Texto de João Marcelino hoje publicado no "Diário de Noticias"
"1 Passos e
Gaspar obedecem à troika, aos objetivos e àquilo que entendem ser a sua
obrigação. A prova está neste Orçamento do Estado. Acreditam que assim
aplacam as fúrias dos mercados e merecerão a simpatia da Europa do Norte
na altura certa, ou seja, naquele momento fatal de incapacidade para
cumprir que inevitavelmente chegará. Sabemo-lo nós - e por maioria de
razões o sabem eles que falharam o controlo das contas este ano.
A
oposição faz coro em uníssono porque a verdade é que se demonstrou que
esta terapia agrava a doença. Até o FMI já o admite. Com um ajustamento
feito à pressa, violento, vem a recessão, o défice aumenta, com ele a
dívida nem sequer estagna. E a economia, em consequência de tudo isto,
afunda-se, fechando empresas, rebocando os números do desemprego.
Nas
ruas desaguam perigosamente cada vez mais descontentes. Quem elegeu o
Governo, porque queria um Estado reformado, mais pequeno, sente-se
enganado. Quem votou noutros partidos, ou nem sequer votou, nunca
esperou grande coisa mas estava longe de imaginar a fúria fiscal em
curso. Toda a gente sabe que a vida vai piorar. O País perdeu
independência. Pela terceira vez desde o 25 de Abril necessitou de ajuda
externa. E isso também as pessoas debitam aos dirigentes políticos, sem
conseguirem descortinar diferenças entre estes e os outros. Iremos ver
em que ambiente decorrerá a discussão do OE no Parlamento e nos espaços
adjacentes.
2 Ainda assim, Paulo Portas entende que tem espaço
para fazer política. Ou seja, arranjar um álibi que torne compreensível
aos eleitores o facto de ser absolutamente incapaz de cumprir a palavra
dada, a propósito de aumento de impostos, naqueles tempos inflamados em
que verberava Sócrates ou até num momento mais recente quando escrevia
aos militantes do PP mensagens para Portas e Gaspar...
Pronto.
Portas está envergonhado. Sente que se ainda fosse jornalista não
perdoaria tremenda cobardia política. Conforta-o, e julga ele que lhe
vale, o argumento da imperiosa necessidade nacional de ter um Orçamento
porque "o País não pode ter uma crise política". De facto, não pode. É
por isso, só por isso, que assinou dois momentos de ficção em menos de
um mês. E já agora: com que utilidade?
3 A pergunta de Manuela
Ferreira Leite resume o pensamento de muita gente: "Que interessa não
falir se vamos estar todos 'mortos'? Se Portugal conseguisse chegar aos
2,5% de défice no final de 2014 e, antes, aos 4,5% em 2013 - repito:
coisa em que nem sequer "eles" acreditam - que País existiria nessa
altura? Que fatura social teria de ser paga? Quantos desempregados,
quantas falências, quanta infelicidade?
Estas são as perguntas
que deveriam ser feitas por políticos. In-felizmente, neste momento
parece que só temos técnicos, feitores satisfeitos em tirar fotos "à
direita de", que não acreditam em protagonizar iniciativas, se acham
insignificantes à escala europeia. Provavelmente é a única coisa em que
estarão mais ou menos certos.
António José Seguro ao menos mexe-se
sem complexos. Esteve com Hollande, foi ontem a Berlim. Pode parecer
pouco mas é alguma coisa. A Europa tem de saber que Portugal quer
cumprir mas está a caminhar para o desastre social."
sábado, 20 de outubro de 2012
Prisioneiros
Etiquetas:
governo,
passos coelho
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário