Um texto muito certeiro de Fernando Sobral hoje publicado no "jornal e negócios".
"Quem é o culpado?
Em Portugal não se buscam culpados. Tentam encontrar-se desculpas. A desculpabilização tornou-se a nossa crise política permanente.
Enquanto a intriga alastra como ideologia nacional, as culpas expiam-se culpando os outros. José Sócrates, nisso, é um actor perfeito. Se aparecesse num programa de Oprah Winfrey sairia de lá em ombros. O problema é que vivemos em Portugal e num momento especialmente grave. Sócrates já culpou tudo o que move e o que está nas sombras do mal que vai torrando, em fogo lento, os portugueses. Ora são os mercados, ora a oposição. Confúcio sabia responder a isto: "o homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros". A política é um excelente palco para que cada um passe a culpa para os outros. Sócrates passa a culpa para Passos Coelhos e este devolve-a a Sócrates. E Cavaco Silva, que não tem a certeza que deva actuar para que o Governo caia, também quer ficar com as mãos limpas. Para não ficar com a culpa de ter provocado a tempestade. Passos Coelho que avance, se tiver coragem. A classe política portuguesa está mais interessada em não ter culpas do que em tomar decisões claras e incisivas. Quando em política ninguém quer ter a culpa entramos na indiferença geral. Isto enquanto o País vai sendo castigado. A culpa maior está no egoísmo da nossa elite, que afasta como pingos de água indesejáveis as suas sucessivas decisões erradas. A culpa política não se cura com aspirina. Nem com ansiolíticos. E o País também não deixa de estar doente com esta dança da chuva em que cada político procura uma desculpa para tudo o que faz. Ou não."
segunda-feira, 21 de março de 2011
Quem é o culpado?
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