Em apenas cinco dias a classe politica mostrou aos portugueses e ao mundo a sua falta de carácter.
Sexta-feira, 11 de Março
O ministro das finanças, Teixeira dos Santos, dá uma conferência de imprensa para divulgar uma lista de novas e ainda mais gravosas medidas de austeridade ao mesmo tempo que o primeiro-ministro José Sócrates as apresenta em Bruxelas à comissão europeia sendo, obviamente, elogiado pelos dirigentes europeus.
Medidas que não só representam mais um aumento de impostos como atacam agora os reformados e os pensionistas, mesmo os desgraçados que recebem as pensões mínimas de miséria e que seriam congeladas por mais três anos.
Mais tarde, nesse mesmo dia, ficou o País a saber que as ditas medidas foram preparadas em segredo em conjunto com burocratas europeus durante um par de semanas e que Sócrates não se dignou dar conhecimento delas a ninguém, nem a vários membros do seu (des)governo, nem aos deputados socialistas, nem à oposição, nem ao Presidente da Republica.
Nessa mesma noite e com a indignação proveniente da confiança traída, Passos Coelho, presidente do PSD, fala em directo à comunicação social, já depois da meia-noite e, com ar grave e solene anuncia que "o PSD não vai viabilizar as novas medidas de austeridade propostas pelo governo!"
Naturalmente que, estupefactos, os jornalistas procuram que Passos Coelho esclareça melhor as suas ideias, se o partido vai apresentar uma moção de censura ao que ele volta a responder com o elucidativo "o PSD não vai viabilizar as novas medidas de austeridade propostas pelo governo!" e volta a insistir que o governo tem todas as condições para governar.
Sábado, 12 de Março
Em 11 cidades portuguesas, com destaque para Lisboa e Porto, centenas de milhar de pessoas vieram para a rua manifestar-se contra a classe politica partidária e contra as politicas erradas que estão destruir o País e atirar o povo para a miséria.
Partindo das redes sociais da internet, a manifestação foi pacifica, apartidária e extravasou o objectivo inicial de protesto da "geração à rasca" já que pessoas de todas as idades e de todas as condições sociais vieram para a rua mostrar o seu descontentamento, o seu desagrado com o que se está a passar no País.
A comunicação social deu ampla cobertura às manifestações e ninguém, em Portugal, pode desmentir o significado do que se passou.
Segunda-feira, 14 de Março
Sem duvida muito "surpreso" com o coro de protestos não só contra as suas novas medidas de austeridade mas também contra a forma como foram preparadas em segredo e apresentadas como "facto consumado", Sócrates convoca a comunicação social para fazer uma comunicação ao Pais.
O que os portugueses então esperavam de quem deveria ter um mínimo de carácter era que, face à contestação popular e às movimentações da oposição, Sócrates apresentasse a sua demissão e do (des)governo que chefia.
Tinha então as desculpas perfeitas para o fazer, até porque poderia usar à exaustão o truque da vitimização de que tanto gosta.
Que ninguém o compreende, que a oposição é formada por uma cambada de malandros que só quer é ir para o poder e que só ele luta sozinho para defender o País e que só os dirigentes europeus (e alemães) é que lhe dão o justo valor.
Com estupefacção todos ouvimos, da boca de Sócrates, um novo rol de mentiras, falsidades e desculpas esfarrapadas que não convenceram ninguém, nem sequer os próprios socialistas que tanto o defendem.
Para Sócrates a escolha do País é entre ele e o abismo.
Nessa mesma noite e em resposta o PSD, pela voz do seu secretário-geral Miguel Relvas, renovou as críticas ao primeiro-ministro e garante que não vai votar a favor as medidas apresentadas em Bruxelas insistindo que "sabe o governo que não pode contar com o PSD para continuar a pedir sacrifícios aos portugueses, sem assumir o seu falhanço",
Novamente questionado sobre uma eventual moção de censura, Miguel Relvas apenas volta a insistir que o seu partido não vai aprovar as novas medidas de austeridade.
Terça-feira, 15 de Março
Moção de censura para cá, moção de censura para lá, um dos vice-presidentes do PSd é visto na televisão a confessar que o partido ainda não censurou o governo porque ainda não teve condições para o fazer, seja o que for que isso queira dizer.
Ao fim da tarde e em directo da sede do PSD, Miguel Relvas volta a insistir na não aprovação das medidas de austeridade dizendo ainda que o PSD não está "disponível para ceder a ultimatos do governo".
Sobre moção de censura ... nada!
Em resposta e também em directo na televisão, Fernando Medina, porta voz do governo, vem de novo afirmar a surpresa pelas criticas que todos estão a fazer às medidas e à forma como foram apresentadas, já que todos sabem quais as regras a seguir por "fazermos parte da união europeia".
Para este esclarecido o que interessa "não é discutir a forma mas o conteúdo" (????).
Já à noite foi a vez de Sócrates, em entrevista na SIC Noticias, dizer que se a oposição chumbar este "PEC 4", o governo não terá legitimidade para ir apresentar essas medidas na cimeira europeia,
Muito a custo a entrevistadora, Ana Lourenço, lá conseguiu que Sócrates admitisse que caso se fosse para eleições antecipadas ele voltaria a "lutar" pelo partido socialista. No entanto não esclareceu se se demite ou se espera que o demitam.
Durante a entrevista teve tempo para lançar algumas das suas pérolas de demagogia:
- "Estou há seus meses a lutar pela credibilidade do País"
- "Ou eu ou o FMI"
- "Tudo farei para evitar uma crise politica"
- "Não estou apegado ao poder"
Esta sequência de acontecimentos mostra bem o carácter, ou falta dele, dos políticos que nos governam e dos que nos querem governar.
O interesse nacional fica relegado para segundo plano, com o interesse partidário e o controle do poder a ser o objectivo primordial desta gente.
O folhetim vai continuar nos próximos dias, ora ataca um, ora defende o outro e, pelo meio, o País vai ficando mais pobre.
Acorda, POVO, já não há pachorra para os aturar!
terça-feira, 15 de março de 2011
Uma questão de carácter (ou falta de)
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