Texto de João Cardoso Rosas, Professor Universitário, hoje publicado no "Diário Económico"
"Talvez por razões ideológicas ("o programa da
‘troika' é o nosso programa e queremos ir ainda mais longe"), talvez por
causa de um contexto internacional que lhe escapa, talvez pela situação
de "bom aluno" em que se colocou prescindindo de capacidade negocial
face a uma ‘troika' que já não acredita nas suas próprias soluções,
talvez porque os protagonistas são menores e nunca se poderia esperar
uma visão de estadista da dupla de "amigos para todas as ocasiões"
composta por Passos Coelho e Relvas, talvez porque se quebrou a
confiança interna e a coligação está desfeita, ou talvez por uma mistura
de todas estas coisas, o Governo não tem um caminho de futuro a
oferecer aos portugueses, limita-se a repetir soluções que são causas
dos nossos problemas e o OE para 2013 é a confirmação disso mesmo.
Os próximos meses serão terríveis. O Governo continuará em
dissolução, com remodelação ou sem ela, o divórcio em relação aos
cidadãos aumentará, existirá um risco real de que o poder caia na rua
(por isso este OE, ao mesmo tempo que corta na saúde e na educação,
aumenta a despesa nas forças de segurança e nas forças armadas). Quando,
em meados de 2013, se verificar que a execução orçamental é um fiasco, a
vida útil deste Governo terá terminado definitivamente. Nessa altura
terá de ser encontrada uma solução no quadro do sistema político e ela
só poderá vir do Presidente. Quais as alternativas de Cavaco Silva?
Muita gente tem sugerido um Governo de iniciativa presidencial, uma
solução tecnocrática à italiana. Esta ideia - defendida, por exemplo,
por Mário Soares - é péssima. O Monti português está por encontrar e um
Governo do Presidente na fase actual aumentaria o divórcio do poder em
relação aos cidadãos, agravando a situação social e colocando em causa
todo o sistema político, incluindo o próprio PR.
Outra possibilidade seria um Governo de salvação nacional formado por
uma grande coligação (PS, PSD, CDS). Esta solução teria sido
interessante há um ano e meio atrás, mas o PSD não quis sequer
considerá-la. Com os actuais protagonistas ela é impraticável. Se nem
PSD e CDS conseguem entender-se, imagine-se o que seria agora incluir
também o PS - que, de resto, já afastou essa possibilidade - na mesma
coligação!
Resta, portanto, a dissolução da AR e a convocação de eleições
antecipadas - o que deve ser feito no início do Verão, para permitir ao
novo Governo a preparação do OE para 2014. As eleições serão a única via
para restaurar o vínculo entre os governantes o povo. Desta vez,
ninguém tolerará falsas promessas. Desta vez, os principais partidos
terão de comprometer-se antecipadamente a encontrar uma solução de
governabilidade. Caberá ao Presidente esse papel de pedagogia política."
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
O que aí vem
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