Finalmente alguém que fala contra a unanimidade do tão badalado "governo de ampla maioria".
Paulo Martins escreve hoje sobre o tema no "Jornal de Noticias".
"A escolha entre austeridade e austeridade
Ponhamos as coisas na crua simplicidade: por mais diversas que sejam as opções disponíveis, das próximas eleições sairá, como sempre, um mandato para PS ou PSD assumirem a liderança do Governo. E o que têm para oferecer a um país exaurido esses dois partidos?
Os socialistas, é sabido, queixam-se de que não os deixaram aplicar mais um pacote de austeridade, que tão prestimosamente Sócrates prometeu a Angela Merkel. Os sociais-democratas já esclareceram que só não deram a bênção ao PEV IV porque não era suficientemente duro.
Temos, portanto, as linhas programáticas de cada um dos grandes partidos claramente definidas: um promete austeridade, o outro austeridade promete. Quando se enfrentarem num debate televisivo, José Sócrates há-de dizer a Pedro Passos Coelho: "Eu garanto que ponho todos os cidadãos a pão e água". Já se adivinha a resposta: "O senhor é um esbanjador. No estado em que estamos, devia ter vergonha de investir na compra de pão, que custa os olhos da cara. Eu comprometo-me a distribuir água".
Austeridade por austeridade, resta ao eleitor escolher a que tiver uma cor mais a seu gosto. Até porque, pelo andar da carruagem (rumo à estação do FMI?) nenhum deles oferece um caminho de futuro, uma nesga que seja de perspectiva de sairmos do fosso em que estamos enterrados.
É nesta convergência em torno do aperto de cinto que navega a ideia de um entendimento alargado entre partidos, no pressuposto de que é o instrumento mais eficaz para atravessarmos a tempestade, rumo à bonança. Não se percebe bem (talvez seja esse o objectivo) que "entendimento alargado" é esse. Um novo Bloco Central? Uma nova AD? Uma "tripla" PSD, PS, CDS? Um governo "dos melhores" dos três partidos, como preconiza Portas, que cheira demasiado a tecnocracia?
Assumam desde já que alianças querem propor - se é que querem mesmo - para conhecermos as regras do jogo antes de decidirmos. Porque democracia é afirmação da diferença, ainda que assente em acordos mínimos. É alternativa política, que não pode dissolver-se em "uniões nacionais" como açúcar em café. Em tempo de prosperidade como em tempo de crise. "
quinta-feira, 31 de março de 2011
A escolha entre austeridade e austeridade
quarta-feira, 30 de março de 2011
Economia e FMI
A imprensa escrita traz hoje diversos artigos muito interessantes.
Dois directores adjuntos do "Correio da Mnahã" publicam nesse jornal dois textos sobre economia, FMI e o imbecil Sócrates.
Já Vasco Graça Moura escreve no "Diário de Noticias" sobre a responsabilidade dos "notáveis" do PS no que se está a passar.
Por ultimo, Paulo Morais no "Jornal de Noticias" escreve sobre a aumento da promiscuidade entre os negócios e a política.
O nível do lixo
Por:Eduardo Dâmaso
"Agora é que não há dúvida: chegámos ao nível do lixo. Ontem, como se não bastasse o Banco de Portugal mostrar que se agravam os números da recessão, que há um recuo no rendimento das famílias e o desemprego cresce até 2012, a dívida soberana ficou classificada a um passo do lixo.
É muito simples: não vamos ter dinheiro, nem emprego, nem uma vida melhor tão cedo. Mais: é preferível pedir rapidamente o resgate financeiro à Europa do que deixar andar esta morte cada vez menos lenta. Para o engenheiro Sócrates, a culpa é da crise internacional e da oposição. A crise tem a sua quota--parte, mas o que esta insuportável degradação da economia mostra é uma coisa que há muito este Governo e todos os outros deveriam ter enfrentado: o desemprego é elevado e persistente há muito; a classe média-baixa está a transferir-se para o universo dos novos-pobres; a carga fiscal e a despesa pública sobem há décadas para ir ‘disfarçando’ a tragédia das contas públicas; a economia é débil e politicamente assistida e controlada a partir do ‘chefe’ em serviço no palácio de São Bento; os salários portugueses há muito que se distanciam da média europeia, e os desequilíbrios sociais e económicos agravam-se de forma irreversível. Quem quiser explicar isto com a crise internacional é um delinquente puro!"
O inútil adiamento do resgate
Por:Armando Esteves Pereira
"A realidade económica, financeira e política de Portugal mostra que pior é possível. O risco da dívida pública está a um passo do nível do lixo, e a agência de notação S&P já desconta que o País não consiga pagar a totalidade da dívida. Esta quebra de notação deve afectar a Banca portuguesa, que fica cada vez mais frágil. E se a Banca tem problemas, é toda a economia que paga.
Naturalmente os juros disparam e, no prazo de 5 anos, os investidores exigem mais de 9%. Com este patamar, Portugal já poupava algumas centenas de milhões de euros se pedisse a ajuda europeia, com a consequente intervenção do FMI. Só que, no actual contexto político, o resgate externo não é possível. Já se percebeu que Sócrates vai fazer desta resistência o principal argumento político da campanha eleitoral e vai culpar o PSD com a história do ‘papão do FMI’. Mas se não for antes, o pedido de resgate será feito a seguir às eleições legislativas, ganhe quem ganhar. Um pobre país, endividado e em recessão, não tem condições de bater as convicções do mercado.
Entretanto, Sócrates aparece neste debate como a vítima da "cobiça" da Oposição. Mas foi precisamente o sentido de "cobiça" e de sobrevivência do primeiro-ministro que o levou a jogar tudo no PEC 4 e a acelerar a crise política. "
Aleluia!
Por Vasco Graça Moura
"Ninguém se lembra de ter visto, nos últimos anos, algumas figuras gradas de extracção socialista a chamarem a atenção do Governo de José Sócrates para as barbaridades que estavam a arrastar Portugal para o abismo e para a irresponsabilidade da governação. Deviam tê-lo feito pelo menos dia sim, dia não, mas não o fizeram.
O país ia-se arruinando, os portugueses iam resvalando para o beco sem saída em que se encontram hoje, o Governo ia garantindo exactamente o contrário daquilo que se estava a passar e dando provas de uma incompetência e de uma desfaçatez absolutamente clamorosas, mas esses vultos tão veneráveis abstinham-se de fazer a crónica dessa morte anunciada, não se mostravam grandemente impressionados com ela e sobretudo não sentiam o imperativo patriótico de porem cá para fora, preto no branco, numa guinada veemente e irrespondível, o que bem lhes podia ter ido na alma e pelos vistos não ia assim tanto.
Devo dizer que não fiquei nada impressionado com os apelos recentes e vibrantes de algumas dessas egrégias personagens, em favor da manutenção do satu quo ante em nome do mesmo interesse nacional que as terá remetido ao mutismo mais prudente sempre que a governação socialista dava mais um passo em frente para estatelar Portugal.
Sou levado a concluir que foram sensíveis, não ao descalabro a que a governação socialista acabou por conduzir o país, mas ao desmoronamento do PS enquanto partido de governo. Não lhes faz impressão nenhuma que Portugal esteja na merda por causa dos socialistas. O que os impressiona deveras é que o PS se arrisque a ficar na merda por causa de tudo o que fez. E então, então sim, apressam-se a invocar alvoroçadamente o interesse nacional, secundados por todo o bicho careta lá do clube que se sinta vocacionado para dar o dito por não dito e o mal feito por não feito e também, está claro, para fazer sistematicamente dos outros parvos.
Tal apelo surge todavia no ensejo menos adequado. Hoje, só faz sentido invocar o interesse nacional para esperar que o PS seja varrido impiedosamente de qualquer lugar de preponderância política e que a ignomínia da governação socialista fique bem à vista para a conveniente edificação das almas."
Via verde para roubar
Por Paulo Morais
"A lei de financiamento de campanhas já favorecia - e de que maneira! - a promiscuidade entre os negócios e a política. Mas a recente decisão do Governo de aumentar os montantes dos ajustes directos permitidos a governantes e autarcas constitui um verdadeiro convite à roubalheira.
A legislação que regulamenta o financiamento partidário, promulgada há escassos meses, veio autorizar donativos em espécie. Os amigalhaços do partido poderão doravante pagar cartazes, umas jantaradas e até financiar umas viagens. Os valores considerados são impossíveis de quantificar e abrem a porta a todo o tipo de troca de favores e tráfico de influências. Porque os financiadores querem obviamente contrapartidas, é até legítimo que assim seja. Mas como os partidos não dispõem de meios próprios, só podem garantir essas contrapartidas com vantagens concedidas à custa de recursos públicos, que assim são desbaratados. No fundo, quem paga esta orgia somos todos nós.
Quando parecia que o cenário já não poderia degradar-se mais, eis o cúmulo dos cúmulos. O Governo aprovou esta semana o decreto-lei que alarga os montantes dos ajustes directos permitidos a governantes e autarcas, garantindo assim aos partidos meios milionários (públicos!) para que estes favoreçam os empresários seus financiadores. Com as novas regras, um director-geral pode autorizar despesas até 750 mil euros, sete vezes mais do que até agora. Um ministro poderá atingir os 5,6 milhões. Um presidente de Câmara poderá autorizar até 900 mil euros, contra os anteriores 150 mil. Um fartar vilanagem! As entidades públicas serão livres de escolher os fornecedores que muito bem entendem, no secretismo dos gabinetes, sem recurso a qualquer concurso público.
Esta recente decisão do Governo, já de si injustificável, revela-se intolerável em véspera de campanha eleitoral. Serve interesses obscuros e aumenta a opacidade. Até às eleições, as aquisições não justificadas, as encomendas de mercadoria inútil, o favorecimento a privados por despacho, não terão conta. Gastar muito, depressa e sem controlo será a regra."
terça-feira, 29 de março de 2011
A coligação que vai voltar a governar o País
Um texto fenomenal de Pedro Tadeu hoje publicado no "Diário de Noticias".
Para ler e reflectir.
"A coligação que vai voltar a governar o País"
"Os problemas dos portugueses vão resolver-se nas próximas eleições? Não. Tudo está a ser construído para que o poder político venha a cair nas mãos de uma coligação de interesses: os dos que defendem o mesmo statu quo que levou o País, desde há 25 anos, a abdicar da sua autonomia económica.
Essa coligação de interesses gastou o dinheiro da CEE em ostentação, em corrupção, em betão, em alcatrão e a financiar endividamento. Esta coligação de interesses pôs cada cidadão produtivo a dever à banca a casa onde mora, o carro com que circula, a TV e o computador onde se diverte.
Esta coligação pôs as empresas a viver da circulação de dinheiro que conseguiam facturar, não do dinheiro que conseguiam efectivamente lucrar, novamente com a banca a servir de suporte a um esquema de financiamento de tipo piramidal, que ela própria praticava, externamente, entrando em zona de risco cujos efeitos estão ainda, se calhar, para chegar.
Esta coligação de interesses transformou o Estado num meio de gestão clientelar para perpetuação no poder das máquinas partidárias com acesso ao Governo e às principais autarquias e, com isso, endividou-o ao nível suicidário.
Um dia alguém tinha de nos cobrar este disparate todo. Ao primeiro abalo sério na economia europeia, Portugal viu-se confrontado com a sua incapacidade de criar riqueza e enfrenta agora uma Europa que, como era inevitável, já não está para ser generosa.
Acusar apenas o PS e José Sócrates - por muito que ele mereça todas as críticas - da situação em que estamos é hipocrisia. A coligação de interesses que ao longo dos anos, apesar de todos os avisos, caminhou sem vacilar para este abismo, incluiu PS, PSD, CDS, os empresários mais destacados, os banqueiros mais relevantes. São estas mesmas pessoas que estão por detrás das alternativas políticas que querem ter, a curto prazo, no novo Governo de Portugal.
Essa coligação de interesses acredita que para resolver o problema basta sacar aos cidadãos, durante meia dúzia de anos, o dinheiro para pagar a falência da sua própria insanidade. Só discute a forma de o fazer, mais ou menos suave, mais ou menos humana...
Esta coligação de interesses não discute que, para além disso e mais do que isso, é preciso repensar a forma como o País vive, trabalha e negoceia, pois o actual modus é trágica e comprovadamente insustentável. Mas como isso é por em causa a sobrevivência da própria coligação de interesses, ela, que se prepara mais uma vez para mudar a cara do poder para assim se perpetuar no poder, não o fará."
segunda-feira, 28 de março de 2011
A farsa continua
Mais um texto do jornalista António Ribeiro Ferreira hoje publicado no "Correio da Manhã":
"A farsa continua"
"A senhora Merkel foi ao Parlamento alemão explicar aos estupefactos deputados que os seus homólogos lusitanos eram uns perfeitos irresponsáveis por terem chumbado o pacote de austeridade do senhor engenheiro relativo.
Já em Bruxelas, exigiu ao PSD/FMI que apresentasse uma alternativa imediatamente. Mal refeito da sova que tinha acabado de levar da chanceler da Alemanha e regente de Portugal, o rapazinho de Massamá que lidera os laranjas balbuciou um aumento do IVA para 25%.
Em Lisboa, um amigo cheio de ideias do economista relativo cada vez mais liberal sugeriu mais um corte de salários e o fim do 13º mês. É neste quadro de miséria que os indígenas desta Pátria pobre e deprimida vão votar nesta negra Primavera. Para ficar tudo exactamente na mesma. Cantando e rindo, a farsa democrática continua. "
domingo, 27 de março de 2011
Sou apartidária
Um texto muito curioso retirado do politicamente insuspeito blogue feminino "a pipoca mais doce".
"Sou apartidária
Serve a afirmação acima para justificar o que vem de seguida e para me pouparem a frases feitas, do género “só dizes isso porque és de direita” ou “só dizes isso porque és de esquerda”, ou ainda um “tu queres é tacho”.
Desde que voto, o meu espectro eleitoral já foi do PSD ao PC.
Mais do que votar em partidos, voto em pessoas, em características, em personalidades.
Inocente?
Talvez, mas cada tem um o seu critério de votação e este é o meu.
Não sinto devoção para com nenhum partido, não acho que só por ser PS ou PSD então é brilhante, não tenho paixão por um partido como tenho por um clube.
E ainda bem, que paixão e política são coisas que não combinam.
Ontem assisti com alguma incredulidade ao discurso de vitimização do PS.
Desde o Kalimero que não via alguém a sentir-se tão injustiçado com a vida.
Cheirou-me a chantagem da grossa, que é coisa que me dá enjoos tão violentos como os que as grávidas devem sentir.
Para o Engº Sócrates e para o PS em geral, agora é que a crise vai começar.
Agora é que o caldo entornou de vez. Agora é que o País vai por água abaixo.
E a culpa é de quem?
Da oposição, claro, esses malandros que lhes tiraram o brinquedo das mãos (e por brinquedo leia-se o poder).
A palavra que mais ouvi ontem foi "responsabilidade".
Mas uma responsabilidade que se sacode para cima dos outros, em vez de se assumir como nossa.
Agora é que a crise vai começar?
Mas, esperem lá, não estávamos já em crise?
Ou tudo correu bem nos últimos anos de governação PS?
Só ontem, depois do chumbo do PEC no Hemiciclo, é que o país entrou em crise?
Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, dizia em entrevista à TSF (com um tom que parecia que ia começar a distribuir tabefes a qualquer altura), que a crise era "totalmente responsabilidade da decisão da oposição em vetar o PEC".
Oi? Perdão?
É que eu ia jurar que já há uns meses (anos?) que andávamos a ouvir falar de crise.
E da possível entrada do FMI.
E das taxas de rating.
E do endividamento.
E dos cortes em tudo e mais alguma coisa.
E por isto tudo, ninguém se responsabiliza?
Quantos mais PECs era suposto a oposição aceitar para evitar o inevitável?
Põe-se o ónus da culpa nos outros, para não termos de dizer que a culpa também é nossa, numa atitude completamente autista.
Senti que me estavam a deitar areia para os olhos, a tratar por estúpida:
"Atenção, portugueses, que a culpa não é nossa que temos estado a governar o País nos últimos seis anos.
Não!
O País vai começar a afundar-se e a culpa é destes senhores da oposição que não nos deixaram continuar a fazer o nosso trabalho, que estava a ser para cima de exemplar!
Um mimo de governação!
Por isso, não vão em cantigas e votem de novo em nós, para podermos continuar o que começámos.".
Ora, ide-vos todos fod*r, sim?
Haja falta de tudo para se vir dizer que estava tudo a correr lindamente, que não ia ser preciso recorrer à ajuda externa, que o País caminhava no bom sentido.
Mas só até ontem, claro, porque agora não há volta a dar.
Foi a oposição, e mais ninguém, que lançou Portugal para o caos, por isso agora aguentem-se à bronca.
Tenho pena que esta tenha sido a forma mais original que o Governo arranjou para tentar sair em alta.
Não saiu.
Fica-se só com a ideia que vivemos num imenso jardim infantil em que se aponta o dedo ao miúdo do lado quando se pergunta quem partiu a jarra.
Mesmo que tenhamos os cacos na mão."
sexta-feira, 25 de março de 2011
É preciso não ter vergonha na tromba!
Noticia hoje publicada em vários jornais:
"Sócrates: "Como foi possível fazerem isto ao País?"
"O primeiro-ministro demissionário disse hoje em Bruxelas que muitas vezes se pergunta "como foi possível" os partidos da oposição "fazerem isto ao País", numa clara referência à reprovação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), facto que precipitou a queda do Governo.
"Era óbvio que a nossa situação ficaria enfraquecida", afirmou José Sócrates, acrescentando que "bastaram 24 horas" para que as agências de notação baixassem a notação da dívida portuguesa."
È preciso não ter mesmo vergonha nenhuma naquela tromba!
quarta-feira, 23 de março de 2011
Afinal foi desta
Finalmente o País respira de alivio.
José Sócrates, o imbecil incompetente e vigarista que, durante seis longos anos, destruiu Portugal foi finalmente forçado a demitir-se.
Cabe agora ao passarão Cavaco Silva convocar eleições e, dentro de alguns meses, a acreditar nas sondagens, lá teremos Passos Coelho e Paulo Portas sentados na cadeira do poder.
Boas noticias?
Nem por isso!
As propostas neoliberais já conhecidas do PSD de Passos Coelho estão muito longe de servirem à maioria do povo mas, pela lei eleitoral, a abstenção não conta e vão ser os votos de uma minoria que darão a vitória a esse partido.
Agora, mais do que nunca, é importante que os cidadãos se mobilizem, não fiquem em casa e, votando em branco, indiquem de modo muito claro que não querem a gentalha dos partidos a governar o País.
Parafraseando um poeta que a dita "esquerda" costuma reclamar como seu, José Régio:
"Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Tudo correndo como previsto, a maioria de esquerda parlamentar não deixará que o PSD leve adiante as reformas que anunciou, privatização da saúde, da educação, de mais empresas publicas e, infelizmente, também mais desemprego e menos apoios sociais.
Resta esperar que os políticos tenham alguma vergonha na cara e não venham com a treta do bloco central, seja qual fôr o nome pomposo que encontrarem para essa aberração.
Para já e como é habitual antes de eleições, vamos assistir ao frenesim da nomeação de mais umas dezenas de energúmenos socialistas para cargos principescamente pagos no aparelho e nas empresas de Estado.
O beneficio imediato para o País foi ver-se livre do pior governante que alguma vez dirigiu Portugal e, para dizer a verdade, venha quem vier, dificilmente fará pior!
Mais uma golpada
Mais um mail que circula na internet a denunciar uma escandalosa situação de roubo e aproveitamento dos dinheiros públicos.
"Mais uma golpada"
"Jorge Viegas Vasconcelos despediu-se da ERSE
É uma golpada com muita classe, e os golpeados somos nós....
Era uma vez um senhor chamado Jorge Viegas Vasconcelos, que era presidente de uma coisa chamada ERSE, ou seja, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, organismo que praticamente ninguém conhece e, dos que conhecem, poucos devem saber para o que serve.
Mas o que sabemos é que o senhor Vasconcelos pediu a demissão do seu cargo porque, segundo consta, queria que os aumentos da electricidade ainda fossem maiores.
Ora, quando alguém se demite do seu emprego, fá-lo por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade empregadora, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios.
Porém, com o senhor Vasconcelos não foi assim.
Na verdade, ele vai para casa com 12 mil euros por mês - ou seja, 2.400 contos - durante o máximo de dois anos, até encontrar um novo emprego.
Aqui, quem me ouve ou lê pergunta, ligeiramente confuso ou perplexo:
«Mas você não disse que o senhor Vasconcelos se despediu?».
E eu respondo:
«Pois disse. Ele demitiu-se, isto é, despediu-se por vontade própria!».
E você volta a questionar-me:
«Então, porque fica o homem a receber os tais 2.400contos por mês, durante dois anos? Qual é, neste país, o trabalhador que se despede e fica a receber seja o que for?».
Se fizermos esta pergunta ao ministério da Economia, ele responderá, como já respondeu, que «o regime aplicado aos membros do conselho de administração da ERSE foi aprovado pela própria ERSE».
E que, «de acordo com artigo 28 dos Estatutos da ERSE, os membros do conselho de administração estão sujeitos ao estatuto do gestor público em tudo o que não resultar desses estatutos».
Ou seja: sempre que os estatutos da ERSE forem mais vantajosos para os seus gestores, o estatuto de gestor público não se aplica.
Dizendo ainda melhor:
O senhor Vasconcelos (que era presidente da ERSE desde a sua fundação) e os seus amigos do conselho de administração, apesar de terem o estatuto de gestores públicos, criaram um esquema ainda mais vantajoso para si próprios, como seja, por exemplo, ficarem com um ordenado milionário quando resolverem demitir-se dos seus cargos. Com a bênção avalizadora, é claro, dos nossos excelsos governantes.
Trata-se, obviamente, de um escândalo, de uma imoralidade sem limites, de uma afronta a milhões de portugueses que sobrevivem com ordenados baixíssimos e subsídios de desemprego miseráveis. Trata-se, em suma, de um desenfreado, e abusivo desavergonhado abocanhar do erário público.
Mas, voltemos à nossa história.
O senhor Vasconcelos recebia 18 mil euros mensais, mais subsídio de férias, subsídio de Natal e ajudas de custo. 18 mil euros seriam mais de 3.600 contos, ou seja, mais de 120 contos por dia, sem incluir os subsídios de férias e Natal e ajudas de custo.
Aqui, uma pergunta se impõe:
Afinal, o que é - e para que serve - a ERSE?
A missão da ERSE consiste em fazer cumprir as disposições legislativas para o sector energético.
E pergunta você, que não é burro:
«Mas para fazer cumprir a lei não bastam os governos, os tribunais, a polícia, etc.?».
Parece que não.
A coisa funciona assim:
Após receber uma reclamação, a ERSE intervém através da mediação e da tentativa de conciliação das partes envolvidas. Antes, o consumidor tem de reclamar junto do prestador de serviço.
Ou seja, a ERSE não serve para nada.
Ou serve apenas para gastar somas astronómicas com os seus administradores.
Aliás, antes da questão dos aumentos da electricidade, quem é que sabia que existia uma coisa chamada ERSE?
Até quando o povo português, cumprindo o seu papel de pachorrento bovino, aguentará tão pesada canga?
E tão descarado gozo?
Politicas à parte estou em crer que perante esta e outras, só falta mesmo manifestarmos a nossa total indignação."
segunda-feira, 21 de março de 2011
Wishful thinking *
Alguém ouviu Sócrates dizer que se demite se a oposição chumbar o famigerado PEC4?
O que o imbecil disse na entrevista à SIC Noticias é que "não teria condições" para apresentar as medidas do pec na cimeira europeia desta semana.
Pressionado pela jornalista lá admitiu que, indo para eleições, ele continuaria a ser o líder do PS e, de novo, concorrer a primeiro-ministro nessa condição.
Em nenhum momento disse que se demitia.
Esta ambiguidade continuou no passado sábado quando Sócrates se dirigiu, no Porto, aos militantes socialistas.
Em vez de apresentar a moção de estratégia que era o tema do encontro, o imbecil passou o tempo a falar dos malandros do PSD. da intransigência do PSD, da agenda do PSD, das intenções do PSD, etc, etc, etc.
De novo, em momento algum disse que se demitia.
Domingo, no final do Conselho de Ministros extraordinário para aprovação do PEC4, Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência e eminência parda por trás de Sócrates, afirmou que o Parlamento decidirá se quer "tirar o tapete ao país e obstruir a acção governativa".
Também em momento algum disse que o governo se demitia se ...
Já na segunda-feira três ministros fizeram declarações sobre o tema.
Luís Amado, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros admitiu que a forma como o PEC 4 foi apresentado não foi a mais correcta e lamentou o modo como o próprio Governo conduziu o processo.
Teixeira dos Santos, ministro das finanças, disse que se o governo se demitisse ele também se demitiria (???)
Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares afirmou que "não pode ser afastado" o cenário da demissão do Governo na sequência de um chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) na Assembleia da República".
E disse mais:
"se (uma maioria) na Assembleia da República recusar o PEC, está criada uma séria dificuldade de governabilidade do país e o senhor primeiro-ministro já explicou que, nessa circunstância, não tem condições para exercer as suas responsabilidades",
Sócrates é mau, mentiroso, vigarista, incompetente, prepotente, arrogante e muitas outras coisas mas, não sendo particularmente inteligente, é extraordinariamente esperto e astuto.
Para além disso, como bom vendedor de "banha da cobra", possui o dom da palavra e ainda consegue convencer e levar muita gente atrás de si.
Alguns comentadores dizem que Sócrates provocou esta crise porque quis, outros dizem que o fez inadvertidamente.
De propósito ou não, Sócrates está já habilmente a jogar para atribuir as culpas da crise a todos e mais alguns, de Passos Coelho a Francisco Louçã, da direita à esquerda e sem esquecer, claro, a maldita crise financeira internacional que o impediu" de governar bem o País.
Num dos muitos artigos hoje publicados sobre este assunto dizia o autor que, segundo Confucio, um "grande homem põe a culpa em si próprio enquanto um homem comum põe as culpas nos outros.
Nos jornais, nas televisões, na comunicação social em geral muitos jornalistas interpretam o cenário de demissão de Sócrates mas a verdade parece ser que ninguém ouviu o imbecil dizer que se demite.
Até que o País o ouça dizer, preto no branco, que se demite, todas as previsões nesse sentido não passam de "Wishful thinking"!
* retirado de http://pt.wikipedia.org
Wishful thinking é uma expressão inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido a ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em factos ou na racionalidade. Pode ser traduzido como optimismo exagerado.
Os PECados originais
Vitor Costa, Subdirector do "Diário Económico", em artigo hoje publicado nesse jornal, faz uma excelente análise da situação politica e económica que se vive no País.
"Os PECados originais"
"Ainda não passaram seis meses, mas Portugal já voltou ao ponto de partida. Tal como em Outubro do ano passado voltamos a um cenário de ameaças à estabilidade política.
Desta vez não é o Orçamento do Estado. É o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC). A versão, dizem ser a IV, mas a contagem não é fácil.
Merece este PEC o apoio dos portugueses e dos partidos com assento parlamentar? Não. E não é só este PEC que merece ser chumbado. É o Governo que merece ser expulso. Até porque se esforçou por o merecer.
Enganou os portugueses. Andou a gritar que éramos os campeões do crescimento, mas em meados do ano passado começou a aumentar impostos. Fez subir o IVA, o IRS e o IRC. Foi mais longe, e depois de já ter aniquilado a esperança dos portugueses apresentou um Orçamento ainda com mais austeridade. Voltou a subir o IVA, o IRS e o IRC e cortou salários na administração pública. Mas dando provas de que pior ainda seria possível propõe-se agora a aumentar novamente os impostos em 2012 e 2013. Desta vez, no entanto, há requintes de malvadez. Já não basta congelar as pensões mais baixas e subir os impostos. José Sócrates consegue penhorar os pensionistas e retirar-lhe parte da pensão que fizeram por merecer ao longo de uma vida de trabalho. É uma espécie de cobrança de dívidas que estes nunca tiveram. A dificuldade está em classificar tamanha coragem para salvar o País.
Mas o PEC IV quando for, ou se chegar a ser apresentado no Parlamento, terá os seus méritos. O primeiro resulta de pôr a nu dois pecados. O primeiro, o original, já vem de 2010.
O Orçamento do Estado para este ano nunca deveria ter sido aprovado apesar da estranha unanimidade entre empresários, banqueiros e economistas que não lhe reconhecendo validade, diziam que era indispensável. Tudo em nome da estabilidade política. Não durou seis meses.
E o Orçamento para 2011 não merecia aprovação porque não passava de um conjunto de medidas que, penalizando fortemente as famílias, deixava o Estado com a mesma gordura e sem melhorar a sua competitividade. Mas também merecia ser chumbado porque tinha a originalidade de apresentar dois cenários macroeconómicos: um, que previa uma recessão que nunca foi inscrita no cenário macroeconómico, e outra, que previa crescimento económico ao bom estilo de um País campeão do crescimento.
E esta farsa no cenário macroeconómico foi o segundo pecado que nos trouxe ao PEC IV. Porque foi aí que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu se agarraram para desmascarar a farsa. E foi aí que se agarraram para obrigar José Sócrates e Teixeira dos Santos a apresentar mais medidas de austeridade.
Agora, no meio do desespero, Sócrates tenta avançar para eleições. Mas para isso terá de apresentar o PEC IV no Parlamento. Imagine-se, com um novo cenário macro. Agora já corrigido à partida por Bruxelas e Frankfurt. Ficará a nu o segundo pecado: Portugal não só está em recessão como a quebra da economia será forte.
Num País onde parece valer tudo fica, ainda assim, a dúvida: revelará José Sócrates a mesma coragem que tem perante os pensionistas e irá ignorar Bruxelas e o BCE? "
Quem é o culpado?
Um texto muito certeiro de Fernando Sobral hoje publicado no "jornal e negócios".
"Quem é o culpado?
Em Portugal não se buscam culpados. Tentam encontrar-se desculpas. A desculpabilização tornou-se a nossa crise política permanente.
Enquanto a intriga alastra como ideologia nacional, as culpas expiam-se culpando os outros. José Sócrates, nisso, é um actor perfeito. Se aparecesse num programa de Oprah Winfrey sairia de lá em ombros. O problema é que vivemos em Portugal e num momento especialmente grave. Sócrates já culpou tudo o que move e o que está nas sombras do mal que vai torrando, em fogo lento, os portugueses. Ora são os mercados, ora a oposição. Confúcio sabia responder a isto: "o homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros". A política é um excelente palco para que cada um passe a culpa para os outros. Sócrates passa a culpa para Passos Coelhos e este devolve-a a Sócrates. E Cavaco Silva, que não tem a certeza que deva actuar para que o Governo caia, também quer ficar com as mãos limpas. Para não ficar com a culpa de ter provocado a tempestade. Passos Coelho que avance, se tiver coragem. A classe política portuguesa está mais interessada em não ter culpas do que em tomar decisões claras e incisivas. Quando em política ninguém quer ter a culpa entramos na indiferença geral. Isto enquanto o País vai sendo castigado. A culpa maior está no egoísmo da nossa elite, que afasta como pingos de água indesejáveis as suas sucessivas decisões erradas. A culpa política não se cura com aspirina. Nem com ansiolíticos. E o País também não deixa de estar doente com esta dança da chuva em que cada político procura uma desculpa para tudo o que faz. Ou não."
Só mudam as moscas
Mais um texto de António Ribeiro Ferreira hoje publicado no "Correio da Manhã".
"Só mudam as moscas
Parece que é desta. A Pátria vai mesmo para eleições nesta Primavera de 2011. E já não há pachorra para discutir ónus e outras coisas mais. Os indígenas lá vão, a rir ou a chorar, à rasca ou à rasquinha, depositar os seus votos nas urnas.
E aí, sim, veremos se este povinho, que anda a ser enganado há mais de trinta anos, aprendeu a lição. Bem podem gritar cobras e lagartos contra o senhor engenheiro relativo. A verdade é que a alternativa anunciada, a do economista relativo cada vez mais liberal que lidera o PSD, é feita da mesma massa. E com FMI ou sem FMI, a vidinha vai continuar a andar para trás. Não há Virgem de Fátima que acuda esta terrinha de Santa Maria. Com rosas ou laranjas no poder a encharcar o Estado com os seus boys e girls, a porcaria é e será sempre a mesma. Só mudam as moscas."
sexta-feira, 18 de março de 2011
Os PECados originais
Um excelente texto hoje publicado no "Diário Económico" pelo seu Subdirector Vitor Costa
"Ainda não passaram seis meses, mas Portugal já voltou ao ponto de partida. Tal como em Outubro do ano passado voltamos a um cenário de ameaças à estabilidade política.
Desta vez não é o Orçamento do Estado. É o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC). A versão, dizem ser a IV, mas a contagem não é fácil.
Merece este PEC o apoio dos portugueses e dos partidos com assento parlamentar? Não. E não é só este PEC que merece ser chumbado. É o Governo que merece ser expulso. Até porque se esforçou por o merecer.
Enganou os portugueses. Andou a gritar que éramos os campeões do crescimento, mas em meados do ano passado começou a aumentar impostos. Fez subir o IVA, o IRS e o IRC. Foi mais longe, e depois de já ter aniquilado a esperança dos portugueses apresentou um Orçamento ainda com mais austeridade. Voltou a subir o IVA, o IRS e o IRC e cortou salários na administração pública. Mas dando provas de que pior ainda seria possível propõe-se agora a aumentar novamente os impostos em 2012 e 2013. Desta vez, no entanto, há requintes de malvadez. Já não basta congelar as pensões mais baixas e subir os impostos. José Sócrates consegue penhorar os pensionistas e retirar-lhe parte da pensão que fizeram por merecer ao longo de uma vida de trabalho. É uma espécie de cobrança de dívidas que estes nunca tiveram. A dificuldade está em classificar tamanha coragem para salvar o País.
Mas o PEC IV quando for, ou se chegar a ser apresentado no Parlamento, terá os seus méritos. O primeiro resulta de pôr a nu dois pecados. O primeiro, o original, já vem de 2010.
O Orçamento do Estado para este ano nunca deveria ter sido aprovado apesar da estranha unanimidade entre empresários, banqueiros e economistas que não lhe reconhecendo validade, diziam que era indispensável. Tudo em nome da estabilidade política. Não durou seis meses.
E o Orçamento para 2011 não merecia aprovação porque não passava de um conjunto de medidas que, penalizando fortemente as famílias, deixava o Estado com a mesma gordura e sem melhorar a sua competitividade. Mas também merecia ser chumbado porque tinha a originalidade de apresentar dois cenários macroeconómicos: um, que previa uma recessão que nunca foi inscrita no cenário macroeconómico, e outra, que previa crescimento económico ao bom estilo de um País campeão do crescimento.
E esta farsa no cenário macroeconómico foi o segundo pecado que nos trouxe ao PEC IV. Porque foi aí que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu se agarraram para desmascarar a farsa. E foi aí que se agarraram para obrigar José Sócrates e Teixeira dos Santos a apresentar mais medidas de austeridade.
Agora, no meio do desespero, Sócrates tenta avançar para eleições. Mas para isso terá de apresentar o PEC IV no Parlamento. Imagine-se, com um novo cenário macro. Agora já corrigido à partida por Bruxelas e Frankfurt. Ficará a nu o segundo pecado: Portugal não só está em recessão como a quebra da economia será forte.
Num País onde parece valer tudo fica, ainda assim, a dúvida: revelará José Sócrates a mesma coragem que tem perante os pensionistas e irá ignorar Bruxelas e o BCE? "
A ver vamos
Texto de Constança Cunha e Sá hoje publicado no Correio da Manhã
"Como se tem visto, nos últimos dias, mais importante do que uma crise política é saber quem fica com o "ónus" de a ter desencadeado.
Este pequeno teatro, a que o Governo e o PSD se entregam com particular esmero, sendo um passatempo táctico de gosto duvidoso, não deixa de mostrar o beco sem saída em que nos encontramos, sem líderes partidários à altura das circunstâncias. Em nome do "ónus", ensaiam-se cedências de última hora, anunciam-se posições das quais não se tiram as devidas consequências e tenta-se habilidosamente empurrar para o Presidente da República as responsabilidades que os partidos se recusam a assumir.
O engº Sócrates pode ter – e tem – atrás de si seis anos de erros e malabarismos que levaram o País à situação em que este se encontra. O PSD, em contrapartida, por força do seu passado recente, não tem, neste momento, nada de relevante que possa oferecer no futuro. O partido é omisso em propostas, não tem posições claras sobre aspectos essenciais da governação e não se lhe ouve uma palavra sobre as negociações com Bruxelas.
É neste contexto, de descrença generalizada, que o engº Sócrates, engalanado com os elogios da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, avança com o seu quarto PEC em nome do superior interesse nacional, sem se ter dado ao trabalho de informar o Presidente da República ou de negociar com o maior partido da oposição o que estava a ser acordado em Bruxelas. O resultado desta subtil estratégia, que deixa o PSD sem qualquer margem para apoiar as medidas apresentadas, leva inevitavelmente à abertura de uma crise política, como o primeiro--ministro não pode ter deixado de compreender. De regresso a Portugal, o engº Sócrates tratou de definir o seu guião e de fugir ao "ónus" que lhe podia cair em cima: as medidas transformaram-se em propostas que podem ser negociadas e o chumbo deste novo pacote de austeridade levará à intervenção do FMI e a medidas ainda mais duras do que as que já foram anunciadas.
Que tem o PSD a dizer sobre isto? Que o Governo falhou no essencial e que, pelo caminho, deixou de merecer a confiança dos portugueses. Uma apreciação que não o leva a apresentar uma moção de censura, como seria natural, porque obviamente o "ónus" tem de ficar colado ao Governo. A gestão do "ónus", mais do que um passatempo inútil, é a prova de que, em caso de eleições, nada está decidido à partida. Parecem pois francamente exageradas as festas que se vão realizando, um pouco por toda a parte, a celebrar a morte política do engº Sócrates. A ver vamos."
terça-feira, 15 de março de 2011
Uma questão de carácter (ou falta de)
Em apenas cinco dias a classe politica mostrou aos portugueses e ao mundo a sua falta de carácter.
Sexta-feira, 11 de Março
O ministro das finanças, Teixeira dos Santos, dá uma conferência de imprensa para divulgar uma lista de novas e ainda mais gravosas medidas de austeridade ao mesmo tempo que o primeiro-ministro José Sócrates as apresenta em Bruxelas à comissão europeia sendo, obviamente, elogiado pelos dirigentes europeus.
Medidas que não só representam mais um aumento de impostos como atacam agora os reformados e os pensionistas, mesmo os desgraçados que recebem as pensões mínimas de miséria e que seriam congeladas por mais três anos.
Mais tarde, nesse mesmo dia, ficou o País a saber que as ditas medidas foram preparadas em segredo em conjunto com burocratas europeus durante um par de semanas e que Sócrates não se dignou dar conhecimento delas a ninguém, nem a vários membros do seu (des)governo, nem aos deputados socialistas, nem à oposição, nem ao Presidente da Republica.
Nessa mesma noite e com a indignação proveniente da confiança traída, Passos Coelho, presidente do PSD, fala em directo à comunicação social, já depois da meia-noite e, com ar grave e solene anuncia que "o PSD não vai viabilizar as novas medidas de austeridade propostas pelo governo!"
Naturalmente que, estupefactos, os jornalistas procuram que Passos Coelho esclareça melhor as suas ideias, se o partido vai apresentar uma moção de censura ao que ele volta a responder com o elucidativo "o PSD não vai viabilizar as novas medidas de austeridade propostas pelo governo!" e volta a insistir que o governo tem todas as condições para governar.
Sábado, 12 de Março
Em 11 cidades portuguesas, com destaque para Lisboa e Porto, centenas de milhar de pessoas vieram para a rua manifestar-se contra a classe politica partidária e contra as politicas erradas que estão destruir o País e atirar o povo para a miséria.
Partindo das redes sociais da internet, a manifestação foi pacifica, apartidária e extravasou o objectivo inicial de protesto da "geração à rasca" já que pessoas de todas as idades e de todas as condições sociais vieram para a rua mostrar o seu descontentamento, o seu desagrado com o que se está a passar no País.
A comunicação social deu ampla cobertura às manifestações e ninguém, em Portugal, pode desmentir o significado do que se passou.
Segunda-feira, 14 de Março
Sem duvida muito "surpreso" com o coro de protestos não só contra as suas novas medidas de austeridade mas também contra a forma como foram preparadas em segredo e apresentadas como "facto consumado", Sócrates convoca a comunicação social para fazer uma comunicação ao Pais.
O que os portugueses então esperavam de quem deveria ter um mínimo de carácter era que, face à contestação popular e às movimentações da oposição, Sócrates apresentasse a sua demissão e do (des)governo que chefia.
Tinha então as desculpas perfeitas para o fazer, até porque poderia usar à exaustão o truque da vitimização de que tanto gosta.
Que ninguém o compreende, que a oposição é formada por uma cambada de malandros que só quer é ir para o poder e que só ele luta sozinho para defender o País e que só os dirigentes europeus (e alemães) é que lhe dão o justo valor.
Com estupefacção todos ouvimos, da boca de Sócrates, um novo rol de mentiras, falsidades e desculpas esfarrapadas que não convenceram ninguém, nem sequer os próprios socialistas que tanto o defendem.
Para Sócrates a escolha do País é entre ele e o abismo.
Nessa mesma noite e em resposta o PSD, pela voz do seu secretário-geral Miguel Relvas, renovou as críticas ao primeiro-ministro e garante que não vai votar a favor as medidas apresentadas em Bruxelas insistindo que "sabe o governo que não pode contar com o PSD para continuar a pedir sacrifícios aos portugueses, sem assumir o seu falhanço",
Novamente questionado sobre uma eventual moção de censura, Miguel Relvas apenas volta a insistir que o seu partido não vai aprovar as novas medidas de austeridade.
Terça-feira, 15 de Março
Moção de censura para cá, moção de censura para lá, um dos vice-presidentes do PSd é visto na televisão a confessar que o partido ainda não censurou o governo porque ainda não teve condições para o fazer, seja o que for que isso queira dizer.
Ao fim da tarde e em directo da sede do PSD, Miguel Relvas volta a insistir na não aprovação das medidas de austeridade dizendo ainda que o PSD não está "disponível para ceder a ultimatos do governo".
Sobre moção de censura ... nada!
Em resposta e também em directo na televisão, Fernando Medina, porta voz do governo, vem de novo afirmar a surpresa pelas criticas que todos estão a fazer às medidas e à forma como foram apresentadas, já que todos sabem quais as regras a seguir por "fazermos parte da união europeia".
Para este esclarecido o que interessa "não é discutir a forma mas o conteúdo" (????).
Já à noite foi a vez de Sócrates, em entrevista na SIC Noticias, dizer que se a oposição chumbar este "PEC 4", o governo não terá legitimidade para ir apresentar essas medidas na cimeira europeia,
Muito a custo a entrevistadora, Ana Lourenço, lá conseguiu que Sócrates admitisse que caso se fosse para eleições antecipadas ele voltaria a "lutar" pelo partido socialista. No entanto não esclareceu se se demite ou se espera que o demitam.
Durante a entrevista teve tempo para lançar algumas das suas pérolas de demagogia:
- "Estou há seus meses a lutar pela credibilidade do País"
- "Ou eu ou o FMI"
- "Tudo farei para evitar uma crise politica"
- "Não estou apegado ao poder"
Esta sequência de acontecimentos mostra bem o carácter, ou falta dele, dos políticos que nos governam e dos que nos querem governar.
O interesse nacional fica relegado para segundo plano, com o interesse partidário e o controle do poder a ser o objectivo primordial desta gente.
O folhetim vai continuar nos próximos dias, ora ataca um, ora defende o outro e, pelo meio, o País vai ficando mais pobre.
Acorda, POVO, já não há pachorra para os aturar!
segunda-feira, 14 de março de 2011
Está lélé da cuca
O "Correio da Manhã" publica hoje um texto engraçado do jornalista António Ribeiro Ferreira.
"Está lélé da cuca"
"Duzentos mil indígenas protestaram em Lisboa. Oitenta mil no Porto. E mais uns milhares em diversas cidades da Pátria. Novos, velhos e de meia-idade. Pobres, remediados, bem instalados na vida, empregados e sem trabalho. Precários e seguros. Unidos contra uma classe política caduca, cega, surda e muda, agarrada a um regime falido e sem qualquer futuro.
É natural por isso mesmo que os líderes dos partidos tenham andado longe das manifestações. Prudentemente, limitaram-se a fazer uns comentários vagos de simpatia pela gentinha que está cada vez mais à rasca. A excepção, como não podia deixar de ser, foi o senhor engenheiro relativo. Puxou dos galões e enumerou as medidas que tinha aprovado a pensar nos jovens. Divórcios, casamentos gay, abortos e mudanças de sexo. Definitivamente, o homem está lelé da cuca. "
sábado, 12 de março de 2011
O povo acordou?
12 de Março de 2011 fica para a história como o dia em que o povo acordou?
Em Lisboa, Porto e noutras nove cidades do Pais, centenas de milhares de pessoas vieram para a rua em protesto contra a classe politica.
A partir de uma iniciativa de jovens no facebook para protestar contra o emprego precário ou contra o desemprego, rapidamente o protesto extravasou o objectivo inicial e pessoas de todas as idades vieram para a rua para dar voz à sua indignação.
Os cartazes visíveis na Avenida da Liberdade, em Lisboa, eram bem demonstrativos da revolta que o povo sente em relação à politica partidária e aos políticos que levaram o Pais à ruína ao mesmo tempo que, delapidando a economia nacional, encheram os bolsos com fortunas de difícil explicação.
Também os gritos e as palavras de ordem se fizeram ouvir, desde o velho "o povo unido jamais será vencido" até um muito significativo "E o povo, pá?".
Tunísia, Egipto, Líbia e outros países árabes mostraram como as novas gerações conseguem promover as suas causas e a contestação popular nas modernas redes sociais da internet.
Pois bem, parece que o mesmo aconteceu hoje em Portugal.
Resta saber se a classe politica será capaz de entender o que hoje aconteceu e daí tirar as devidas ilações.
Será que, parafraseando o filme "A mosca" (1986), é caso para lhes recomendar "Be afraid. Be very afraid" ?
sexta-feira, 11 de março de 2011
A mediocridade dos políticos
O "jornal de negocios" publica hoje uma muito interessante reflexão de Fernando Braga de Matos* sobre a politica partidária em Portugal.
"A mediocridade dos políticos"
"(Onde o autor, membro de um país à rasca - não há exclusivos para a juventude - e à espera de regeneração, lembra que com sistema partidocrático e vencimentos medíocres obtêm-se políticos medíocres e, portanto, extremamente caros).
Quem não quereria ter uma elite nos órgãos públicos eleitos ou de nomeação política? A dita boa governança só acontece com métodos e princípios superiores, mas, se os agentes responsáveis não forem em conformidade, o resultado só pode ser negativo.
O estado catatónico a que chegamos tem aí uma das principais razões, conclusão muito pouco arriscada quanto mais não seja por exclusão de partes. O regime socialista de Estado excessivo e despesa a eito , pode explicar muita coisa, mas sem os políticos que lhe dão expressão não chegaria a este ponto. De resto, desde o 25 de Abril, fazendo 'pé sanga' no PREC e na Grande recessão, tudo correu bem, com inundações de fundos de coesão, alargamento de mercados, moeda sólida e juros baixos, oportunidades únicas que já não voltam. Mas com esta gente…
E como se atraem para a política os melhores valores? As motivações para a função são conhecidas: ideologia, vontade de serviço público, interesse em sobressair e exercer poder, remuneração atraente. No sistema constitucional, legal e prático que temos, a predominância dos partidos funciona como método de estiolar o talento e cativar a subserviência, ao mesmo tempo que captura o Estado e as suas ramificações nas empresas públicas e de prático monopólio.
Não se entra nas listas para o Parlamento a não ser dentro dos partidos e com beneplácito das chefias e a recompensa vai para a fidelidade e militância, preterindo a diferença, a ousadia e o mérito. Claro que nem todas as velas desta igreja ficam apagadas, mas que o incentivo para os melhores se desvanece, isso é incontestável, como se se tivesse descoberto uma rede donde foge o peixe mais valioso. Não se entra nas empresas do Estado ou de sua influência sem cartão do clube político e chega a ser deprimente como os partidos predominantes, principalmente o que está no poder há 15 anos menos 3, põem e dispõem sobre as nomeações, que até escorrem para os postos intermediários e menores. Há dias o presidente da Câmara de Guimarães vituperava a socialista presidente da "Capital Europeia da Cultura" por esta, pessoa aliás talentosa, ter contratado um também talentoso economista simpatizante do PSD!
Este autarca cometeu o erro de falar, ainda por cima achando desejável o sistema de designação por "boys", na expressão celebrizada por Guterres; agora imaginem o que não se passa pela calada. E ainda ficam postos de duplicação que servem para recompensa partidária, como os famosos governadores civis, ou as nomeações políticas para as direcções-gerais. É um Estado enorme que fica aguilhoado e incrustado de parasitas e lapas difíceis de extrair e, assim é seguro que de permanente só vamos ter a crise.
Por outro lado, uma motivação a todos dirigida está na remuneração, e esta , possivelmente, é das poucas que residualmente ficam entre as que citei acima, numa época em que os "ismos" quase desapareceram e o dever público é para candidatos à santidade. Então, com grande sentido de inoportunidade, sustento que os pobres dos políticos são claramente mal pagos se se lhes pede qualidade pessoal, integridade exemplar e resultados eficazes, e que, como se colhe o que se semeia, não teremos que nos queixar. Não vejo como se vai atrair sistematicamente para os mais altos cargos a nata profissional ou empresarial sem uma remuneração pelo menos aproximada ao que o mercado ou a carreira pagam ou pode vir a pagar no percurso da vida. Até dou de barato que essa gente tem paciência para se sujeitar à mais absoluta devassa, crítica acrítica e defensordemourismo, e que no pagamento não haveria por isso de se incluir um prémio .
Ora, a não ser eliminando o monopólio partidário absoluto e promovendo o pagamento generoso e transparente dos agentes políticos, estaremos continuadamente a incluir na carruagem da governação a incompetência, a corrupção, o nepotismo, a obscuridade dos interesses. O regime está a definhar e a morrer, já não há eleições que lhe valham dentro deste quadro, e coisas como estas são apenas pequenas partículas no caminho para a regeneração da república democrática."
* Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
O "passarão" falou
Esta foi uma semana recheada de acontecimentos politicos.
Na quarta-feira foi a tomada de posse de Cavaco Silva para o seu segundo mandato como presidente da Republica.
No seu discurso fez uma análise da grave situação económica e social do País pondo as culpas em Sócrates e no seu (des)governo socialista.
Curiosamente esqueceu-se de referir que, enquanto primeiro-ministro, fez muito do que agora diz estar mal, desde o esbanjar de fundos europeus até à nomeação de PSDs para cargos na administração e nas empresas publicas.
Cavaco falou e os comentadores do costume logo se apressaram a "analisar" as suas palavras, o que quis dizer, o que não disse, o que vai dizer a seguir, etc, etc, etc.
Cavaco foi eleito por menos de um quarto dos eleitores e não é a absurda lei eleitoral que faz dele o "presidente de todos os portugueses".
Desenganem-se os que esperam que Cavaco tome uma atitude e demita o governo.
A verdade é que Portugal corre o risco de ter de aguentar com Sócrates até ao fim de mandato em 2013 já que o PSD joga ao "toque e foge" com o PS.
Ora o governo não serve, ora tem todas as condições para governar.
Ora as politicas do governo são erradas ora está a trabalhar para reduzir o défice.
Quinta-feira discutiu-se no parlamento a moção de censura do bloco de esquerda ao governo.
Como o PSD e o CDS se abstiveram na votação a moção foi chumbada pelos votos dos socialistas.
Assim não vamos a lado nenhum.
Passos Coelho pode não ter coragem para assumir responsabilidades ou não o fazer por estar à espera que Sócrates caia de maduro e que o poder lhe caia no colo, de preferência com maioria absoluta.
É exactamente para não terem essa maioria que é necessário ir para eleições já.
De acordo com as sondagens o PSD teria apenas maioria relativa para formar governo o que seria benéfico para o País dadas as propostas para o programa eleitoral do partido que foram tornadas publicas na quinta-feira.
Privatização de hospitais e de escolas, privatização de empresas estatais que dão lucro como os CTT, a Ana, etc, e alteração da lei laboral para facilitar despedimentos.
As propostas apresentadas retratam uma visão liberal para a revitalização da economia, assente em eixos como uma significativa redução do peso do Estado e de uma política fiscal muito atractiva para grandes empresas.
Já o povo ... !
Chegamos então a sexta-feira para ouvir o ministro das finanças anunciar ainda mais medidas de austeridade, a começar pelo congelamento das pensões e pela aplicação de uma "contribuição especial" para as reformas acima de 1.500 euros.
Facto muito, mesmo muito curioso:
Angela Merkel, a chanceler alemã que manda na Europa apressou-se a elogiar as medidas enunciadas, assim como Durão Barroso também o fez.
Foi, realmente, uma semana em cheio.
Foi a semana em que o "passarão" falou e o povo português finalmente percebeu que está em maus lençóis com os políticos,
quarta-feira, 9 de março de 2011
O sufoco em que vivemos
Texto de Baptista-Bastos hoje publicado no "Diário de Noticias"
"A atmosfera no PSD está, verificadamente, inquinada. Alguns dos seus corifeus fazem declarações beligerantes, cujo alvo é, dizem, a "inacção" e a "excessiva prudência" de Pedro Passos Coelho. E nomeia-se Rui Rio como o homem azado para o momento azarado. Por outro lado, as sondagens não são propícias à sede de poder de muitos daqueles que vivem da ambiguidade da dádiva prestada pela política. Não é o problema português a dominar as preocupações de grupo. O que os move é a dependência pessoal, os interesses dos beneficiados pelos partidos de poder.
O PSD existe numa espécie de não-pertença. Criou um ambiente que incita à criação de grupos e que favorece, conscientemente ou não, a intriga e o confronto surdo. A lógica relacional, a construção de uma ideologia comum, que sempre configurou a ideia de "partido" não existe no PSD. As perseguições, a mordacidade com que uns acusam outros, o desfasamento doutrinário, caracterizam-no. E, em períodos difíceis, como este, de agora, as malformações emergem.
No PS, apesar das malfeitorias praticadas com displicente desdém, Sócrates é incensado. Levou o País ao desespero, quebrou numerosos laços sociais, exerceu retaliações impensáveis, mas continua a ser "o" secretário-geral. Como estes socialistas são difíceis de entender, quem desvendar o mistério que explique. Adicione-se, ainda, que as sondagens, percentualmente, dão Sócrates com escassa desvantagem de Passos Coelho.
Estaremos condenados a não nos emancipar deste pesadelo político? O regime da crise do elo social, de que falaram, entre outros, Alain Badiou e Tony Judt, comporta em si uma violência e uma bestialidade infamantes. São as normas e as esquadrias do neoliberalismo. O neoliberalismo introduziu, nas nossas sociedades, formas de orquestração dos nossos próprios sentimentos. Tanto o PS quanto o PSD corromperam parte substancial da nossa dignidade, não apenas com actos e decisões horríveis, mas, também, através de torpes exemplos.
A sociedade portuguesa está social, moral e politicamente doente. Todos o dizemos. Contudo, somos incapazes de sacudir o jugo desta subordinação escatológica. Para nos libertar do sufoco, os partidos à esquerda do PS (falo do PCP e do Bloco), sem abandonarem as suas diferenças fundamentais, têm de assumir as graves responsabilidades do poder. Protestar não chega. E parece-me extremamente fácil o acantonamento na "fortaleza cercada", enquanto cá fora as grandes lutas (e as grandes contradições decorrentes dessas lutas) continuam com objectivos cada vez mais vagos e cada vez mais perigosos."