Texto de Carvalho da Silva hoje publicado no "Jornal de Noticias"
Está no senso comum a ideia de que
andamos a ser extorquidos pelo monstro cobrador - o Estado - que segundo
dizem, de tanto crescer e engordar, se tornou insaciável. Passos
Coelho, em plena campanha autárquica, em Sintra, verberou o Estado que,
segundo ele, nos anda a extorquir e nos retribui cada vez menos.
O
Governo cobra-nos impostos em nome do Estado, isso não há dúvida! Mas
será que essas receitas são canalizadas para as funções e obrigações que
o Estado, em democracia, tem para com os cidadãos?
O
primeiro-ministro é o primeiro responsável pela forma como são
utilizados os meios de que o Estado dispõe. Ora, o atual Governo PSD/CDS
é, seguramente, aquele que mais agravou os impostos aos portugueses, o
que mais cortes fez nos salários, nas pensões, na saúde, na educação,
nos apoios sociais, nos direitos sociais fundamentais, o que mais
emprego destruiu, afastando centenas de milhar de cidadãos do direito e
do dever de produzir riqueza, o que mais desigualdades e pobreza gerou.
Ou seja, utilizando poderes que o Estado lhe confere, ou apropriando-se
deles à margem das leis, o Governo vem agindo contra o cumprimento das
obrigações do Estado em democracia.
Diz o Governo, em sua defesa,
que tem de adotar essas políticas por causa dos desequilíbrios que
vinham do passado. Mas esse argumento cai por terra quando vemos que
nenhum desequilíbrio foi resolvido, e que o efeito das suas políticas se
resumiu ao empobrecimento das pessoas e do país, agora mais endividado.
Para onde vai o nosso dinheiro? O Governo saca-nos o dinheiro em
nome do monstro Estado, para o entregar aos interesses parasitários que
se alimentam dos negócios dos mercados da dívida, da saúde, do ensino e
outros. O nosso dinheiro é colocado ao serviço de dívidas que no final
nunca se conseguem pagar, porque, na sua lógica penalizadora, jamais
param de crescer.
Todos sabemos que o Estado pode servir para
cobrar impostos progressivos, mas também pode servir para ajudar quem
mais tem a não os pagar, sobrecarregando quem vive apenas do rendimento
do seu trabalho.
A governação feita em nome do Estado pode
substituir negócios por serviços públicos para servir as pessoas mas
também pode, como faz o Governo, liquidar serviços públicos para criar
oportunidade de chorudos negócios a privados.
O Estado pode
dispor de um Banco Central, mas os governos tanto podem decidir
colocá-lo a participar no financiamento da despesa pública, como
proibi-lo de o fazer para alimentar um mercado da dívida pública. Em
nome do Estado, um Governo pode sujeitar a Banca a estrita supervisão,
mas também pode deixá-la em roda livre e correr a socorrê-la, com o
nosso dinheiro, quando esta descarrila.
Não é o Estado em si
mesmo, mas sim as políticas dos governos que transformam obras de
construção de estradas e hospitais em promíscuos e altamente rentáveis
negócios PPP; que endividam os portugueses - o Estado - para cobrir
roubos feitos na Banca e não só; que desbaratam milhões em swaps; que
privatizam empresas públicas lucrativas; que legislam para facilitar a
evasão fiscal. O monstro Estado criado por esta governação é um
instrumento de uma lógica de conservação do poder do dinheiro e de uma
acumulação ilimitada de riqueza às escalas nacional, europeia e global.
A
riqueza está a acumular-se aceleradamente no topo da pirâmide, cavando
desigualdades e provocando fraturas sociais insustentáveis. Manter-se-á
democrático durante muito tempo um Estado que é colocado a utilizar o
nosso dinheiro para servir uma ínfima minoria?
Precisamos,
urgentemente, de outro Governo no comando. Para que exista um projeto de
desenvolvimento da sociedade portuguesa, uma economia mais sã e
geradora de emprego, um Estado menos monstruoso que nos assegure
mecanismos retributivos, que redistribuem o rendimento de cima para
baixo, baseados em impostos progressivos e justos, prestação de serviços
de qualidade, direitos sociais fundamentais com acesso universal.
sábado, 5 de outubro de 2013
Andam a extorquir-nos
Etiquetas:
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passos coelho,
Paulo Portas
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