Texto de João Cotrim de Figueiredo, Gestor, hoje publicado no "Diário Económico"
"Lamento informar que todos nós vamos
ser roubados num montante de 7.000 milhões de euros. Na verdade, o roubo
já ocorreu mas tudo indica que nada seja feito para recuperar o
dinheiro, nem para punir todos os responsáveis.
Como já devem ter percebido, falo do caso BPN, o maior e mais
escandaloso caso de fraude de que há memória em Portugal. E que se
encaminha para ser o maior e mais escandaloso fiasco da Justiça
portuguesa.
O julgamento do caso BPN tem 16 arguidos e mais de 300 testemunhas.
Teve início a 15 de Dezembro de 2010 e até hoje, passados cerca de 800
dias, houve audiências em pouco mais de 120 dias nos quais se conseguiu
ouvir o estonteante número de 9 (leu bem, nove!) das 300 testemunhas. A
este ritmo, uma decisão de primeira instância demorará, pelo menos, 5
anos. A que se seguirão os recursos. A que seguirão as aclarações de
sentença.
Verdade seja dita, o juiz presidente, Luís Ribeiro, tem feito o
possível para expeditar os procedimentos. Mas esbarra rapidamente nas
manobras de dilação dos advogados de defesa e na inépcia da nossa
máquina judicial. Ao longo destes dois anos o juiz já veio a público
reconhecer que não tem salas para as audiências, que os 180 (!) armários
de que dispõe não são suficientes para guardar as centenas de milhares
de páginas do processo e, até, de que o velhinho computador portátil que
lhe foi atribuído bloqueia com tal frequência que atrasa os trabalhos.
Perante este cenário, a prescrição parece mais uma certeza do que uma
possibilidade. E a impunidade dos responsáveis será, de novo, uma
realidade. E o que pergunto é se a gravidade dos crimes, a dimensão dos
montantes em causa e as implicações políticas e morais de um falhanço do
sistema judicial não justificam, neste caso, uma intervenção direta da
ministra da Justiça que evite este desfecho.
Se a morosidade da Justiça pode resultar na impunidade dos
responsáveis, a morosidade da investigação pode significar que não se
recuperem os milhares de milhões de euros desviados em transações
ilícitas, muitas das quais não registadas no balanço do BPN. Este tipo
de movimento, mesmo através de ‘offshores', deixa um rasto que se torna
mais difícil de seguir a cada dia que passa. E isso significa que
seremos todos nós, os contribuintes, a suportar os 7.000 milhões de
euros que o Estado injetou e irá injetar na Parvalorem, na Parups e na
CGD. Todos nós seremos roubados pelo Oliveira e Costa e a sua pandilha.
Ao insistir nas responsabilidades que agora impendem sobre as
entidades judiciais e judiciárias não pretendo branquear outras
responsabilidades, igualmente graves e verdadeiramente vergonhosas, dos
governos, da CMVM e, sobretudo, do Banco de Portugal ao longo deste
processo. Mas também não pretendo esquecer aqueles que lutam para
esclarecer este caso até ao fim.
Por isso, presto tributo ao jornalista Pedro Coelho pela recente
Grande Reportagem da SIC e à determinação dos deputados nas comissões
parlamentares de inquérito, em especial o notável trabalho de Nuno Melo
(CDS), mas também de Honório Novo (PCP) e João Semedo (BE). E
interrogo-me por que não houve igual empenhamento por parte de deputados
do PSD e do PS."
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Vamos ser roubados
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