"A privatização do negócio da água em muitos concelhos tem sido desastrosa. A qualidade do serviço piorou, o preço aumenta, os particulares e empresas são onerados com custos exorbitantes pelos ramais de ligação.
Ao mesmo tempo, os municípios que celebraram
contratos ruinosos estão hipotecados aos concessionários privados,
enquanto estes garantem rendimentos milionários.
Os
serviços públicos essenciais não deveriam nunca passar para a esfera
privada, excetuando em casos muito particulares em que seja garantida
uma sã concorrência e os interesses dos consumidores sejam devidamente
salvaguardados. O que obviamente não sucede no caso da água, pelo facto
de este ser um monopólio natural, o que fragiliza os cidadãos. Esta
situação é ainda mais problemática, quando não há regulação
independente, dada a permanente promiscuidade entre a política e os
negócios.
Acresce que estas concessões estão
destinadas àqueles que dominam todos os negócios públicos locais, os
habituais parceiros dos autarcas, os ‘patos bravos’ da construção e da
promoção imobiliária. Não há um único negócio que lhes escape: obras
públicas, urbanismo, recolha de lixo, estacionamento.
A
última moda tem sido justamente as parcerias público-privadas para a
distribuição de água e saneamento, de Paredes à Nazaré, de Paços de
Ferreira a Odivelas. Muitos destes são negócios ruinosos para o povo,
mas milionários para os privados, uma vez que as câmaras se
comprometeram a pagar às concessionárias rendas desproporcionadas face
às estimativas de consumos futuros. O prejuízo público é tão evidente
que alguns dos autarcas que celebraram este tipo de contratos, como é o
caso de Barcelos, já estão a contas com a Justiça e até constituídos
arguidos pelo Ministério Público.
Os
concessionários, além do mais, estarão sempre em posição dominante,
exercendo uma chantagem permanente sobre as entidades públicas. Por
razões sociais e políticas, nunca será permitido a estes serviços
desintegrarem-se. Os privados têm assim cobertos todos os riscos e podem
desbaratar quaisquer recursos. A privatização do negócio da água é uma
catástrofe anunciada."
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