"Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal"
Foi com estas palavras que Passos Coelho confirmou frente às câmaras que se considera o novo "Messias" salvador da Pátria. Para este "iluminado" pouco importa se a sua receita de austeridade está a empobrecer o povo e a destruir a economia nacional.
Passos Coelho impõe sacrifícios inaceitáveis ao povo para satisfazer os "sacrossantos" mercados ao mesmo tempo que tudo permite, aceita e recomenda à banca e aos grupos económicos. Por outro lado a sua politica de privatizações é altamente contrária ao interesse nacional, vendendo empresas ao desbarato e a preços irrisórios, como no caso BPN, a interesses estrangeiros que apenas se motivam pelo LUCRO! Pelo caminho há toda uma pandilha de ladrões ligados aos partidos do governo que estão a enriquecer de forma obscena à custa dessas negociatas.
Passos Coelho não se incomoda de atirar milhares e milhares de famílias para o desemprego e para a miséria. Na cabeça deste "Messias" neoliberal tudo vai valer a pena, contra tudo e contra todos, custe o que custar.
Passos Coelho é um Messias que salva o País à custa do povo. Em Évora há um Messias que salva o País à sua própria custa.
(*) Beato Salu é uma personagem tipica da cidade alentejana. A sua esquizofrenia diz-lhe que é o salvador do mundo e aqui começa e termina a semelhança com Passos Coelho.
Reparem nas diferenças:
Salu fala com as águas, com o vento, com o Sol, a quem chama reis: «A determinada altura, um rei disse-me que ia haver uma grande mortandade em Évora e eu tive uma visão da cidade destruída, física e moralmente. Percebi pelos sinais que se aproximava um tremor de terra de grau nove na escala de Richter e então comecei a passar o tempo todo na rua, para proteger a cidade.» Mais tarde, leu no jornal que houvera um sismo de grau três, que não tinha provocado quaisquer danos humanos ou materiais. «O terramoto foi descontado no meu corpo», esclarece.
Quando ouviu as notícias de que o país estava à beira da bancarrota, começou a passar todos os dias pela delegação do Banco de Portugal em Évora, para abater em si a hecatombe económica. Quando toma conhecimento de uma epidemia, faz o circuito dos hospitais e dos centros de saúde, para travar a peste. Se há uma onda de assaltos, gira para a esquadra de polícia. E então caminha os dias inteiros de um lado para o outro, a salvar o mundo. E se por algum motivo pára num banco de jardim, não é para descansar. É para recarregar energias nos seus reis e poder continuar a descontar no corpo as maleitas da humanidade.
Beato Salu chama-se a si mesmo de O, porque essa é a forma mais perfeita da natureza. «Um O», explica ele, «tem um valor biológico superior à própria existência e por isso consegue controlar os acontecimentos, é independente em relação ao cosmos.» E assegura que, em cada século que passa, não haverá no mundo mais de dois ou três escolhidos como ele. «Quando os reis me nomearam O, havia dois candidatos europeus, um português e um jugoslavo. Mas não pode haver mais do que um na Europa e, como me escolheram a mim, a Jugoslávia entrou em guerra e desintegrou-se. Não quero imaginar o que teria acontecido ao nosso país se eu não fosse chamado.»
Dá para verem onde diferem não dá?
Á prepotência, intransigência e arrogância de Passos Coelho responde Beato Salu com simplicidade, abnegacão e amor ao próximo. É caso para dizer que, louco por louco, talvez fosse melhor para Portugal ter o Beato Salu como Primeiro-Ministro!
(*) Adaptado de textos disponíveis na internet sobre o Luis Beato Salu
Salvar Portugal à bruta
Texto do humorista Ricardo Araújo Pereira publicada na revista Visão a propósito das palavras messiânicas de Passos Coelho.
"Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o País, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal", disse esta semana Pedro Passos Coelho.
É uma declaração que rejeita o eleitoralismo ao mesmo tempo que é profundamente eleitoralista, e por isso só está ao alcance de um político muito hábil. Sou um grande admirador de declarações que contradizem aquilo que afirmam. "Eu não gosto de falar de mim", diz alguém. E eu rejubilo, porque essa pessoa acaba de me fornecer uma informação sobre si mesma -logo ela que não aprecia fazê-lo. Com Passos Coelho sucede o mesmo: é eleitoralista quando repudia o eleitoralismo. Sacrifica-se duplamente por nós: perdendo eleições e incorrendo em abominável eleitoralismo.
Mas, mais do que fazer aquilo que repudia, aquela declaração é importante para compreender a soteriologia do passoscoelhismo, que difere bastante da da maior parte das religiões. Em princípio, uma religião só oferece a salvação ao crente que deseje ser salvo. No passoscoelhismo, porém, a salvação não depende da vontade do crente. Passos Coelho é nosso redentor quer nós queiramos quer não. Ele vai salvar-nos e é à bruta.
Repare-se que, para salvar o País, ele não se importa de perder umas eleições.
O eleitorado, que aparentemente prefere a perdição do País, ameaça castigar Passos Coelho com uma derrota eleitoral.
Nas urnas, o povo português fará o raciocínio inverso ao do primeiro-ministro: que se lixe Portugal, o que interessa são as eleições. Mas Passos Coelho não se importa. Vai salvar-nos, mesmo contra a nossa vontade.
Outra distinção importante reside no facto de Cristo se ter sacrificado por nós.
Passos Coelho opta por infligir os sacrifícios àqueles que pretende salvar. Uma coisa é ser Messias, outra é ser parvo.
Cristo percorreu a Via Dolorosa; Passos Coelho põe o povo a percorrê-la. E antes fez com que a via deixasse o regime SCUT, para a cruz ficar mais pesada.
Um dos problemas da salvação oferecida por Passos Coelho é que a maior parte das pessoas não se apercebe de que está a ser salva. Não compreende que está desempregada para seu bem, que vive mal para impressionar favoravelmente os mercados, que ganha salários miseráveis para glória presente e futura de Portugal.
Ninguém mandou Passos Coelho tentar salvar um povo tão estúpido."
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