"O Orçamento do Estado para o próximo
ano, apresentado ontem pelo ministro das Finanças Vítor Gaspar, é uma
grande asneira económica e política.
Texto de Bruno Proença, Director Executivo, hoje publicado no "Diário Económico"
Ficará para a história como o Orçamento responsável pela maior
tributação ao rendimento dos portugueses. Mas é também um erro de
política económica. Os números são claros. O défice orçamental vai
descer mais de cinco mil milhões de euros, dos quais quatro mil milhões
correspondem a aumento de receita. Ou seja, 80% da consolidação é feita
com aumento de impostos e só o resto com redução da despesa. Pedro
Passos Coelho e Vítor Gaspar não resistiram ao pecado capital. Portugal
chegou à bancarrota porque nos últimos vinte anos as contas do Estado
foram conduzidas com o pé no acelerador dos impostos. O actual Governo
leva esta estratégia para além do limite. Por isso, a consolidação
orçamental anunciada é uma fraude. Não é sustentável.
O primeiro-ministro reconhece a sua incapacidade para cortar na
despesa. Não tem força política para o fazer. Não consegue identificar e
atacar as gorduras do Estado. Vai pelo caminho mais fácil de atacar os
contribuintes. No final tem-se um Orçamento que não presta. Não ajuda a
resolver o crónico problema das contas do Estado e é um travão ao
crescimento económico e à criação de emprego.
Além disto, é um Orçamento de alto risco. Percebe-se que está preso
por arames. Ao mínimo contratempo vai rebentar e obrigar a
rectificativos. Quem acredita que a recessão ficará apenas em 1% com o
aumento brutal da tributação de IRS? No próximo ano, vai repetir-se a
história de 2012. A receita fiscal ficará aquém do previsto apesar da
subida das taxas porque não há rendimento para tributar devido ao
desemprego e às falências. Perante isto, mais austeridade.
Já politicamente, este Orçamento é mais um prego no caixão do
Governo. O arrufo entre PSD e CDS passou a divórcio. O casal dorme em
quartos separados e só falta consumar a separação. O Executivo não
funciona e a guerra surda entre Paulo Portas e Vítor Gaspar é uma
evidência. A coligação vai continuar pelos piores motivos. Os partidos
sabem que vão ser arrasados em eleições e vão tentar adiá-las o mais
possível.
Mas será possível tendo em conta a contestação social e nas ruas?
Desde a conferência de imprensa da TSU que Passos Coelho perdeu o apoio
dos portugueses. O Orçamento agravará a irritação e a reprovação do
Governo. A contestação vai subir de tom. A última palavra será do
Presidente da República. Por um lado, tem o poder de vetar o Orçamento.
Por outro lado, se o Governo cair, terá nas suas mãos a solução para uma
crise política indesejável. Não há finais felizes. 2013 será o ano
horrível da democracia portuguesa no pós 25 de Abril."
terça-feira, 16 de outubro de 2012
O pior Orçamento e o ano que será horrível
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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