários do governo, 32% de todos os deputados e 40% de todos os altos funcionários públicos que ganham mais de € 800.000 por ano. Com essa quantidade (cerca de 4 mil milhões) criou um fundo que dá garantias de bem-estar para "mães solteiras" em difíceis condições financeiras que garantam um salário mensal por um período de cinco anos, até que a criança vá à escola primária, e três anos se a criança é mais velha. Tudo isso sem alterar o equilíbrio do orçamento.
Resultado: Olhem que SURPRESA !!!
O spread com títulos alemães caiu, por magia.
A inflação não aumentou.
A competitividade da produtividade nacional aumentou no mês de Junho, pela primeira vez nos últimos três anos.
Portanto, as promessas eleitorais estão a ser cumpridas na íntegra, passo a passo. E é assim que tem de ser, mas só possível com gente de carácter e que honra a sua palavra dada ao povo antes do dia das eleições.
Nem vale a pena comparar os 56 DIAS de François Hollande com o que fizeram NUM ANO o Passos Coelho e Paulo Portas ao longo de um ano!
RSI, custe o que custar
O número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) continua a aumentar, alcançando já 339 mil pessoas.
A notícia, surgida na semana finda, confirma o que todos sabemos: a pobreza extrema avança no País, numa escalada imparável ditada pela receita da austeridade, que torna ainda mais crucial a existência daquela prestação social, cada vez mais cerceada nos dias de hoje.
O aumento da pobreza não impediu o Governo de proceder a cortes no RSI, com o argumento a que sempre recorre para justificar todos os seus actos, que faz lembrar o daquele Partido Reformista referido por Eça em ‘Uma campanha alegre’, o qual, interrogado sobre as suas ideias para questões do trabalho, educação, jurisprudência, moral ou arte, respondia, invariavelmente: "Economias!"… A par dos cortes, ocorre uma campanha de ‘diabolização’ dos beneficiários da prestação, e há mesmo quem não tenha pejo em defender a eliminação de uma das grandes conquistas sociais. Há que lutar para a preservar, custe o que custar. Embora hoje não ofereça mais do que uma garantia ínfima de sobrevivência e seja cada vez mais incapaz de cumprir o objectivo de inserção contido no seu próprio nome…
Um aditamento de Manuel António Pina publicado no Jornal de Notícias:
"... É preciso que se saiba que os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média:
- mais 32% do que os americanos;
- mais 22,5% do que os franceses;
- mais 55 % do que os finlandeses;
- mais 56,5% do que os suecos"
Com dados destes quem é que ainda pode defender a corja partidária que rouba e destrói o País?
domingo, 5 de agosto de 2012
Os MESSIAS nacionais
"Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal"
Foi com estas palavras que Passos Coelho confirmou frente às câmaras que se considera o novo "Messias" salvador da Pátria. Para este "iluminado" pouco importa se a sua receita de austeridade está a empobrecer o povo e a destruir a economia nacional.
Passos Coelho impõe sacrifícios inaceitáveis ao povo para satisfazer os "sacrossantos" mercados ao mesmo tempo que tudo permite, aceita e recomenda à banca e aos grupos económicos. Por outro lado a sua politica de privatizações é altamente contrária ao interesse nacional, vendendo empresas ao desbarato e a preços irrisórios, como no caso BPN, a interesses estrangeiros que apenas se motivam pelo LUCRO! Pelo caminho há toda uma pandilha de ladrões ligados aos partidos do governo que estão a enriquecer de forma obscena à custa dessas negociatas.
Passos Coelho não se incomoda de atirar milhares e milhares de famílias para o desemprego e para a miséria. Na cabeça deste "Messias" neoliberal tudo vai valer a pena, contra tudo e contra todos, custe o que custar.
Passos Coelho é um Messias que salva o País à custa do povo. Em Évora há um Messias que salva o País à sua própria custa.
(*) Beato Salu é uma personagem tipica da cidade alentejana. A sua esquizofrenia diz-lhe que é o salvador do mundo e aqui começa e termina a semelhança com Passos Coelho.
Reparem nas diferenças:
Salu fala com as águas, com o vento, com o Sol, a quem chama reis: «A determinada altura, um rei disse-me que ia haver uma grande mortandade em Évora e eu tive uma visão da cidade destruída, física e moralmente. Percebi pelos sinais que se aproximava um tremor de terra de grau nove na escala de Richter e então comecei a passar o tempo todo na rua, para proteger a cidade.» Mais tarde, leu no jornal que houvera um sismo de grau três, que não tinha provocado quaisquer danos humanos ou materiais. «O terramoto foi descontado no meu corpo», esclarece.
Quando ouviu as notícias de que o país estava à beira da bancarrota, começou a passar todos os dias pela delegação do Banco de Portugal em Évora, para abater em si a hecatombe económica. Quando toma conhecimento de uma epidemia, faz o circuito dos hospitais e dos centros de saúde, para travar a peste. Se há uma onda de assaltos, gira para a esquadra de polícia. E então caminha os dias inteiros de um lado para o outro, a salvar o mundo. E se por algum motivo pára num banco de jardim, não é para descansar. É para recarregar energias nos seus reis e poder continuar a descontar no corpo as maleitas da humanidade.
Beato Salu chama-se a si mesmo de O, porque essa é a forma mais perfeita da natureza. «Um O», explica ele, «tem um valor biológico superior à própria existência e por isso consegue controlar os acontecimentos, é independente em relação ao cosmos.» E assegura que, em cada século que passa, não haverá no mundo mais de dois ou três escolhidos como ele. «Quando os reis me nomearam O, havia dois candidatos europeus, um português e um jugoslavo. Mas não pode haver mais do que um na Europa e, como me escolheram a mim, a Jugoslávia entrou em guerra e desintegrou-se. Não quero imaginar o que teria acontecido ao nosso país se eu não fosse chamado.»
Dá para verem onde diferem não dá?
Á prepotência, intransigência e arrogância de Passos Coelho responde Beato Salu com simplicidade, abnegacão e amor ao próximo. É caso para dizer que, louco por louco, talvez fosse melhor para Portugal ter o Beato Salu como Primeiro-Ministro!
(*) Adaptado de textos disponíveis na internet sobre o Luis Beato Salu
Salvar Portugal à bruta
Texto do humorista Ricardo Araújo Pereira publicada na revista Visão a propósito das palavras messiânicas de Passos Coelho.
"Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o País, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal", disse esta semana Pedro Passos Coelho.
É uma declaração que rejeita o eleitoralismo ao mesmo tempo que é profundamente eleitoralista, e por isso só está ao alcance de um político muito hábil. Sou um grande admirador de declarações que contradizem aquilo que afirmam. "Eu não gosto de falar de mim", diz alguém. E eu rejubilo, porque essa pessoa acaba de me fornecer uma informação sobre si mesma -logo ela que não aprecia fazê-lo. Com Passos Coelho sucede o mesmo: é eleitoralista quando repudia o eleitoralismo. Sacrifica-se duplamente por nós: perdendo eleições e incorrendo em abominável eleitoralismo.
Mas, mais do que fazer aquilo que repudia, aquela declaração é importante para compreender a soteriologia do passoscoelhismo, que difere bastante da da maior parte das religiões. Em princípio, uma religião só oferece a salvação ao crente que deseje ser salvo. No passoscoelhismo, porém, a salvação não depende da vontade do crente. Passos Coelho é nosso redentor quer nós queiramos quer não. Ele vai salvar-nos e é à bruta.
Repare-se que, para salvar o País, ele não se importa de perder umas eleições.
O eleitorado, que aparentemente prefere a perdição do País, ameaça castigar Passos Coelho com uma derrota eleitoral.
Nas urnas, o povo português fará o raciocínio inverso ao do primeiro-ministro: que se lixe Portugal, o que interessa são as eleições. Mas Passos Coelho não se importa. Vai salvar-nos, mesmo contra a nossa vontade.
Outra distinção importante reside no facto de Cristo se ter sacrificado por nós.
Passos Coelho opta por infligir os sacrifícios àqueles que pretende salvar. Uma coisa é ser Messias, outra é ser parvo.
Cristo percorreu a Via Dolorosa; Passos Coelho põe o povo a percorrê-la. E antes fez com que a via deixasse o regime SCUT, para a cruz ficar mais pesada.
Um dos problemas da salvação oferecida por Passos Coelho é que a maior parte das pessoas não se apercebe de que está a ser salva. Não compreende que está desempregada para seu bem, que vive mal para impressionar favoravelmente os mercados, que ganha salários miseráveis para glória presente e futura de Portugal.
Ninguém mandou Passos Coelho tentar salvar um povo tão estúpido."