Texto de Constança Cunha e Sá hoje publicado no Correio da Manhã
"Como se tem visto, nos últimos dias, mais importante do que uma crise política é saber quem fica com o "ónus" de a ter desencadeado.
Este pequeno teatro, a que o Governo e o PSD se entregam com particular esmero, sendo um passatempo táctico de gosto duvidoso, não deixa de mostrar o beco sem saída em que nos encontramos, sem líderes partidários à altura das circunstâncias. Em nome do "ónus", ensaiam-se cedências de última hora, anunciam-se posições das quais não se tiram as devidas consequências e tenta-se habilidosamente empurrar para o Presidente da República as responsabilidades que os partidos se recusam a assumir.
O engº Sócrates pode ter – e tem – atrás de si seis anos de erros e malabarismos que levaram o País à situação em que este se encontra. O PSD, em contrapartida, por força do seu passado recente, não tem, neste momento, nada de relevante que possa oferecer no futuro. O partido é omisso em propostas, não tem posições claras sobre aspectos essenciais da governação e não se lhe ouve uma palavra sobre as negociações com Bruxelas.
É neste contexto, de descrença generalizada, que o engº Sócrates, engalanado com os elogios da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, avança com o seu quarto PEC em nome do superior interesse nacional, sem se ter dado ao trabalho de informar o Presidente da República ou de negociar com o maior partido da oposição o que estava a ser acordado em Bruxelas. O resultado desta subtil estratégia, que deixa o PSD sem qualquer margem para apoiar as medidas apresentadas, leva inevitavelmente à abertura de uma crise política, como o primeiro--ministro não pode ter deixado de compreender. De regresso a Portugal, o engº Sócrates tratou de definir o seu guião e de fugir ao "ónus" que lhe podia cair em cima: as medidas transformaram-se em propostas que podem ser negociadas e o chumbo deste novo pacote de austeridade levará à intervenção do FMI e a medidas ainda mais duras do que as que já foram anunciadas.
Que tem o PSD a dizer sobre isto? Que o Governo falhou no essencial e que, pelo caminho, deixou de merecer a confiança dos portugueses. Uma apreciação que não o leva a apresentar uma moção de censura, como seria natural, porque obviamente o "ónus" tem de ficar colado ao Governo. A gestão do "ónus", mais do que um passatempo inútil, é a prova de que, em caso de eleições, nada está decidido à partida. Parecem pois francamente exageradas as festas que se vão realizando, um pouco por toda a parte, a celebrar a morte política do engº Sócrates. A ver vamos."
sexta-feira, 18 de março de 2011
A ver vamos
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