Texto de Viriato Soromenho Marques hoje publicado no "Diário de Notícias"
"O primeiro-ministro
(PM) no mais recente debate parlamentar afirmou: "Eu pertenço a uma
raça de homens que honra os compromissos do país." E continuou num
registo onde se identificava a conduta do indivíduo singular com a acção
do governante. O que o PM não parece compreender é que as dívidas de um
Estado não são as dívidas de uma família ao merceeiro da rua. O lema de
conduta do estadista é o "salus populi" (o bem público). A
responsabilidade do PM é para com o povo português. Para com a sua
segurança e liberdade. A honra do homem e a prudência do estadista não
se contradizem necessariamente, mas também não se confundem. Quando o
rei de Leão, Afonso VII, cercou Guimarães para quebrar a vontade
independentista do jovem Afonso Henriques, foi a palavra de honra do seu
aio, Egas Moniz, que fez levantar o cerco. Contudo, o fundador do reino
de Portugal seguiu o seu rumo. Mudou a capital para Coimbra e invadiu a
Galiza. A honra de Egas Moniz foi salva com a coragem moral e física
que o levou a Toledo, colocando a sua vida e a da sua família nas mãos
do rei a quem tinha prometido o impossível. Afonso VII perdoou ao homem,
comovido pela sua dignidade, e foi obrigado a reconhecer a grandeza do
seu primo, o nosso primeiro rei. Invocar a honra para justificar uma
austeridade suicidária, em vez de arriscar uma estratégia que permita,
em diálogo firme com os nossos aliados e adversários na Zona Euro e na
troika, um novo caminho nacional e europeu que salve a esperança, é o
erro imperdoável do PM. Se tivesse a grandeza do estadista, teria o país
a apoiá-lo, nos sacrifícios internos e na coragem externa. Assim, sem a
grandeza do rei, nem a honra do aio, o PM corre o risco de se confundir
com a teimosia servil que, na Idade Média, era o atributo dos lacaios."
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
A honra no sítio errado
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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