Texto de Bruno Proença hoje publicado no "Diário Económico"
"Se alguém bater com a cabeça várias vezes na
parede, provavelmente a parede fica no mesmo sítio e a pessoa com um
grande galo. O ministro das Finanças aprendeu esta verdade às suas
custas. Vítor Gaspar andou meses a negar a realidade, até que chocou
contra ela. Na quarta-feira no Parlamento, o ministro reconheceu aquilo
que todos já tínhamos percebido. Os dados da economia nacional indicam
que a recessão deste ano será pior do que previsto. O Banco de Portugal
já tinha colocado a contracção em 1,9% e Gaspar colou--se a esta
previsão. Fala agora numa recessão de 2%, depois da quebra no PIB de
3,2% em 2012 e acima de 1% em 2011. Não há dúvida que é a pior crise
económica desde o 25 de Abril.
Consequências? Vítor Gaspar
anunciou também que espera que a Comissão Europeia dê mais um ano a
Portugal para colocar o défice abaixo dos 3%. Como? Importa-se de
repetir? Este é o mesmo ministro das Finanças que andou meses a recusar
esta possibilidade que tem sido defendida por vários economistas, pelo
líder do PS, António José Seguro, e até por pessoas do PSD. A realidade
impôs-se ao ministro das Finanças. E não é a primeira vez que isso
acontece. Em menos de dois anos de Governo, Gaspar tem acertado muito
pouco.
Os objectivos orçamentais têm sido conseguidos à custa do
‘doping' das receitas extraordinárias e, por isso, a consolidação das
contas públicas está longe do esperado. A dívida pública mantém-se numa
trajectória de subida e já passou a barreira dos 120% do PIB. Resultado,
poderá ser a segunda vez que Portugal beneficiará de mais tempo para
controlar o défice orçamental. Recorde-se que inicialmente, o objectivo
era ter um défice de 2,3% em 2014. Em Setembro do ano passado, o
objectivo para o saldo negativo deste ano saltou de 3% para 4,5%. Menos
de seis meses depois, Gaspar pede mais um ano.
O ‘timing' do
anúncio do ministro revela um certo descontrolo que reina nas Finanças.
Ainda não são conhecidos os primeiros dados da execução orçamental deste
ano e já está tudo em causa. A estratégia é para mudar perante uma
recessão mais grave e o desemprego a subir. Confirmaram-se os
prognósticos de que o Orçamento do Estado para este ano estava mal
feito.
E qual é a solução para convencer a Comissão Europeia a dar
mais tempo? Vítor Gaspar quer avançar com o famoso plano B que prevê
novos cortes de 800 milhões de euros. A factura será paga sempre pelos
mesmos. Esta é a lição que o ministro ainda não aprendeu. Os portugueses
e a economia nacional não aguentam mais austeridade. A corda já
rebentou. O país está numa espiral recessiva. Mais cortes garantem
apenas mais recessão, desemprego, pobreza e emigração. A redução do
défice e da dívida continuará uma miragem. É altura de mudar de receita.
É altura de apostar no crescimento económico e no combate ao
desemprego, que está a destruir a sociedade portuguesa.
Os
ortodoxos dizem que só é possível fazer o ajustamento financeiro com
recessão. Pois é o contrário. Este nível brutal de ajustamento só é
possível com a criação de riqueza. A questão é como? Essa é o debate que
o país necessita de fazer. Duas sugestões: um Estado mais eficiente e
um corte brutal nos impostos sobre as empresas por forma a captar
investimento estrangeiro. Depois das medidas do BCE, os mercados abriram
a porta aos países periféricos. Não se desperdice a oportunidade com
teimosias. É necessário outro caminho para tirar Portugal da crise.
Cortar por cortar não resolve nada. Só há futuro com crescimento
económico."
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Vítor Gaspar bateu com a cabeça na parede
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário