Texto de André Macedo hoje publicado no Diário de Notícias".
"Faz
impressão ver o Governo anunciar aumentos de impostos quase todas as
semanas. Novas tabelas de IRS. Avaliações de casas a eito para fazer
disparar o IMI. O fim de subsídios, associações, fundações (poucas) e
outra tralha também. O fim de deduções e benefícios fiscais. Mais
privatizações e concessões que desafiam as regras. Faz impressão ver
Vítor Gaspar a rapar, a rapar, a rapar tudo o que mexe e ainda respira e
depois a corrigir, a emendar, "a mitigar" diz ele, a recuar, a
balbuciar estudos, previsões (furadas) e estimativas (furadas) quando
chega à Europa rica vindo da Europa pobre.
O problema deste
Governo começa aí. O problema do País vem de trás, claro, e teve com
Sócrates o ponto mais alto da fanfarronice. Mas o problema deste Governo
nasceu no dia em ganhou corpo. Passos Coelho chegou ao poder às
apalpadelas. Chegou porque já ninguém confiava em Sócrates, não porque
ele, Passos, fosse melhor, soubesse mais, tivesse uma ideiazinha
qualquer. Passos posicionou-se, foi bem posicionado, só isso; o resto
estava colado a cuspo.
A escolha de herr Gaspar para o Ministério das Finanças caiu dos céus europeus. Ele seria a estrela que nos indicaria o caminho, garantiria a confiança dos mercados, a bênção de Frankfurt. Passos conhecia-o? Tinham estudado a situação do País? Tinham avaliado o programa, as medidas, os efeitos, os riscos? Nada, claro, mas com uma agravante: estamos falidos. Os erros hoje sentem-se logo na pele. Tudo - tudo dói.
Passos e Gaspar navegam à vista. Vivem em ajustamento permanente. Ajustam-se às dívidas, ajustam-se às exigências da troika, ajustam-se um ao outro (deixam Portas sozinho), ajustam-se também um pouco à rua - os portugueses são o único povo do mundo que trata a TSU por tu. A "austeridade expansionista" que nos entala não é apenas um disparate económico, é uma ratoeira mortal que empobrece o País, agrava a dívida do Estado (119% do PIB e a subir), leva as empresas à falência e esmaga as famílias. Pior: reduz a hipóteses de podermos seguir outro caminho.
É por isso que hoje reagimos mal a tudo. Reagimos mal até ao que poderíamos engolir por termos finalmente compreendido que esta Europa nos semiabandonou. Como Passos não tem programa político, nem voz na Europa, as decisões dele só tapam os buracos que aparecem, embora nem isso consiga. Não renovar os contratos a milhares de trabalhadores da função pública faria sentido (entre outras medidas) se o Governo o tivesse decidido no âmbito de um programa lançado no primeiro dia de Governo: rever as funções do Estado, oferecer menos serviços, mas cobrar muito menos impostos também. Ou seja, se tivesse proposto um novo contrato social capaz de reduzir a despesa pública numa legislatura dando espaço à iniciativa privada. Um plano assim exigiria preparação. O que temos em vez disso? A troika: improvisação, hesitação, asneira."
A escolha de herr Gaspar para o Ministério das Finanças caiu dos céus europeus. Ele seria a estrela que nos indicaria o caminho, garantiria a confiança dos mercados, a bênção de Frankfurt. Passos conhecia-o? Tinham estudado a situação do País? Tinham avaliado o programa, as medidas, os efeitos, os riscos? Nada, claro, mas com uma agravante: estamos falidos. Os erros hoje sentem-se logo na pele. Tudo - tudo dói.
Passos e Gaspar navegam à vista. Vivem em ajustamento permanente. Ajustam-se às dívidas, ajustam-se às exigências da troika, ajustam-se um ao outro (deixam Portas sozinho), ajustam-se também um pouco à rua - os portugueses são o único povo do mundo que trata a TSU por tu. A "austeridade expansionista" que nos entala não é apenas um disparate económico, é uma ratoeira mortal que empobrece o País, agrava a dívida do Estado (119% do PIB e a subir), leva as empresas à falência e esmaga as famílias. Pior: reduz a hipóteses de podermos seguir outro caminho.
É por isso que hoje reagimos mal a tudo. Reagimos mal até ao que poderíamos engolir por termos finalmente compreendido que esta Europa nos semiabandonou. Como Passos não tem programa político, nem voz na Europa, as decisões dele só tapam os buracos que aparecem, embora nem isso consiga. Não renovar os contratos a milhares de trabalhadores da função pública faria sentido (entre outras medidas) se o Governo o tivesse decidido no âmbito de um programa lançado no primeiro dia de Governo: rever as funções do Estado, oferecer menos serviços, mas cobrar muito menos impostos também. Ou seja, se tivesse proposto um novo contrato social capaz de reduzir a despesa pública numa legislatura dando espaço à iniciativa privada. Um plano assim exigiria preparação. O que temos em vez disso? A troika: improvisação, hesitação, asneira."
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