Sem qualquer ponta de sensibilidade, a ministra das finanças apresentou um orçamento do estado para 2014 (OE) cruel, injusto e até anti-económico.
É cruel. Prevendo cortes
salariais a quem ganhe pouco mais de seiscentos euros por mês, condena
as pessoas à fome e agrava a sua situação de miséria. É iníquo, pois
reduz os recursos aos idosos, a portugueses com mais de oitenta ou até
noventa anos, revelando uma absoluta ingratidão face às gerações que nos precederam na construção do país.
A
Lei do OE é, além do mais, injusta: fustiga os trabalhadores com mais
impostos, reduz salários e pensões, ao mesmo tempo que garante um
acréscimo colossal em pagamentos aos concessionários das parcerias
público-privadas. É ainda através deste documento que o estado premeia o
setor financeiro, priorizando o pagamento de juros da dívida pública,
que orçam em muitos milhares de milhões. Acresce ainda que este OE
manterá as escandalosas isenções fiscais a detentores de fundos de
investimento imobiliário fechados. Ou seja, o OE apela ao pagamento da crise a todos, exceto àqueles que mais para ela contribuíram: banca e especuladores imobiliários.
Por
último, o OE é recessivo. Em primeiro lugar, porque transmite o sinal
de que tudo é alterável, à exceção da intocável dívida pública.
Incentiva a Banca a especular com títulos da dívida, como vem
acontecendo, em detrimento do financiamento da atividade económica. Até
os empréstimos internacionais destinados à recapitalização da Banca
estão a ser desviados para a especulação. Mas também a redução salarial
generalizada tem efeitos perversos. Uma poupança forçada de caráter
geral é negativa, porquanto implica menor consumo, consequente escassez
de recursos nas empresas, maior desemprego. Com consumidores
depauperados e empresas descapitalizadas, o crescimento económico é
impossível.
A ministra Maria Luís Albuquerque fez
um longo discurso aquando da apresentação do OE. Mas poderia ter
resumido assim: "Portugueses, temos de gastar mais dinheiro em juros e
parcerias público-privadas em 2014. Por isso, temos de baixar os
salários da função pública, reduzir pensões e reformas, limitar o
crédito à atividade económica e aumentar os impostos a todos.
Aguentem!".
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