Texto de Bruno Proença hoje publicado no "Diário Económico"
O Governo apresentou esta semana o Orçamento
do Estado para 2014 em português, mas o que interessa é a versão
inglesa. Este Orçamento é primeiro que tudo para os credores e depois
para os portugueses. Por isso, eles ficam com tudo e nós com quase nada.
A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, consciente das suas
responsabilidades, apresentou primeiro o Orçamento aos colegas de
Bruxelas na segunda-feira e terça de manhã e só ao fim da tarde falou em
Lisboa. Isto é um sinal dos tempos. Portugal é um País subjugado. Não
tem independência financeira. A Democracia está em suspenso e quem
manda efectivamente são os credores - os institucionais, como a
‘troika', e os mercados.
Assim, a primeira questão deste Orçamento é se ajuda Portugal a
recuperar a independência financeira? No papel sim. Está lá tudo o que
os investidores internacionais gostam. Descida do défice orçamental e o
excedente primário (saldo orçamental retirando as despesas com a dívida
pública), que será o primeiro em muitas décadas e a prova dos nove da
consolidação das contas públicas e da sustentabilidade da dívida
pública. E estas metas são alcançadas ceifando despesa pública
(contribui em 70% para a descida do défice) à custa de pensionistas e
funcionários públicos. Depois de dois anos a aumentar brutalmente os
impostos, o Governo quer agora provar aos credores que ganhou coragem
para esfolar os salários na função pública acima de 600 euros - 90% dos
trabalhadores do Estado são afectados - e as pensões dos reformados.
A estratégia do Governo é óbvia: com este Orçamento duro quer
convencer os mercados que tudo fará para pagar aos credores, esperando
que as taxas de juros da dívida pública desçam para níveis que permitam
fugir ao segundo resgate e conseguir uma via verde para o programa
cautelar. Como já disse Pedro Passos Coelho, a decisão será tomada até
Dezembro. Portanto, se tudo correr bem, o Orçamento nem necessita de
ser executado na totalidade. Depois de garantido o programa cautelar,
logo se verá como corre o próximo ano.
Esta estratégia resultará? A bem do futuro imediato dos
portugueses, esperemos que sim. Mas os primeiros sinais são
preocupantes. Para já, as taxas de juros da dívida pública nacional
pouco mexeram. E contactos com investidores internacionais permitem
perceber que não andam distraídos. Eles não esquecem uma velha máxima:
elaborar o Orçamento é o mais fácil, difícil é executá-lo.
Ou seja, complicado é aplicar as medidas contra toda a
contestação social e as resistências dos grupos de pressão. E há volta
da execução do Orçamento do Estado para 2014 há mais pontos de
interrogação do que certezas, destacando-se as dúvidas Constitucionais.
Até os juízes do Palácio Ratton apreciarem os cortes salariais no
Estado, a convergência das pensões da CGA ou a passagem do horário no
Estado para as 40 horas semanais, ninguém acredita no Orçamento. Nas
mãos dos juízes estão mais de 1,5 mil milhões de euros, cerca de 40% dos
cortes de 3,9 mil milhões previstos para 2014. Para o bem e para o mal,
parte importante do futuro de Portugal passará pelo Tribunal
Constitucional.
A segunda questão que se coloca a este Orçamento é se ajuda a
resolver os problemas do País? Em parte sim, ao assentar a redução do
défice nos cortes da despesa pública. Como estamos a ver, muitos dos
que gritaram pela redução dos gastos do Estado estão agora na barricada
contra o Orçamento. Cortar na despesa é doloroso porque afecta alguém.
Portanto, devemos todos exigir que os cortes sejam equitativos. E este
Orçamento não garante isso. Pedro Passos Coelho podia ter ido mais longe
na tributação de sectores protegidos como a energia, banca ou
telecomunicações e, dessa forma, minimizar o impacto nos funcionários
públicos e pensionistas.
Além disto, a redução da despesa é pouco estruturada porque tem
apenas um racional financeiro. Não concretiza um guião da reforma do
Estado que continua sem conhecer a luz do dia. Este Orçamento pode
ajudar ao resgate financeiro de Portugal mas só a reforma do Estado
garante um futuro com desenvolvimento e crescimento económico.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Um Orçamento para a ‘troika’, com carinho
Etiquetas:
governo,
passos coelho,
Paulo Portas
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