Texto de Manuel José Manuel Pureza hoje publicado no Diário de Noticias.
"A troika, no seu
quinto exame à execução do memorando de entendimento, intimou o Governo
a apresentar, no prazo de um mês, um plano B de cortes adicionais da
despesa pública. Quem manda, dá ordens para mais e mais cortes de
despesa para fazer face a uma mais que certa perda de receita fiscal
resultante da contração recessiva da economia. Convém só lembrar que é
quem manda que também dá ordens para que haja contração recessiva da
economia.
E o Governo, lesto, deu de imediato sinais de saber
interpretar o sentido das ordens de quem manda. Cortes nos subsídios de
desemprego e manutenção da sobretaxa de 4% no IRS para lá do ano
corrente mostram que redução da despesa não será outra coisa senão mais
redução de salários e prestações sociais. O dito plano B, ao fazer
retrair ainda mais o consumo e agravar a recessão em que a economia do
País foi mergulhada, é apenas a porta para os planos C, D, E e todos os
outros que virão. O plano B da troika é a confissão da sua incompetência
e a imposição de mais incompetência para a disfarçar.
Em 2012, a
dívida pública já aumentou 13,4 mil milhões de euros. Em 2013 aumentará
mais 12 mil milhões. Portugal está a empobrecer, a destruir emprego e a
condenar os seus a emigrar. O resultado é simples: por este caminho, o
País ficará cada vez mais endividado. Diante desta evidência, é
irrecusável a exigência de um outro plano B que permita uma efetiva
alternativa democrática e de esperança para o País, a sua economia e as
suas gentes.
Rigor não tem de rimar com empobrecimento e
desespero, mas com justiça na economia - é essa a síntese do plano B que
a democracia impõe. Ele tem de assentar em três escolhas muito claras.
A
primeira é a denúncia do memorando com a troika e a renegociação da
dívida. Denunciar o memorando é uma exigência de razoabilidade: as
condições nele fixadas são leoninas para os credores e não são
exequíveis para o País. A renegociação da dívida deve visar a redução
dos juros (atualmente de 3,55%) para um máximo de 0,75% (o mesmo que o
BCE cobra aos bancos comerciais por empréstimos a três anos), a
eliminação da dívida ilegítima e a erradicação das isenções fiscais que
beneficiam os investidores não residentes titulares de dívida em
obrigações e bilhetes de tesouro. Cerca de nove mil milhões de euros
serão assim poupados.
A segunda escolha é a eliminação da pressão
insustentável das parcerias público-privado sobre o erário público
presente e futuro. O País terá de pagar nas próximas três décadas 19 mil
milhões de euros em rendas, no quadro dos contratos que blindam os
privilégios dos privados nas PPP. Pois bem, o plano B da democracia há
de ter o retorno dos hospitais PPP à gestão pública e o resgate público
das PPP rodoviárias como prioridade indeclinável. Assim se pouparão mil
milhões de euros anuais.
A terceira escolha é a de uma
fiscalidade eficiente e justa. O englobamento de todos os rendimentos
num IRS efetivamente progressivo; a redefinição dos escalões do IMI, a
extinção de isenções incompreensíveis (Estado, bancos, etc.); o reforço
da progressividade e da efetiva aplicação do IRC (por exemplo, pondo fim
às isenções das SGPS e dos fundos de investimento), a reintrodução da
tributação das heranças e a adoção de uma taxa sobre as transações
financeiras permitirá arrecadar anualmente cerca de 3,5 mil milhões de
euros.
O plano B da democracia para o País só pode ser o de
respeito por todos pondo fim à penalização dos de sempre e abrindo
horizontes de esperança para as pessoas. Não se salva uma economia
matando primeiro quem a faz todos os dias. É essa a diferença entre o
plano B da troika e o plano B da democracia."
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Os dois planos B
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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