Texto de Joana Amaral Dias hoje publicado no "i" online
"Vou à manifestação porque recuso o cada um por si, a dispersão e a
ruptura dos laços que nos tem arruinado, que é o princípio do fim e o
pasto da barbárie
Foto do "i" |
“Porque vais à manifestação?” tem milhares de respostas e mais um dia, é pelo agora e pelo depois, pela Europa, pelo Estado social, pelo emprego, pela dignidade e, claro, pela liberdade. Aliás, hoje, só por ela já valeria a pena, demonstrada que está a tentativa de intimidação. Mas ir é também fazê-lo por todos aqueles que não podem, os esbulhados da luta e todos os desapossados das suas capacidades, os tantos que acreditam que já não acreditam, os omitidos nos lares, os invisíveis pela deficiência, os que estão em recolher obrigatório ou em prisão domiciliária forçada porque o trabalho não dá para mais ou nem lhes dá nada, todos os exilados, os cilindrados pelo tempo extorquido, os que chegam à escola sem pequeno-almoço, os que já nem vão à escola, os que racionam a sua saúde, os que já estão há tanto tempo a viver na rua que não encontram a porta de saída. Vou à manifestação porque recuso o cada um por si, a dispersão e a ruptura dos laços que nos tem arruinado, que é o princípio do fim e o pasto da barbárie. Vou porque um início é isto, um começo é assim - erguer vínculos, gerar parentescos e resgatar a acção. Hoje não tenho nada melhor para fazer."
Sem comentários:
Enviar um comentário