Texto de João Lemos Esteve, publicado no seu blogue "Politicoesfera" no "Expresso"
Há fenómenos verdadeiramente inexplicáveis na vida
política portuguesa. Se com o Governo José Sócrates o grau máximo de
loucura e descaramento políticos pareciam já ter sido atingidos, a
verdade é que o actual executivo liderado por Passos Coelho quer mesmo
ultrapassar os limites máximos de paciência dos portugueses.
Resolveu Passos Coelho indicar para Secretário de Estado do empreendorismo e inovação o antigo administradorda SLN (Sociedade Lusa de Negócios, a proprietária do BPN à data do escândalo), Franquelim Alves.
Pois bem, que o senhor pode ser muito competente, não discuto. Deve
dizer que no desempenho das suas funções de Secretário de Estado no
Governo de Durão Barroso (colaborou com Carlos Tavares no Ministério da
Economia) não revelou particulares qualidades, mas enfim, vamos admitir
que no exercício de funções privadas é um homem bastante competente e um
trabalhador árduo.
Que o senhor Dr. Franquelim Alves pode ser muito
sério, não duvido minimamente. Embora quem aceitou integrar o maior
embuste financeiro da história portuguesa, no mínimo, suscita algumas
dúvidas. Mas, enfim, admitamos que o Sr. Dr. Franquelim Alves pautou
sempre a sua conduta à frente do BPN por elevados padrões éticos e
morais. Admitamos tudo isto - Franquelim Alves é mesmo sério, é
mesmo honesto, é mesmo competente. Foi, então, uma boa escolha para
integrar o Governo de Portugal? Não, não foi. Foi (mais um!) erro político crasso de Pedro Passos Coelho. Um verdadeiro tiro no pé de um Governo cada vez mais fragilizado.
De facto, a escolha de Franquelim Alves para Secretário de Estado com um peso significativo na orgânica deste Governo - lembre-se
que Álvaro Santos Pereira já mudou quatro dos seus Secretários de
Estado - é criar mais ruído político que só desgasta o Governo e,
sobretudo, Passos Coelho. Este erro é tão infantil, é tão naif, é tão
amador que até choca! Então, o Governo, na semana passada, teve uma
semana (finalmente!) positiva, marcada pelo regresso de Portugal aos
mercados. Depois de tantas derrotas, Vítor Gaspar conseguiu uma
vitoriazinha (já não é mau!), que deu ao Governo um fôlego político
muito importante.
Previa-se, pois, que o Governo aproveitasse a onda
para tentar reconquistar a confiança dos portugueses no seu programa de
acção política. Nada disso! Passos Coelho optou antes por desbaratar o
crédito político conquistado na semana anterior trazendo para o primeiro
plano político alguém que objectivamente esteve ligado ao escândalo
que originou o buraco financeiro que hoje todos nós, contribuintes
portugueses, pagamos! Alguém no Governo achava que as ligações de
Franquelim Alves ao BPN iriam passar em branco? Se sim, das duas,
uma: ou são todos ingénuos (para não dizer analfabetos políticos) ou
então querem mesmo provocar uma revolta social (explícita ou implícita).
É que Passos Coelho foi logo ressuscitar o ponto mais sensível da
política portuguesa: basta andar nas ruas e falar com os portugueses
para perceber que o BPN é o símbolo da injustiça social e da indignação
popular. O BPN representa a impunidade de alguns (que continuam a
viver nas suas mansões e a viajar nos seus jactos privados) contra os
sacrifícios desmesurados impostos a todos. Os intocáveis (aqueles que
beneficiaram de posições políticas de relevo para a prática de ilícitos
penais, sem que a Justiça seja capaz de os responsabilizar) e os
tocáveis (os "pilha-galinhas", o zé povinho que a Justiça persegue
como bode expiatório do seu insucesso nos casos mais mediáticos). Passos
Coelho, com a nomeação de Franquelim Alves, provocou os portugueses.
Em segundo lugar, com o regresso de Portugal aos mercados, parecia que a relação entre o PSD e o CDS se tinha regularizado, afastando-se o cenário de ruptura da coligação. Com a nomeação de Franquelim Alves, Passos Coelho voltou a gerar a contestação do CDS!
É verdade que é um pouco ridículo ver o CDS indignado com a nomeação de
um Secretário de Estado quando Paulo Portas estava com uma cara muito
serena (e até animada!) na cerimónia da tomada de posse na quinta-feira!
Mas estava na cara que o CDS se iria publicamente demarcar de
Franquelim: reparem que o CDS já perdeu a sua bandeira eleitoral do
partido do contribuinte, se perdesse a sua segunda bandeira que era a
denúncia do caso BPN, que restaria do CDS? Ou seja, a nomeação de
Franquelim Alves é mais uma fissura nas relações entre os partidos da
coligação. Passos Coelho decidiu provocar, mais uma vez, o CDS/PP.
Concluo com uma interrogação: Passos Coelho quer
mesmo continuar a liderar o Governo de Portugal? Com estas atitudes,
parece que está a pedir aos portugueses para o mandarem embora...Só
falta mesmo designar Oliveira e Costa para Ministro das Finanças e Dias
Loureiro como Secretário de Estado de Miguel Relvas! Admirem-se..."
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