Texto do jornal "i" de Ana Sá Lopes, publicado em 21 Fev 2013
"O mundo mudou desde que, em Novembro de 2011, o governo jurava que
haveria crescimento em 2013 e 2012 seria o ano-chave para o fim da crise
Para o ministro das Finanças, “2012 será o ano crucial para que a
economia volte a crescer em 2013”. Este é o lead de uma notícia antiga –
aquela que foi feita a propósito da intervenção de Vítor Gaspar na 7ª
Conferência Anual da Ordem dos Economistas, em Novembro de 2011.
O problema com este género de notícias antigas é que parecem vindas do
outro mundo. É também o caso de uma notícia não tão antiga assim –
afinal, data do Verão do ano passado – quando, na euforia de uma festa
de Verão do PSD no Algarve, o primeiro-ministro anunciou que “2013 será o
ano da inversão na actividade económica”. A famosa “inversão” deixou de
constar nas previsões do governo e é para evitar a implosão total que
Vítor Gaspar anunciou agora que vai pedir mais um ano à troika.
Não foi o mesmo Vítor Gaspar que ontem se penitenciou relativamente aos
fantasmas das previsões passadas que nesse longínquo Novembro de 2011
dizia que “o nível da actividade económica irá recuperar em 2013 e a
taxa de desemprego começará a descer”. E até aquilo que hoje parece uma
alucinação: “2012 aparecerá como a antecâmara da recuperação económica”.
Ou outra alucinação, à luz dos conhecimentos hoje adquiridos: “Neste
momento não há qualquer necessidade de medidas adicionais de
austeridade”.
Por essa altura também o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira,
mostrava em toda a pujança o seu optimismo com as previsões
governamentais naquele tempo: “2012 irá marcar o fim da crise e será o
ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014”.
Estas contradições entre aquilo que o governo esperava dos indicadores
económicos e aquilo que efectivamente aconteceu foram ontem naturalmente
evocadas pela oposição. O líder parlamentar do PS desafiou o
primeiro-ministro a “dar a cara” pelo “falhanço” das previsões.
“Falharam e, por isso, é necessário retirarem todas as consequências
disso. O Partido Socialista marcou um debate de urgência. Porque há
outro caminho e há uma alternativa”, afirmou Carlos Zorrinho. “Em nome
da democracia, o senhor primeiro-ministro vai-se esconder de novo, não
vai, mais uma vez, dar a cara pelo falhanço das vossas políticas? Ou,
pelo contrário, o senhor primeiro-ministro, terá a dignidade de estar
aqui neste parlamento para se comprometer em inverter a política e para
se comprometer para que não haja mais nenhuma medida de austeridade e
nenhuma medida pró-cíclica neste governo que possa continuar a afundar
Portugal como tem estado a ser afundado?”, perguntou Zorrinho em desafio
ao governo.
Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, afirmou, relativamente aos
números divulgados ontem: “Não foi uma derrapagem, foi um trambolhão
para o dobro”, trambolhão que faz com que “as previsões do Banco de
Portugal” fiquem agora “mais optimistas do que as do governo”. O PCP
afirmou que o governo acabou, ao contrário do que sempre defendeu, a
recorrer a uma reestruturação parcial da dívida: “É evidente que,
politicamente, a reestruturação parcial da dívida tem como contrapartida
um corte adicional de 4 mil milhões sobre o qual o senhor,
infelizmente, perante esta casa, continua a não se querer alongar, nem
em termos gerais, lamentavelmente”, disse o deputado Honório Novo,
dirigindo-se ao ministro das Finanças."
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
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