Texto de André Macedo hoje publicado no Diário de Notícias".
"Com
o Estado Social em vias de extinção acelerada por razões económicas -
mas também ideológicas -, o ministro Pedro Mota Soares achou que deveria
liderar a manada. Na verdade, quando há uma semana foram repentinamente
travadas as reformas antecipadas ficou logo no ar esse prenúncio de que
as regras do jogo iriam mudar. O sentido da transformação seria,
digamos, evidente. Como a confiança que cimenta (na verdade não cimenta
nada) a relação entre o contribuinte e o Estado passou a estar ainda
mais em causa - a crise justifica todos os absurdos -, a porta que
conduzirá um dia à privatização parcial da parte mais suculenta da
segurança social ficou escancarada: as benditas reformas são a renda que
se segue.
Apesar desta expectativa política, ninguém imaginava, no entanto, que a ideia de privatizar parte da previdência fosse atirada assim de supetão para a mesa, com tantos outros assuntos para resolver. Eu não sei nada sobre a vida sexual dos canibais, mas julgava (esperava) que a vida política dos ministros fosse um pouco menos arriscada e perigosa para os parceiros - nós, os eleitores e simples contribuintes. Contudo, não é assim: o chão ainda não parou de tremer e ceder.
No caso das reformas, até haveria mudanças que faria sentido acontecerem. Que as reformas antecipadas têm um limite perigosamente baixo para a sustentabilidade do sistema (55 anos) é um facto inegável, basta comparar com o regime espanhol (61 anos), o alemão (63) e até com o grego, que por uma vez dá o exemplo: reformas antecipadas só a partir dos 60 anos. Mas não é tudo. Que a idade da reforma nos prazos normais (65 anos) continuará a subir (67, 68?), acompanhando a esperança média de vida, também é um facto demográfico com repercussões económicas inevitáveis, não uma temerária escolha ideológica.
No entanto, privatizar a parte mais rica do sistema, que garante o equilíbrio por mais tempo da estrutura, é entrar na zona de caça proibida. Por um lado, hoje as pensões já estão ancoradas num esforço contributivo medido ao longo da vida e não apenas nos últimos anos. Ou seja, não há quem receba muito sem ter pago muito (em princípio, um político do CDS deveria compreender esta relação de causa-efeito e até defendê-la).
Por outro lado, o rombo nas contas públicas durante o período de transição do sistema público para o semiprivado seria colossal. Seria uma espécie de TGV do CDS: a segurança social iria despenhar--se em alta velocidade, pondo em causa a solidariedade geracional. Mota Soares revelou, portanto, a inteligência do Rei de Espanha: quis apanhar caça grossa, deu um tiro no pé e ficou mal na fotografia. Com ministros assim, o País ainda vira comunista. Seria uma pena."
Apesar desta expectativa política, ninguém imaginava, no entanto, que a ideia de privatizar parte da previdência fosse atirada assim de supetão para a mesa, com tantos outros assuntos para resolver. Eu não sei nada sobre a vida sexual dos canibais, mas julgava (esperava) que a vida política dos ministros fosse um pouco menos arriscada e perigosa para os parceiros - nós, os eleitores e simples contribuintes. Contudo, não é assim: o chão ainda não parou de tremer e ceder.
No caso das reformas, até haveria mudanças que faria sentido acontecerem. Que as reformas antecipadas têm um limite perigosamente baixo para a sustentabilidade do sistema (55 anos) é um facto inegável, basta comparar com o regime espanhol (61 anos), o alemão (63) e até com o grego, que por uma vez dá o exemplo: reformas antecipadas só a partir dos 60 anos. Mas não é tudo. Que a idade da reforma nos prazos normais (65 anos) continuará a subir (67, 68?), acompanhando a esperança média de vida, também é um facto demográfico com repercussões económicas inevitáveis, não uma temerária escolha ideológica.
No entanto, privatizar a parte mais rica do sistema, que garante o equilíbrio por mais tempo da estrutura, é entrar na zona de caça proibida. Por um lado, hoje as pensões já estão ancoradas num esforço contributivo medido ao longo da vida e não apenas nos últimos anos. Ou seja, não há quem receba muito sem ter pago muito (em princípio, um político do CDS deveria compreender esta relação de causa-efeito e até defendê-la).
Por outro lado, o rombo nas contas públicas durante o período de transição do sistema público para o semiprivado seria colossal. Seria uma espécie de TGV do CDS: a segurança social iria despenhar--se em alta velocidade, pondo em causa a solidariedade geracional. Mota Soares revelou, portanto, a inteligência do Rei de Espanha: quis apanhar caça grossa, deu um tiro no pé e ficou mal na fotografia. Com ministros assim, o País ainda vira comunista. Seria uma pena."
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